EXMO. SR. JUIZ FEDERAL DA 7ª VARA FEDERAL CRIMINAL DO RIO DE JANEIRO DR. MARCELO DA COSTA BRETAS.

Transcrição

1 EXMO. SR. JUIZ FEDERAL DA 7ª VARA FEDERAL CRIMINAL DO RIO DE JANEIRO DR. MARCELO DA COSTA BRETAS. Fls 4328 PAULO FERNANDO MAGALHÃES PINTO GONÇALVES, por seus advogados, nos autos do processo nº , vem, em razão dos argumentos e fatos expostos abaixo, requerer a revogação da prisão preventiva outrora decretada ou a sua substituição por medida alternativa. No dia 25 de novembro de 2016, VOSSA EXCELÊNCIA acolheu pedido formulado pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL e decretou a prisão preventiva do REQUERENTE, argumentando, para tanto, que, em liberdade, ele poria em risco (i) a ordem pública e o (ii) desenvolvimento da investigação policial. Pois bem. Passados quase dois meses da decisão que decretou a prisão preventiva, necessário se faz reavaliar a necessidade da medida em relação ao REQUERENTE, nos termos do 5º do artigo 282 do Código de Processo Penal: 1

2 O JUIZ PODERÁ REVOGAR A MEDIDA CAUTELAR OU SUBSTITUI- LA QUANDO VERIFICAR A FALTA DE MOTIVO PARA QUE SUBSISTA, Fls 4329 BEM COMO VOLTAR A DECRETÁ-LA, SE SOBREVIEREM RAZÕES QUE A JUSTIFIQUEM. A doutrina, aqui representada pelas palavras de MOUGENOT, leciona que que as medidas cautelares POSSUEM AINDA A CARACTERÍSTICA DA MUTABILIDADE, HAJA VISTA O SEU CARÁTER PRECÁRIO, PODENDO SER REVOGADA A QUALQUER TEMPO, ALTERADA OU SUBSTITUÍDA SEMPRE QUE NÃO MAIS SE DEMONSTRE ÚTIL E EFICAZ PARA O FIM A QUE E DESTINA, BEM COMO QUANDO PERCA O SUBSTRATO FÁTICO QUE EMBASA A SUA IMPOSIÇÃO 1. No caso em concreto, o REQUERENTE, diferentemente de tantos outros denunciados, não está acusado de praticar o crime de corrupção, mas apenas e tão somente do cometimento dos delitos de lavagem de dinheiro e organização criminosa, basicamente por conta de duas situações pontuais, relativas à aquisição de uma embarcação e ao pagamento de despesas referentes a uma determinada sala comercial. Ainda que no momento em que a prisão preventiva fora decretada houvesse alguma razão concreta que a justificasse como necessidade de garantir o regular desenvolvimento das investigações policiais, o que se admite por argumentar, certo é que as investigações policiais já se encerraram, tendo sido oferecida denúncia pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. 1 Código de Processo Penal Anotado, Editora Saraiva, 5a Edição, página

3 Portanto, salvo melhor juízo, a prisão preventiva decretada contra o REQUERENTE não mais se justifica com base neste argumento. Fls 4330 Por outro lado, inexiste hoje o apontamento de um fato concreto capaz de justificar a decretação da prisão preventiva para a garantia da ordem pública. revelou excepcional e acessória. Em verdade, a situação do REQUERENTE sempre se Veja, por exemplo, Senhor JUIZ, que, inicialmente, VOSSA EXCELÊNCIA ordenou a prisão temporária do REQUERENTE. Ele, por sua vez, diga-se de passagem, se apresentou espontaneamente à AUTORIDADE POLICIAL 2 e respondeu todas as perguntas que lhe foram formuladas, muito embora não tenha tido antes acesso aos autos da investigação e pudesse exercer o direito constitucional de ficar em silêncio. REQUERENTE A par disso, através de seus advogados, o entregou voluntariamente seu passaporte a este respeitável Juízo, esclarecendo, na mesma oportunidade, não possuir dupla nacionalidade. 2 O mandado de prisão expedido contra o REQUERENTE foi cumprido em endereço equivocado. Por esta razão, ele não foi encontrado, tendo, contudo, no decorrer do dia, se apresentado espontaneamente. 3

