TRÊS TIPOS DE URGÊNCIAS CARDIORRESPIRATÓRIAS EM CÃES
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- Arthur Macedo Rico
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1 INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DE VISEU ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA TRÊS TIPOS DE URGÊNCIAS CARDIORRESPIRATÓRIAS EM CÃES Trabalho de Final de Curso Enfermagem Veterinária Sara Beatriz Modesto de Bastos Viseu, 2011
2 INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DE VISEU ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA TRÊS TIPOS DE URGÊNCIAS CARDIORRESPIRATÓRIAS EM CÃES Trabalho de Final de Curso Enfermagem Veterinária Sara Beatriz Modesto de Bastos Orientador: Dr. Fernando Alexandre A. Esteves Viseu, 2011
3 (Orientador Interno) (Dr. Fernando Esteves)
4 As doutrinas expressas neste trabalho são da exclusiva responsabilidade do autor Este trabalho rege-se segundo o novo acordo ortográfico.
5 "Olhe no fundo dos olhos de um animal e, por um momento, troque de lugar com ele. A vida dele tornar-se-á tão preciosa quanto a sua e você se tornará tão vulnerável quanto ele. Agora sorria, se acredita que todos os animais merecem o nosso respeito e a nossa proteção, pois em determinado ponto eles são nós e nós somos eles." (Philip Ochoa)
6 AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar aos meus pais, pois sem o seu total apoio não seria possível concluir esta etapa da minha vida, e estou muito grata por tudo o que fizeram por mim, não há frase descreva todo o amor que sinto por eles. Um muito obrigada! Também agradeço à minha tia-madrinha por toda a sua paciência e libertar-me do stress muitas vezes. Por fim aos meus avós, pelo seu apoio ao longo destes anos e pelo conhecimento que me transmitiram. Agradeço ao Dr. Fernando Esteves por todo o apoio e paciência, pois sei que não deve ter sido fácil deparar-se com um trabalho tão extenso, e também um muito obrigada por todos os ensinamentos dados, que me permitiram chegar aqui. Perante isto também agradeço a todos os professores da Escola Agrária de Viseu que de alguma forma fizeram parte do meu percurso. Agradeço ao Hospital Veterinário Montenegro e a toda a sua equipa por toda a paciência e conhecimento prestado, aprendi bastante tanto a nível profissional como pessoal. Ao Dr. Luís Montenegro, Dr. Rui Pereira, Dra. Marta, Dra. Ana Cota, Dr. Daniel Gonçalves, Dra. Rafaela Rego, Dr. Rui Mota, Dr. Nuno Silva, Dra. Cláudia Oliveira, Dra. Cláudia Rodrigues, Dr. Francisco Mateus, Enf. Eunice, Enf. Eduardo, Enf. Carla, Elisa, um muito obrigada, por todos os momentos que aí passei, foram únicos. Agradeço também à Inês Baltazar, Fátima Ferro, Susana Afonso, Mauro Matias, Margarida Almeida e Joana Lourenço, meus colegas estagiários, que também aprendi muito convosco, e são pessoas espetaculares. Agradeço aos meus amigos de longa data e conterrâneos, Salomé, Bárbara, Joana, Sara, Nuno, Luís, David, por toda a sua amizade única. Agradeço aos meus amigos e colegas de Viseu, em especial à Marta pelos três anos de amizade e diversão que espero que durem muito mais, pois sei que não fui fácil de aturar muitas vezes em tantos trabalhos de grupo pedra e cal ; à Daniela por ser a maninha, obrigada por tantas dormidas na tua casa, por tantas loucuras, por seres quem és; à Ritinha pelas longas noites de trabalho acompanhadas de playlists únicas, também pela tua enorme paciência, por seres pequenina e poderosa ; à Carolina, afilhada do coração, que foste arranjar uma madrinha que só te leva por maus caminhos; à minha madrinha de curso, Alexandra, por todo o apoio e companheirismo desde o início para me integrar, e agora uma amiga. A todos os outros um muito obrigada por terem feito parte destes três anos da minha vida. VI
7 ABREVIATURAS ACTH hormona adrenocorticotrópica BID bis in die Bpm batimentos por minuto BUN blood urea nitrogen IECA inibidor da enzima de conversão de angiotensina IM intramuscular IV intravenosa Ppm partes por milhão SC subcutânea SID single dose T4 tiroxina TID ter in die TSH - hormona estimuladora da tiróide VII
8 RESUMO Na Medicina Veterinária, as urgências envolvem quase sempre os aparelhos cardiovascular e respiratório. Estes dois sistemas trabalham em conjunto, e uma falha cria uma descompensação geral. É assim importante saber a sua anatomia e fisiologia, de forma a melhor estabilizar o animal, pois quando estes chegam ao Centro Veterinário, os sinais clínicos são normalmente evidentes, graves, repentinos, que requerem terapia imediata. Três exemplos de emergências em cães são a parálise da laringe, hipertensão pulmonar e endocardiose. A parálise da laringe é um processo degenerativo que afeta o funcionamento normal desta estrutura, levando a uma interferência com o fluxo normal do ar para os pulmões. As suas causas são variadas, podendo ser congénitas ou adquiridas. São pacientes que exigem normalmente uma estabilização antes de qualquer tratamento. Este consiste normalmente em cirurgia, sendo a mais comum a lateralização unilateral ou bilateral da aritenóide. A endocardiose consiste numa doença valvular atrioventricular degenerativa crónica, a causa mais comum de falha cardíaca em cães. Existe uma degeneração valvular e uma regurgitação da mitral progressivas. A causa é desconhecida, mas uma base hereditária é o mais provável. Embora já existam alguns procedimentos cirúrgicos, a maioria dos casos são tratados medicamente. A terapia medicamentosa é paliativa, e visa melhorar a sobrevivência e suavizar os sinais clínicos, podendo ser mantida durante meses a anos, mas sempre adaptada ao cão como indivíduo e tudo aquilo que lhe possa ser influência. A hipertensão pulmonar existe quando a pressão sistólica e/ou a pressão arterial pulmonar média estão elevadas. Embora a dirofilariose canina seja considerada a causa mais conhecida, também há evidências de que doença na válvula mitral e tromboembolismo pulmonar possam estar envolvidos. O tratamento centra-se em resolver ou aliviar o processo de doença subjacente. Embora sejam doenças cujo quadro de urgência seja semelhante, ao apresentarem dispneia, cianose, fraqueza ou intolerância ao exercício, o seu exame físico mostra outros sinais que farão a diferença no diagnóstico. Têm prognósticos diferentes, e são casos que implicam uma avaliação e monitorização constante. Palavras-Chave: Urgência, Parálise, Laringe, Endocardiose, Hipertensão, Pulmonar VIII
