VI Congreso ALAP Dinámica de población y desarrollo sostenible con equidad

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1 VI Congreso ALAP Dinámica de población y desarrollo sostenible con equidad IMIGRAÇÃO INTERNACIONAL NO ESTADO DE RORAIMA, BRASIL Alexandre Magno Alves Diniz; Elisângela Gonçalves Lacerda; Nina Tolentino Etapa 3

2 IMIGRAÇÃO INTERNACIONAL NO ESTADO DE RORAIMA, BRASIL 1 Alexandre Magno Alves Diniz 2 Elisângela Gonçalves Lacerda 3 Nina Tolentino 4 RESUMO O artigo trata da migração internacional no estado de Roraima-Brasil, tendo em vista a importância deste fenômeno para o desenvolvimento e compreensão de alguns processos relacionados com as regiões atingidas. A escolha do estado de Roraima foi processada em função da sua posição geográfica estratégica, em uma área de tríplice fronteira entre o Brasil, Guiana e Venezuela, além de estar localizado na região amazônica. Os dados utilizados foram retirados do Censo Demográfico de 2010, de responsabilidade do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Foram levantadas as informações referentes ao país de nascimento, UF de residência anterior, UF de residência em 31 de julho de 2005, nível de instrução e principais ocupações exercidas pelos migrantes internacionais. Os resultados apontam que os principais fluxos migratórios em direção ao estado de Roraima têm origem nos países com os quais se limita: Guiana e Venezuela. Em menor proporção foram verificados fluxos com raízes antigas no Brasil, como é o caso daqueles com origem em Portugal, Itália e Japão. O nível de instrução dos imigrantes é significativamente baixo, sendo que a metade deles não possui instrução ou não chegaram a concluir o ensino fundamental. Dessa forma, os mesmos são absorvidos em ocupações que exigem baixa qualificação. Roraima, em parte, funciona como porta de entrada e redistribuição de imigrantes internacionais para outros estados da federação, principalmente para São Paulo, Minas Gerais e Paraná. 1 Trabajo presentado en el VI Congreso de la Asociación Latinoamericana de Población, realizado en Lima- Perú, del 12 al 15 de agosto de Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - alexandremadiniz@gmail.com 3 Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais lacerda801@gmail.com 4 Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais ninatolentino@ig.com

3 1 INTRODUÇÃO O fenômeno da migração internacional apresenta grande importância no cenário mundial, uma vez que ocasiona impactos significativos nos países de origem, de destino e de trânsito. O atual modelo de desenvolvimento, impactado pelos efeitos da globalização fez com que houvesse uma crescente mudança nos padrões migratórios internacionais, afetando os deslocamentos populacionais em diferentes níveis (ARAGÓN, 2011; MARTINE, 2005). A globalização fomentou a criação de um mundo sem fronteiras, no qual as pessoas têm a oportunidade de se deslocarem com maior facilidade e de acordo com a sua necessidade. O modelo consumista, onde tudo está conectado, apresenta perspectivas de uma vida melhor em locais onde as condições de trabalho são mais favoráveis. No entanto, Martine (2005, p. 03) destaca que a globalização é parcial e inacabada, e isso afeta as migrações de várias maneiras. Isso porque a dinâmica do sistema é totalmente forçada, regrada e gerenciada de acordo com o liberalismo. Com isso, a desigualdade acontece e os países se desenvolvem de acordo com suas limitações, aumentando o desejo de migrações para países melhor desenvolvidos. No contexto das migrações internacionais no Brasil é possível se distinguir dois momentos distintos, um que vai até a segunda metade do século XX, significativamente marcado pela entrada de imigrantes internacionais no país, principalmente provenientes de alguns países da Europa, como Portugal, Itália e Alemanha, além do Japão. A partir de 1950, especialmente na década de 1980, o país vive um novo momento, no qual a imigração internacional se intensifica, tendo como principal destino países desenvolvidos, como os Estados Unidos e Portugal. Atualmente o país vive um importante período econômico, com a realização de alguns eventos de relevância internacional. Tais fatores, somado à crise que afeta os países desenvolvidos, como aqueles da zona do Euro, têm tornado o Brasil atrativo para uma quantidade significativa de imigrantes em busca de oportunidades de trabalho. Não se deve perder de vista, ainda, o crescente contingente de haitianos que após o terremoto de 2010 têm adentrado o território nacional. Nas áreas de fronteira a dinâmica migratória apresenta nuances distintas das demais áreas do país, uma vez que o controle por parte dos órgãos oficiais é mais rarefeita, o que possibilita a entrada, ou mesmo o trânsito de migrantes, principalmente daqueles que residem nos países vizinhos. Dessa forma a América Latina reproduz as tendências das migrações internacionais, assim, existem deslocamentos significativos com origem e destino dentro da própria América Latina, dentre estas se destacam os fluxos existentes entre os países fronteiriços. O estado de Roraima é um dos exemplos deste fenômeno, o mesmo está inserido em uma área de tríplice fronteira, entre Brasil, Venezuela e Guiana, conforme ilustra a figura 1, além de fazer parte do bioma Amazônia e da região denominada Amazônia Legal brasileira. Roraima, devido a sua distância e dificuldade de acesso, durante muito tempo foi pouco atrativa para os migrantes. Contudo, a aplicação de uma série de ações governamentais, além da construção da BR-174, que liga Boa Vista, capital do estado, a Manaus e à Venezuela, tiraram o estado do ostracismo. Os impactos da migração interna no estado já foram alvos de vários estudos, uma vez que mais de 50% de sua população é constituída por migrantes. Todavia, pouco se conhece dos impactos e dimensões da migração internacional em Roraima.

