EDUCAÇÃO EM SAÚDE E A UNA-SUS
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- Alice de Caminha Borja
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1 EDUCAÇÃO EM SAÚDE E A UNA-SUS MÔNICA MACHADO DUARTE Núcleo de Políticas Públicas em Educação - Doutoranda Orientador: Prof. Dr. Cleiton de Oliveira Introdução A pesquisa em desenvolvimento tem como objeto de estudo o Sistema UNA-SUS, a importância da temática se deve ao fato de buscar compreender a necessidade de implantar cursos de educação continuada no Ministério da Saúde e também por sua abrangência nacional com o uso da modalidade à distância. O Sistema Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (UNA-SUS) foi instituído em 2010 pelo Decreto de 8 de dezembro de 2010 e regulamentado em 2013 pela Portaria Interministerial n o 10, de 11 de julho de 2013, tem como público-alvo os funcionários do Sistema Único de Saúde (SUS), por finalidade a educação permanente e como modalidade a educação à distância (EaD). O Sistema é composto por 36 instituições de ensino superior que constituem a Rede colaborativa; o Acervo de Recursos Educacionais em Saúde - ARES e a Plataforma Arouca. Para aderir ao sistema UNA-SUS a Universidade deve ser pública e credenciada junto ao Ministério da Educação (MEC) na modalidade EaD, por meio de celebração de convênios e termos de cooperação com o Ministério da Saúde para a atuação articulada. A pesquisa A investigação tem como hipótese inicial a ideia de que as universidades públicas da área da saúde não contemplavam as necessidades do profissional que trabalha na saúde pública, havendo assim uma dicotomia entre o ensino e a realidade, priorizando provavelmente, a atividade do profissional liberal em clínica privada. O estudo pretende analisar o Sistema Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (UNA-SUS), considerando dentre outros, os seguintes: razões de sua criação, os seus objetivos explícitos, modalidade e níveis dos cursos oferecidos, número de vagas e área geográfica de atuação. Os procedimentos metodológicos empregados na pesquisa consistem na análise da literatura em saúde e educação concernentes à temática; a análise documental da legislação federal e das informações disponíveis no site da UNA-SUS ( O Sistema SUS O Sistema Único de Saúde brasileiro foi instituído pela Constituição de 1988, regulamentado dois anos após pela Lei de 19 de setembro de 1990; constituído como definido no art. 4º da lei, pelo englobamento das ações e serviços prestados por todos os órgãos e fundações mantidos pelo poder público, sejam municipais, estaduais ou federais, inclusive instituições de pesquisa; e, ainda, determina no 2º que a participação da iniciativa privada deve ser em caráter complementar. O que havia antes da Constituição de 1988 era o seguro social, direito mediante contribuição individual; quem não tinha trabalho com carteira assinada não tinha direito, era atendido como indigente; o órgão responsável compartilhava a previdência com a saúde,
2 o antigo INAMPS (Instituto Nacional de Previdência Social). Após 1988 o artigo 194 da Constituição Federal cria o sistema de seguridade social assegurando a universalidade da cobertura, o artigo 195 estabelece a regra inicial de financiamento e o artigo 196 define sua abrangência. A mudança de seguro para seguridade social é fundamental, pois na primeira situação só tinha direito quem contribuísse: Art A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Art A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais (...) Art A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. (BRASIL, 1988) Essa mudança da organização da saúde pública se deu graças ao movimento social denominado Reforma Sanitária Brasileira (RSB), que ganhou mais força após a VIII Conferência Nacional de Saúde realizada em A RSB foi um projeto de reforma social, ela iniciava na saúde, mas não se esgotava na saúde (PAIM, 2008). Esse é um momento muito relevante no contexto social brasileiro, pois era a transição do período ditatorial para o período democrático. Havia também uma preocupação em alterar a estrutura organizacional da Saúde da verticalidade para a horizontalidade, e, a inclusão do Município como ente federado a partir da Constituição de 1988, facilitou o processo. O federalismo é instrumento para equalizar a heterogeneidade do país e auxiliar na construção de uma ideologia nacional que possa compreender a unidade na diversidade (ABRUCIO, 2010). A redução das transferências do governo federal num momento de universalização do atendimento poderia ter acabado com o SUS na sua concepção, mas os investimentos dos demais entes federados reduziu o impacto (VAZQUEZ, 2010). Desenvolvimento Os serviços de saúde no Brasil colônia se restringiam principalmente aos profissionais boticas, poucos médicos e serviços hospitalares filantrópicos, como as Santas Casas de Misericórdia, geridas por entidades religiosas até 1808, ano em que a família real portuguesa se estabeleceu no Brasil. O Imperador em terras brasileiras fundou a primeira faculdade de Medicina na Bahia e a segunda no Rio de Janeiro, ainda no mesmo ano, reestruturou os serviços de saúde e sanitários, abriu um hospício e um leprosário, permanecendo ainda um investimento muito inferior à necessidade de um país alastrado por doenças como a malária, varíola e dengue. Essa situação não melhorou muito nem com a Independência em 1822, quando D. Pedro II reestruturou os serviços de saúde sem ampliar de maneira significativa os investimentos e nem em 1889 com a Proclamação da República. As pesquisas nacionais, o advento da vacina para a varíola o combate aos focos do mosquito transmissor da malária, em conjunto com a atuação da polícia sanitária reduziram as mortes entre o final do século XIX e início do século XX. Já no século XX algumas entidades começaram a se organizar de forma independente fundando as caixas de assistência com finalidade previdenciária e de serviços de saúde, que posteriormente foram agrupadas pelo INAMPS (Instituto Nacional da Previdência Social) e a partir da constituição de 1988 a previdência e a saúde tornaram-se serviços independentes (PAIM, 2009; FAORO, 2012).