9 ABSTRACT In Veterinary Medicine, urgencies almost always involve the cardiovascular and respiratory systems. This two work together, and one fail creates a general decompensation. So it s important to have knowledge about their anatomy and physiology, to improve the animal s stabilization, because when they came to the Veterinary Centre, the clinical signs are usually evident, severe, and sudden, which require immediate therapy. Three examples of emergencies in dogs are the paralysis of larynx, pulmonary hypertension and endocardiosis. Paralysis of the larynx is a degenerative process that affects the normal function of this structure, leading to and interference with the air s normal flux to the lungs. There are several causes, that can be congenital or acquired. This patients usually require a stabilization before starting any other treatment. This one generally consists in surgery, being the unilateral or bilateral arytenoids lateralization the most common. The endocardiosis consists in a chronic degenerative atrioventricular valve disease, the most common cause of cardiac failure in digs. There is a progressive valve degeneration and a mitral regurgitation. The cause is unknown, but a hereditary base it s most likely. Although there are some surgical procedures, the majority of cases are treated medically. The medical therapy is palliative, and tries to improve the survival and ease the clinical signs, and can be applied for several months or even years, but always adapted to the individual dog and everything that can be an influence. The pulmonary hypertension exists when the systolic pressure and/or mean pulmonary arterial pressure are high. Although the heartworm disease has been the most known cause, there are also evidence of mitral valve disease and pulmonary tromboembolism as been involved. The treatment consists in resolve or aliviate the underlying disease process. Although are diseases which urgency s board is similar, with dyspnea, cyanosis, weakness or exercise s intolerance, it s physical exam shows another sings that will make difference in the diagnosis. They have different prognosis, and are cases that imply an constant evaluation and monitoring. Keywords: Urgency, Paralysis, Larynx, Endocardiosis, Hypertension, Pulmonar IX
10 ÍNDICE GERAL AGRADECIMENTOS... VI ABREVIATURAS... VII RESUMO... VIII ABSTRACT... IX ÍNDICE GERAL... X ÍNDICE DE QUADROS E FIGURAS... XIII 1. INTRODUÇÃO REVISÃO BIBLIOGRÁFICA APARELHO RESPIRATÓRIO ANATOMIA TRATO RESPIRATÓRIO SUPERIOR TRATO RESPIRATÓRIO INFERIOR FISIOLOGIA FUNÇÃO RESPIRATÓRIA VENTILAÇÃO PARÁLISE DA LARINGE FISIOPATOLOGIA ETIOLOGIA AVALIAÇÃO CLÍNICA TRATAMENTO MÉDICO DE EMERGÊNCIA TRATAMENTO CIRÚRGICO PROGNÓSTICO X
11 2.2. APARELHO CARDIOVASCULAR ANATOMIA RELAÇÃO COM O CORAÇÃO ESQUELETO FIBROSO DO CORAÇÃO CÂMARAS CARDÍACAS VÁLVULAS CARDÍACAS SISTEMA DE CONDUÇÃO VASOS CORONÁRIOS GRANDES VASOS FISIOLOGIA AVALIAÇÃO CLÍNICA SINAIS ESPECÍFICOS: CARDÍACOS VS RESPIRATÓRIOS EXAME FÍSICO ENDOCARDIOSE ETIOLOGIA, PATOLOGIA E FISIOPATOLOGIA FATORES COMPLICADORES EPIDEMIOLOGIA SINAIS CLÍNICOS RADIOGRAFIA ELETROCARDIOGRAFIA ECOCARDIOGRAFIA TRATAMENTO E PROGNÓSTICO MONITORIZAÇÃO DO PACIENTE E REAVALIAÇÃO XI
12 2.3. HIPERTENSÃO PULMONAR DEFINIÇÃO E ETIOLOGIA FISIOPATOLOGIA HISTORIAL E SINAIS CLÍNICOS EXAME FÍSICO TESTES DE DIAGNÓSTICO PATOLOGIA CLÍNICA RADIOGRAFIA ESTUDOS CARDIOVASCULARES ESTUDOS ESPECIAIS HISTOPATOLOGIA MANUTENÇÃO RESULTADO CASOS CLÍNICOS CASO CLÍNICO 1 FRED CASO CLÍNICO 2 LUX CASO CLÍNICO 3 GINOLA CASO CLÍNICO 4 TOMMY CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ANEXOS... 1 ANEXO A... 2 ANEXO B... 4 XII
13 ÍNDICE DE QUADROS E FIGURAS Quadro 1. Causas potenciais de parálise larínge Quadro 2. Pré-Medicamentos para Examinação da Laringe em Cães Quadro 3. Sedativos e respetivas doses e vias de administração Quadro 4. Protocolo de emergência para stress respiratório agudo Quadro 5. Protocolos anestésicos Quadro 6. Dados Gerais do Caso Clínico Quadro 7. Hemograma do Fred de 21/05/ Quadro 8. Análises bioquímicas ao Fred a 21/05/ Quadro 9. Hemograma realizado a 01/07/ Quadro 10. Análises Bioquímicas realizadas a 01/07/ Quadro 11. Dados Gerais do Caso Clínico 2 - Lux Quadro 12. Dados Gerais do Casos Clínico 3 - Ginola Quadro 13. Análises Gerais realizadas a 24/04/ Quadro 14. Análises gerais a 26/04/ Quadro 15. Valores de TSH e T4 Total do Ginola Quadro 16. Dados gerais do caso clínico 4 - Tommy Quadro 17. Análises bioquímicas a 19/06/ Figura 1. Aparelho respiratório do cão... 2 Figura 2. Anatomia do trato respiratório superior... 3 Figura 3. Anatomia da laringe Figura 4. Anatomia da traqueia XIII
14 Figura 5. Terminação da via aérea Figura 6. Lateralização da aritenóide Figura 7. Laringectomia parcial por abordagem oral Figura 8. Coração em posição lateral esquerda e direita Figura 9. Dissecação do ventrículo direito, em posição ventral, e do ventrículo esquerdo, em posição lateral Figura 10. Válvulas cardíacas Figura 11. Circulação pulmonar e circulação sistémica Figura 12. Circulação sanguínea dentro do coração Figura 13. Áreas de auscultação Figura 14. Radiografia de Tórax Figura 15. Ecocardiografia do Ginola Figura 16. Radiografia ao Tórax Figura 17. Ecocardiografia Figura 18. Radiografia ao Tórax XIV