4 Figura 1: Localização do Estado de Roraima, Brasil Tendo em vista a carência de estudos e a posição geográfica de destaque ocupada pelo estado na fronteira setentrional do Brasil, o presente estudo tem como objetivo realizar um levantamento exploratório acerca da migração internacional em Roraima. De modo que seja possível se identificar os principais fluxos e quantificá-los, além de se levantar algumas características dos imigrantes, como nível de instrução e principais ocupações que exercem. Pretende-se, ainda, verificar se Roraima tem funcionado como porta de entrada e redistribuição de imigrantes internacional para os demais estados da federação. Com vistas a se atingir o objetivo a que se propõe, o trabalho em voga utilizou os dados do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de Conforme destaca Aragón (2011), a qualidade dos dados censitários para a região amazônica é deficitária e os mesmos são capazes de oferecer apenas indícios, pistas, insights, para estudos que de alguma forma devem aprofundar melhor a temática, contudo, estes são relevantes para o levantamento de aspectos específicos sobre o fenômeno da migração. O texto apresenta-se organizado em três partes, sendo a primeira dedicada à um retrospecto acerca das migrações no estado de Roraima, além de reflexões, com base em referências sobre o assunto, acerca dos processos e impactos da migração. A segunda parte é dedicada à apresentação e análise dos resultados encontrados. Na derradeira parte do artigo são tecidas algumas considerações com base nos resultados encontrados e nas perspectivas para estudos futuros.

