APELAÇÃO CÍVEL Nº

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1 1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA TERCEIRA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL Nº APELANTE: ESPOLIO DE HOMERO BOLIVAR ALVARES (autor) APELADO: FERNANDO MARTINS ADVOGADOS ASSOCIADOS (réu) RELATORA: DES. SIRLEY ABREU BIONDI Juíza sentenciante: Drª. Luciana Santos Teixeira Origem: 9ª Vara Cível da Comarca da Capital Ação Indenizatória demandada em face de ex-patrono. Insatisfação do autor com o serviço de advocacia contratado. Responsabilidade civil do advogado. Incidência do art. 32 da Lei nº 8.906/94. Sentença de improcedência. Inconformismo do autor. Responsabilidade subjetiva não verificada. Ausência de ato ilícito ensejador do dever de indenizar. Providências que não foram tomadas pela desídia do próprio cliente. Sentença que deve ser mantida pelos seus próprios fundamentos. DESPROVIMENTO DO RECURSO, nos termos do voto. Vistos, relatados e discutidos estes autos da APELAÇÃO CÍVEL Nº , em que figuram, como apelante ESPOLIO DE HOMERO BOLIVAR ALVARES, e, apelado, FERNANDO MARTINS ADVOGADOS ASSOCIADOS, ACORDAM os Desembargadores integrantes da Décima Terceira Câmara Cível, POR UANIMIDADE, em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO, nos termos do voto da Desembargadora Relatora.

2 2 RELATÓRIO Trata-se de AÇÃO INDENIZATÓRIA movida por ESPOLIO DE HOMERO BOLIVAR ALVARES em face de FERNANDO MARTINS ADVOGADOS ASSOCIADOS, narrando o autor, em apertada síntese, que: (1) em 03/02/2009, HOMERO BOLlVAR ALVAREZ contratou os serviços do réu objetivando a constituição de uma empresa de administração de bens próprios, sendo que os serviços contratados abrangeriam a elaboração de um contrato social, a localização e instalação da empresa no município de Saquarema, a obtenção do alvará e a inscrição da empresa que viesse a ser constituída no CNPJ/MF; (2) o preço ajustado foi de R$6.000,00, integralmente pago no ato da assinatura do contrato; (3) em 05/05/2009, o contrato foi aditado, com previsão de que a empresa constituída efetuasse a incorporação dos imóveis em nome do contratante, que passariam a ser por ela administrados; (4) pelos serviços contratados no aditamento foram fixados honorários de R$ ,00, a serem pagos em seis parcelas mensais de R$23.000,00, a partir do mês de agosto de 2009; (5) posteriormente, o critério de pagamento foi modificado para pagamento de nove parcelas de R$15.000,00, o que efetivamente ocorreu; (6) independentemente dos honorários contratados, foram pagos ao réu R$12.256,00 referentes a custas cartorárias de certidões e registros de incorporação junto aos cartórios competentes de Araruama, Niterói, Teresópolis e São Gonçalo; (7) os serviços contratados não foram integralmente prestados, nada sendo feito a respeito das incorporações; (8) tendo ocorrido o óbito do contratante HOMERO em 20/10/2010, o contrato foi dado por extinto pelo réu. O autor pleiteia indenização por danos materiais no valor total de R$ ,00 (somatório de R$ ,00 e ,00) e indenização por danos morais no valor de R$50.000,00.

3 3 Na contestação de fls. 39/53, o réu sustenta que houve cumprimento integral dos serviços contratados, indicando que procedeu à constituição da empresa VICTORIA AMAZONAS EMPREENDIMENTOS LTDA-ME, elaborou contrato social, providenciou sede no município de Saquarema, obteve alvará de funcionamento, providenciou a inscrição da empresa no CNPJ. No tocante às custas cartorárias adiantadas, sustenta que também cumpriu com o contratado, procedendo ao registro de Incorporação e instituição da empresa. Acrescenta que, as tratativas quanto à emissão de certidões e registro de incorporação se tornaram inexequíveis por culpa exclusiva do autor, que não forneceu ao réu documentação obrigatória, como escritura definitiva dos imóveis e certidões de IPTU. Réplica às fls. 74/78. Instadas as partes em provas (fl. 79), o autor requereu provas às fls. 80/82 e o réu indicou não ter mais provas a produzir à fl. 83 Na decisão saneadora de fls. 88/89, o Juízo deferiu prova documental suplementar, osendo que esta não chegou a ser apresentada. Sentença, JULGANDO IMPROCEDENTE O PEDIDO (mov ). Inconformado, apelou o espólio autor, por meio da peça recursal trazida no mov , em busca da procedência do pleito autoral Recurso recebido no duplo efeito mov. Contrarrazões consoante mov , pelo desprovimento do recurso.