15 1. INTRODUÇÃO Na Medicina Veterinária, as urgências envolvem quase sempre os aparelhos cardiovascular e respiratório. Estes dois sistemas agem de forma a criar um equilíbrio no corpo animal, e a sua anatomia e fisiologia estão estruturadas para que possam trabalhar em conjunto. Uma falha cria uma descompensação geral, motivo pelo qual os animais aparecem no Centro Veterinário, muitas vezes em situações extremas, a necessitar de terapia imediata. É assim importante saber avaliar o paciente e atuar devidamente sobre estes sistemas. Três exemplos de emergências em cães são a parálise da laringe, hipertensão pulmonar e endocardiose. Na parálise da laringe há uma perda da função dos músculos dessa mesma estrutura, devido a um processo degenerativo. Há assim uma interferência com o fluxo normal do ar ao longo do trato respiratório. São pacientes que exigem normalmente uma estabilização antes de qualquer tratamento, devido ao seu aparecimento repentino. A endocardiose consiste numa doença valvular atrioventricular degenerativa crónica, a causa mais comum de falha cardíaca em cães. Afeta essencialmente a válvula mitral, havendo degeneração e regurgitação da mesma. A hipertensão pulmonar existe quando a pressão sistólica e/ou a pressão arterial pulmonar média estão elevadas. É uma doença ainda pouco estudada em animais, pois mesmo em humanos existem ainda poucos dados estatísticos relativos a causas da doença e opções de tratamento. No entanto já começam a surgir os primeiros dados desta doença em Veterinária, levando a que se procure diagnosticar com precisão e também dar o melhor tratamento possível aos pacientes veterinários, nomeadamente melhorar a sua qualidade de vida. São doenças com um quadro de urgência semelhante, mas ao exame físico outros sinais surgirão, fazendo a diferença no diagnóstico. É assim importante saber como abordar cada aparelho corporal, e saber o seu normal funcionamento, para um maior sucesso nas urgências. 1
16 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. APARELHO RESPIRATÓRIO ANATOMIA O sistema respiratório inclui passagens que conduzem, controlam, modificam, e exploram o ar assim que passa do nariz para os alvéolos pulmonares. Em adição à condução e troca de gases, estes órgãos estão também envolvidos na fonação, olfato, controlo da temperatura corporal, excreção, equilíbrio ácido-base, e controlo da pressão sanguínea (Grandage, 2003). Este aparelho é, por conveniência, dividido em duas partes, na junção cricotraqueal. O trato respiratório superior, do qual fazem parte a passagem nasal, seios nasais e traqueia, e o trato respiratório inferior, de onde fazem parte os brônquios e sistema pulmonar. Os tubos respiratórios ramificam-se progressivamente em passagens mais pequenas até abrirem em sacos aéreos, ou alvéolos, e vasos sanguíneos. A Figura 1 mostra um esquema geral deste aparelho num cão (Bowden & Masters, 2003; Grandage, 2003; Eldredge et al., 2007). Figura 1. Aparelho respiratório do cão (Ramos, 2002) 2
17 TRATO RESPIRATÓRIO SUPERIOR A figura 2 mostra a posição de algumas estruturas do trato respiratório superior. Figura 2. Anatomia do trato respiratório superior (Aspinall & O'Reilly, 2004) a) Câmaras nasais e nariz Placa nasal A parte sem pelos do nariz, designada de placa nasal, é revestida com epiderme queratinizada fina. Nos cães, é composta por placas poligonais delineadas por sulcos, o que providencia padrões únicos a cada indivíduo. Isto permite uma impressão de forma a identificar o animal (Grandage, 2003). A placa nasal canina está frequentemente húmida embora não possua glândulas locais. A humidade é assim causada primariamente pelas glândulas lacrimal remota e nasal lateral, que conduzem as suas secreções para o vestíbulo nasal através dos ductos longos. A abertura do ducto nasolacrimal é facilmente identificada na base do vestíbulo nasal, dentro das narinas. Uma abertura acessória está também presente, caudal ao vestíbulo nasal, ao nível do dente canino. O ducto da glândula nasal lateral abre mais dorsalmente, no final rostral da concha nasal dorsal, e é de difícil identificação. Na porção rostral do septo, um pouco mais pequenas, encontram-se umas glândulas nasais mediais. Elas abrem no limite 3
18 caudal do vestíbulo e contribuem marginalmente para a humidade do nariz (Grandage, 2003). A pigmentação na placa nasal varia de acordo com a raça e espécie, embora seja comummente preta em cães (Grandage, 2003). Narinas e Vestíbulo Nasal As narinas e estruturas associadas imediatamente dentro do vestíbulo nasal impedem o fluxo de ar para as câmaras nasais (Grandage, 2003). Nos cães, cada narina é em forma de vírgula, quando vistas de frente. São delimitadas medialmente por um pilar vertical, a columella, o qual forma o final rostral do septo nasal. Este é cavado na linha média pelo filtro, uma fenda contínua até ao lábio superior. A estimulação de um ponto de acupunctura dentro do filtro foi referida como sendo valiosa para o tratamento de ataques cardíaco ou respiratório. O teto da narina é suportado por uma cobertura de cartilagem nasal dorso-lateral, a cartilagem alar. Esta arqueia para suportar a asa do nariz (Grandage, 2003). O chão da narina é endurecido por uma haste frágil de cartilagem, cartilagem nasal acessória. Lateralmente, a narina é aberta pelo sulco alar, que separa a asa do nariz do chão e do lábio superior (Grandage, 2003). O vestíbulo nasal não está vazio, como no caso dos humanos, mas está ocupado pelo final edemaciado da concha nasal ventral, designada de prega alar, que é suportada por uma cartilagem nasal ventro-lateral (Grandage, 2003). O abastecimento sanguíneo destas porções da placa nasal e da prega alar dá-se através de numerosos ramos de artérias infraorbitárias (Grandage, 2003). Cavidade Nasal A cavidade nasal é provavelmente a característica mais variável no cão. O septo nasal, o qual divide a cavidade em dois, é maioritariamente cartilagíneo mas possui uma periferia óssea. A secção medial deste é membranosa e possibilita a movimentação da ponta do nariz, permitindo ao cão morder a superfície plana de um objeto com os incisivos enquanto o seu nariz é empurrado dorsalmente para fora do caminho (Grandage, 2003). O limite caudal do focinho está mal definido. O stop que marca o limite da fronte cobre o labirinto etmoidal de tal forma que as câmaras nasais estendem-se de 4