5 2 RORAIMA NO CONTEXTO DAS MIGRAÇÕES No contexto das migrações internas no Brasil, Roraima foi um dos estados menos atrativos, em função do seu isolamento. Sua ocupação era rarefeita e mal distribuída, gerando baixíssimas densidades demográficas até a década de Seu fraco desenvolvimento econômico tinha como base a atividade pecuária e a mineração. Do ponto de vista fundiário, as áreas indígenas, oficiais ou não, predominavam, assim como as terras devolutas (pertencentes ao Estado) e o latifúndio pecuarista (SOUZA, 2008). Santos (2008) afirma que ao se tornar território federal tem-se início as primeiras medidas cujo objetivo é expandir o povoamento da região. Seguindo os padrões aplicados no restante da Amazônia, buscava-se uma colonização pautada em pequenos proprietários, cuja produção deveria ser direcionada a gêneros alimentícios. Apesar dessa iniciativa, a região permaneceu no isolamento, de modo que Roraima continuou sendo pouco atrativa para os migrantes. Uma grande vontade política para que a região fosse povoada passou a existir em função da criação dos cargos eletivos. Desse modo, chegou-se a conclusão que o estímulo à migração, por meio de uma maior oferta de terras, além do incentivo a atividade mineradora, aproveitando pressões fundiárias em outros estados do país, seria uma solução adequada e de baixo custo. Essas medidas atraíram considerável contingente de imigrantes. O permanente fluxo de imigrantes a adentrar o estado fez de Roraima o estado com o maior percentual de imigrantes, aproximadamente 47% das pessoas nasceram em outras áreas do país. Esse percentual só não é maior do que o de Brasília, onde mais da metade da população residente é constituída por imigrantes. Várias administrações buscaram alocar a população migrante em colônias agrícolas e na periferia de Boa Vista. Esse modelo desenvolvimentista serviu apenas para criar um crescimento desordenado tanto na área urbana quanto no meio rural de Roraima (BARBOSA, 2003). A partir do momento que as frentes pioneiras de expansão, como os estados do Mato Grosso, Pará e Rondônia, passam a se esgotar, começa a haver um redirecionamento das mesmas. Nesse contexto, Roraima passa a ser a unidade da federação mais atrativa, pois o estado ainda apresenta baixa densidade demográfica, associada a relevante vontade política para atender aos migrantes que chegam à procura de terra (BARBOSA, 2003). Após compreender a dinâmica das migrações internacionais com destino a Roraima, faz-se necessário expor os fatores que influenciam as migrações internacionais no estado. Provavelmente, o principal aspecto a ser considerado é a sua posição geográfica, em uma área fronteiriça com entre três países: Brasil, Venezuela e Guiana. Conforme destaca Rodrigues (2006) as zonas fronteiriças são espaços importantes para o intercâmbio e troca cultural e por natureza influenciam de maneira significativa nos fluxos de migração internacional. A proximidade geográfica facilita os deslocamentos e possibilita o transito de pessoas com maior facilidade. A emigração nas áreas de fronteira manifesta-se como sendo uma oportunidade real e possível de ascensão social e econômica. No caso específico de Roraima, não se deve perder de vista o fato de que se trata de uma área distante dos principais centros urbanos brasileiros, o que reduz em grande medida o controle exercido pelos órgãos governamentais, facilitando assim as entradas irregulares.

6 A atratividade de Roraima para os migrantes internacionais, especialmente aqueles provenientes dos países localizados na fronteira são os mesmos que atraíram milhares de migrantes internos para o estado: a expansão da fronteira agrícola, com uma expressiva facilidade do acesso a terra e o crescimento da frente garimpeira, devido à descoberta de diamante e ouro na região e consequente abertura de uma série de garimpos, a maioria irregular. Outro fator importante é a disponibilidade de serviços, como educação e saúde, que levam os indivíduos a migrarem para ter acesso a serviços de melhor qualidade (RODRIGUES, 2006). Ao analisarmos as tendências das migrações internacionais no Brasil, nota-se que no final do século XIX e início do século XX o país era um dos principais destinos de migrações, por apresentar uma promessa de grande desenvolvimento. Segundo Levy (1974), mais de 5 milhões de imigrantes entraram no país entre 1872 e O maior registro da história do país, realizado pelo censo em 1920, no qual estrangeiros foram contabilizados, representando 5,11% da população total. Mas depois esse número foi só diminuindo em 2010 o balanço entre entradas e saídas do país permanece praticamente estável (PATARRA; BAENINGER, 2006). Nos anos 50 até o início dos 80, o Brasil apresentava uma população fechada (ARAGÓN, 2011: 72), segundo os especialistas, pois seu crescimento era computado somente da relação de nascimentos e mortes. Já nos anos 80, o país passou a sofrer uma grande perda na sua população via migrações internacionais para outros países, com destaque para os movimentos em direção aos Estados Unidos (CARVALHO; CAMPOS, 2006). Como ressalta Silva (2011) não é tarefa fácil quantificar o número de imigrantes na Amazônia, em função da falta o baixa qualidade dos dados oficiais, como os dados dos censos e os dados da Polícia Federal. Apesar de o governo brasileiro conceder anistias e dos acordos bilaterais no contexto do Mercosul, a imigração regular na região tem se pautado por seu caráter seletivo, tanto em termos educacionais, quanto em termos ocupacionais (SILVA, 2011: 158 apud PATARRA; BAENINGER, 2006). Atualmente fazem parte da Amazônia Legal brasileira os estados de Acre, Rondônia, Mato Grosso, Amazonas, Roraima, Amapá, Tocantins e Maranhão, área que corresponde a 59% do território nacional. Dados do censo de 2000 apontavam que a Amazônia Legal brasileira albergava 21 milhões de pessoas (14% do país), sendo estrangeiros, originários principalmente de Bolívia, Peru, Japão, Portugal e Paraguai. Tais origens de nascimento estão relacionadas com correntes migratórias antigas de japoneses, portugueses e italianos. (ARAGÓN, 2009). Do ponto de vista legal o Estatuto do Estrangeiro, criado em 1980, prioriza a imigração qualificada para o Brasil, dessa forma a imigração irregular e de baixa qualificação é regida por outros fatores, de acordo com a própria demanda dos lugares e das pessoas envolvidas. A migração internacional é foco de matérias na mídia do mundo inteiro, todavia existem poucos os estudos com foco na migração internacional com destino na Amazônia (ARAGÓN, 2011: 73).