4 No mais, passados quase dois meses da deflagração da operação policial, nenhum fato novo e concreto surgiu em relação ao REQUERENTE, tendo ele sido denunciado basicamente pelos mesmos fatos inicialmente divulgados. Fls 4331 Sabe-se, Excelência, que a regra é a liberdade e a prisão tem caráter absolutamente excepcional em nosso ordenamento jurídico. Quando muito, para dizer o mínimo, seria o caso de substituir a prisão por outra medida cautelar, nos termos do 6º do artigo 282 do Código de Processo Penal. A prisão preventiva do REQUERENTE definitivamente não é única medida cautelar capaz de garantir a ordem pública, pois outras podem servir a este propósito, com a mesmíssima eficácia, sobretudo se levarmos em consideração que o REQUERENTE já foi (i) alvo de busca e apreensão, (ii) está com os bens indisponíveis e (iii) há muito deixou de exercer qualquer função pública. Portanto, ainda que VOSSA EXCELÊNCIA julgue necessária a adoção de providências para a garantir a ordem pública, espera-se que seja a prisão preventiva substituída por medidas cautelares menos restritivas, dentre aquelas previstas pelo artigo 319 do Código de Processo Penal. Aliás, nesse passo, importante ressaltar que tanto o Colendo Superior Tribunal de Justiça, quanto o Egrégio Supremo Tribunal Federal recomendam a substituição, na medida em que a prisão somente se justifica em último caso: 4

5 (...)POSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO DE MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS COM A MESMA EFICIÊNCIA. (...) 5. EM NOSSO SISTEMA, NOTADAMENTE A PARTIR DA LEI Fls /2011, QUE DEU NOVA REDAÇÃO AO ART. 319 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, O JUIZ TEM NÃO SÓ O PODER, MAS O DEVER DE SUBSTITUIR A PRISÃO CAUTELAR POR OUTRAS MEDIDAS SEMPRE QUE ESSAS SE REVESTIREM DE APTIDÃO PROCESSUAL SEMELHANTE. IMPÕE-SE AO JULGADOR, ASSIM, NÃO PERDER DE VISTA A PROPORCIONALIDADE DA MEDIDA CAUTELAR A SER APLICADA NO CASO, LEVANDO EM CONTA, CONFORME REITERADAMENTE ENFATIZADO PELA JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE, QUE A PRISÃO PREVENTIVA É MEDIDA EXTREMA QUE SOMENTE SE LEGITIMA QUANDO INEFICAZES TODAS AS DEMAIS (HC , REL. MIN. DIAS TOFFOLI, PRIMEIRA TURMA, DJE DE 20/9/2011; HC REL. MIN. RICARDO LEWANDOWSKI, SEGUNDA TURMA, DJE DE 12/12/2012) ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA, PARA SUBSTITUIR A PRISÃO PREVENTIVA DO PACIENTE POR MEDIDAS CAUTELARES ESPECÍFICAS 3. HABEAS CORPUS. ART. 273, 1º-B, I, DO CÓDIGO PENAL; 33, CAPUT, DA LEI N /2006; 56, CAPUT, DA LEI N /1998. PRISÃO PREVENTIVA. REQUISITOS CONFIGURADOS. FUNDAMENTAÇÃO. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. MEDIDAS CAUTELARES ALTERNATIVAS À PRISÃO. POSSIBILIDADE. IGUAL IDONEIDADE E EFICÁCIA... (...) 7. PARA SUBMETER ALGUÉM À PRISÃO CAUTELAR, É NECESSÁRIA FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA, SOB AS BALIZAS DO ART. 312 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, O QUE AFASTA A INVOCAÇÃO DA MERA GRAVIDADE ABSTRATA DO DELITO OU O RECURSO A AFIRMAÇÕES VAGAS E DESCONTEXTUALIZADAS DE QUE A PRISÃO É NECESSÁRIA PARA 3 STF, HC , 2ª T, MIN. REL. TEORI ZAVASCKI, J