19 forma contínua caudalmente entre e por baixo das órbitas. As raças caninas que comummente têm dificuldades em respirar por obstrução nas vias aéreas superiores normalmente têm stop pronunciado dos seus focinhos. Mesmo com esta dúvida, o focinho estende-se até à nasofaringe (Fowler, 2003 (1); Grandage, 2003). O volume do focinho é feito por duas fossas nasais, passagens irregulares entre as narinas, e por aberturas para a nasofaringe, designadas de coanas. As fossas são preenchidas com conchas, cartilagem e osso, que se projetam medialmente dos lados e teto, e são revestidas por uma membrana mucosa glandular e vascular. A concha nasal ventral é facilmente distinguida das outras. Ocupa o quarto rostral e ventral da fossa nasal e consiste numa parte lamelar caudal ligada à prega alar do vestíbulo através de um istmo. É suportada por uma lamela basal fina, a crista conchal, que surge da maxila e cuja sombra linear é uma das características radiográficas mais significativas da concha. Esta lamela basal é contínua com uma lamela espiral, a qual sustenta trinta ou mais lamelas secundárias. A mínima inflamação da membrana mucosa sobre estas lamelas pode levar a obstrução total das vias aéreas. Todas as outras conchas são cornetos etmoides, sendo o mais longo e mais dorsal conhecido como concha nasal dorsal (Grandage, 2003). As passagens aéreas estão restritas a canais estreitos que são ainda mais delgados que noutras espécies domésticas. Um canal fino comum vertical é encontrado em cada lado do septo; ele une e prolonga-se com os canais dorsal, medial e ventral, os quais ocupam espaços entre as conchas. O canal ventral é o maior e segue para dentro da coana através de um tubo ósseo não obstruído, designado de canal nasofaríngeo (Grandage, 2003). O órgão vomeronasal encontra-se no chão da fossa nasal de cada lado do septo; é funcional mas é impercetível em cães (Grandage, 2003). O quarto rostral da cavidade nasal está revestido de epitélio escamoso estratificado; o restante está coberto de epitélio colunar ciliado pseudoestratificado. Os cornetos nasais possuem células caliciformes produtoras de muco responsável pela imunidade local. A maioria da membrana mucosa não olfativa é composta por veias grandes de parede fina, as quais servem tanto para libertação de calor como para vasos de maior calibre (Fowler, 2003 (1); Grandage, 2003). Dois caminhos venosos funcionais separados drenam a mucosa nasal. Na parte rostral do nariz, anastomoses arteriovenosas criam um sistema de alta pressão 5
20 e elevado fluxo, que drena para dentro das veias nasais dorsais. Nas partes caudais do nariz, um sistema de baixos fluxo e pressão, cerca de metade do que passa na parte rostral, drena para as veias esfenopalatinas. Válvulas parietais separam os dois sistemas venosos; válvulas ostiais guardam as entradas de afluentes venosos maiores e provavelmente controlam o fluxo venoso (Grandage, 2003). Espécies macrosmáticas como os cães têm uma membrana mucosa olfativa extensa. Está na parte caudo-dorsal do nariz. A sua aparência difere pouco da restante membrana mucosa, embora possa parecer marginalmente mais fina e cinzenta (Grandage, 2003). Seios paranasais Os cães possuem seios frontais e recesso maxilar. O recesso maxilar não é um seio verdadeiro pois não se encontra entre duas placas de um osso cranial mas está ligado na lateral pela maxila e medialmente pelo etmoide (Grandage, 2003). O seio frontal é o maior e ocupa as têmporas e processo supraorbital do osso frontal. Os seios frontais esquerdo e direito estão separados por um septo mediano. Nos cães, cada um é composto por três cavidades separadas, lateral, medial e rostral, que comunicam separadamente através de aberturas nasofrontais com a fossa nasal. O compartimento lateral é o maior e talvez seja parcialmente subdividido por um septo incompleto. Contém um dos cornetos etmoidais que entra na parte rostral da sua base. A parte medial e o compartimento rostral são mais pequenos e estão preenchidos com cornetos etmoidais e são portanto mais difíceis de identificar nas radiografias (Grandage, 2003). O recesso maxilar encontra-se a nível do dente carniceiro entre os canais orbital e infra-orbital. Este aloja a glândula nasal lateral na sua parede lateral. A parede medial tem várias terminações nervosas e por isso serve uma função sensorial (Grandage, 2003). Nasofaringe O trato respiratório desenvolve-se principalmente da base do tubo digestivo, havendo um constante perigo de ser invadido por comida ingerida. O quiasma faríngeo é uma encruzilhada que evoluiu de forma a lidar com esta falha. Os dois 6
21 caminhos nele presentes são a nasofaringe e laringe numa direção e a orofaringe e esófago na outra (Grandage, 2003). O conduto nasofaríngeo é um espaço tubular relativamente grande que se estende desde as coanas ao óstio intrafaríngeo. Apenas a sua base é extensivamente móvel, o resto move-se pouco e fica permanentemente patente. As coanas são aberturas fixas no teto de ambos lados do vómer. As paredes da nasofaringe não têm características significantes exceto por uma pequena almofada mucosa mesmo atrás de cada tubo auditivo. As amígdalas tubulares estão ausentes, mas uma amígdala faríngea plana está presente no teto. A realização de pressão digital nesta área pode estimular a respiração (Grandage, 2003). b) Palato mole O palato mole forma a base da nasofaringe e o teto da orofaringe. É uma divisória tipo válvula, móvel, que pode-se elevar para fechar a via aérea proximal durante a deglutição ou pode deprimir para fechar a cavidade oral durante a respiração nasal. Durante a deglutição, funciona em conjunto com a epiglote, a qual fecha a via aérea distal, facilitando um bolo alimentar a atravessar o trato respiratório. Se o palato mole secar muito radicalmente pode ficar incapacitado de fechar a nasofaringe durante a deglutição, permitindo deste modo aspiração nasal de comida (Grandage, 2003). A porção livre do palato mole curva lateralmente para formar dois arcos palatofaríngeos, os quais passam caudalmente e fundem com as paredes da faringe para criar um grande buraco central direcionado caudo-ventralmente, designado de óstio intrafaríngeo. As três partes da faringe, nasal, oral e laríngea, encontram-se neste óstio, e um par de músculos palatofaríngeos servem como seu esfíncter. A epiglote está frequentemente embutida neste óstio de modo a que o seu ápice repouse na superfície dorsal do palato mole. Nesta condição, o ar passa sempre através do nariz. Já quando a epiglote está ventral ao palato mole, o ar pode passar tanto pelo nariz como pela boca, dependendo da relação para com o palato mole. Em descanso, o ar é normalmente tanto inalado como exalado através do nariz. Quando o animal está ofegante, o permutador de calor nasal é contornado, e o ar é normalmente inalado pelo nariz mas exalado pela boca. Aquando stress severo de calor, o ar é inalado e exalado tanto através da boca como do nariz. A língua 7