7 3 METODOLOGIA Para fins deste estudo foram trabalhados os dados disponíveis nos microdados do Censo Demográfico de 2010, disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Os microdados são referentes ao questionário da amostra (aplicado em 20% dos entrevistados) durante a realização do Censo, que ocorre de 10 em 10 anos. Durante o Censo é aplicado um questionário a cerca de questões referentes a várias dimensões, dentre elas a migração internacional. Os dados de interesse selecionados para alcançar os objetivos propostos pelo estudo foram: I- Nacionalidade: no banco de dados organizado no software estatístico SPSS foram selecionados todos os indivíduos que se declararam estrangeiros. II- País de nascimento: com o intuito de se verificar quais são os principais fluxos internacionais com destino a Roraima, levantaram-se os principais países de nascimento dos imigrantes. III- Sexo, Nível de Instrução; Principais Ocupações: as variáveis citadas foram analisadas com o intuito de qualificar os migrantes internacionais que residiam em Roraima no ano de IV- Estado de residência anterior e residência em 31 de julho de 2005: tais variáveis foram levantadas para todos os demais estados brasileiros cuja resposta para as perguntas em questão foram o estado de Roraima. Isso foi feito com a finalidade de averiguar para onde os estrangeiros que residiam em Roraima estão se deslocando dentro do Brasil. Pois partimos da hipótese de que Roraima funciona apenas como porta de entrada da migração internacional no país. Os dados levantados foram organizados na forma de tabelas, gráficos e mapas de fluxo. Os mapas foram construídos no software de geoprocessamento ArcGis. 4 RESULTADOS Os resultados apontam que no ano de migrantes internacionais residiam no estado de Roraima. Destes, os mais antigos chegaram ao Brasil já na década de 1940, contudo a maior parte dos imigrantes (77%) passou a residir no país apenas na última década do século XX e na primeira década do século XXI. Ao analisar a distribuição destes imigrantes nos municípios roraimenses, observa-se que a mesma não ocorre de maneira homogênea, uma vez que há um desequilíbrio. Note-se que o gráfico 1 demonstra que a maioria dos imigrantes optou por viver em Boa Vista, seguido de Bonfim, Mucajaí e Pacaraima. A distribuição apresentada reflete a dinâmica da rede urbana do estado, profundamente desequilibrada, na qual Boa Vista exerce um papel preponderante na centralização de serviços e equipamentos. Mucajaí e Bonfim são áreas marcadas pela existência de projetos de colonização, que apresentam um desenvolvimento urbano ainda insipiente. Já Pacaraima é o município que faz fronteira com a Venezuela e, devido à sua proximidade geográfica, atrai um contingente considerável de imigrantes venezuelanos.

8 São Luiz Caroebe Normandia Alto Alegre Iracema Caracaraí Cantá Pacaraima Mucajaí Bonfim Boa Vista Emigrantes Gráfico 1: distribuição dos imigrantes internacionais nos municípios de Roraima A análise dos dados referentes ao local de nascimento dos imigrantes residentes em Roraima apontou que o fluxo mais significativo (acima de 500 imigrantes) tem origem na Guiana, país com o qual faz fronteira em sua porção nordeste. Em um segundo patamar estão os fluxos de indivíduos nascidos na Venezuela e Peru. Por fim, têm-se os fluxos de nascidos na Colômbia, Argentina, Portugal, Itália e Japão - veja a figura 2.

