O bode expiatório do senso comum

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1 O bode expiatório do senso comum DIEGO FELIPE BORGES DE AMORIM Servidor Público (FGTAS), Bacharel em Administração (FAE), Especialista em Gestão de Negócios (ULBRA) e pós graduando em Consultoria e Planejamento Empresarial (UCAM) diegofelipeborgesdeamorim@gmail.com Artigo publicado em 27 de novembro de Afala do governador do Estado do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori, no último dia 26 de novembro de 2015, não poderia ser mais descabida ou pífia, para dizer o mínimo. Condicionar o mecanismo da estabilidade como sendo uma das variáveis causadoras das ineficiências da máquina pública em termos de estruturas, processos e pessoas não pode ser aceitável. Até porque sabe-se que nem todos os modelos de contratações públicas são balizados em estatutos próprios de vinculação, sendo que grande parte é regido pela CLT, e no regime celetista não há um termo que assegure estabilidade eterna para esse ou aquele trabalhador. Esse raciocínio limitado ao senso comum poderia ser esperado de algum leigo, mas jamais de alguém que vive o ambiente político/público há décadas. Além disso, culpar todo o funcionalismo público pelas atuais dificuldades econômica/financeiras que o Estado atravessa, ainda que com maior grau de severidade, chega a ser bisonho. É muito prático e conveniente descontar todas as mazelas que afligem a sociedade em tempos de crise naqueles que exercem suas atividades em caráter público e que seguem regras e normas preestabelecidas por políticos antecessores. Nada foi inventado agora, a roda já existia. E o que emerge nesse instante é apenas um efeito, pois a causa é anterior e nada tem haver com trabalhadores públicos: tem haver com estruturas e processos inefici- CRARS entes. Eu já falei sobre isso em um artigo anterior intitulado " a culpa é de quem?". Para toda crise tem de haver um bode expiatório. Como ninguém assumiu sua parcela de responsabilidade e, tampouco, se anunciou, resolveram indicar o mais característico: os trabalhadores públicos. Ou seja, culpar todos os trabalhadores públicos pela ineficiência atual do Estado é muito fácil, inclusive uma criança de 3 anos pode fazer isso sem muito esforço. A grande massa da sociedade faz isso com recorrência quando o assistencialismo é falho. Para aqueles que acreditam em teorias conspiratórias este pode ser um prato cheio: basta refletir sobre o pacotão de medidas do Governo Central denominado "ajuste fiscal" e relacioná-lo com a atual negativa de diversos pedidos assistenciais previdenciários, abonos e de seguro desemprego mesmo com um número cada vez mais crescente de desempregados. Façam suas próprias reflexões. Tão esdrúxulo quanto tudo o que foi relatado até agora é comparar diversas situações que ocorrem na iniciativa privada e achar que os recorrentes atrasos de salários e os descumprimentos de convenções coletivas de trabalho possam ser coisas aceitáveis e triviais em ambos os ambientes. Esse tipo de pensamento, além de pequeno, é danoso. Todo aquele que trabalha tem que receber sua remuneração de acordo com aquilo que cumpriu conforme metas e objetivos estabelecidos pela empresa em suas 1

2 atividades laborais, ais, não importando se pertence à esfera pública ou à esfera privada. Receber em dia não é um favor, é um direito garantido em lei. Entretanto, parece que isso só serve para determinadas classes de trabalhadores e que não se estende para a classe dos trabalhadores públicos do executivo, a grande "massa" do funcionalismo público. A imagem superficial preconcebida pelo senso comum reflete uma classe que é vista como não produtiva, marginalizada em tempos de crise socioeconômica. Portanto, é preciso medir muito bem o que se fala e, ainda, o que se julga. Já disse em outros artigos que a cientificidade é primordial para se alcançar resultados que agreguem valor. Sem a cientificidade não é possível alcançar e tratar as causas dos problemas com a devida efetividade que se exige. Olhar holisticamente é dever de todo gestor que é orientado ao desempenho superior, mas parece que há, ainda, muitos ditos "gestores" que se recusam a enxergar adiante do seu próprio nariz. Estes não são gestores: são irresponsáveis e descomprometidos com a ação eficiente, eficaz e efetiva orientada ao desempenho ótimo. Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional. Isto significa que você pode distribuir, remixar, adaptar e/ou criar a partir do texto original, mesmo para fins comerciais. A única exigência é que sejam atribuídos os devidos créditos ao autor da obra original. CRARS