22 oscilante, muito óbvia nestes casos, sinaliza os movimentos complexos da laringe, hióide, e palato mole que ocorrem nesse momento (Grandage, 2003). O palato mole é normalmente notável nas radiografias laterais devido ao contraste dado pelo ar acima e abaixo do mesmo (Grandage, 2003). Os músculos tensores e elevadores do palato atravessam os lados da nasofaringe até uma aponeurose comum que providencia suporte estrutural. A membrana mucosa é do tipo respiratório na superfície dorsal do palato mole e do tipo digestivo na superfície ventral. A superfície oral é abundantemente dotada de glândulas e tecido linfoide, embora tais características sejam relativamente escassas no lado nasal. A artéria palatina menor abastece a maior parte do palato mole. Este vaso delgado surge da artéria maxilar ao nível do último dente da bochecha e corre longitudinalmente junto à linha média. Os nervos do plexo faríngeo, derivado dos nervos IX e X, abastecem o palato mole (Grandage, 2003). c) Laringe A laringe suporta dois conjuntos de mecanismos valvulares, a epiglote e a glote. A epiglote atua passivamente como uma tampa articulada que pode ser empurrada sobre a entrada da laringe e proteger a via aérea inferior contra a aspiração de líquidos e sólidos durante a deglutição. Também move-se ativamente como uma ventoinha que deflecte o ar para dentro do nariz ou da boca ou seleciona o ar de acordo com a necessidade para regulação da temperatura, olfato, vocalização (Grandage, 2003). A glote é uma válvula ativa, mais refinada, feita de um par de cordas vocais e cartilagens associadas que invadem a via aérea. Normalmente aumenta ligeiramente durante a inspiração e estreita durante a expiração. Atuando como portas duplas, as cordas vocais são a última defesa contra a inalação de material nocivo, e os mecanismos neurais eficientes levam ao seu encerramento imediato. Podem fechar as vias aéreas inferiores, por exemplo quando a pressão torácica ou abdominal é aumentada durante a tosse ou parto, e podem também fechar as vias aéreas superiores, quando a pressão torácica é diminuída durante o início do vómito. Como membranas elásticas, elas vibram para fonação, quer lenta ou rapidamente, ou a diferentes amplitudes e comprimentos, para dar diferentes volumes ou harmonias (Grandage, 2003). 8
23 Cartilagens A laringe é um tubo membranoso fibroelástico no qual estão embutidas cartilagens hialinas sólidas para manter uma via aérea patente e providenciar suporte às partes móveis. O cricóide em forma de anel e o mais rígido forma um chassis que sustém a tiroide e as cartilagens aritenóides, com as quais articula (Grandage, 2003). As cartilagens aritenóides direita e esquerda revestidas de membrana mucosa penetram dentro do lúmen da laringe, com a abertura entre elas formando a parte dorsal da rima glottidis. Um ligamento vocal surge da porção mais ventral de ambas aritenóides, o processo vocal. Estas esticam lado a lado e encontram-se na linha média ventral interna da tiroide, formando a parte central das cordas vocais e a parte ventral da rima glottidis (Grandage, 2003). A rima glottidis é um espaço romboidal com uma parte intramembranosa ventral que se encontra entra as cordas vocais e a parte intercartilagínea dorsal entre os aritenóides (Grandage, 2003). Pregas vestibulares semelhantes mas mais pequenas e menos intrusivas encontram-se paralelas e rostrais às cordas vocais. Elas formam uma fenda vestibular mais ampla que a rima glottidis. A cartilagem tiróidea oscila desde a cricóide para auxiliar no alongamento e encurtamento das cordas vocal e vestibular (Grandage, 2003). As restantes cartilagens são total ou parcialmente elásticas. Estão na parte rostral da laringe, projetando-se dentro do lúmen faríngeo e circundando a entrada da laringe ou aditus. As cartilagens elásticas toleram a força causada pela comida durante a deglutição. O principal elemento, a epiglote, é ponteado e em forma de V nos cães. A prega aritenoepiglótica, uma prega de membrana mucosa que vem desde a epiglote até ao aritenóide, completa o selo para a tampa epiglótica. Nos cães, os tubérculos cuneiformes e cónicos projetam-se em ambos lados da entrada da laringe. Estes tubérculos são independentes e são processos da cartilagem aritenóide. O processo cuneiforme é alongado, e a sua parte ventral dá origem à prega vestibular, ou falsa corda vocal (Grandage, 2003). O aditus laryngis é a entrada de forma irregular da laringe que se encontra entre as pregas aritenoepiglóticas e cartilagens próximas (Grandage, 2003). 9
24 Lúmen Laríngeo A laringe projeta-se para dentro da faringe, e a sua entrada é feita fora da parede faríngea. Os fluidos estão incapacitados de seguir diretamente para o lúmen laríngeo, estando direcionados para os recessos circundantes feitos de valéculas, abaixo da epiglote e dos recessos piriformes de cada lado (Grandage, 2003). A cavidade laríngea estende-se desde o aditus até ao primeiro anel traqueal. É dividido pela rima glottidis numa parte pequena, rostral, irregular, em forma de cálice, o vestíbulo laríngeo, e uma parte maior, caudal, cilíndrica, a cavidade infraglótica. A rima glottidis é a parte mais estreita da via aérea. Qualquer tumefação inflamatória neste sítio pode reduzir o seu diâmetro, com o risco de asfixia. O risco de edema é reduzido por modificações da membrana mucosa. Sobre as cordas vocais, a membrana possui uma submucosa fina desprovida de glândulas, daí uma menor hipótese de edema. O revestimento epitelial é escamoso estratificado no vestíbulo e gradualmente reverte para o tipo respiratório, colunar ciliado pseudoestratificado (Grandage, 2003). Os cães possuem ventrículos laríngeos grandes. Cada um é composto por duas partes, uma depressão situada na lateral da corda vocal e um sáculo localizado também na lateral, agora da prega vestibular. A depressão é um canal vertical profundo que se abre dentro da laringe por uma fissura ampla entre as pregas vocal e vestibular. Na sua base, uma fissura oval pequena leva anteriormente a um sáculo mais capacitado. Este está alojado maioritariamente entre a mucosa da prega vestibular e o fim da lâmina da cartilagem tiróidea. As glândulas dentro dele inundam as pregas vocal e vestibular com secreções que previnem dissecação. As depressões ventriculares formam um espaço lateral para as cordas vocais, providenciando lugar para as cordas vibrarem durante o ladrar (Grandage, 2003). Músculos Os músculos extrínsecos da laringe trabalham com os músculos do hióide para elevar, deprimir, dilatar ou retrair. Os músculos intrínsecos são estriados e maioritariamente estão preocupados com o movimento das cordas vocais, especialmente a sua adução. Esta aquando a deglutição previne a aspiração de comida ou líquidos para os pulmões. O cricoaritenóide dorsal é o único abdutor das 10
