Um Marco em Matéria de Cooperação Bilateral
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- Ivan Vitorino Balsemão Amorim
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1 31 Um Marco em Matéria de Cooperação Bilateral + Francisco Thompson-Flôres Neste momento crítico que vive o Mercosul de turbulências de natureza tarifária, não-tarifária e, particularmente, cambial, a integração física subregional adquire especial relevância. Um processo de integração será necessariamente frágil caso se restrinja ao campo comercial, sendo imprescindível uma sólida e dinâmica cooperação na vertente da integração física, que inclua a desconcentração e interconexão das matrizes energéticas dos países-membros do bloco. O conceito é extensivo à integração regional e foi chancelado pelos Presi-
2 32 Energia e Integração na América do Sul dentes da América do Sul, em agosto de 2000, em seu Comunicado Conjunto de Brasília. Os Chefes de Estado registraram seu entendimento político de que se deveria promover a integração física regional, nas áreas de energia, transportes e comunicações. Quanto às perspectivas do Uruguai de cooperação bilateral com o Brasil, em projetos de geração e distribuição de energia, destacam-se as seguintes iniciativas: (a) conclusão da estação conversora em Rivera/Santana do Livramento, (b) interligação elétrica de grande porte Uruguai/RGS e (c) extensão a Porto Alegre do Gasoduto del Sur, (d) associação estratégica entre a Petrobrás e a ANCAP. Dando início à interconexão dos sistemas elétricos do Uruguai e do Brasil, foi construída e instalada a estação conversora de freqüência e voltagem situada nas proximidades das cidades de Rivera e Santana do Livramento. O projeto decorreu de parceria entre a Administración Nacional de Usinas y Trasmisiones Eléctricas (UTE) de um lado e, de outro, a Eletrobrás e a Eletrosul. A parceria, que conta com financiamento do Banco Interamaericano de Desenvolvimento, inclui um contrato econômico-financeiro, um contrato de cooperação e realização conjunta de atividades de engenharia e um contrato de uso, firmados em 30 de janeiro de 1997, por ocasião de visita do então Presidente do Uruguai, Julio María Sanguinetti, ao Brasil. Em 30 de outubro de 1998, após longa fase licitatória, foi assinado entre a UTE e o consórcio franco-britânico GEC-Alsthom o contrato de obras da interconexão. A estação conversora conectará a rede uruguaia, de volts e 50 hertz de freqüência, com a brasileira, de volts e 60hertz, com uma potência de conversão de 70MW. A UTE realizou sua primeira venda de energia ao Brasil, em 6 de junho de 2001, no valor de US$ 3 milhões e envolvendo a transferência de 70 megawatts à Eletrobrás. Os Chefes de Estado registraram seu entendimento político de que se deveria promover a integração física regional, nas áreas de energia, transportes e comunicações.
3 Um Marco em Matéria de Cooperação Bilateral 33 A UTE está examinando, ademais, a possibilidade de construir uma megacentral de geração de energia no litoral do país, em associação com as empresas Endesa e Alsthom, que funcionaria com gás natural da Argentina e se destinaria a abastecer à crescente demanda e às prementes necessidades do mercado brasileiro. Outra recente iniciativa da UTE, igualmente destinada a atender o mercado brasileiro com energia hidrelétrica, é a de resgatar o projeto binacional da represa Centurión, sobre o rio Jaguarão, paralisado desde o início dos anos 70. Entendimentos entre o Brasil e o Uruguai contemplam a perspectiva de construção de um linhão de transmissão da ordem de 250 a 500MW para a interligação de grande porte dos dois sistemas elétricos. O primeiro diálogo sobre a matéria foi estabelecido em 1996 entre os Ministros de Energia dos dois países, Raimundo Brito pela parte brasileira e Federico Slinger pela parte uruguaia; a interligação destinar-se-ia a possibilitar a oferta de energia firme uruguaia ao mercado brasileiro. Seguiram-se a assinatura de Memorando de Entendimento sobre a Interconexão em Extra-Alta Tensão entre os Sistemas Elétricos dos Dois Países, em 6 de maio de 1997; a constituição de Grupo de Trabalho bilateral, e várias reuniões em nível técnico e ministerial com vistas à confirmação do interesse brasileiro no projeto e a especificar as condições da interconexão. Em reunião desse Grupo de Trabalho realizada em Montevidéu nos dias 18 e 19 de agosto de 1997, verificou-se, em definitivo, a viabilidade técnica e econômica do projeto e definiram-se alternativas para seu dimensionamento e traçado geográfico. No Uruguai, a linha partiria da cidade de San Carlos, e, no Brasil, são estudadas as alternativas de Gravataí, na Grande Porto Alegre, com potência de 500MW, e de Presidente Médici ou Candiota, com potência máxima de 250MW. A etapa seguinte foi a assina- Outra recente iniciativa da UTE, igualmente destinada a atender o mercado brasileiro com energia hidrelétrica, é a de resgatar o projeto binacional da represa Centurión, sobre o rio Jaguarão, paralisado desde o início dos anos 70.
