EDUCAÇÃO POPULAR: O DESAFIO DA PRÁTICA1. Resumo:
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- Thais Furtado da Mota
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1 EDUCAÇÃO POPULAR: O DESAFIO DA PRÁTICA1 Cristina Bandeira Coelho Ingrid Andrade Nunes2 UERGS Resumo: Neste trabalho buscamos abordar a educação popular e sua relação com a formação da cidadania. Num primeiro momento fazemos uma pequena reflexão sobre o que significa ser cidadão, depois definimos a educação popular como aquela prática pedagógica que trabalha com as necessidades e saberes das classes populares. Por último analisamos algumas práticas observadas a partir de uma pesquisa que buscava investigar a relação escola-entorno, destacando o quanto é necessário e ainda um desafio orientar-se pelo verdadeiramente popular, na escola pública. Considerações Iniciais Fala-se muito em democratização do ensino, porém ninguém (ou quase ninguém) sabe o que significa democratizar o ensino. A grande parte das pessoas pensa que é proporcionar oportunidades iguais para todos, não que isso seja uma definição errada, ao contrário, só que é bem mais que possibilitar acesso para todos a educação. Envolve a formação de uma consciência política para que cada pessoa possa reivindicar seus direitos, criticar as injustiças e lutar por igualdade social. Educar homens e mulheres a partir de um ensino democrático é o mesmo que transformá-los em cidadãos. Mas para isso é necessário que se entenda a concepção de ser cidadão aprendemos que para exercermos cidadania, precisamos ser um objeto (sujeito passivo),disciplinado, obediente e resignado com a situação do país e da comunidade na qual estamos inseridos. O real sentido de ser cidadão vai muito além disto, é necessário que homens e mulheres adquiram uma consciência coletiva, ou seja, se tornem sujeitos que participam ativamente das discussões e nas ações políticas de sua comunidade. Afinal minha presença no mundo não é a de quem a ele se adapta, mas a de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não ser apenas objeto mas sujeito também da história. 1Trabalho elaborado para este fórum sob orientação da Profª Janice de Almeida Furtado, a partir de estudos realizados nos componentes curriculares: Concepções e Métodos da Educação Popular e Investigação da Realidade Local e Regional. 2Acadêmicas do 3º semestre do Curso de Pedagogia Anos Iniciais do Ensino Fundamental e Educação de Jovens
2 (FREIRE,1996 p.60) É nesse contexto onde homens e mulheres exercem sua cidadania e agem na história que a educação denota a sua importância. A educação é uma das formas mais eficazes na formação da consciência-cidadã, sendo assim, a escola não deve propiciar desenvolvimento limitado ao treinamento, mas também intelectual, social e político. Infelizmente a realidade é diferente desta proposta, pois o discurso está longe da prática. Dentro das escolas a educação que está sendo trabalhada é muito mais conservadora do que libertadora, pois o aluno é objeto que tudo deve aprender e o professor o sujeito que tudo sabe. Neste sentido: (...) a educação se torna um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante (...) eis aí a concepção bancária da educação, em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receber os depósitos, guardá-los e arquiva-los. (FREIRE, 1978, p.58) Com este tipo de educação a escola funciona como um mecanismo de agravamento das desigualdades sociais ao invés de tornar-se um instrumento de universalização do ensino. E é no contexto de universalizar o ensino que se demonstra a importância da Educação Popular. Educação Popular: educação do povo para o povo A Educação Popular nasce nos movimentos populares, e atualmente tem como principal objetivo fortalecer tais movimentos. No surgimento dos projetos populares (referimo-nos aqui àqueles projetos que trazem no seu discurso a palavra popular ou povo, mas são concebidos de cima, por grupos que não vivem a realidade das classes populares) não havia e não há, o sentido verdadeiro do popular. A Educação Popular surge de experiências vivenciadas em movimentos populares; sendo uma forma de educar diferenciada porque é uma educação que vem das camadas desfavorecidas, ou seja é feita pelo povo que ao realizála se educa. Esta proposta é completamente diferente dos projetos de Educação Popular do governo que na sua maioria são projetos desenvolvidos por um grupo de pessoas da elite que tentam enquadrar as camadas populares em um perfil já definido ou então, confundir Educação Popular com educação direcionada somente aos excluídos, que na realidade supõem-se -as camadas mais abastadas- ser necessário somente lhe dar uma educação profisssionalizante e tecnicista ao invés de desenvolver a criticidade. A Educação Popular age diretamente no sujeito, pois o conhecimento se dá a partir das vivências do educando, ou seja, este é produtor do conhecimento. Nesta prática educativa a e Adultos da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul.
