Plantas medicinais utilizadas por moradores da vila Cantizani, Piraju, SP, Brasil
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- Wagner Canejo Gama
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1 1 PN Plantas medicinais utilizadas por moradores da vila Cantizani, Piraju, SP, Brasil Cristina Batista de Lima 1 *, Marcela Aparecida Vaz Vieira 2, Tamiris Tonderys Villela 3, 1 Universidade Estadual do Norte do Paraná, Campus Luiz Meneghel (UENP/CLM), Centro de Ciências Agrárias, C.P. 261, CEP , Bandeirantes (PR), 2 Discente do curso de graduação (UENP/CLM), 3 Discentes do Programa de Mestrado em Agronomia (UENP/CLM). crislima@uenp.edu.br 1 ; mar.v@hotmail.com 2 ; tamirisvily@gmail.com 3 ; RESUMO O presente estudo teve por objetivo registrar as informações sobre a utilização de plantas medicinais pelos moradores da Vila Cantizani, Piraju-SP. Foram realizadas 30 entrevistas e os dados referentes aos entrevistados e às plantas foram registrados em fichas de campo previamente elaboradas. Foram utilizados questionários organizados de forma estruturada, sendo possível o registro de informações específicas sobre os entrevistados e as plantas citadas. Foram identificadas 97 espécies vegetais utilizadas para fins terapêuticos, distribuídas em 39 famílias. Através da pesquisa, registrou-se uma diversidade no modo de preparo dos remédios caseiros, indicando a forte presença do saber popular presente nesta comunidade. Algumas plantas são preparadas de maneira errônea, como no caso dos chás. Isso leva à necessidade de um retorno para a população dos resultados obtidos na pesquisa. A transmissão do conhecimento tradicional sobre plantas medicinais está sendo interrompido pela falta de interesse dos jovens, que procuram nos medicamentos sintéticos uma forma mais rápida e eficaz para a cura de doenças. Palavras-chave: remédios caseiros, fitoterápicos, remédios alternativos. INTRODUÇÃO O uso de plantas medicinais é a forma mais antiga de tratamento das enfermidades humanas. A dor fez com que o homem buscasse o analgésico e a doença o remédio, portanto, é fácil inferir que o uso de plantas no combate a doenças seja tão antigo quanto à própria humanidade (OLIVEIRA; AKISSUE, 2000). Diversos personagens ilustres da História difundiram a utilização de plantas medicinais para a cura de doenças desde a Antiguidade. Desse modo, o uso de recursos vegetais está fortemente presente na cultura popular, transmitido de geração em geração, trazendo de nossos antepassados, informações sobre plantas que amenizam ou curam males (DIEGUES, 2000). Este conhecimento, encontrado junto a populações tradicionais e/ou contemporâneas, vem sendo ameaçado pelo uso da medicina ocidental. Isso ocorre em função dos jovens verem nessa cultura uma forma rápida e eficaz de cura, deixando para traz o saber de seus antecessores, e assim interrompendo o processo de transmissão tradicional (AMOROZO, 1996). Assim, a realização de estudos etnobotânicos possibilita o resgate e a preservação dos conhecimentos populares das comunidades envolvidas, sendo que, além das sociedades [A1] Comentário: trás
2 2 de cultura tradicional, outros grupos de populações urbanas e/ou rurais, podem oferecer contribuições significativas para o conhecimento de plantas medicinais. O uso de recursos naturais por populações locais é orientado por um conjunto de conhecimentos acumulados, resultantes da relação direta de seus membros com o meio ambiente, sendo muitas vezes, o conhecimento tradicional sobre o uso das plantas o único recurso disponível, para as populações rural e urbana de países em desenvolvimento (CASTELLUCCI et al., 2000). Diante do exposto, torna-se imprescindível a realização de pesquisas que busquem o resgate e registro do conhecimento popular sobre plantas medicinais. Desse modo, o objetivo desse estudo foi registrar o conhecimento dos moradores da Vila Cantizani, Piraju/SP - Brasil, sobre plantas medicinais. MATERIAL E MÉTODOS O município de Piraju situa-se na região sudoeste do estado de São Paulo (23º15 S, 49º30 W) às margens do rio Paranapanema e distando 331Km da capital (TRUFFI; CLEMENTE, 2002). Os entrevistados foram previamente selecionados em função de seu conhecimento no uso de plantas medicinais e nos procedimentos terapêuticos aplicados, através de agentes comunitárias de saúde do PSF (Programa Saúde da Família), que atuam no Posto de Saúde da Vila Cantizani. A escolha desses profissionais deve-se à proximidade que eles têm com os habitantes da localidade, pois realizam visitas periódicas as suas casas conhecendo assim os hábitos dos moradores, inclusive os relacionados aos cuidados com a saúde. Foram realizadas 30 entrevistas, abrangendo os informantes indicados pelas funcionárias do PSF do bairro. Os dados referentes aos entrevistados e às plantas foram registrados em fichas de campo previamente elaboradas. As entrevistas foram realizadas com questionários organizados de forma estruturada, sendo possível o registro de informações específicas sobre os entrevistados e as plantas utilizadas. Sempre que possível e permitido pelo informante, coletou-se uma amostra vegetal da planta indicada. A identificação botânica das plantas matrizes foi efetuada por técnicos do Museu Botânico de Curitiba (PR), com base em material herborizado, que após a identificação foi incorporado à coleção do Centro de Educação e Pesquisa Ambiental da Universidade Estadual do Norte do Paraná - Campus Luiz Meneghel (UENP/CLM).