9 Figura 2: País de nascimento dos imigrantes internacionais residentes em Roraima O resultado encontrado corrobora com estudos anteriores, que apontam uma significativa intensidade dos fluxos com origem na própria América Latina, especialmente nas áreas de fronteira e a ligação existentes entre os imigrantes internacionais residentes na Amazônia com fluxos migratórios antigos, como é o caso de Portugal, Itália e Japão. Com o intuito de verificar se os fluxos observados na figura 2 realmente correspondem à origem dos imigrantes, uma vez que eles poderiam ter nascido nos países ilustrados, mas ter residido em outro antes de decidirem migrar para Roraima, foi levantado o último local de residência dos mesmos. Pode-se dizer que os fluxos correspondem à origem dos imigrantes, pois o último local de residência em praticamente todos os casos correspondeu ao país de nascimento. Houve apenas 5 exceções, de indivíduos que declararam ter nascido na Guiana, mas cujo último local de residência havia sido o Reino Unido. Com o intuito de qualificar os imigrantes internacionais residentes em Roraima foi analisando o nível de instrução dos mesmos. Os resultados encontrados estão organizados no gráfico 2, o qual aponta que aproximadamente metade dos imigrantes não possui nenhuma instrução ou apenas possuem o ensino fundamental incompleto. Em seguida estão aqueles com ensino médio completo e ensino superior incompleto, aqueles que possuem o ensino superior completo é a minoria. Os dados apontam que uma parcela considerável dos imigrantes é pouco qualificada e, provavelmente encontram dificuldades em ser alocado em atividades que exigem qualificação Sem instrução e fundamental incompleto Médio completo e superior incompleto Fundamental completo e médio incompleto Superior completo Gráfico 2: Nível de instrução dos imigrantes internacionais residentes em Roraima

10 Para averiguar a absorção da mão de obra proveniente dos imigrantes internacionais no estado foram levantadas as principais ocupações exercidas por eles, os resultados encontrados estão organizados na tabela 1. Conforme já indicavam os dados de nível de instrução, observa-se que as principais ocupações exercidas por eles são aquelas que exigem baixa qualificação, sendo que a maioria delas é, inclusive, mal definida, ou seja, provavelmente são trabalhos esporádicos de baixa remuneração. Em seguida estão às atividades voltadas para os serviços domésticos e de limpeza. Uma considerável parcela dos imigrantes trabalha no ramo de serviços, em lojas, quiosques e mercados. Há ainda os que se dedicam a atividade de motorista, como condutores de automóveis e taxis. Essa ocupação, inclusive, tem uma forte demanda no estado, que não apresenta um sistema de transporte adequado e cujo deslocamento, em grande parte, é realizado em taxis que cobram um valor semelhante ao da passagem cobrada pelos coletivos urbanos. Não se deve perder de vista a vocação agropecuária do estado, que também atrai a mão de obra migrante. Número de Principais Ocupações trabalhadores Ocupações mal definidas 147 Trabalhadores dos serviços domésticos em geral 74 Trabalhadores de limpeza de interior de edifícios, escritório 56 Vendedores de quiosques e postos de mercados 48 Pedreiros 33 Condutores de automóveis, taxis e caminhonetes 26 Vendedores ambulantes de serviços de alimentação 20 Trabalhadores elementares da construção de edifícios 20 Comerciantes de lojas 17 Produtores e trabalhadores qualificados de exploração agropecuária 15 Trabalhadores elementares de minas e pedreiras 15 Profissionais da proteção do meio ambiente 13 Outros profissionais de nível médio em atividades culturais 13 Técnicos em assistência ao usuário de tecnologia da informação 13 Agricultores e trabalhadores qualificados em atividades da agropecuária 13 Cozinheiros 11 Contadores 10 Tabela 1: Principais ocupações dos imigrantes internacionais residentes em Roraima Uma das hipóteses deste estudo foi a de que o estado de Roraima funcionasse como porta de entrada e redistribuição de imigrantes internacionais no Brasil. Para testar a mesma foram analisados os dados de local de residência anterior e local de residência por data fixa (31 de julho de 2005). O objetivo foi verificar se os imigrantes que em 2010 estavam residindo em outro estado (que não Roraima) já havia residido em Roraima anteriormente. Os resultados apontam que uma pequena parcela dos imigrantes internacionais residiu anteriormente em Roraima. Quando se analisa os dados de data fixa, observa-se que esse contingente é ainda menor veja a figura 3.