25 cordas vocais. A abdução durante a inspiração reduz a resistência das vias aéreas. Na Figura 3 pode-se ver a anatomia da laringe (Fowler, 2003 (1); Grandage, 2003). Figura 3. Anatomia da laringe em visão oral (A) e lateral (B) (Fossum, 1999) Nervos e Vasos O ramo laríngeo recorrente do vago abastece todos os músculos intrínsecos da laringe exceto o cricotiróideo. Ele atinge a laringe ao passar ao longo da superfície dorso-lateral da traqueia e continua pela lateral do músculo cricoaritenóide dorsal antes de mergulhar profundamente na lâmina da tiroide. O ramo externo do nervo laríngeo cranial abastece o cricoaritenóide. O ramo interno desse mesmo nervo é um nervo sensorial para a mucosa laríngea (Grandage, 2003). A artéria laríngea cranial providencia o principal abastecimento sanguíneo. Tem origem na carótida externa e percorre juntamente com o nervo laríngeo cranial até ao encaixe rostral da tiroide. A sua companheira, a veia laríngea cranial, esvazia no arco venoso hióide dentro da veia maxilar externa. Cada veia caudal da tiroide drena para dentro da jugular interna (Grandage, 2003). 11
26 Os linfáticos drenam para dentro do linfonodo retrofaríngeo medial (Grandage, 2003) TRATO RESPIRATÓRIO INFERIOR a) Traqueia Cartilagens em forma de C endurecem a traqueia tubular elástica e mantémna percetível. Alternam com ligamentos anulares elásticos que unem as cartilagens e permitem que a traqueia estique e dobre sem ficar curvada. Nos cães existem cerca de 35 a 45 cartilagens, mas este número varia entre raças e indivíduos. Cada cartilagem é mais fina ventralmente e emagrece ao longo dos braços curvados para terminar dorsalmente como uma lâmina sobreposta, fina e flexível. A presença de algum grau de calcificação é normal com o envelhecer. O primeiro anel traqueal é completo dorsalmente nos cães, tem uma forma semelhante à ponta caudal da cartilagem cricóide, e é parcialmente revestido por essa mesma cartilagem (Grandage, 2003). A parte dorsal da traqueia é desprovida de cartilagem e é composta por uma banda ampla de mucosa, tecido conjuntivo, e músculo traqueal. Nos carnívoros, este músculo liso insere-se na superfície externa das cartilagens traqueais, a alguma distância lateral das suas extremidades. A sua contração aproxima as pontas das cartilagens de forma a ficarem juntas e chegam a passar uma pela outra, sobrepondo-se como um anel chave. Esta contração diminui a via aérea e reduz o espaço morto, aumentando a velocidade do ar ventilado e auxiliando na expulsão de muco durante a tosse. Também endurece a traqueia e torna-a mais resistente ao colapso por compressão externa e pode proteger a parte membranosa de ser sugada para dentro do lúmen traqueal, o qual tende a ocorre durante expiração forçada. O relaxamento do músculo traqueal permite que as pontas das cartilagens se separem, aumentando o diâmetro da via aérea, e reduzindo a resistência da mesma (Grandage, 2003). A membrana mucosa da traqueia suporta epitélio ciliado pseudoestratificado que se mantém húmido através das secreções provenientes das células globosas e das glândulas traqueais secretoras de muco presentes principalmente na submucosa. O muco brônquico é uma mistura de materiais segregados e transudativos, responsáveis pela imunidade da mucosa. Os cílios formam uma 12
27 camada contínua de muco ao longo da laringe. Uma ação mucociliada move partículas sedimentadas em direção à faringe, onde é tossida e depois engolida (Fowler, 2003 (1); Grandage, 2003). A traqueia está envolvida folgadamente em fáscia. A folha mais profunda forma parte da fáscia pré-vertebral que separa a traqueia do músculo longus colli. Também contribui para a bainha carotídea, um tubo de fáscia que rodeia os nervos vago e simpático, a artéria carótida e a veia jugular interna. A bainha carotídea é encontrada dorso-lateral à traqueia, com o nervo laríngeo recorrente seguindo um percurso semelhante mas independente. O esófago passa maioritariamente dorsal à traqueia, inclinando-se para a esquerda na entrada torácica. Os músculos esternotiroideo, esterno-hioideo, e esterno-cefálico encontram-se ventrais à traqueia (Grandage, 2003). As artérias tireóideas cranial e caudal são vasos delgados que abastassem a maior parte da traqueia. Os pequenos ramos das artérias tireóideas e brônquicas penetram entre os anéis traqueais em cada lado da estrutura. Elas arborizam a submucosa para formar uma rede de vasos interligados que por sua vez comunicam com um plexo subepitelial encontrado tanto na traqueia como nos brônquios (Grandage, 2003). A traqueia terminal, designada de carina, e os brônquios pulmonares são providos de sangue através das artérias broncoesofágicas. Os ramos brônquicos arborizam sobre os brônquios dorsalmente e atravessam proximalmente e distalmente as paredes da via aérea. Os vasos proximais sofrem anastomose com os ramos das artérias tireóideas caudais na parede distal da traqueia, e os vasos distais seguem os brônquios até ao parênquima pulmonar. As artérias brônquicas abastecem o tecido pulmonar. A Figura 4 exemplifica a anatomia da traqueia (Grandage, 2003). 13
28 Figura 4. Anatomia da traqueia (Anónimo, 2011) A mucosa traqueal e o seu músculo fino são inervados pelos vagos, principalmente o vago direito e o seu ramo laríngeo recorrente. Em geral, os recetores dos aferentes vagais estão concentrados nas vias aéreas grandes,incluindo a traqueia (Grandage, 2003). b) Árvore brônquica Na sua terminação, a traqueia divide-se em dois principais brônquios pequenos, os quais se subdividem sucessivamente em brônquios lobares, segmentados e em consecutivas pequenas gerações. O número de gerações depende do tamanho do animal (Grandage, 2003). Os dois principais brônquios continuam sem interrupção para dentro dos lobos caudais dos pulmões. Seis brônquios lobares estão desprendidos do brônquio principal, e cada um consegue ser reconhecido numa radiografia lateral. As origens dos brônquios lobares craniais mostram-se como discos sobrepostos pretos perto da bifurcação traqueal. O disco do brônquio lobar cranial direito é mais cranial que o disco do esquerdo. O limite caudal destes brônquios é sobreposto sobre a carina, a crista medial da bifurcação traqueal (Grandage, 2003). 14