4 34 Energia e Integração na América do Sul tura, em 14 de dezembro de 1997, de Memorando de Entendimento sobre o Desenvolvimento de Intercâmbios Elétricos e Futura Integração Elétrica, que estabelece princípios de simetrias mínimas entre o setor elétrico brasileiro e o uruguaio. A avaliação poderia ser revista em função das alterações de configuração na rede de transmissão ocorridas nos ciclos de planejamento do setor elétrico brasileiro, além de exigir estudos que considerem a interligação dos sistemas brasileiro, argentino e uruguaio. O Uruguai vem-se empenhando na concretização do Gasoduto del Sur, que deverá interconectar Punta Lara, ao sul de Buenos Aires, a Colônia do Sacramento e a Montevidéu. Esta obra foi iniciada em julho de 2000, estando prevista para 2002 a conclusão do trecho até Colônia, foi adjudicada em 1998 ao consórcio British Gas/ Panamerican Energy, com direito de operação durante 30 anos. As autoridades uruguaias ressaltaram em diversas ocasiões seu interesse em promover a extensão desse gasoduto, para levar o gás natural argentino de Colônia do Sacramento até o Rio Grande do Sul, com ponto final em Porto Alegre. A extensão, segundo fontes uruguaias, seria importante para garantir a rentabilidade do projeto, cujas obras foram diversas vezes postergadas. As autoridades da Petrobrás e do Governo do Rio Grande do Sul teriam manifestado seu interesse pelo projeto do gasoduto em conversações mantidas com as autoridades uruguaias, em particular com a ANCAP, estatal petrolífera local. Em maio de 1999, o Governo do Rio Grande do Sul assinou Memorando de Entendimento com o consórcio vencedor da licitação, com o objetivo de desenvolver estudos sobre a viabilidade da extensão do gasoduto até Porto Alegre. A sociedade que vier a ser estabelecida será responsável pela operação da refinaria de petróleo La Teja, pela distribuição de combustíveis para A avaliação poderia ser revista em função das alterações de configuração na rede de transmissão ocorridas nos ciclos de planejamento do setor elétrico brasileiro.
5 Um Marco em Matéria de Cooperação Bilateral 35 os postos ANCAP em território uruguaio e para os postos Cono Sur em Buenos Aires, pela produção e distribuição de lubrificantes e pela distribuição do GLP no país. Importa sublinhar que a licitação que se pretende constitui a mudança estratégica mais importante na vida da empresa estatal ANCAP, criada em 1931, e, certamente, uma das operações econômicas de maior relevância na história recente do Uruguai, seja por sua magnitude, seja pelo fato mesmo de uma empresa estatal uruguaia associar-se com um agente privado. Uma vitória da Petrobrás (que já formalizou seu interesse) na licitação em questão constituiria, ademais, um marco em matéria de cooperação energética bilateral com o Brasil. Francisco Thompson-Flôres Embaixador do Brasil no Uruguai
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