11 Figura 3: Fluxos dos imigrantes internacionais que residiram em Roraima Dentre aqueles que anteriormente residiram em Roraima, uma parcela considerável deslocou em direção aos estados de São Paulo e Paraná. Os fluxos secundários foram com destino a Minas Gerais, Santa Catarina e Pará. Os fluxos menos intensos foram em direção ao Acre e o estado do Amazonas. É interessante ressaltar que, apesar da relativa proximidade, o estado do Amazonas não apresenta uma forte atratividade para os imigrantes internacionais que residiam em Roraima. Provavelmente isso esteja relacionado com o fato de que o estado em questão não apresenta oportunidades significativas para os mesmos e, tendo decidido migrar novamente, resolveram se deslocar para regiões mais desenvolvidas do país. Analisando os dados referentes aos imigrantes que há cinco anos residiam em Roraima, verifica-se a existem de apenas dois fluxos, um em direção ao Paraná e outro para o Pará. Isso demonstra que os indivíduos que migram para o estado de Roraima, mas pretendem remigrar para outro estado do país, faz isso pouco tempo depois que chegam. Afirmação atestada pelo dado relativo ao tempo de residência dos imigrantes internacionais que anteriormente residiam em Roraima na UF de residência no momento da entrevista. Eles apontam que 84,4% deles residiam na UF de residência atual há menos de quatro anos. A intensidade dos fluxos em direção ao estado do Paraná, possivelmente, está relacionado com a vocação do estado para as atividades agropecuárias, já que uma parte dos imigrantes não possui qualificação e estavam envolvidos com atividades agropecuárias em Roraima. De maneira menos intensa, esse mesmo fator pode influenciar os fluxos com destino ao Pará, Amazonas e Acre. Já o fluxo em direção aos estados de São Paulo e Minas Gerais deve-se ao alto crescimento econômico que os mesmos apresentam, sendo foco de maiores oportunidades de trabalho.

12 5 CONCLUSÕES A construção do estudo possibilitou o levantamento de importantes informações acerca do fenômeno de migração internacional no estado de Roraima. De maneira que foi possível construir algumas conclusões a partir dos resultados encontrados. I- Os dados referentes ao censo demográfico demonstraram ser uma relevante fonte de informação sobre o continente de migrantes internacionais residentes no estado de Roraima, além das características que os mesmos apresentam. Doravante, é importante destacar que tais dados apresentam algumas limitações, uma vez que o difícil acesso aos entrevistados em alguns pontos e a relativa distância do estado aos centros políticos e econômicos do país faz com que a qualidade dos dados seja duvidosa e, possivelmente, a população subamostrada. II- III- IV- Conforme resultados já encontrados em estudos anteriores, há uma forte ligação migratória entre os países transfronteiriços, uma vez que a proximidade geográfica facilita os deslocamentos. Dessa forma, observou-se que os maiores fluxos migratórios em direção a Roraima tiveram como origem os países fronteiriços da Guiana e Venezuela. Além disso, a maioria dos fluxos tem origem na própria América Latina. Nota-se que os alguns fluxos, conforme já demonstrados em outros estudos sobre a migração internacional na Amazônia, apresentam raízes em fluxos migratórios antigos, como é o caso daqueles com origem em Portugal, Itália e Japão. Os migrantes internacionais residentes em Roraima, em sua maioria, apresentam pouca ou nenhuma instrução, ou seja, possuem uma baixa qualificação. Tal fato faz com que os mesmos sejam absorvidos em atividades e ocupações que exigem pouca ou nenhuma qualificação, como é o caso dos serviços de limpeza, construção civil e agropecuária. V- Roraima funciona com porta de entrada e redistribuição de imigrantes internacionais em pequena medida, pois cerca de 10% do contingente migrante que residia em Roraima remigrou para outro estado da Federação. Os estados escolhidos pelos imigrantes como novo destino são aqueles mais desenvolvidos economicamente, como é o caso de São Paulo e Minas Gerais. Há, ainda, a escolha por aqueles que apresentam vocações econômicas semelhantes as do estado de Roraima, como é o caso do Paraná, no tocante à Agropecuária, e o estado do Pará, agropecuária e mineração. Sendo assim, o estudo cumpriu os objetivos a que se propunha. Contudo, estudos futuros são desejáveis para que se qualifique melhor a natureza dos fenômenos e processos aqui levantados. Um dos fatores que intrigou os autores foi o fato de não ter aparecido nos dados nenhum fluxo com origem no Haiti, apesar de sabermos que a entrada de haitianos pela Amazônia brasileira tem sido cada vez mais frequente. Possivelmente isto está relacionado com a natureza dessas entradas, que são em sua quase totalidade ilegais, ou mesmo ao fato de que os mesmos utilizam Roraima apenas como estado de trânsito, não tendo sido possível captá-los na pesquisa censitária.

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