ANAIS da XV SEMANA DE HISTÓRIA: HISTORIA REGIONAL COMO RECORTE DE ENSINO E PESQUISA ISSN
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1 ANAIS da XV SEMANA DE HISTÓRIA: HISTORIA REGIONAL COMO RECORTE DE ENSINO E PESQUISA ISSN PRODUÇÃO DE ALIMENTOS EM RIBEIRÃO PRETO NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX Renato Leite MARCONDES 12 Alcione Albuquerque MÁS 13 RESUMO Apesar do grande destaque do café em Ribeirão Preto na primeira metade do século XX, a produção de alimentos manteve-se como atividade importante desenvolvida no município. Sítios e trabalhadores envolveram-se nessa ocupação para o abastecimento dos habitantes da cidade. Analisamos os volumes produzidos de alimentos e os contratos de trabalho firmados para realizar a produção. Palavras chaves: Produção de alimentos, Ribeirão Preto, Mercado Interno. ABSTRACT Despite the high profile of coffee in Ribeirão Preto in the first half of the twentieth century, food production has remained as an important activity conducted in the city. Sites and workers engaged in this occupation for supplying the habitants of the city. We analyze the volumes of food produced and signed employment contracts to carry out production. APRESENTAÇÃO Desde o início do processo de colonização, a produção de alimentos foi fundamental para a viabilização da economia exportadora, seja numa mesma unidade produtiva ou por meio de produtores independentes fazendo uso ou não de cativos. Em São Paulo nos primeiros séculos, a menor importância do mercado externo produziu a necessidade do cultivo de alimentos e comercialização mais local, especialmente por meio do braço indígena. A partir 12 Professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-RP/USP). 13 Graduada em História. Cursando Especialização em História, Cultura e Sociedade no Centro Universitário Barão de Mauá. alcionemas@gmail.com
2 dos descobertos do ouro, o comércio expandiu-se para atender a demandas das minas em várias áreas. O avanço das culturas de exportação do açúcar e principalmente do tabaco ao final do século XVIII não inviabilizou a coexistência com a produção de alimentos, como o milho, feijão, arroz e a farinha. A pecuária ganhou espaços mais específicos em função das dimensões das áreas necessárias à criação e ao próprio comércio de longa distância. O rápido crescimento do café no início do século XIX em áreas paulistas não alterou esta associação entre o cultivo de exportação e de alimentos. A comercialização de bens alimentares e até mesmo animais além de suprir a alimentação dos trabalhadores, fomentou a renda dos produtores que faziam experiências com novas culturas, como o café. 14 A cafeicultura promoveu importante transformação social e econômica no Estado de São Paulo, atraindo grande contingente de trabalhadores e o advento da ferrovia favoreceu o transporte de passageiros e o escoamento de mercadorias. Ainda no século XIX, a fragmentação das grandes propriedades, o cansaço dos solos de terras antigas e a procura por regiões novas, favoreceram o desenvolvimento da figura do sitiante e das pequenas lavouras. A urbanização e a industrialização permitiram a formação de um mercado interno voltado à policultura. 15 Desde o final do século XIX, os municípios da Mogiana desenvolveram a produção cafeeira, alcançando Ribeirão Preto a condição de um importante pólo cafeeiro e comercial da região. No entanto, paralelamente ao café também se desenvolvia a produção e o comércio de alimentos. Cultivados em fileiras intercalares nas fazendas de café ou em sítios, a produção de arroz, açúcar, feijão e milho se destacaram no município entre 1900 e As tabelas 1 e 2 mostram a trajetória da produção agrícola em Ribeirão Preto no período de 1900 a 1906: Tabela 1. Produção agrícola de Ribeirão Preto ( ) Produto Aguardente Arroz Feijão Milho 14 LUNA, F. V.; KLEIN, H. S. Escravidão Africana na Produção de Alimentos. São Paulo no Século 19. Est. econ., São Paulo, v. 40, n. 2, p , abril-junho MULLER, N.. Sítios e sitiantes no Estado de São Paulo. Boletim 132. Geografia nº 7. Universidade de São Paulo. São Paulo, HAFFNER, C. C. A. Vida urbana, mercado interno e tributação na Região Mogiana ( ). Um estudo comparativo da evolução dos municípios Mogi Guaçu, Mogi Mirim, Franca e Ribeirão Preto. Dissertação de mestrado apresentada na Unicamp, 2009.