3 A temática escolhida exige que seja revisto e reconstruído o federalismo brasileiro, pois isso vai determinar qual nível da área da educação e saúde o ente federado deve se responsabilizar. O Brasil adotou o federalismo como forma de organização política desde 1889, mas só os Estados e a União eram considerados entes federados; no entanto, desde a época do império, já havia aspectos descentralizadores, em 1828 a União deslocou para os Municípios a responsabilidade sobre a saúde pública (PAIM, 2009) e o Ato Adicional de 1834 transferiu a responsabilidade do ensino de primeiras letras para as Províncias. A Constituição de 1988 redefine a forma federativa, incluindo o Município como ente federado, a partir de então a gestão da saúde passa a ser tripartite e da educação foi regulamentada entre as esferas federativas (BRASIL, 1988). O Decreto de 8 de dezembro de 2010, que institui o Sistema Una-SUS também delimita o seu modus operandi: Art. 1º Fica instituído, no âmbito do Ministério da Saúde, o Sistema Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde - UNA-SUS, com a finalidade de atender às necessidades de capacitação e educação permanente dos trabalhadores do Sistema Único de Saúde - SUS, por meio do desenvolvimento da modalidade de educação a distância na área da saúde. Parágrafo único. São objetivos do UNA-SUS: I - propor ações visando atender às necessidades de capacitação e educação permanente dos trabalhadores do SUS; II - induzir e orientar a oferta de cursos e programas de especialização, aperfeiçoamento e outras espécies de qualificação dirigida aos trabalhadores do SUS, pelas instituições que integram a Rede UNA-SUS; III - fomentar e apoiar a disseminação de meios e tecnologias de informação e comunicação que possibilitem ampliar a escala e o alcance das atividades educativas; IV - contribuir para a redução das desigualdades entre as diferentes regiões do País, por meio da equalização da oferta de cursos para capacitação e educação permanente; e V - contribuir com a integração ensino-serviço na área da atenção à saúde. Das 36 instituições parceiras da UNA-SUS, que aderiram à proposta, 31 são federais e 4 são estaduais. O Sudeste lidera com 10 instituições parceiras, seguida do nordeste, sul, norte e centro-oeste. Rio de Janeiro e Minas Gerais concentram 4 instituições cada, seguida por 3 no Rio Grande do Sul, 2 no Paraná, Santa Catarina e Pernambuco os demais estados com 1 cada, sendo 7 no interior e 28 nas capitais. Os estados do Acre, Roraima, Amapá, Espírito Santo e Goiás não têm instituições parceiras, após cinco anos da criação da UNA- SUS. Um total de 18 cursos está disponível para inscrição no site da UNA-SUS, todos com temas específicos de atenção à saúde e de acordo com as prioridades definidas pelo Ministério da Saúde 1. O Acervo de Recursos Educacionais em Saúde (ARES) funciona como uma biblioteca digital de acesso livre ao público, com material didático fornecido pelas instituições parceiras. O ARES colocou à disposição no site 39 áreas temáticas, definidas de acordo com as áreas prioritárias do Ministério da Saúde Os cursos disponíveis são: Aperfeiçoamento em Atenção Domiciliar, Álcool e outras drogas, da coerção à coesão Atenção Domiciliar, Atenção Integral à Saúde da Criança I, Atenção Integral à Saúde da Criança II, Atenção Integral à Saúde Sexual e Reprodutiva I, Atenção Integral à Saúde Sexual e Reprodutiva II, Dengue, Hanseníase na Atenção Básica, Hemograma, Anemia e Linfadenopatia, Influenza, Política de saúde LGBT, Prevenção e Manejo de Pacientes Oncológicos na Atenção Primária à Saúde, Saúde da População Negra, Saúde das Populações do Campo, da Floresta e das Águas, Tuberculose, Uso Terapêutico de Tecnologias Assistivas e Vacinação contra o Papilomavírus Humano (HPV). 2 - As áreas temáticas são: Acidentes e Violência, AIDS, Alimentação e Nutrição, Atenção Domiciliar, Atenção Primária/Saúde da Família, Biossegurança, Câncer, Diabetes, Doenças Crônicas, Doenças Infecciosas, Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), Economia da Saúde, Educação em Saúde, Enfermagem, Epidemiologia, Hipertensão, Medicamentos e Vacinas, Políticas de Saúde e Planejamento, Promoção da Saúde, Sangue e Hemoderivados, Saúde Ambiental, Saúde Bucal, Saúde da Criança, Saúde da Mulher, Saúde da Pessoa Portadora de Deficiência, Saúde da População Negra, Saúde do Adolescente e do Jovem, Saúde do Idoso, Saúde do Trabalhador, Saúde dos Povos Indígenas, Saúde Mental, Saúde no Sistema Penitenciário, Saúde Sexual e Reprodutiva, Saúde Suplementar, Transplantes, Urgência e Emergência, Vigilância em Saúde, Vigilância Sanitária, Ética e Bioética.