6 GARANTIR A ORDEM PÚBLICA OU ECONÔMICA, A INSTRUÇÃO CRIMINAL OU A APLICAÇÃO DA LEI PENAL (FUNDAMENTAÇÃO OPE LEGIS)... Fls A DESPEITO DA GRAVIDADE E DA REPROVABILIDADE SOCIAL DO COMPORTAMENTO ATRIBUÍDO AO PACIENTE - A ENSEJAR-LHE, SE DEMONSTRADA A IMPUTAÇÃO, CORRESPONDENTE E PROPORCIONAL SANCIONAMENTO PENAL -, HÁ DE SER ANALISADA A EVENTUAL EXISTÊNCIA DE MEIOS OUTROS, QUE NÃO A PRISÃO PREVENTIVA, QUE POSSAM, COM IGUAL IDONEIDADE E EFICÁCIA, SATISFAZER AS EXIGÊNCIAS CAUTELARES DO CASO ANALISADO, COM CARGA COATIVA MENOR. 10. AS MEDIDAS ALTERNATIVAS À PRISÃO ESTÃO LIGADAS À IDEIA DE UMA PROVIDÊNCIA IGUALMENTE ADEQUADA E SUFICIENTE PARA O FIM COLIMADO COM A MEDIDA CAUTELAR EXTREMA, PORÉM COM MENOR GRAU DE LESIVIDADE À ESFERA DE LIBERDADE DO INDIVÍDUO. É ESSA, PRECISAMENTE, A COMPREENSÃO DE SUBSIDIARIEDADE PROCESSUAL PENAL, QUE PERMEIA O PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE, EM SUA MÁXIMA PARCIAL (OU SUBPRINCÍPIO) DA NECESSIDADE (PROIBIÇÃO DE EXCESSO). 11. É PLENAMENTE POSSÍVEL QUE, EMBORA PRESENTES OS MOTIVOS OU OS REQUISITOS QUE TORNARIAM CABÍVEL A PRISÃO PREVENTIVA, O JUIZ - À LUZ DO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE E DAS NOVAS ALTERNATIVAS FORNECIDAS PELA LEI N / CONSIDERE A OPÇÃO POR UMA OU MAIS DAS MEDIDAS INDICADAS NO ART. 319 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL O MEIO SUFICIENTE E ADEQUADO PARA OBTER O MESMO RESULTADO - A PROTEÇÃO DO BEM JURÍDICO SOB AMEAÇA - DE FORMA MENOS GRAVOSA. (...) 16. ORDEM CONCEDIDA PARA, TENDO-SE EM CONTA A GRAVIDADE DOS CRIMES IMPUTADOS AO PACIENTE, AS CIRCUNSTÂNCIAS DOS FATOS E AS SUAS CONDIÇÕES PESSOAIS, SUBSTITUIR A PRISÃO PREVENTIVA POR MEDIDAS CAUTELARES 6

7 ALTERNATIVAS, NOS TERMOS DO VOTO DO MINISTRO ROGERIO SCHIETTI 4. Fls 4334 Por fim, cumpre ressaltar que ontem a defesa foi surpreendida com uma nota do repórter GUILHERME AMADO, publicada pelo Jornal O GLOBO, mais precisamente na coluna do jornalista LAURO JARDIM, segundo a qual o REQUERENTE teria firmado suposto acordo de colaboração premiada, revelando fatos que envolveriam o ex-governador do Estado do Rio de Janeiro, o Senhor SÉRGIO CABRAL. Salvo melhor juízo, diante deste fato mais ainda se justifica a necessidade de se estabelecer uma medida cautelar diversa da prisão, de modo a conciliar esses dois interesses, quais sejam: (i) assegurar a integridade física do REQUERENTE e (ii) garantir a ordem pública. Ante o exposto, pede-se a revogação da prisão preventiva decretada contra o REQUERENTE. Afinal de contas, a investigação está encerrada, já havendo inclusive recebimento de denúncia por VOSSA EXCELÊNCIA. Além disso, nenhum fato concreto foi efetivamente apontado para justificar o alegado risco à ordem pública. Alternativamente, sobretudo levando em consideração às circunstâncias de natureza pessoal da situação 4 STJ, HC /TO, 6ª T, MIN. REL. ROGÉRIO SCHIETTI CRUZ, J

8 jurídica do REQUERENTE, requer-se a substituição da prisão preventiva por medida menos restritiva. Fls 4335 P. Deferimento. Rio de Janeiro, 09 de janeiro de PAULO FREITAS RIBEIRO OAB/RJ