3 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram identificadas 39 famílias (Figura 1A), sendo que, a família Asteraceae, contribuiu com 19% das espécies, seguida por Lamiaceae com 12%. Euphorbiaceae e Zingiberaceae aparecem com 4% cada. As espécies Gymnanthemum amigdalinum, Porophyllum ruderale,sonchus oleraceus, Carica papaya, Crassula argentea,ocimum basilicum, Plectranthus neochilus, Aloe arborescens, Aloe vera, Malva parviflora e Costus spicatus merecem destaque, por não terem sido listadas no trabalho de Dias (1999) no município de Conchas/SP. A maioria das plantas é cultivada (83%), nos quintais, colhidas quando necessário e utilizadas como material fresco, a não ser que o modo de preparo solicite que a planta esteja seca. O hábito de cultivo nos quintais também foi observado por Castellucci et al., (2000), que afirmaram que a necessidade de uma planta não existente no quintal de um dado morador, pode ser suprida pelo vizinho que a cultiva em seu quintal, revelando a troca de informações entre os moradores, contribuindo para ampliar o espectro de plantas utilizadas para fins medicinais. A folha (75%) foi a parte vegetal mais empregada no preparo dos remédios, seguida por ramo (6%), planta inteira 4 % e semente, raiz, casca, flor e fruto com 3 % cada (Figura 1B). De acordo com Castellucci et al., (2000), a provável explicação para o maior uso das folhas, pode estar no fato destas serem fáceis de coletar e estarem disponíveis a maior parte do ano. Em muitas preparações os informantes indicaram o uso da folha e caule juntos, que é o ramo. Os principais modos de preparo observados foram: chá (54%), in natura (10%), garrafada (8%), xarope (6%), emplastro (6%), maceração (5%), suco (5%), tintura (3%) e outros (3%) (Figura 1C). O uso oral é frequente, havendo usos externos ou tópicos (administrados por fricção ou massagem, banhos, lavagens, bochechos e emplastros). Em alguns casos, uma planta apresenta diversos modos de preparo e administração. Observa-se o emprego majoritário de chás, onde as partes vegetais são levadas à fervura em recipiente com água. Os chás são utilizados, em sua grande maioria, como bebida. Quando usados de forma externa, são preparados para utilização de banhos ou lavagens como nos casos do picão-preto (banho em bebês com brotoejas e icterícia), arnica paulista (banho para dores gerais), confrei (lavar feridas, machucados e cabelos), calção- [A2] Comentário: o que seria isso?