29 Os dois pulmões podem ser subdivididos em 20 a 30 segmentos broncopulmonares, sendo cada um parte do pulmão abastecido por segmentos de brônquios. Cada segmento é independente, embora alguma comunicação gasosa entre segmentos adjacentes possa existir. Embora a arborização brônquica siga um padrão geral, com sistemas brônquicos dorsal, lateral, ventral e medial, para cada pulmão, não há duas árvores idênticas (Grandage, 2003). O tecido elástico está em abundância ao longo da árvore brônquica e contribui para cerca de um terço da força que tende a colapsar os pulmões, sendo que a tensão superficial dentro dos alvéolos gera os outros dois terços. A elasticidade também contribui para a ressonância natural dos pulmões; cães ofegantes exploram esta ressonância para minimizar o esforço (Grandage, 2003). O músculo liso encontra-se na submucosa de toda a árvore brônquica, formando dois tratos em espiral que correm em direções opostas. O músculo presente mais à periferia é mais sensível ao estímulo, e por isso encoraja uma resposta, mas tem uma capacidade reduzida para encolher, e por isso evita uma resposta excessiva (Grandage, 2003). Os bronquíolos não têm suporte cartilagíneo, e normalmente não possuem glândulas nas suas paredes. Os cílios são sempre encontrados mais distalmente que as glândulas e assim asseguram que as secreções brônquicas não se acumulam. Ainda mais distalmente, os macrófagos alveolares limpam de forma contínua as vias aéreas terminais. Os bronquíolos terminais dão origem aos bronquíolos respiratórios, cujas paredes suportam alguns alvéolos. Estes por sua vez levam a ductos alveolares que terminam em sacos alveolares, como em exemplo na figura 5 (Grandage, 2003). 15
30 Figura 5. Terminação da via aérea (Aspinall & O'Reilly, 2004) c) Pulmões Os pulmões dos cães são profundamente fissurados em lobos distintos. As fissuras permitem aos pulmões mudar de forma com os movimentos de diafragma ou por flexão da coluna (Lei de Rouvière). A lobulação é conveniente cirurgicamente porque permite que os segmentos do pulmão sejam isolados e excisados. As fissuras estão dispostas obliquamente e destacam-se nas radiografias apenas quando a pleura está demasiado fina, há presença de líquido dentro dos pulmões, ou quando o parênquima adjacente está consolidado (Grandage, 2003). A lobulação é mais aleatória do que de padrões estritos. Ambos pulmões estão consistentemente divididos em lobos craneal e caudal por uma fissura interlobar caudal. O pulmão direito é maior e é novamente dividido em um lobo médio e um lobo acessório. O lobo craneal do pulmão esquerdo é normalmente dividido em partes caudal e cranial (Grandage, 2003). Os pulmões estão suspensos sobre a superfície do coração e são escavados e esculpidos para o acomodar; como consequência, eles deixam a impressão cardíaca nos seus bordos ventrais onde o pericárdio e o seu sobrejacente mediastino estão em contacto com a parede costal (Grandage, 2003). 16
31 O ar dentro do trato respiratório inferior é um agente de contraste radiográfico soberbo para os vasos pulmonares, árvore brônquica, e outras estruturas dentro dos pulmões e tórax. Durante a inspiração, um volume de ar elevado torna as marcas pulmonares ainda mais claras e outras características torácicas ainda mais notáveis. O ar também torna o pulmão inacessível para exame ultrassónico (Grandage, 2003). d) Vasos pulmonares As diferenças entre artérias pulmonares e veias pulmonares são menos notáveis do que aquelas existentes entre os seus sistemas homólogos devido à baixa pressão do circuito pulmonar. Contudo, o tronco pulmonar grande continua a ter a sua aparência suave de um sistema arterial, e as subdivisões das artérias pulmonares são caracteristicamente do tipo elástico. As artérias elásticas acompanham os brônquios na formação de feixes broncovasculares, isto é, os vasos estreitam, até ao ponto de mudarem para vasos musculares e continuarem a acompanhar as vias aéreas mais pequenas. O diâmetro desses vasos aumenta com a inflação pulmonar e decrescem com a deflação (Grandage, 2003). As veias pulmonares estão situadas medialmente aos brônquios lobares. As suas porções terminais podem ser vistas subpleuralmente na superfície mediastínica de alguns lobos antes de eles esvaziarem para o átrio esquerdo. Mais perifericamente, as veias correm de forma independente dos feixes broncovasculares, normalmente entre segmentos (Grandage, 2003). Algum sangue brônquico venoso não oxigenado drena e também dilui o sangue venoso pulmonar oxigenado, mas as veias brônquicas maiores drenam para a veia ázigos. A circulação pulmonar é única porque recebe todo o sangue circulante numa base regular, e por todo o sangue pulmonar fluir através de um sistema capilar que não possui anastomoses (Grandage, 2003). Os linfáticos pulmonares drenam maioritariamente para dentro de três grupos de linfonodos tranqueobronquiais à volta da bifurcação traqueal. Em poucos cães, os linfonodos pulmonares são também encontrados nas superfícies dorsais dos brônquios lobares na extremidade do parênquima pulmonar (Grandage, 2003). 17
