PARECER Nº Bem Público. Imóvel. Doação para Município. Art. 17 da L /93. Necessidade de autorização legislativa.
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- Luiz Eduardo Santos Salvado
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1 PARECER Nº Bem Público. Imóvel. Doação para Município. Art. 17 da L /93. Necessidade de autorização legislativa. Nesta Equipe de Consultoria da Procuradoria de Domínio Público, o expediente /97.4, oriundo da Secretaria da Educação, referente a cessão de uso ou doação de imóvel ao município de Ibiaçá, em face da extinção da Escola Estadual de 1º Grau Inc. Ângelo Antônio Sanson. 1) a questão sob exame - De acordo com a Sra. Delegada de Educação, Sra. MARIVONE TERESINHA CASTELI:... não há interesse por parte da 7ª Delegacia de Educação na utilização do imóvel da Escola Estadual de 1º G. Inc. Ângelo Antônio Sanson, pois a mesma foi extinta no ano de 1994 (cf. of. nº DP/EAAC/035/97, fl. 03 dos autos). O imóvel foi havido pelo Estado através de doação do Município de Sananduva (cf. Dec /68, fl. 04), tendo sido estabelecida no então Distrito de Ibiaçá. No entanto, a referida Escola foi extinta com base no disposto no Decreto nº /94 (fl. 07). No âmbito da Secretaria de Educação discutiu-se a cessão de uso do imóvel para a Prefeitura de Ibiaçá, inobstante, quando a Ilustre Assessora Jurídica
2 da SEC solicitou manifestação da parte interessada, o Excelentíssimo Senhor Prefeito Municipal assim expôs o pleito deduzido ao Estado: Senhora Delegada, Apraz-me cumprimentá-la, com prazer e cordialidade, no momento em que dirijo-me a Vossa Senhoria para reforçar nossa solicitação contida no ofício nº 050/97 que lhe enviei em 04 de março, no qual solicitava vossas providências, no sentido de doar, ao Município de Ibiaçá, o prédio da Escola Estadual de 1º Grau incompleto Ângelo Antônio Sanson, na localidade de Secção Campinas, neste município. Estou certo de que com esta doação, todos serão beneficiados: a Secretaria Estadual por se livrar das despesas com manutenção, visto que o prédio está se deteriorando por não ser usado; o Município de Ibiaçá por ganhar uma escola, e a comunidade de Secção Campinas que terá investimentos na localidade. (...) (fl. 21). Houve motivação por parte da Excelentíssima Senhora Secretária de Estado da Educação, Profª. IARA SÍLVIA LUCAS WORTMANN, nos termos do DESPACHO infra: Considerando razões de interesse público, Parecer da AJU/GAB/SE na folha retro, manifesto-me FAVORÁVEL a doação pelo Estado do Rio Grande do Sul do prédio da extinta Escola Estadual de 1º Grau Incompleto Ângelo Sanson, localizada naquele Município. Encaminhe-se, por competência, ao Departamento do Patrimônio da Secretaria da Administração e dos Recursos Humanos (fl. 26). No plano do Departamento de Administração do Patrimônio do Estado houve manifestação (fl. 27), posteriormente acolhida pelo Excelentíssimo Senhor Secretário da Administração e dos Recursos Humanos, Substituto, Dr.
3 ALSOM PEREIRA DA SILVA (fl. 28), no sentido de encaminhamento a esta Procuradoria Geral do Estado para que fossem esclarecidos os seguintes aspectos: 1º) para a doação de prédio é necessária autorização legislativa? 2º) qual o instrumento jurídico adequado para efetuar a doação? Relatei e passo ao exame jurídico das questões. 2) doação de bens públicos na esfera estadual - O sistema jurídico vigente veda a doação de bens públicos a particulares, apenas admitindo a doação quando o bem seja destinado a outro órgão ou entidade da Administração, de qualquer ente federativo. De acordo com CRETELLA JÚNIOR: Doação de imóveis nunca pode ser feita a particulares, mas, tãosó, e exclusivamente, a outro órgão ou entidade da Administração. O princípio da indisponibilidade impede que o administrador se transforme em dominus, doando ao particular o que não lhe pertence. Incensurável o dispositivo, revelando aguda sensibilidade sócio-político-econômica do legislador, ao probibir verdadeiro leilão, consistente na absurda doação de áreas a particulares, amigos dos governantes, nas quatro esferas 1. De acordo com o art. 17, I, a, da L /93, a doação de bens públicos só é admitida quando os bens forem destinados a outro órgão ou entidade da Administração Pública, de qualquer esfera de governo. Observe-se, neste particular, que a restrição de doação a outros órgãos da esfera administrativa e 1 José Cretella Júnior, Das Licitações Públicas, comentários à nova Lei Federal nº 8.666, de 21 de junho de 1993, Rio de Janeiro, Forense, 5ª ed., 1994, p. 162.
