E OS CONTRATOS DE EMPRESAS REPRESENTADAS PELO SEAC COM CONDOMÍNIOS

Transcrição

1 1 PARECER Nº 220/2019 PARECER JURÍDICO CLÁUSULAS CCT ASSINADA ENTRE SINDICONDOMINIO/DF e SEICON/DF E OS CONTRATOS DE EMPRESAS REPRESENTADAS PELO SEAC COM CONDOMÍNIOS Trata-se de pedido de Parecer Jurídico formulado pela FEDERAÇÃO NACIONAL DAS EMPRESAS PRESTADORAS DE SERVIÇOS DE LIMPEZA E CONSERVAÇÃO FEBRAC sobre as cláusulas 55, 56, 58, e 59, constantes da Convenção Coletiva assinada entre o Sindicato dos Condomínios Residenciais e Comerciais do Distrito Federal Sindicato - SINDICONDOMINIO/DF e o Sindicato dos Trab. Em Cond. Res. Com. Rurais, Mistos, Verticais e Horizontais de Habitações em Áreas Isoladas SEICON/DF, que podem trazer caráter restritivo à atuação das empresas de prestação de serviços no Distrito Federal, representadas pelo SINDICATO DAS EMPRESAS DE ASSEIO, CONSERVAÇÃO, TRABALHO TEMPORÁRIO E SERVIÇOS TERCEIRIZÁVEIS DO DISTRITO FEDERAL SEAC/DF. Informa o SEAC/DF que a abrangência da CCT firmada entre esse e o SINDISERVIÇOS/DF, tanto no âmbito na esfera pública quanto na privada, é reconhecida pelo Ministério do Trabalho, desde a concessão do registro sindical, mas como os termos das referidas cláusulas da CCT de sindicatos distintos da sua base de representação estão gerando dúvidas em gestores de condomínios (síndicos), empresas da categoria do SEAC e seus respectivos trabalhadores, e então solicita esclarecimentos a respeito. Para a análise solicitada são transcritas aqui as cláusulas 55, 56, 58, e 59 da CCT assinada entre o SINDICONDOMINIO/DF e o SEICON/DF de seguinte redação: CLÁUSULA 55: O SINDICONDOMÍNIO-DF e o SEICON-DF positivam que as atividades desenvolvidas no segmento de condomínios residenciais de apartamentos: zelador, garagista (diurno e noturno),

2 porteiro (diurno e noturno), trabalhador de serviços gerais/ferista/folguista/substituto e faxineiro são atividades fins, observando-se o disposto na Cláusula CLÁUSULA 56: Fica mantido o Selo de Certificação de Qualidade, que visa resguardar os representados do SINDICONDOMÍNIO- DF, síndicos, condôminos e demais contratantes quanto à regulamentação e contratação de empresas de prestação de serviços de gestão, administração, colocação de mão de obra, asseio e conservação e serviços terceirizáveis, no território geográfico do Distrito Federal. CLÁUSULA 58: Os condomínios, que optarem pela contratação de empresas de prestação de serviços de gestão, administração, colocação de mão de obra, asseio e conservação e serviços terceirizáveis, no território geográfico do Distrito Federal, poderão exigir a apresentação do Selo de Certificação de Qualidade, de forma a se proteger de possíveis ações judiciais que venham recair sobre o condomínio, face à contratação de empresas não possuidoras do Selo de Certificação. CLÁUSULA 59: Os condomínios que exercerem a opção de que trata o caput da Cláusula 58 poderão exigir do prestador de serviços a contratação dos trabalhadores/empregados em completa observância à presente Convenção Coletiva de Trabalho, ora firmada entre o SINDICONDOMÍNIO-DF e o SEICON-DF, no que for mais favorável ao empregado. Parágrafo Primeiro: A não observância do inteiro teor do caput da presente Cláusula ensejará às empresas a responsabilidade por indenizar os empregados e condôminos nos prejuízos que vier dar causa. (destaques nesta) Feita a transcrição acima, é preciso fazer a análise de cada item separadamente para melhor compreensão jurídica em cada caso. A cláusula 55 está em desconformidade com o entendimento do STF, que na ADPF 324 firmou a tese de efeito erga omnes de que é lícita a terceirização de toda e qualquer atividade, meio ou fim, então não se