3 Unidade pipas litros litros litros Ano Tabela 2. Produção agrícola de Ribeirão Preto ( ) Produto Açúcar Café Unidade/ano arrobas arrobas Segundo informações obtidas no Anuário Estatístico de São Paulo de 1906, a cultura cerealífera em maior escala estava focalizada no milho, feijão e arroz. Como base para a alimentação humana e animal, a cultura era feita em larga escala e com apreciável remuneração. Houve uma expansão na cultura cerealífera em relação a épocas anteriores. Como os preços do café eram mais remuneradores, tanto a mão de obra como o capital convergiam para a cafeicultura, determinando a diminuição na produção cerealífera. Por ocasião da queda nos preços do café, viu-se a necessidade de restrição dos custos de sua produção. Nesse momento avaliou-se que o avanço da cultura cerealífera poderia ser um passo para a solução da crise cafeeira. Seis anos depois, podemos observar o movimento geral do tráfego de mercadorias da Companhia Mogiana no período de 1912 a A tabela a seguir mostra o tráfego no período de 1912 a 1916:
4 Tabela 3. Tráfego de mercadorias da Cia. Mogiana ( ) Ano / produto aguardente cereais café A especificação mais detalhada dos tipos de cereais aparece nos anos de 1918 e 1919 nas tabelas 4 e 5: Tabela 4. Tráfego de mercadorias da Cia. Mogiana (1918 e 1919) Ano/produto aguardente arroz feijão milho Tabela 5. Tráfego de mercadorias da Cia. Mogiana (1918 e 1919) açucar algodão café Analisando os contratos de trabalho, firmados entre parceiros, arrendatários e proprietários de sítios e fazendas, percebe-se a importância dada à produção de alimentos. Além de uma [...] hierarquia de rentabilidades, onde a atividade voltada à exportação mostrava-se a mais lucrativa. Porém a produção de alimentos voltada ao mercado interno, também constituía
5 atividade interessante aos fazendeiros 17 Avançando às décadas de 1920 e 1930 nota-se um momento de rápida transformação da economia brasileira [...] Em Ribeirão Preto, a mudança refletiu-se no declínio da economia cafeeira, influenciado pela geada de 1918 e, posteriormente, a crise do final dos anos 20. Por outro lado, cresceu a produção para o mercado interno, especialmente do algodão. 18 É a derradeira crise econômica de 1929 que [...] decreta a crise da produção do café no Brasil. Por conta disso, o país passa por um processo de diversificação agrícola e de expansão de lavouras tradicionais destinadas ao consumo interno [...]. Na década de 1930 mais de 60% dos estabelecimentos agropecuários da Alta Mogiana produziam arroz e tal produção correspondia a 10,6 por cento do total estadual. 19 Ao final da década de 1940 o café já havia cedido lugar às culturas de alimentos e de algodão e às atividades de comércio. DESENVOLVIMENTO Este estudo pretende trabalhar com os pressupostos da história local, contanto com instrumentos de análise que auxiliam pensar o local e os diversos tempos sociais, 20 adotando um recorte temporal que permite a observação da divisão do trabalho e as estruturas produtivas envolvidas do desenvolvimento agrícola, sobretudo entre duas frentes que coexistiram: o setor cafeeiro de exportação e o mercado interno de alimentos. O trabalho é organizado em três seções distintas, a primeira dará conta da revisão da bibliografia específica ao tema; a segunda mostra, com base em estatísticas, o panorama da produção de alimentos no município de Ribeirão Preto para o período proposto; a terceira analisa o conjunto documental, os Anuários Estatísticos do Estado de São Paulo, Censos Agrícolas e os Contratos de Trabalho dispostos no 1º tabelião de Notas de Ribeirão Preto, contratos estes firmados entre proprietários de fazendas e sítios com os parceiros ou arrendatários, mostrando como se estabeleceu a relação entre produção e comércio. A proposta do presente estudo é, sobretudo, focalizar a importância da produção agrícola de alimentos no município e as relações de trabalho atreladas a essa atividade. 17 FALEIROS, R. N. "Seguir em frente": colonos e fazendeiros nas fronteiras de expansão da cafeicultura brasileira ( ). In: Simpósio de Pós-Graduação em História Econômica. Anais, São Paulo, MARCONDES, Renato Leite; GARAVAZZO, Juliana. Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto: Um espelho de 100 anos. Ribeirão Preto: Gráfica São Francisco, p , CAMPOS. D. L. de. A cidade e a Ferrovia: considerações sobre a repercussão da Mogiana no município de Igarapava ( ). III Conferência Internacional em História Econômica & V Encontro de Pós-graduação em História Econômica. Brasília, BARBOSA, A. da S. A propósito de um estatuto para a história local e regional: algumas reflexões.
6 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES O presente estudo faz parte de uma pesquisa em andamento. No entanto, a análise que está sendo realizada junto às fontes documentais, já nos permite apreender que a produção agrícola de alimentos teve um papel econômico relevante para o município de Ribeirão Preto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA, A. da S. A propósito de um estatuto para a história local e regional: algumas reflexões. CAMPOS. D. L. de. A cidade e a Ferrovia: considerações sobre a repercussão da Mogiana no município de Igarapava ( ). III Conferência Internacional em História Econômica & V Encontro de Pós-graduação em História Econômica. Brasília, FALEIROS, R. N. "Seguir em frente": colonos e fazendeiros nas fronteiras de expansão da cafeicultura brasileira ( ). In: Simpósio de Pós-Graduação em História Econômica. Anais, São Paulo, HAFFNER, C. C. A. Vida urbana, mercado interno e tributação na Região Mogiana ( ). Um estudo comparativo da evolução dos municípios Mogi Guaçu, Mogi Mirim, Franca e Ribeirão Preto. Dissertação de mestrado apresentada na Unicamp, LUNA, F. V.; KLEIN, H. S. Escravidão Africana na Produção de Alimentos. São Paulo no Século 19. Est. econ., São Paulo, v. 40, n. 2, p , abril-junho MARCONDES, R. L.; GARAVAZZO, J. Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto: Um espelho de 100 anos. Ribeirão Preto: Gráfica São Francisco, 2004, p MULLER, N. L. Sítios e sitiantes no Estado de São Paulo. Boletim 132. Geografia nº 7. Universidade de São Paulo. São Paulo, 1951.
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