Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo

Transcrição

1 Processo Administrativo Digital 1 n /2014 Assunto: Pregão Eletrônico Federal n. 15/2015, referente ao registro de preços para contratação de serviços de manutenção de extintores de incêndio. Impugnante: NOVO BRASIL COMÉRCIO DE EQUIPAMENTOS E SISTEMAS CONTRA INCÊNDIO LTDA. Este Regional publicou a abertura de licitação com o escopo de registrar preços para contratação de serviços de manutenção de extintores de incêndio, consoante o documento PAD n /2015. Nesta oportunidade, examina-se a impugnação ofertada pela empresa NOVO BRASIL COMÉRCIO DE EQUIPAMENTOS E SISTEMAS CONTRA INCÊNDIO LTDA 2. Em síntese, a impugnante requer a inclusão no edital de regras que prevejam a apresentação, para fins de qualificação técnica, de: Certidão atualizada de Pessoa Jurídica expedida pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia CREA, e Atestado de Capacidade Técnica emitido por pessoa jurídica de direito público ou privado em nome da 1 PAD. 2 Documento PAD n /2015.

2 proponente, devidamente registrados na entidade profissional competente,...que comprove ter ela executado ou estar executando serviço pertinente e compatível em características com o objeto da presente licitação. Para tanto, fundamenta sua irresignação em consulta formulada ao Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de São Paulo CREA SP, que, por intermédio do Ofício 111/2007 UAU, se manifestou pela obrigatoriedade do registro das empresas que executem serviços relacionados à recarga e inspeção de extintores bem como de profissional com título de engenheiro mecânico em seus quadros técnicos profissionais. n /2015, a licitação foi suspensa. Nos termos registrados no documento PAD Analisando o pleito da Impugnante, ressaltou, primeiramente, o Sr. Pregoeiro 3 que, tendo a Resolução CONFEA n. 336/1989 regulamentado a previsão contida no artigo 59 da Lei n /1966, tornou obrigatório o registro das pessoas jurídicas no CREA, desde que exerçam atividades ligadas ao exercício profissional da engenharia, arquitetura, agronomia, geologia, geografia ou meteorologia. 3 Documento PAD n /2015.

3 Destacou 4, ainda, que as atividades voltadas a vasos de pressão (entre eles, o extintor de incêndio) estão compreendidas no campo de atuação da modalidade industrial - engenharia mecânica, consoante previsão contida no Anexo II da Resolução CONFEA n /2005. E citando, finalmente, o subitem 3.14 referente aos extintores de incêndio, do Manual de Fiscalização da Câmara Especializada em Engenharia Mecânica e Metalúrgica do CREA SP, concluiu que, os serviços de manutenção e recarga, de fato, requerem a responsabilidade técnica por parte de engenheiro mecânico industrial. No tocante à obrigatoriedade de registro da Pessoa Jurídica nos conselhos regionais, entendeu, com fundamento na Decisão n. PL-2134/2009 Seção Plenária Ordinária do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia e jurisprudência do C. Superior Tribunal de Justiça, que a obrigatoriedade alcança somente as empresas que predominantemente prestam serviços de manutenção e recarga de extintores de incêndio, e não aquelas cuja atividade básica é o comércio de extintores embora prestem também os referidos serviços. 4 Citando a Decisão n. PL-2134/2012 Seção Plenária Ordinária 1.394/CONFEA.

4 Nesse contexto, posicionou-se pelo não acolhimento desse pedido por causar limitação indevida à participação de empresas aptas a prestar o serviço em questão. Quanto à irresignação da empresa acerca da necessidade de apresentação de atestados de capacidade técnica, asseverou que, não obstante o artigo 30 da Lei n /1993 disponha acerca da documentação relativa à qualificação técnica, a norma faculta ao administrador público a avaliação dos quesitos fundamentais para a contratação. E, neste aspecto, foi eleito o Registro de Declaração de Conformidade do Fornecedor no INMETRO, previsto no subitem da cláusula XIII do instrumento convocatório como requisito hábil a conferir à Administração a segurança necessária para conhecer e contratar. Propôs, assim, o não acolhimento do pleito da empresa vez que os padrões de desempenho e qualidade estão objetivamente definidos no edital e não há razão de se prever a apresentação de documento que visa certificar aquilo que o descritivo do objeto já definiu.