3 forma vínculo de emprego entre os CONDOMÍNIOS e os empregados das empresas representadas pelo SEAC, in verbis: 3 Decisão: O Tribunal, no mérito, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgou procedente o pedido e firmou a seguinte tese: 1. É lícita a terceirização de toda e qualquer atividade, meio ou fim, não se configurando relação de emprego entre a contratante e o empregado da contratada. 2. Na terceirização, compete à contratante: i) verificar a idoneidade e a capacidade econômica da terceirizada; e ii) responder subsidiariamente pelo descumprimento das normas trabalhistas, bem como por obrigações previdenciárias, na forma do art. 31 da Lei 8.212/1993, vencidos os Ministros Edson Fachin, Rosa Weber, Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio. Nesta assentada, o Relator esclareceu que a presente decisão não afeta automaticamente os processos em relação aos quais tenha havido coisa julgada. Presidiu o julgamento a Ministra Cármen Lúcia. Plenário, Mesmo porque o STF deixou claro que não há falar em atividade terceirização de atividade fim ou meio, pois com a decisão acima todas as atividades dos Condomínios, incluídas a de zelador, garagista (diurno e noturno), porteiro (diurno e noturno), trabalhador de serviços gerais/ferista/folguista/substituto e faxineiro podem ser terceirizadas pelo CONDOMÍNIO. As cláusulas 56 e 58 referem-se ao selo de certificação de qualidade. É comum alguns setores criarem esses paliativos com o objetivo de melhorar a qualidade dos serviços prestados, mas isso por si só não resguarda condomínios, síndicos, condôminos, e demais contratantes quanto à regulamentação e contratação de empresas de serviços de gestão, administração, colocação de mão de obra, asseio e conservação e serviços terceirizáveis. A regulamentação da relação mantida entre as empresas prestadoras de serviços e os condomínios já é feita pela Lei, e demais atos legais e judiciais sobre o assunto, sendo que estes todas já definiram haverá a responsabilidade subsidiária do contratante condomínio, quando a empresa contratada terceirizada não cumprir as obrigações

4 trabalhistas e previdenciárias junto aos seus trabalhadores, e não será um selo que vai resguardar ou afastar essa responsabilidade. 4 A proteção a esse tipo de contratação quem confere é a Lei da Terceirização, de nº /2017, que dispõe sobre as relações de trabalho na empresa de prestação de serviços a terceiros, e que no art. 5º-A, exige que o condomínio contrate empresas prestadoras de serviços que sejam sérias, respeitem os direitos dos trabalhadores, especialmente, aqueles direitos estabelecidos na convenção coletiva assinada pelo SEAC e o SINDILIMPEZA, sob pena de serem os responsáveis subsidiários dessas obrigações, in verbis: Art. 5º-A. Contratante é a pessoa física ou jurídica que celebra contrato com empresa de prestação de serviços determinados e específicos. (...) 5 o A empresa contratante é subsidiariamente responsável pelas obrigações trabalhistas referentes ao período em que ocorrer a prestação de serviços, e o recolhimento das contribuições previdenciárias observará o disposto no art. 31 da Lei n o 8.212, de 24 de julho de Essa foi, inclusive, a decisão do STF na ADPF 324 quando assim concluiu: responder subsidiariamente pelo descumprimento das normas trabalhistas, bem como por obrigações previdenciárias, na forma do art. 31 da Lei 8.212/1993. A cláusula 59 tem previsão de que os condomínios podem exigir que as empresas prestadoras de serviços, não representadas pelo SINDICONDOMÍNIOS, que contratem empregados/trabalhadores, não representados pelo SEICON, observem a convenção coletiva firmada entre estes dois sindicatos. Só que a previsão dessa cláusula contraria a Constituição Federal que impõe no Brasil o princípio da unicidade sindical, insculpido no art. 8º, inciso II, da CF, o qual proíbe ter mais de um sindicato em uma mesma base territorial para representar uma mesma categoria, in verbis: Art. 8º

5 II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município; 5 E nesse contexto, é que a CLT no art. 611 também impõe que cada sindicato patronal assine com o sindicato laboral uma convenção coletiva específica, para estipular condições de trabalho, que são aplicáveis no âmbito de representação dos sindicatos que a assina, in verbis: Art Convenção Coletiva de Trabalho é o acordo de caráter normativo, pelo qual dois ou mais Sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações individuais de trabalho. Razão porque os condomínios, ainda que em caráter facultativo, não poderão exigir que as empresas representadas pelo SEAC apliquem a seus respectivos trabalhadores a convenção coletiva assinada entre o SINDICONDOMÍNIO e SEICON, nem mesmo no que for mais favorável ao empregado, sendo inconstitucional e ilegal a cláusula 59. E para o parágrafo primeiro da cláusula 59 outro entendimento também não há, pois faz referência ao caput desta cláusula, e então não poderá a sua inobservância ensejar às empresas a responsabilidade de indenizar os empregados e condôminos, pois os direitos ou são conferidos por lei ou por convenção, e cada categoria tem a sua convenção coletiva específica, que se não cumprida aí sim é que vai gerar responsabilidades. EM CONCLUSÃO É salutar a preocupação do Sindicato filiado, SEAC/DF, com as cláusulas 55, 56, 58, e 59 da CCT assinada entre o SINDICONDOMINIO/DF e o SEICON/DF, no entanto, além de não conterem conteúdo de cunho obrigatório, pois em todos os pontos há o uso da palavra poderá, e não deverá, diante de tudo que consta na Lei nº /2017, também

6 chamada lei da terceirização, e da decisão do STF na ADPF nº 324, e das demais normas de regência, não poderão ter as suas disposições aplicadas a empresas e empregados não representados pelo SINDICONDOMÍNIOS e SEICON, respectivamente, já que estes não representam nenhuma empresa prestadora de serviços, nem mesmo aquela representadas pelo SEAC, tampouco os empregados destas. 6 Dra. CELY SOUSA SOARES Consultora Jurídica da FEBRAC Ope Legis Consultoria Empresarial Brasília, 09 de abril de 2019.