4 4 Relatei. Passo a decidir. VOTO Presentes os requisitos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade, razão pela qual o recurso é, nesta oportunidade, conhecido. Conforme se depreende do minucioso estudo dos autos, o falecido HOMERO BOLlVAR ALVAREZ contratou os serviços do escritório réu objetivando a constituição de uma empresa de administração de bens próprios, sendo que os serviços contratados abrangeriam a elaboração de um contrato social, a localização e instalação da empresa no município de Saquarema, a obtenção do alvará e a inscrição da empresa que viesse a ser constituída no CNPJ/MF, narrando, contudo, que os serviços não teriam sido efetivamente prestados, razão pela qual veio seu espólio, junto ao Judiciário, reclamar reparação de cunho material e imaterial. Trata-se, pois, de responsabilidade civil do advogado, com fulcro no art. 32 da Lei nº 8.906/94, sendo a responsabilidade de índole subjetiva, necessária, pois, a demonstração de dolo ou culpa do agente. Lei nº 8.906/94 Art. 32. O advogado é responsável pelos atos que, no exercício profissional, praticar com dolo ou culpa. Cumpre ser observado que o autor alega que, em 05/05/2009, o contrato de fls. 14/17 foi aditado, com previsão de que a empresa constituída efetuasse a incorporação dos imóveis em nome do contratante, sendo acordados honorários de R$ ,00.

5 5 Todavia, o autor não trouxe aos autos o alegado aditamento contratual que supostamente teria fixado as obrigações que teriam sido inadimplidas. Em outro giro, o réu, por sua vez, demonstrou ter prestado regularmente serviços relativos à constituição da empresa Victoria Amazonas Empreendimentos Ltda-Me, conforme exame dos documentos de fls. 61/71. Quanto às demais indagações formuladas, é de se levar em conta a alegação do réu no sentido da inexequibilidade das obrigações por falta de fornecimento de documentação relativa aos imóveis, por parte do próprio falecido. Nesse sentido, vale colacionar as abalizadas palavras da sentenciante: Assim, o contexto dos autos indica que eventuais obrigações descumpridas (que não chegaram a ser devidamente demonstradas nos autos) derivaram da desistência ou falta de interesse do contratante, após o óbito de HOMERO BILIVAR ALVAREZ. Ocorre que o contrato celebrado entre as partes caracteriza ato jurídico perfeito, constitucionalmente protegido. Eventual desinteresse do espólio autor no cumprimento do contrato não implica na restituição do preço pago, eis que não foi demonstrada desídia por parte do réu. A título exemplificativo, trago a ementa, verbis (grifos nossos): APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS. PROFISSIONAL LIBERAL. ART. 14, 4º C.D.C. NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DE CULPA. NÃO PROPOSITURA DE AÇÃO POR AUSÊNCIA DE DOCUMENTO. ATUAR CONSENTÂNEO COM A ÉTICA. A contratação de serviços advocatícios, quando não se está presente a atividade empresarial, deve ser regida pela teoria da responsabilidade subjetiva,

6 6 de modo a ser demonstrada a culpa do causídico no atuar lesivo. Assim, atuando o mandatário dentro da conduta que se espera de um profissional, o resultado indesejado não constitui dano a ser reparado. A não propositura de uma demanda, por não terem sido entregues os documentos solicitados pelo advogado, apresenta-se como atitude correta, tendo em vista que é dele a capacidade postulatória. Pagamento dos honorários que se configuram devidos em virtude da consulta realizada e a disponibilidade do profissional em realizar o serviço, que não se efetivou por culpa da contratante. Conhecimento e desprovimento do recurso ( Apelação Des. Lucia Miguel S. Lima - Julgamento: 28/11/ Décima Segunda Câmara Cível). Se os serviços não foram efetivamente concluídos por desídia do cliente, o advogado jamais poderá, por isso, ser responsabilizado. Nítido, assim, que não restaram evidenciados o dano indenizável, o serviço defeituoso e o nexo causal entre eles, o que afasta totalmente o dever de indenizar. Diante do exposto, voto pelo DESPROVIMENTO DO RECURSO. RJ, 16/09/2015. SIRLEY ABREU BIONDI DES. RELATORA