5 Assim, concluiu o Sr. Pregoeiro pelo conhecimento da impugnação para, no mérito rejeitar seus termos. No entanto, propôs a inserção no edital de exigência de apresentação de declaração da licitante indicando dispor de engenheiro mecânico responsável pela execução dos serviços. Em que pese o posicionamento supra, por medida de cautela, a Assessoria Jurídica da Diretoria-Geral do Tribunal diligenciou perante o Sr. titular da Secretaria de Gestão de Serviços, que endossou a manifestação da unidade responsável pela elaboração do termo de referência, que assim se pronunciou 5 : O Sr. Pregoeiro propôs, através do doc. PAD nº /2015, a inserção no Edital de regramento que preveja a apresentação de declaração da licitante, na qual esta mencione dispor de engenheiro mecânico responsável pela execução dos serviços. Todavia, considerando que existem decisões favoráveis e contrárias à necessidade do cadastramento das empresas que realizam manutenção e recarga de extintores, junto ao CREA, bem como não haver a obrigatoriedade de as empresas possuírem em seu quadro de funcionários um engenheiro mecânico, conforme decisões anexas; 5 Documento PAD n /2015

6 Considerando a urgência desta contratação e, ainda, amparado pelas decisões contrárias, tanto ao cadastramento das empresas que realizam a manutenção de extintores, quanto à necessidade de contar com engenheiro mecânico, entendo, salvo melhor juízo, que deva ser contestada a impugnação protocolizada pela empresa Novo Brasil (doc. PAD nº /2015), fazendo prevalecer os termos do instrumento convocatório, ou seja, a não exigência do cadastramento, conforme as contratações anteriores. É o relatório. Decido. Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço da insurgência da empresa NOVO BRASIL COMÉRCIO DE EQUIPAMENTOS E SISTEMAS CONTRA INCÊNDIO LTDA. Analisado o mérito, verifica-se que os pedidos tecidos na impugnação não merecem ser acolhidos. A Lei nº 6.839/80, que dispõe sobre o registro de empresas nas entidades fiscalizadoras do exercício de profissões, dispõe, em seu art. 1º: Art. 1º O registro de empresas e a anotação dos profissionais legalmente habilitados, delas encarregados, serão obrigatórios nas entidades competentes para a fiscalização do exercício das diversas profissões, em razão da atividade básica ou em relação àquela pela qual prestem serviços a terceiros. (grifei)

7 Por outro lado, a Lei n.º 5.194/66, que regula o exercício das profissões de Engenheiro, Arquiteto e Engenheiro Agrônomo, estabelece, no art. 59: Art. 59. As firmas, sociedades, associações, companhias, cooperativas e empresas em geral, que se organizem para executar obras ou serviços relacionados na forma estabelecida nesta lei, só poderão iniciar suas atividades depois de promoverem o competente registro nos Conselhos Regionais, bem como o dos profissionais do seu quadro técnico. (grifei) Com base nesses dispositivos, as empresas cuja atividade essencial seja o comércio de extintores de incêndio e a prestação de manutenção e recarga de extintores têm se insurgido contra atos dos Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, que as tenham autuado por falta do correspondente registro. O Ofício 111/2007 UAU, oriundo do CREA-SP, apresentado pela impugnante, ilustra o entendimento dessas Entidades. Tais irresignações têm encontrando amparo de forma ampla no Poder Judiciário, que pacificou o entendimento de que, para empresas que possuam tão somente tal escopo de atuação, não há necessidade de registro no CREA por não exercerem atividades peculiares da engenharia que possam ser extraídas da Lei n.º 5.194/66. Nesse sentido os seguintes julgados:

8 ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA. REGISTRO. DESCABIMENTO. 1. O registro nos Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia somente é obrigatório para aquelas pessoas jurídicas, cuja atividade básica seja a prestação de serviços relacionados com as três atividades disciplinadas pelos referidos conselhos. 2. É firme a jurisprudência no sentido de destacar-se a atividade preponderante da empresa para que se vincule a mesma ao Conselho encarregado pela fiscalização profissional. 3. A empresa, que desempenha o comércio de chaves e de recarga de extintores, não é obrigada a se submeter ao registro no CREA, cuja atividade-fim é diversa da função inerente à engenharia. 4. Deveras, a imposição do registro não pode ser inaugurada por Resolução, pelo que, muito embora seja ato administrativo de caráter normativo, subordina-se ao ordenamento jurídico hierarquicamente superior, in casu, à Lei e à Constituição Federal, não sendo admissível que o poder regulamentar extrapole seus limites, ensejando a edição dos chamados "regulamentos autônomos", vedados em nosso ordenamento jurídico. 5. Recurso especial provido.(stj, Relator: Ministro LUIZ FUX, Data de Julgamento: 10/10/2006, T1 - PRIMEIRA TURMA) grifei. PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. EMPRESA DE CARGA E RECARGA DE EXTINTORES. REGISTRO NO CREA. DESNECESSIDADE. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.(AGRESP , TEORI ALBINO ZAVASCKI, STJ - PRIMEIRA TURMA, DJE DATA:02/12/2011) ADMINISTRATIVO - PROCESSUAL CIVIL - MANDADO DE SEGURANÇA - EMPRESA DO RAMO DE COMÉRCIO E MANUTENÇÃO/RECARGA DE EXTINTORES DE INCÊNDIO - INSCRIÇÃO/REGISTRO NO CREA (GO): INEXIGÍVEL - PRECEDENTES: STJ (T1 E T2) E TRF1 (T8) - REMESSA OFICIAL NÃO PROVIDA. 1- A empresa que atua no ramo de

9 comércio e manutenção/recarga de extintores de incêndio não está sujeita à inscrição/registro no CREA, consoante precedentes do STJ e do TRF1. 2- Remessa oficial não provida. 3- Peças liberadas pela Relatora, em Brasília, 24 de janeiro de 2012., para publicação do acórdão. (REOMS , JUÍZA FEDERAL MONICA NEVES AGUIAR DA SILVA, TRF1 - SÉTIMA TURMA, e-djf1 DATA:03/02/2012 PÁGINA:845.) ADMINISTRATIVO. AÇÃO DECLARATÓRIA. CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA ARQUITETURA E AGRONOMIA. EMPRESAS DO COMÉRCIO VAREJISTA DE EQUIPAMENTOS CONTRA INCÊNDIO E PRESTADORAS DE SERVIÇOS DE MANUTENÇÃO EM EXTINTORES. DESNECESSIDADE DE REGISTRO NO CREA. APELAÇÃO E REMESSA OFICIAL NÃO PROVIDAS. 1. A obrigatoriedade do registro de uma empresa em determinado conselho profissional se define em razão da atividade básica que ela exerce ou em relação àquela pela qual presta serviços a terceiros (Lei nº 6.839/80, art. 1º). 2. A empresa que comercializa equipamentos de incêndio e presta serviços de manutenção de extintores não está obrigada a registrar-se no CREA, nem está sujeita à fiscalização do referido Conselho, por não exercer atividades peculiares à engenharia, arquitetura ou agronomia. 3. Apelação e remessa oficial não providas.(ac , Desembargador Federal Rogério Fialho Moreira, TRF5 - Primeira Turma, DJE -Data::28/10/ Página::171.) grifei. Situação distinta é a das empresas que, por exemplo, fabricam extintores e prestam serviços de manutenção: a estas deve ser exigido o registro no CREA.

10 Por sua vez, o inciso I do art. 3º da Lei de Licitações 6 impõe a vedação, aos agentes públicos de: I admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação, cláusulas ou condições que comprometam, restrinjam ou frustrem o seu caráter competitivo, inclusive nos casos de sociedades cooperativas, e estabeleçam preferências ou distinções em razão da naturalidade, da sede ou do domicílio dos licitantes ou de qualquer outra circunstância impertinente ou irrelevante para o específico objeto do contrato, ressalvado o disposto nos 5º a 12 deste artigo e no art. 3º da Lei n.º 8.248, de 23 de outubro de No presente caso, verifica-se que o objeto da licitação pode ser atendido tanto por empresas que tenham registro no CREA quanto por aquelas que não o possuem. Desse modo, se entendido pela unidade requisitante que o edital, da forma com que está formatado, possibilita selecionar uma empresa que possua condições técnicas de executar o serviço, não resta ao administrador senão descartar a exigência de registro no CREA para dar ensejo a participação do maior número de empresas possível. 6 Lei n /93.