32 e) Pleura O mesotélio dos carnívoros é suportado por uma camada de tecido conjuntivo incomum. A pleura mediastínica caudal é tão fina que é transparente e rutura com facilidade (Grandage, 2003). Os pulmões, cobertos com a sua própria pleura pulmonar, estão dentro de sacos grandes de pleura parietal que está colapsada à sua volta. Consequentemente, as dobras existem onde a pleura parietal está em contacto com mais da mesma pleura. Os espaços potenciais entre duas camadas são conhecidos como recessos pleurais; eles podem abrir para receber os pulmões em expansão durante a inspiração ou encher de ar ou líquido em estados patológicos. Os recessos costodiafragmáticos e costomediastinal são mais importantes cirurgicamente por marcarem sítios onde se pode entrar nas cavidades pleurais sem o perigo de penetrar os pulmões (Grandage, 2003). Noutro lugar, a pleura parietal está em contacto com pleura visceral ou pulmonar, exceto pela película fina de líquido lubrificante (Grandage, 2003). A pleura mediastínica encerra a maior parte da víscera torácica para além dos pulmões. O lobo caudal do pulmão é preso ao mediastino por uma fina rede de pleura, o ligamento pulmonar, que se estende por vários centímetros caudal ao hilo. O lobo acessório do pulmão está alojado num compartimento especial entre o mediastino à sua esquerda e a veia cava inferior à direita (Grandage, 2003). A pleura parietal é abastecida pelos nervos espinais e é sensível aos estímulos tácteis e térmicos. A pleura visceral transmite aferentes através dos nervos autónomos que mediam apenas a dor (Grandage, 2003) FISIOLOGIA FUNÇÃO RESPIRATÓRIA A principal função do aparelho respiratório é a troca de oxigénio e dióxido de carbono entre o exterior e os tecidos (Cunningham, 2003). O aparelho respiratório transporta o oxigénio para manter o metabolismo tecidular e elimina o dióxido de carbono. O consumo de oxigénio e a produção de dióxido de carbono varia em função do índice metabólico que, por sua vez, depende do nível de atividade do animal. O metabolismo basal, o metabolismo do animal em 18
33 repouso, é uma função do peso corporal metabólico. Portanto, as espécies mais pequenas consomem mais oxigénio que as de tamanho maior (Cunningham, 2003). As necessidades de trocas gasosas variam com o metabolismo e podem aumentar até 30 vezes com o exercício extenuante. O custo energético da respiração é maior num animal com doença respiratória, o que leva a uma diminuição da quantidade de energia disponível para realizar exercício ou para engordar, que se traduz num baixo rendimento visível pelo proprietário. O aparelho respiratório também é importante no processo de termorregulação, no metabolismo de substâncias endógenas e exógenas, e na proteção do animal contra a inalação de pó, gases tóxicos e agentes infeciosos (Cunningham, 2003) VENTILAÇÃO A ventilação é o movimento de entrada e saída de gás do pulmão (Cunningham, 2003). O animal trabalha na busca por oxigénio inspirando um certo volume de ar a cada minuto. O volume total de ar respirado por minuto, ou ventilação por minuto, determina-se através do volume de cada respiração, ou volume tidal, multiplicado pelo número de respirações por minuto, ou frequência respiratória. O aumento da ventilação por minuto, que se deve produzir aquando um aumento do índice metabólico requer uma maior busca de oxigénio, pode realizar-se aumentando o volume tidal, a frequência respiratória, ou ambos (Cunningham, 2003). O ar flui aos alvéolos atravessando as fossais nasais, cavidade nasal, faringe, laringe, traqueia, brônquios e bronquíolos. Estas estruturas formam as vias respiratórias. Dado que a troca de gases não se produz nelas, também se denominam espaço morto anatómico. Uma parte de cada volume tidal e, portanto de cada ventilação por minuto, ventila este espaço morto. A porção de cada respiração que participa na troca gasosa conhece-se como ventilação alveolar; a ventilação do espaço morto conhece-se como ventilação do espaço morto. O conceito de ventilação por minuto é a soma da ventilação alveolar e da ventilação do espaço morto. A ventilação alveolar regula-se mediante mecanismos de controlo que igualam a captação de oxigénio e a eliminação de dióxido de carbono necessários para o equilibro do metabolismo. Portanto, quando um animal realiza exercício, a sua ventilação alveolar aumenta para absorver mais oxigénio e eliminar mais dióxido de carbono (Cunningham, 2003). 19
34 A ventilação do espaço morto também pode produzir se no interior dos alvéolos. Este espaço morto alveolar deve-se à ventilação de alvéolos pouco perfundidos, pelo que haver uma troca gasosa ótima. O espaço morto fisiológico é a soma do espaço morto anatómico e alveolar (Cunningham, 2003). Dado que o volume do espaço morto anatómico é relativamente constante, as trocas no volume tidal, frequência respiratória, ou ambos, pode modificar as quantidades relativas de ar que ventilam os alvéolos e o seu espaço morto. Estas trocas no volume tidal e na frequência respiratória ocorrem em animais a realizar exercício ou durante a termorregulação. Por exemplo, um volume tidal baixo junto com uma frequência respiratória elevada é característica de cães ofegantes, já que precisam de mais ar para ventilar o espaço morto e favorecer a evaporação de água e a perda de calor. Em contraste com estes efeitos, os animais submetidos a frio têm um maior índice metabólico para manter a sua temperatura corporal. Este processo conduz a um aumento do consumo de oxigénio e na produção de dióxido de carbono, sendo necessário para o animal aumentar a ventilação e diminuir a do espaço morto (Cunningham, 2003). O veterinário deve assegurar-se de que o instrumento utilizado na anestesia ou na oxigenoterapia não aumenta o espaço morto, evitando usar tubos endotraqueais demasiado longos ou máscaras demasiado grandes (Cunningham, 2003). Durante a inspiração, os músculos transportam energia que leva a que o ar entre nos pulmões. Na expiração, a maioria da energia que faz com que o ar abandone os pulmões proceda das forças elásticas armazenadas nos pulmões e no tórax durante o estiramento produzido na inspiração. Portanto, na maioria dos animais em repouso, a inspiração é um processo ativo, enquanto que a expiração é passiva (Cunningham, 2003). O diafragma, a cúpula músculotendinosa que separa o abdómen do tórax, é o principal músculo inspiratório e está inervado pelo nervo frénico. Durante a contração, a cúpula do diafragma desloca-se caudalmente com a qual a cavidade torácica aumenta. O centro tendinoso do diafragma pressiona o conteúdo abdominal, elevando a pressão intra-abdominal, o que desloca lateralmente as costelas caudais e portanto aumenta também o volume torácico. Este aumento do tórax cria pressão negativa necessária para que o ar flua até ao interior dos 20
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