3 relação estabelecida entre educando e educador é horizontal, pois estes aprendem, crescem, e evoluem juntos: Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ou professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos capaz de ter raiva porque é capaz de amar. (FREIRE, 1996, p.46) Então podemos dizer que a prática em educação popular acontece quando educandos e educadores se assumem como sujeitos transformadores agindo sobre a realidade a qual estão inseridos. Essa orientação popular da educação é ainda um desafio quando pensamos a escola pública. A seguir relatos algumas reflexões a partir de uma pesquisa3 realizada no 2º semestre de Escola pública e educação popular: ainda um desafio As pesquisas tinham como objetivo analisar a relação entre escola e entorno, verificando o quanto as escolas trabalhavam as realidades nas quais estavas inseridas, isto é, o quanto trabalhavam na perspectiva de contextualizar o currículo e atender as necessidades das classes populares que a frequentavam. Uma das escolas situa-se no município de Bagé, faz parte da rede estadual, percebeuse que não existe a menor ligação entre a escola e a comunidade. Ocorre que não há no cotidiano dos professores uma cultura da reflexão e do diálogo, não havendo a consciência da necessidade de se trabalhar os conteúdos contextualizados. Todos os professores já ouviram certamente falar em Paulo Freire e Educação Popular, no entanto suas práticas estão muito distantes desse educador e sua proposta. Esta deficiência não possibilita a aplicação de uma prática popular. Discurso e prática estão muito distantes. A visão trabalhada na escola não é a dos educandos, mas sim a visão que os educadores têm sobre as questões da realidade. Não existe a troca de conhecimentos, ou as vivências compartilhadas, e sim é imposto um ensino que nada tem a ver com a vida dos alunos daquela comunidade. A citação abaixo resume o 3A pesquisa foi orientada pelas professoras Janice de Almeida Furtado e Luciane Canto da Rosa, para os componentes Concepções e Métodos da Educação Popular e Investigação da Realidade Local e Regional. Participaram também da pesquisa nossas colegas e colega: Rute Alves, TalitaVargas, Iriane Oliveira, Josiane
4 que foi percebido na escola: (...) Porque não estabelecer uma necessária intimidade entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos, porque não discutir as implicações políticas e ideológicas de um tal descaso dos dominantes pelas áreas pobres da cidade (...) Porque, dirá um educador reacionariamente pragmático a escola não tem nada a ver com isso (...) Ela tem que ensinar os conteúdos, transferí-los aos alunos. Aprendidos, estes operam por si mesmos. (FREIRE, 1996, p.34) Romper com o discurso de que a escola não tem nada a ver com isso é sem dúvida o grande desafio que se impõe aos educadores e futuros educadores. Através da experiência com essa escola percebeu-se que mesmo os educadores reconhecendo as práticas de Paulo Freire como válidas para aplicar nas escolas, ainda existe muita relutância em aplica-las, talvez por falta de ousadia para experimentar o novo ou talvez por medo de não serem competentes o suficiente ou ainda pelo simples fato de não conseguirem romper com a facilidade da acomodação e não considerarem possível ou interessante mudar suas práticas. Uma outra realidade observada foi em uma escola de assentamento no município de Candiota, onde apesar da escola conhecer a história e a luta daquela comunidade e demonstrar o reconhecimento da importância disto no trabalho educativo, parece não fazer uma reflexão mais profunda sobre como vivem os sujeitos com os quais trabalha. Freire define a realidade como uma conexão entre a objetividade e a subjetividade, ou seja, a relação entre as condições materiais de existência em determinada comunidade e a maneira como os homens e mulheres ali inseridos interpretam-nas e as enfrentam. (...)Nosso papel não é falar ao povo sobre a nossa visão de mundo, ou tentar impô-la a ele, mas dialogar com ele sobre a sua e a nossa. Temos de estar convencidos de que a sua visão de mundo que se manifesta nas várias formas de sua ação, reflete a sua situação no mundo, em que se constitui. ( FREIRE, 1996, p.87) Percebeu-se então, que a realidade trabalhada pelos educadores daquela escola é o produto do seu olhar sobre aquela comunidade e não o produto de uma investigação com a comunidade sobre seu cotidiano. Persson, Élbia Borba e Jorge Luis Sarasol.
5 Ocorre que os educadores pensam que estão contextualizando, pensam que estão trabalhando com as necessidades, mas possuem apenas uma visão parcial do modo de vida daquela comunidade. Existe aí uma dificuldade em ir além, os educadores enfrentam problemas na sua prática, mas não conseguem ver-se como co-responsáveis por eles, acreditam que estão fazendo o certo e responsabilizam as famílias. Considerações finais Após várias discussões sobre as diferentes realidades, concluímos o quanto uma prática educativa reflete tanto positivamente quanto negativamente na comunidade, fazendo com que os homens e mulheres inseridos nela sejam ativos ou passivos, sujeitos ou objetos, livres para pensar e agir ou presos a um sistema. Nas duas comunidades faltam maiores esclarecimentos sobre a Educação Popular, movimentos populares e práticas freireanas. Há muitas pessoas discursando sobre a Educação Popular sem saber a real importância de pôr em prática esta nova maneira de educar, causando um equívoco (entre teoria e prática)em pessoas interessadas em mudar a forma de educar, como foi verificado na escola do assentamento onde havia a intencionalidade de aplicar a prática popular, mas esta não acontecia, pois a visão trabalhada não era a dos educandos. Enfim, nos dois contextos e em vários outros, a ausência da Educação Popular é sentida porque esta é o principal instrumento de libertação do povo. Ela age contra a opressão, exploração, injustiças e corrupção. A Educação Popular está engajada na transformação da realidade. Bibliografia: FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 23ªed.São Paulo: Paz e Terra, FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança. 2ªed. Rio de janeiro: Paz e Terra, FREIRE, Paulo. Pedagoia do Oprimido. 3ªed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
Pedagogia da Autonomia. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.
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