Conselho Directivo Regional Sul e Ilhas Comunicado nº 14 08/03/2013
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- Mikaela da Cunha
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1 1 LEI 23/2013 DE 05/03 - REGIME JURÍDICO DO PROCESSO DE INVENTÁRIO I. SÍNTESE DAS ALTERAÇÕES PROJECTADAS Em relação à Lei n.º 29/2009, de 29 de Junho, o projeto sob análise retira, infelizmente, aos Serviços de Registo, a competência para efectuar o processamento doa atos e termos do Processo de Inventário. II. COMENTÁRIOS À LEI Retirada de competências aos Serviços de Registos para efectuar os Processos de Inventário A Lei 23/03 revogou quase na sua totalidade a Lei 29/2009, no entanto, comparando o artigo 3º 1 da Lei n.º 29/2009, de 29 de Junho, com o artigo 3º 2 do Regime Jurídico do Processo de Inventário, aprovado pela Lei 23/2013, de 05 de Março, verificamos que houve um recuo por parte do legislador, retirando a competência aos Serviços de Registo para efectuar o processamento doa atos e termos do Processo de Inventário, o que na nossa opinião é um erro tremendo. Ora, o STRN, em tempo útil fez chegar à Ex.ª Sr.ª Ministra da Justiça e às mais diversas entidades, as suas reservas quanto a esta matéria, que lamentavelmente não foram consideradas. 1 Artigo 3.º Competência 1 Cabe aos serviços de registos a designar por portaria do membro do Governo responsável pela área da justiça e aos cartórios notariais efectuar as diligências do processo de inventário, tendo o juiz o controlo geral do processo. 2 Os interessados podem escolher qualquer serviço de registo designado nos termos do número anterior ou qualquer cartório notarial para apresentar o processo de inventário. 2 Artigo 3.º Competência do cartório notarial e do tribunal 1 Compete aos cartórios notariais sediados no município do lugar da abertura da sucessão efetuar o processamento dos atos e termos do processo de inventário e da habilitação de uma pessoa como sucessora por morte de outra. 2 Em caso de impedimento dos notários de um cartório notarial, é competente qualquer dos outros cartórios notariais sediados no município do lugar da abertura da sucessão. 3 Não havendo cartório notarial no município a que se referem os números anteriores é competente qualquer cartório de um dos municípios confinantes. 1
2 2 Esta reforma vai ser um fracasso total e terá que, mais tarde ou mais cedo, ser corrigida, senão vejamos: a) Nos termos do artigo 3º da Lei 29/2009 alterado pela lei 23/2013, o processo de inventário é realizado no Cartório Notarial do concelho onde ocorreu o óbito, desde logo o legislador não acautelou o interesse dos cidadãos bem como o sucesso desta reforma, uma vez que não há Cartórios Notariais em todos os concelhos. O diploma prevê ainda que, caso não haja Cartório Notarial no município onde ocorreu o óbito, é competente o Cartório Notarial de um dos municípios confinantes. Assim sendo, esta reforma não vai chegar a todos os cidadãos por igual, teremos cidadãos de primeira e de segunda consoante haja ou não Cartório Notarial no seu respetivo concelho, (olhemos especialmente para o interior do país e para as ilhas será mais um contributo para agravar as desigualdades devidas à situação geográfica, pois não se relevou o impacto que a interioridade e a insularidade causam na vida dos cidadãos), senão, vejamos a título de exemplo: NO DISTRITO DE BRAGANÇA Dos 12 concelhos apenas 4 têm Cartório Notarial. NO DISTRITO DE BEJA Dos 14 concelhos apenas 5 têm Cartório Notarial. NO DISTRITO DE PORTALEGRE Dos 12 concelhos apenas 4 têm Cartório Notarial. NA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES, não existem Cartórios Notariais nas Ilhas da Graciosa, de São Jorge, do Faial, das Flores, do Corvo e de Santa Maria, logo o inventário de qualquer cidadão que faleça numa destas ilhas terá que forçosamente ser realizado numa das ilhas onde haja Cartório Notarial, com as evidentes desvantagens, transtornos e custos associados com as deslocações. Ainda assim, nas ilhas onde existem Cartórios Notariais, não são abrangidos todos os municípios: i) Ilha do Pico - Dos 3 concelhos apenas existe 1 Cartório Notarial no concelho da Madalena; 2
3 3 ii) Ilha de São Miguel - Dos 6 concelhos apenas existe 1 Cartório Notarial em Ponta Delgada; iii) Na Ilha do Faial e na Ilha Terceira existem Cartórios Notariais em todos os concelhos. A esta rede por si já deficitária, acresce ainda que muitos dos Notários que exercem a sua actividade podem regressar às Conservatórias, o que agravará exponencialmente a falta de cobertura a nível nacional, pelo aumento do número de municípios sem Cartório Notarial No caso da RAA, e, analisando o quadro infra, prevemos a imensa dificuldade que as famílias dos cidadãos que faleçam nas ilhas onde não existam Cartórios Notariais terão, devido às distâncias entre todas as ilhas da RAA e aos óbvios transtornos associados, quer pelas hipóteses reduzidas de mobilidade quer pelos custos uma vez que a maior parte das viagens terão que ser feitas de avião. Distâncias (em Km) entre as 9 ilhas do arquipélago dos Açores A Zona Económica Exclusiva (ZEE) dos Açores abrange uma superfície de km2, o que representa 57% da ZEE Nacional e cerca de 30% da ZEE da União Europeia. Isso deve-se à posição das ilhas. A maior distância é entre Santa Maria e Corvo (602 km) e a mais pequena é entre o Faial e o Pico (9 km). Santa Maria 102 S. Miguel Terceira Graciosa S. Jorge* * Ilhas do Triângulo Pico* Faial* Flores Corvo Marienses Micaelenses Terceirenses Graciosenses Jorgenses Picoenses Faialenses Florentinos Corvinhos Grupo Ocidental Grupo Central Grupo Oriental 3
