Desarrumar. Margarida Fonseca Santos. Inês do Carmo

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Sofia Peres Monsanto
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1 Desarrumar Margarida Fonseca Santos Inês do Carmo

3 Números em palco Nuno Crato 1 O ensino, talvez em especial o da matemática, não pode ser deixado exclusivamente à escola. Pais, professores, jornalistas, políticos podem e devem colaborar. Há muito a fazer, desde rever os trabalhos de casa com os fi lhos, conversar com os mais jovens e desafi á-los ao cálculo mental, incluir na imprensa problemas de raciocínio lógico e matemático, valorizar em público o conhecimento. O mais importante, claro, é o ensino organizado e sistemático. Vai-se dos números inteiros às fracções, das operações numéricas à álgebra, das linhas aos ângulos. Este ensino escolar tem de ser progressivo, assentar os conhecimentos em camadas bem solidifi cadas, revê-las, incluir tanto a memorização como a compreensão de conceitos. Os pais devem saber, ao contrário do que por vezes se diz, que decorar a tabuada ou memorizar um poema não faz mal ao cérebro, mas pode ajudar a estruturar o raciocínio. Quando os alunos estão à vontade com as operações, sentem-se mais confi antes para enfrentar raciocínios lógicos e quantitativos mais avançados; sentem-se mais confi antes para pensar. De fora, devemos acompanhar este trabalho. Valorizar sempre o conhecimento. Trazê-lo para a arena pública. Ter orgulho em saber fazer contas, em aplicar a matemática, em ler bons romances e em falar bom português. A fi cção tem o seu papel. E pode ser muito importante. Quando se fala de números e de contas de forma divertida, os jovens aprendem um pouco, mas mudam muito. Verifi cam que se pode ter prazer em conhecer, que os números são importantes, tão importantes que há quem escreva livros com eles. (1)Professor de Matemática e Estatística no ISEG, UTL, presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática e autor de vários livros de divulgação científi ca.

$valorizar em público o conhecimento. O mais importante, claro, é o ensino organizado e sistemático. Vai-se dos números inteiros às fracções, das operações numéricas à álgebra, das linhas aos ângulos.$

5 A Anabiribana sentia-se tristíssima! À sua volta, estava tudo de s a r r u mado... Isso não era muito grave, pensava ela, mas não lhe apetecia nada arrumar a sala da Matemática! Mal chegou a Gertrudes, as coisas ainda fi caram piores. A Gertrudes tinha sempre aquela mania de pôr tudo em forma geométrica, estava sempre a organizar tudo, e não fi cou nada contente quando viu o que se passava ali.

Mal chegou a Gertrudes, as coisas ainda fi caram piores.

6 Anabiribana! O que é que estás aqui a fazer?! Des a rr u maste isto tudo?! Ai... Eu nem sei bem como foi... Foi de repente e zás!, tudo espalhado... E o pior é que... Ai, Gertrudes, tu nem vais acreditar! É que eu... eu... Ai, a maçada!!! disse a Gertrudes, já irritada. Tu o quê?! Eu adoro des a rr u mar tudo!

.. E o pior é que... Ai, Gertrudes, tu nem vais acreditar! É que eu.

7 Isto é uma vergonha! Quando se des a rr u ma tem de se arrumar, não se pode fazer outra coisa! E toda a gente gosta de arrumar! Des a rr u ma, arruma, des a rr u ma, arruma, des a rr u ma, arruma... Anabiribana fez um gesto com a mão, dizendo-lhe que isso não era bem verdade, mas a Gertrudes nem ligou. E agora? E agora o quê, Anabiribana? Como é que fazemos? Não quero saber! Des a rr u maste, arrumas! Não, não. Eu não posso fazer isso. Nem sequer sei como é que se faz!!! A Gertrudes fi cou muito pensativa. Olhando à sua volta, só via cubos, paralelepípedos, esferas de várias cores e tamanhos. E... claro está... tudo des a rr u madíssimo.

.. Anabiribana fez um gesto com a mão, dizendo-lhe que isso não era bem verdade, mas a Gertrudes nem ligou. E agora? E agora o quê, Anabiribana?

8 Lembras-te como é que isso estava antes? perguntou. Não... Cheguei aqui e... fi z assim e des a rr u mei tudo, tudo! explicou a Anabiribana, mostrando com gestos como fi zera aquele lindo serviço. Foi fantástico! Tu não tens emenda! ralhou a Gertrudes. Mas, reparando num boneco que estava encostado a um canto, perguntou: Este boneco aqui é o quê? Não lhe toques! É um Fantoche muito malcriado... Que disparate, Anabiribana! Não é nada! Olha para ele, é tão simpático. A Anabiribana queria avisá-la do perigo que corria, mas a Gertrudes não lhe deu tempo. Encostou o nariz ao Fantoche e sorriu-lhe. Qual não foi o seu espanto quando ouviu aquele grito: Arrumem essa tralha toda!!!

Mas, reparando num boneco que estava encostado a um canto, perguntou: Este boneco aqui é o quê? Não lhe toques! É um Fantoche muito malcriado... Que disparate, Anabiribana!

10 A Gertrudes deu um salto para trás, com o coração a bater muito depressa. Estúpido! É horrível. Já há bocado me disse que eu tinha um nome esquisito e que se podia dizer de trás para a frente e de frente para trás, e que tu eras uma convencida horrível. Eu?! Convencida?! Não sou nada!! Gosto muito de formas geométricas, só isso. Sei tudo sobre elas... Ninguém sabe mais do que eu! Posso explicar tudo sobre qualquer forma geométrica! Tudo sobre cubos, paralelepípedos, tudo! O que eu sei dava para encher sacos e sacos... A Anabiribana interrompeu-a. Ninguém precisava de encher sacos com a gabarolice da Gertrudes! O que precisavam era de arrumar. Mas continuava a não lhe apetecer nada... Podemos fazer outra coisa? perguntou a Anabiribana. Fazer outra coisa? Em vez de pôr isto em ordem...?! Sim... podia contar-te uma história, não gostas? Bem, a contar histórias não consegues arrumar nada. Mas a Anabiribana ignorou-a e começou a contar:

! Gosto muito de formas geométricas, só isso. Sei tudo sobre elas... Ninguém sabe mais do que eu! Posso explicar tudo sobre qualquer forma geométrica! Tudo sobre cubos, paralelepípedos, tudo!

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