4 outros entes federativos foi objeto de suspensão de eficácia em face da ADIn 927-3/RS, assim como o 1 o. do mesmo art. 17. Sem adentrar na discussão acerca da suspensão de eficácia quanto aos Estados, Distrito Federal e Municípios da expressão permitida exclusivamente para outro órgão ou entidade da Administração Pública, de qualquer esfera de governo, contida na alínea b do inc. I, bem como do 1 o., do art. 17 da L /93, por força da ADIn 927-3/RS, por tratar de questão diversa da ora enfrentada, na medida em que se está diante de doação de bem público para outro ente público, devem ser definidos os requisitos da doação. De acordo com o art. 17 da L /93: Art. 17. A alienação de bens da Administração Pública, subordinada à existência de interesse público devidamente justificado, será precedida de avaliação e obedecerá às seguintes normas: I - quando imóveis, dependerá de autorização legislativa para órgãos da administração direta e entidades autárquicas e fundacionais, e, para todos, inclusive as entidades paraestatais, dependerá de avaliação prévia e de licitação na modalidade de concorrência, dispensada esta nos seguintes casos: (...) b) doação, permitida exclusivamente para outro órgão ou entidade da Administração Pública, de qualquer esfera de governo; 2 (...). 2 A parte em negrito e sublinhada corresponde ao trecho que teve sua eficácia suspensa por força da ADIn 927-3/RS.
5 Observa-se, portanto, que há ato de autoridade apresentando a motivação requerida no caput do art. 17, na forma do despacho da Excelentíssima Senhora Secretária da Educação. 3) requisitos e forma da doação de bens imóveis para outro ente público - De outra banda, inegável é a necessidade de atendimento dos demais requisitos constantes do art. 17 da L /93. Dentre os requisitos necessários está a avaliação prévia e a licitação, dispensada esta na hipótese de doação em favor de outro ente público. Observe-se que mesmo na ausência da segunda parte da alínea b do inc. I do art. 17 da L /93, o mens legis coaduna-se com a dispensa pela observação lata do disposto no inc. VIII do art. 24 da mesma lei. legislativa. Contudo, se dispensável é a licitação, indispensável é a autorização A necessidade de autorização legislativa decorre do poder de controle exercido pelo Parlamento em face da Administração Pública, que não pode se desfazer de bens sem a devida autorização do Poder Legislativo, na forma do inc. XIX do art. 53 da CERGS. Assim, a doação de bem público, quando imóvel, está sujeita à autorização legislativa, consoante preconiza o inc. XXVII do art. 53 da CERGS que reserva exclusivamente à Assembléia Legislativa a competência para autorizar previamente a alienação de bens imóveis do Estado. De tal modo, caso houvesse uma doação sem a correspectiva autorização legislativa estaria a função administrativa adentrando no plano da função legislativa e, ipso facto, agredindo ao princípio da in(ter)dependência das funções estatais. Quanto à questão da forma, nenhuma dificuldade se apresenta, na medida em que se trata de uma lei autorizativa, dependente, portanto, de correspectiva proposição pelo Poder Executivo, trata-se daquela hipótese da lei em
6 sentido formal, na medida em que não se reveste dos caracteres de universalidade e generalidade, o que decorre do caráter de fiscalização inato à autorização de alienação de bem público. É a posição, no sentido de que: 1º) é necessária a avaliação e a autorização legislativa para a doação de bem público para outra esfera estatal; e, 2º) a forma é a de projeto de lei. À superior consideração. Sérgio Severo Procurador do Estado Processo nº /97.4 Em 14/12/98
7 Processo nº / /97.6 Acolho as conclusões do PARECER nº 12437, da Procuradoria do Domínio Público Estadual, de autoria do Procurador do Estado Doutor SÉRGIO SEVERO. Encaminhem-se os expediente à Excelentíssima Senhora Secretária de Estado da Educação. Em 30 de dezembro de EUNICE NEQUETE, PROCURADORA-GERAL DO ESTADO.
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