editorial Dicionário mítico-etimológico da mitologia grega,
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- Maria do Loreto Malu Vidal
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1 editorial Olga de Sá A Revista de um grupo de Pesquisa de Estudos pós-graduados em Literatura e Crítica Literária se chamará KALÍOPE. Que é Kalíope? Segundo o Dicionário mítico-etimológico da mitologia grega, de Junito Brandão (Vozes, 1991), Kalíope era uma das Musas, normalmente aquela que as comandava e dirigia. Kallíope é composto de um elemento kall de kalos, belo e de ops, opós, voz. Kalíope é a que tem uma bela voz. Ainda, segundo Junito, as Musas, de início, não possuíam uma função específica, mas a partir da época Alexandrina (séc. IV a. C.), cada uma das filhas de Zeus passou a presidir uma criação do espírito humano. Kalíope é apontada tanto como inspiradora da poesia lírica quanto da épica. Em muitas versões, unida ao deus rio Eagro, foi mãe de Orfeu. 5
2 Alguns mitólogos asseguram que gerou as Sereias. Ensinou o canto a Aquiles. Funcionou como árbitro entre Afrodite e Perséfone, na disputa por Adonis. Kalíope é a deusa da Literatura. Principalmente, por isso, a escolhemos como título de nossa Revista. Este segundo número reúne outros ensaios sobre a narrativa, focalizando: A crise da identidade da narrativa, principalmente em seus elementos considerados constitutivos, pela Crítica em geral. Apontar que existe uma crise de identidade na narrativa moderna e contemporânea não é difícil, pois ela se manifesta na estrutura das narrativas literárias, cinematográficas, teatrais. Difícil é rastreá-la, identificá-la nos textos, caracterizá-la nas obras e nos autores. Quando se fala em identidade, pensa-se imediatamente em identidade psicológica. E, em decorrência, tratando-se de Literatura, em crise da identidade psicológica de personagens. Naturalmente, já se pensa em Psicanálise. Alongando as associações, o sentimento de existir, a continuidade de ser base da força do ego tem a ver com o processo de separação individuação, na diferenciação psíquica entre si e a mãe. Tudo isso pode ser objeto de análise e crítica literária, tendo o cuidado de resguardar a especificidade da literatura, que não pode estar a serviço de outras áreas do conhecimento, sob pena de perder sua identidade. Uma estrutura narrativa-romance, novela ou conto tradicionalmente compõe-se de estruturas menores: episódios e incidentes. O gracejo, o dito, a anedota, a carta, segundo Wellek e Warren (1976, p. 270), geraram as mais clássicas estruturas literárias. Ainda, segundo Wellek e Warren, o tempo da narrativa inclui não somente o período total delimitado pela história, mas o tempo da leitura, controlado pelo autor, que faz passar vários anos em meia dúzia de frases e consagra capítulos inteiros a um chá. 6
3 A personagem, tradicionalmente, se caracterizava pelo nome. Cada apelativa era uma espécie de verificação e individuação. Apareciam também nomes alegóricos. Podia-se apresentar o aspecto físico ou/e analisar sua natureza moral e psicológica. Havia caracterizações estáticas ou dinâmicas. Existe hoje, gerada pela mobilidade social intensa, uma instabilidade que leva a pessoa a se dissolver dramaticamente em papéis desenraizados. Além disso, os progressos da ciência e da técnica criam um sublime tecnológico, que ameaça a continuidade do ser e o sentimento de existir. Quando a Literatura expressa essas mudanças vertiginosas, as antigas noções de espaço homogêneo e de tempo cronológico são artisticamente questionadas. Encontrando expressões novas para realidades novas, o tempo e o espaço, nas narrativas modernas e contemporâneas, se fragmentam e diluem, ampliam-se e restringem-se, assumindo formas estranhas e até bizarras. É toda uma vivência de angústia no espaço limitado de um pulôver ou no engarrafamento de uma estrada em Paris, como nos contos de Cortázar. O espaço, paradoxalmente, se espicha e adensa em espaço metafísico; o tempo se condensa em termos de memória e a lembrança já não encontra o espaço de sua saudade, como Proust Em busca do tempo perdido. O enredo se estilhaça em migalhas, em estrela de mil pontas, sem linearidade, sujeito que está às associações caóticas do narrador. Contos e romances, poemas e crônicas, de tal forma se distanciam de suas características de origem, que nos questionamos se ainda é possível salvar o conceito de gênero. Como declara Clarice Lispector: gênero não me pega mais. A personagem abandona seus delineamentos pessoais, figurativos e se converte em palavras, em personagem-texto, no dizer de Fernando Segolin. Essa perspectiva serve de fundamento às abordagens da equipe de pesquisa, desde