4 A Plataforma Arouca 3 consiste em um sistema de informações dos profissionais de saúde vinculados ao SUS, contém o currículo de cada profissional e as oportunidades de cursos de maneira a facilitar a identificação de cursos no município ou região mais próxima de interesse. As modalidades dos cursos são presenciais ou a distância, a duração curta ou longa e o caráter prático ou acadêmico, mas sempre financiados por recursos públicos e para qualificar os trabalhadores do SUS. A tese será constituída por cinco capítulos: no primeiro capítulo será apresentado e analisado o federalismo brasileiro e sua singularidade; no segundo capítulo a análise se concentrará no federalismo na educação brasileira, a questão do ensino a distância e legislação; no terceiro capítulo será apresentado breve histórico dos serviços de saúde e de educação em saúde no Brasil e as alterações trazidas pela Constituição de 1988; no capítulo quarto serão analisadas a UNA-SUS em relação à educação permanente, aos aspectos já mencionados e outros achados da pesquisa; por último serão apresentadas as considerações finais. Considerações finais O Sistema UNA-SUS está organizado com o objetivo de oferecer atualização de conhecimentos que se aproxime da prática diária do profissional do SUS. Nem todas as capitais estão envolvidas no processo e o número de instituições federais e estaduais participantes pode ser considerado reduzido. A modalidade EaD demonstra o alcance exponencial e pode compensar a ausência de determinados estados, um estudo mais amplo é necessário, principalmente sobre a origem geográfica dos alunos. O alcance desse sistema parece inegável, pois ofereceu em cinco anos de atividade quase 200 mil vagas, como pode ser visualizado no site da UNA-SUS, mas é necessário ainda um estudo mais profundo para compreender a origem geográfica dos inscritos nos cursos e quem está de fora, pois ainda há o predomínio de oferta nas capitais em detrimento do interior e, do sudeste em relação às outras regiões, supomos que estão alocadas predominantemente onde há mais recursos. Considerando que no Brasil há 56 instituições federais (BRASIL, 2015), além de mais de três dezenas de estaduais, o número de adesões à proposta poderia ser maior. Referencial Bibliográfico ABRUCIO, Fernando L. A Dinâmica Federativa da Educação Brasileira: diagnóstico e propostas de aperfeiçoamento. In: OLIVEIRA, Romualdo P. de, SANTANA, W. (Orgs.). Educação e Federalismo no Brasil: combater as desigualdades, garantir a diversidade. Brasília: UNESCO, BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de Disponível em: Acesso em 22 de fevereiro de Lei de 19 de dezembro de Disponível em: Acesso em 25 de fevereiro de Decreto n o de 8 de dezembro de Disponível em: Acesso em 5 de março de A denominação da plataforma faz referência a Sérgio Arouca, médico sanitarista brasileiro que se destacou na liderança e apoio teórico do movimento sanitarista brasileiro, que resultou numa inovadora abordagem de saúde pública; concretizada na Constituição de 1988 artigos 196 a 200, a saúde como direito inalienável de todos os cidadãos e dever do Estado e originou o SUS regulamentado dois aos depois (FIOCRUZ, 2015).
5 FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder: formação do patronato político brasileiro. ed. 5. São Paulo: Globo, FIOCRUZ. Fundação Osvaldo Cruz. Disponível em: Acesso em 6 de abril de UNA-SUS. Universidade Aberta do SUS. Disponível em: Acesso em 2 de agosto de Plataforma Arouca. Disponível em Acesso em 6 de agosto de PAIM, Jairnilson S. A Reforma Sanitária Brasileira e o Sistema Único de Saúde: dialogando com hipóteses concorrentes. Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 18(4): , Disponível em: Acesso em 29 de maio de PAIM, Jairnilson S. O que é o SUS [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2009, Temas em saúde collection. Available from SciELO Books VAZQUEZ, Daniel A. A Regulação Federal como Mecanismo de Ajuste: uma análise da lei fiscal e do financiamento das políticas de educação e saúde. 31 de março de folhas. Tese de Doutorado. UNICAMP, Campinas, Disponível em: Acesso em 3 de março de 2013.
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