11 Ademais, o instrumento convocatório, ao exigir que a licitante possua o Registro de Conformidade do Fornecedor no INMETRO assegura que a empresa que irá assumir o serviço se utilize das normas técnicas vigentes para a execução de seus trabalhos. Observo que a admissão do presente requisito de habilitação foi objeto de enfrentamento específico na fase interna da licitação, no parecer da Assessoria Jurídica da Diretoria-Geral deste Regional (documento PAD 5.972/2015), do qual destaco o seguinte excerto: No caso presente, está se exigindo na fase de habilitação do certame o documento de Registro de Declaração de Conformidade do Fornecedor no INMETRO, nos termos da Portaria n. 206, de 16 de maio de 2011, habilitando a licitante a executar todos os serviços de manutenção para os tipos de extintores previstos no edital (cláusula XIII, subitem do edital). Essa Portaria, além de aprovar a revisão dos Requisitos de Avaliação da Conformidade para Inspeção Técnica e Manutenção de Extintores de Incêndio, manteve o Registro da Declaração da Conformidade do Fornecedor no INMETRO (artigos 1º e 3º, respectivamente). Ainda, prevê esse normativo que, a partir de 01 de janeiro de 2012, os serviços de inspeção técnica e manutenção de extintores de incêndio somente deverão ser executados conforme os Requisitos aprovados naquela Portaria (artigo 4º). Diante dessa regulamentação é possível constatar que para o objeto destes autos há legislação específica que trata de

12 procedimentos para avaliação da conformidade dos serviços prestados pelos fornecedores. Assim, com base nos elementos acima, no entender dessa Assessoria não há óbice para exigir na fase de habilitação do certame o Registro da Declaração de Conformidade do Fornecedor... Dessa forma, o edital contém regras suficientes para selecionar uma licitante com condições técnicas de executar os serviços necessários à Administração, e preservar, ao mesmo tempo, a amplitude do universo de possíveis fornecedores. Por essas mesmas razões, não assiste razão à impugnante quando pretende que se substitua o Registro de Conformidade do Fornecedor no INMETRO por atestados de execução de serviços registrados no CREA. Quanto à sugestão apontada no documento PAD n /2015, no sentido de que a empresa licitante disponibilize engenheiro mecânico para se responsabilizar pelos serviços prestados, o mesmo entendimento acerca da desnecessidade de registro no CREA da pessoa jurídica se aplica a essa situação.

13 Destaco nesse sentido trecho da decisão constante do Mandado de Segurança n.º , oriundo da Seção Judiciária I do Colendo Tribunal Regional Federal da 3ª Região, impetrado contra ato do Presidente do CREA-MS por empresa de comércio e recarga de extintores: As atividades de comercialização e manutenção de extintores de incêndio não se consubstanciam naquelas elencadas no art. 7º da Lei nº 5.194/66, a ensejar a obrigatoriedade de registro de um profissional habilitado junto ao CREA. De fato, as atividades desenvolvidas pela impetrante não são específicas dos profissionais de engenharia, uma vez que, pela análise do seu Contrato Social (fls ), verifica-se que esta tem por objetivo o comércio de extintores de incêndio, equipamentos de segurança, ferramentas, máquinas elétricas ou não, e serviços de inspeção técnica e manutenção de extintores de incêndio. Trata-se, portanto, de atividade preponderantemente comercial e não de produção desses insumos; atividade-fim diversa da função inerente à engenharia. Ademais, caso se entendesse pela obrigatoriedade de disponibilização de engenheiro para esse tipo de atividade, deveria se admitir o Registro da empresa no CREA, a teor dos artigos 59 e 60 da Lei n.º 5.194/66.

14 Ante o exposto, conheço da impugnação interposta pela empresa NOVO BRASIL COMÉRCIO DE EQUIPAMENTOS E SISTEMAS CONTRA INCÊNDIO LTDA., para no mérito, com fundamento nas Leis 6.839/80, 5.194/66 e 8.666/93, no princípio da competitividade, na manifestação do órgão requisitante e na essência do pronunciamento do Sr. Pregoeiro, negar-lhe provimento, mantendo-se, em todos os seus termos, o edital constante do doc /2015. Notifique-se. providências subsequentes. À Secretaria de Administração de Material, para as São Paulo, em 27 de março de Antônio Carlos Mathias Coltro Presidente