4 4 de-velho (banhos para inchaços e má-circulação), malva (lavar o canal da urina), guanxuma (lavar os cabelos), pau-d alho (banhos para coceira), guiné (banho para inchaço nas pernas), rosa (lavar os olhos), trombeteira (lavar o canal vaginal), romã (aftas) e rosa (machucados na boca). É importante salientar a forma de preparo dos chás, visto que todos os entrevistados afirmam colocar a planta em um recipiente com água para cozinhar. Essa maneira de preparo é dita decocção, onde coloca-se a erva em água fria e em seguida, aquece-se até a ebulição, num recipiente fechado, deixando ferver por alguns minutos (TESKE; TRENTINI, 2001). Segundo Ferro (2006) a decocção é uma técnica restrita, sendo utilizada apenas para plantas que contêm drogas muito compactas e de natureza lenhosa (cascas, raízes, folhas duras), cujos princípios ativos sejam apenas solúveis à quente e capazes de suportarem sem alterações sensíveis as condições de temperatura e o período de aquecimento. Sendo assim, se o remédio for preparado de maneira inadequada pode causar alteração e/ou inativação do princípio ativo, tornando-o ineficaz contra a enfermidade indicada. O tipo de utilização in natura, não tem preparações específicas, sendo as partes vegetais mastigadas (assa-peixe, bálsamo, pinhão-paraguaio, aveloz, malva-rosa, rubim, alecrim, guiné e arruda) ou ingeridas diretamente como alimento (sementes de urucum, jatobá, serralha e mentruz). Nas tinturas e garrafadas coloca-se as partes vegetais em álcool para curtir durante alguns dias. As tinturas são preparadas com apenas uma planta, podendo ser administradas por via oral e também como uso tópico em casos de machucados e dores. As garrafadas são preparadas com duas ou mais plantas, sendo sempre utilizadas via externa. Os xaropes são preparados para tosse e gripe, a partir de chás, acrescidos de açúcar e/ou mel, podendo ser misturados com outras plantas. Os emplastros, também chamados por alguns entrevistados de unguentos, são muito utilizados em casos de machucados, batidas, queimaduras, e em algumas doenças específicas, como o sarampo. O modo de preparo consiste em amassar as partes vegetais selecionadas e colocar diretamente na região afetada, podendo ser amarradas com um pano. A mistura de várias plantas é muito frequente nessa preparação. Nos sucos, as partes vegetais utilizadas são espremidas para a retirada do sumo, e misturadas ou batidas no liquidificador, com leite e água. Foram citados outros modos de [A3] Comentário: Trocar por um termo mais formal, como URETRA Excluído: utilizadas
5 % Porcentagem (%) Porcentagem (%) Nº de espécies 17 Workshop de Plantas Medicinais do Mato Grosso do Sul/7º Empório da Agricultura Familiar 5 preparo, tais como: cigarros (alecrim), queimar a planta em brasas de carvão para defumação (alecrim e guiné) e molhos (pimenta). A Apiaceae Asteraceae Brassicaceae Caesalpiniaceae Crassulaceae Euphorbiaceae Lamiaceae Lauraceae Liliaceae Malvaceae Myrtaceae Phytolaccaceae Poaceae Polygonaceae Rutaceae B 0 Famílias C Folha Ramo Planta inteira Semente Casca Flor Fruto Raiz Modo de preparo Chá In natura Garrafada Emplastro Maceração Suco Xarope Tintura Outros Figura 1. Levantamento de plantas medicinais utilizadas pelos moradores da Vila Cantizani, Piraju/SP - Brasil: por família (A), partes vegetais (B) e modo de preparo empregados (C). As entrevistadas relataram uma diversidade de preparo dos remédios caseiros, porém, em alguns casos a infusão foi confundida com decocção, ambas denominadas chás, indicando à necessidade de um retorno dos resultados à população que colaborou com a pesquisa. A transmissão do conhecimento tradicional sobre plantas medicinais está sendo interrompido pela falta de interesse dos jovens, que preferem os medicamentos sintéticos por acreditar que são mais rápidos e eficazes. [A4] Comentário: Espaçamento errado! Excluído: eles REFERÊNCIAS AMOROZO, M. C. M. A abordagem etnobotânica na pesquisa de plantas medicinais. In: Di STASI, L. C. (Org). Plantas medicinais: arte e ciência. São Paulo: UNESP p CASTELLUCCI, S.; LIMA, M. I. S.; NORDI, N.; MARQUES, J. G. W. Plantas Medicinais relatadas pela comunidade residente na Estação Ecológica de Jataí, Município de Luiz
6 6 Antonio/SP: Uma Abordagem Etnobotânica. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 3, n. 1, p , DIEGUES, A. C. S. O mito moderno da natureza intocada. São Paulo: HUCITEC. 3 ed. Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas e Áreas Úmidas Brasileiras, USP. 2000, 169 p. FERRO, D. Fitoterapia: conceitos clínicos. São Paulo: Atheneu, p. OLIVEIRA F; AKISSUE G. Fundamentos de Farmacobotânica. 2. ed. São Paulo: Atheneu p. TESKE, M.; TRENTINI, A. M. M. Herbarium Compêndio de Fitoterapia. 4. ed. Curitiba: Herbarium Laboratório Botânico Ltda, p.
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