4 Nem todos apresentam, nesta Revista, seus trabalhos. Mas os ensaios aqui reunidos, embora cada pesquisador aprofunde seu próprio tema, têm como denominador comum o objetivo de analisar a crise de identidade da narrativa, na obra de que trata o pesquisador. Neste número 2, de Kalíope, sob o título Tempo e esgarçamento da narrativa em Virginia Woolf, Silvia Anspach focaliza a construção da forma narrativa de modo acronológico, com uma tessitura estético-temporal singular, sobretudo nas obras To the light house e Mrs. Dalloway. O referencial teórico constitui-se de pensadores como: Octavio Paz, Auerbach, H.Bergson, Urquhart e Peirce. Cláudia Regina Bergamim em Ficção contemporânea: as armadilhas do narrador focaliza a obra Nove Noites, de Bernardo Carvalho e trata do narrador que se apresenta como protagonista de sua própria história. Nove noites é construída a partir de uma estrutura complexa, submetendo-se a uma multiplicidade de pontos de vista e interpretações. um pano de fundo filosófico subjaz à fala dos narradores. A porta incomunicável: a ruptura do espaço de Olga de Sá, focaliza um conto de Julio Cartázar La puerta condenada. O elemento estruturador do conto é a oposição verdade (realidade) / mentira, oposição que se desdobra em quatro noites consecutivas, no espaço de um hotel, onde a porta condenada se mantém como eixo das relações oscilantes do protagonista com uma realidade estranha e problemática. Gerson Tenório dos Santos em Descontruindo Sísifo: o tempo kairótipo da crônica, objetiva discutir a complexa relação existente na crônica, entre o tempo cronológico e o tempo Kairótico, uma vez que, como gênero curto, leve, despretensioso, a crônica não só flagra o cotidiano das grandes cidades, mas também problematiza nossa angustiante relação com o provisório das ações rotineiras, instaurando momentos de grande lirismo e poesia. 8
5 Algumas considerações sobre a Metamorfose de Kafka, de Daniela Spinelli com base no texto Anotações sobre Kafka, de Adorno, visa a fornecer elementos para uma leitura da Metamorfose, narrativa que se estrutura a partir de uma aproximação inusitada entre o fantástico e o sentimento de que ele não é estranho à experiência moderna, denunciando sua irracionalidade. Não é a monstruosidade que choca, mas a sua naturalidade. Rita de Cássia Oliveira Veiga em Considerações sobre o tempo no romance Em busca do tempo perdido no caminho de Swann de Proust, apresenta o ponto de vista de Ricoeur, segundo o qual o romance focaliza o tempo perdido e o tempo redescoberto. O tempo perdido caracteriza-se pela sensação que o herói transmite de um tempo profundamente voltado para si mesmo; o tempo redescoberto, extra-temporal, apóia-se na essência das coisas descobertas feitas pelo herói, de um ser extra-temporal, que o constitui. Brutus Abel em Tensões no romance O homem sem qualidades, focaliza o relativismo moral presente no romance do autor austríaco, Robert Musil, através do percurso espiritual de seu complexo protagonista, o engenheiro e matemático Ulrich. A narrativa em crise caracteriza o estágio atual dos estudos sobre narrativa. A crise não é tomada em sentido negativo, mas como um estímulo para repensar as categorias narrativas à luz da modernidade. A ruptura é evidente em relação à narrativa clássica, que expressa um mundo, onde o espaço e o tempo ainda são concebidos como realidades físicas. Na modernidade, tudo se questiona. Até Bauman já criou o conceito de modernidade líquida ; liquidez é signo de fluidez e mudança. Também para a arte de Sherazade. 9
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