4 4 Assim, entendemos que esta medida legislativa onera os cidadãos, que em alguns casos, devido ao valor da herança, não farão sequer o Processo de Inventário, sendolhes assim negado, consequentemente, o acesso à justiça e a possibilidade de resolverem os seus problemas. b) Em contraponto, o Instituto dos Registos e do Notariado, Instituto Publico (IRN, IP), tem serviços desconcentrados (Conservatórias, Balcões Únicos, Lojas do Cidadão, etc ) em todos os concelhos do território nacional e por isso, pela sua proximidade, seria uma mais-valia para os cidadãos que os Serviços de Registos pudessem efectuar os Processos de Inventário, conforme estava anteriormente previsto. c) O IRN,IP presta serviço público e no seu dia-a-dia prossegue os fins públicos e consequentemente os interesses dos cidadãos enquanto os Cartórios Notariais prosseguem fins privados e procuram o lucro, e esta é a verdadeira razão porque não existem Cartórios Notariais em todos os concelhos, porque apesar de os Notários Privados poderem recorrer ao fundo de compensação da Ordem dos Notários - o que asseguraria o pagamento das despesas correntes estes Cartórios não são financeiramente rentáveis e desde logo pouco ou nada apetecíveis. d) O IRN,IP já gastou centenas de milhares de euros em aplicações informáticas, as quais se encontram preparadas para serem utilizadas na aplicação desta reforma, não se compreendendo que agora não se aproveite esse investimento. e) O IRN, IP levou sempre a bom porto e com sucesso reconhecido todos as reformas e os projetos que teve entre mãos (Empresa na Hora, Casa Pronta, Balcão de Heranças, Nascer Cidadão, etc - alguns destes apontados como serviço publico de excelência pela revista Visão na sua edição de 09/02/2012), pelo que a possibilidade de se efectuarem os Processos de Inventário nos serviços desconcentrados do IRN, IP, seria uma vez mais a fórmula para o sucesso e cumulativamente uma garantia para o cidadão do êxito desta reforma. 4
5 5 f) Num Governo que sempre defendeu a liberalização e a concorrência (razões invocadas na privatização do notariado publico e noutras) esta medida é um contrasenso a de apenas permitir que uma entidade preste este serviço. g) O Governo devia dar a possibilidade ao cidadão de poder recorrer às Conservatórias ou aos Cartórios Notariais, em igualdade de circunstâncias e em leal concorrência, permitindo-lhe a livre escolha de qual a entidade que prefere. Todos sairiam a ganhar com a possibilidade de escolha, entre público e privado. h) Aliás num passado bem recente e em comarcas onde não haviam Magistrados era o Notário e/ou o Conservador que desempenhava muitas vezes essa função, pelo que não faz sentido esta diferenciação. i) Nem todos os Notários Privados estão interessados em tramitar Processos de Inventário, o que além de todas as razões atrás expostas, acresce para que a reforma venha a ser um fracasso, por tudo o que se adivinha e se deixa antever. j) O IRN, IP e o STRN já ministraram formação sobre o Processo de Inventário aos funcionários. k) Os funcionários do IRN, IP já deram provas da sua capacidade de adaptação a novos desafios. Foram aliás sujeitos nestes últimos anos, como mais nenhuma entidade pública ou privada foi, a múltiplas alterações - sejam pelos novos projetos, pelas reengenharias de procedimentos, pelas tantas alterações legislativas que mudaram ao seu tradicional quotidiano - com o sucesso por todos reconhecido e com prémios nacionais e internacionais que muito nos orgulham e honram pela sua distinção. l) Os funcionários do IRN, IP estão devidamente habilitados a prestar este serviço tal como o tem sobejamente demonstrado no balcão das heranças, (recorde-se que muitos Notários e Oficiais dos Cartórios Públicos permaneceram nos Serviços de 5
6 6 Registo e muitos outros estão a regressar) pelo que a possibilidade de o IRN, IP poder tramitar nos seus serviços o Processo de Inventário traria diversas mais-valias, para além das que já apontamos e que têm como últimos beneficiários os cidadãos: 1) Aproveitamento da rede dos serviços desconcentrados que o IRN, IP tem em todo o território nacional (existem em todos os concelhos) e consequentemente da habilitação, capacidade, motivação e know how dos seus funcionários. 2) Contribuição para a sustentabilidade e manutenção do serviço público de excelência. Finalizamos afirmando que: Ao Governo compete criar condições favoráveis aos cidadãos e no tocante à justiça, aumentar a celeridade na obtenção das decisões, não esquecendo de que nas reformas, que servem para melhorar a vida dos cidadãos e o próprio sistema, se deve primar para, pelo menos, manter os mesmos direitos e as mesmas garantias que os cidadãos detinham anteriormente. Nesse sentido, a inclusão dos Serviços de Registos era fundamental e deveria ter sido uma primeira escolha, pois ficariam assegurados desde logo: a) O sucesso da reforma (prosseguimos um fim público) e encontramo-nos em todos os concelhos do país. b) Os mesmos meios de acesso à justiça tendo em conta o serviço de proximidade que prestamos a par dos tribunais. Ao não ser assim, nesta desjudicialização, pelos motivos supra expostos, ficou prejudicada a livre escolha, pelo cidadão, de qual a entidade que prefere para lhe prestar o serviço, bem como, foram diminuídas as garantias que os cidadãos detinham anteriormente no acesso à justiça. Lamentavelmente, esta reforma está votada ao fracasso porque não foi pensada para os cidadãos. Será apenas uma questão de tempo. O CDRSI do STRN 6
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