A nivelabilidade como funcionalidade em aplicativos jornalísticos para smartphones 1

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1 A nivelabilidade como funcionalidade em aplicativos jornalísticos para smartphones 1 Marina Lisboa Empinotti Doutoranda - Estudos da Comunicação FCT Universidade da Beira Interior (UBI), Portugal 2 Rita de Cássia Romeiro Paulino Profa. Dra. - Jornalismo Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Brasil 3 Resumo: Além de se apropriar das funcionalidades herdadas do Webjornalismo hipertextualidade, multimidialidade, interatividade, instantaneidade, personalização e memória, o Jornalismo Móvel se reveste de novas propriedades particulares, específicas da mídia móvel. Este trabalho é centrado no estudo da nivelabilidade como nova funcionalidade de aplicativos noticiosos para smartphones. A partir de sistema classificatório desenvolvido pelas autoras, são avaliados 15 apps em itens que observam a apropriação dos modos retrato (vertical) e paisagem (horizontal) nos aplicativos em quatro momentos distintos da navegação capa, notícia, foto e vídeo, nas categorias "inativa", "elementar" ou "plena". Guiam o trabalho os estudos de Palacios et al. (2015), Fonseca & Barbosa (2016) e Newman (2016). Dentre os resultados mais relevantes, destaca-se o modo retrato como única opção de leitura da capa e dos textos das notícias em 73% da amostra, e a limitação da visualização de fotos e vídeos à nivelabilidade elementar. Palavras-chave: Jornalismo móvel. Aplicativo. Smartphone. Nivelabilidade. 1 Artigo enviado ao 8º Congresso Internacional de Ciberjornalismo, realizado de 27 a 29 de setembro de 2017 na Faculdade de Artes, Letras e Comunicação da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). 2 Jornalista e Mestra em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutoranda em Estudos da Comunicação FCT na Universidade da Beira Interior (UBI), Portugal. marinaempinotti@gmail.com 3 Doutora em Engenharia e Gestão do Conhecimento, na área de Mídia e Conhecimento, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professora do curso de Pós-Graduação em Jornalismo (POSJOR) e docente do curso de Jornalismo da UFSC, nas disciplinas Webdesign, Conteúdo interativo para tablets e Jornalismo de Dados. rcpauli@gmail.com

2 INTRODUÇÃO O Jornalismo produzido para dispositivos móveis, aqui denominado Jornalismo Móvel, atualmente segue em pleno desenvolvimento, apesar de, como veremos no tópico a seguir, ter suas primeiras experiências registradas há mais de vinte anos. Ainda são discutidas premissas básicas do campo, como a sua própria denominação (Jornalismo Móvel? Jornalismo Móvel Digital? Jornalismo Ubíquo?), seu histórico, e as funcionalidades nas quais se baseia. Para Canavilhas (2014a), atualmente são "sete particularidades que distinguem o Jornalismo que se faz na web dos que se fazem noutros meios" (CANAVILHAS, 2014a, p. 1). Apresentaremos cada uma delas, pois entendemos serem de fundamental importância para a compreensão da produção jornalística voltada aos smartphones, mas nos centraremos em quatro outras, apresentadas por Palacios et al. (2015) como exclusivas da mídia móvel. Os autores sugerem que os dispositivos móveis "herdam" as sete funcionalidades do Webjornalismo, mas também revestem-se de novas propriedades de interface e/ou hardware que "potencializam interações com especificidades que vão além das características da produção para a web ou para a mídia impressa, estabelecendo novas semânticas" (p. 7). Considerando a afirmação acima, este artigo busca analisar especificamente aspectos de uma das potencialidades reconhecidas como exclusivas para dispositivos móveis, a nivelabilidade. A partir de sistema classificatório próprio, analisaremos se e como 15 aplicativos jornalísticos para smartphones permitem a transição de orientação de tela entre os modos paisagem e retrato (landscape; portrait) de modo a melhor apresentar seu conteúdo de capa, textual, fotográfico e de vídeo. Inicialmente discutiremos as funcionalidades e affordances do Jornalismo Móvel, para então nos dedicarmos à reflexão sobre a nivelabilidade especificamente. Na sequência são apresentados os procedimentos metodológicos adotados para a análise, e os resultados da mesma. 2

3 FUNCIONALIDADES DO JORNALISMO MÓVEL Quando o Jornalismo chega ao ambiente digital, o conceito de "funcionalidade" (usado no processo de desenvolvimento de sistemas para se referir a comportamentos para os quais possam ser visualizados início e fim, ou seja, algo passível de execução pelo programa) é incorporado aos estudos do campo para designar as qualidades que este deve ter para adequarse à nova realidade, ou seja, tornar-se "funcional". Segundo Barbosa (2005), são propriedades percebidas para a estruturação e apresentação das informações, para a construção de narrativas multimídia, para o arquivamento dos conteúdos publicados, etc. Atualmente são as sete particularidades que distinguem o Jornalismo que se faz na web dos que se fazem noutros meios, conforme vê Canavilhas (2014a). Particularidades (ou funcionalidades) estas que, para Palacios et al. (2015), são herdadas pelo Jornalismo Móvel. A seguir resumimos cada uma delas: Hipertextualidade: o hipertexto pode ser encarado como um conjunto de blocos informativos, ligados através de links, permitindo ao usuário a escolha do itinerário de navegação a ser seguido. O termo "hipertexto" foi utilizado pela primeira vez nos anos 1960 por Theodor Nelson, que o definiu como uma escrita não sequencial, com várias opções de leitura para o leitor (CANAVILHAS, 2014a). Personalização: Para Palacios, 2003, a noção consiste na opção oferecida ao usuário para configurar os produtos jornalísticos de acordo com os seus interesses individuais. Isso envolve, por exemplo, a pré-seleção dos assuntos, a sua hierarquização e a escolha de formato de apresentação visual. Alguns outros exemplos são: a pré-seleção dos assuntos de interesse do usuário de modo que, nos próximos acessos ao site, o conteúdo mais interessante receba maior destaque; newsletters focadas nas preferências do usuário, etc. Interatividade: Aplicado ao Jornalismo, o termo é explorado por Schultz (1999), que vê a característica como variável de resposta na comunicação interpessoal e social, ou seja, uma possibilidade de feedback na interação entre pessoas e os meios, quebrando a antiga noção de unilateralidade com que os meios fornecem informação, sem recebê- 3

4 la em retorno. Moraes (1998) eleva a resposta dos receptores a um mesmo nível na interação com os meios, estabelecendo, portanto, uma ação entre entes" mútua. Multimidialidade: Segundo Salaverría (2014), deve ser observada sempre de três formas: como multiplataforma, como polivalência e como combinação de linguagens. A primeira se refere à coordenação logística de diferentes meios, como em casos nos quais uma empresa jornalística articula a cobertura televisiva, radiofônica e impressa para conseguir um resultado em conjunto. A segunda descreve um novo perfil de jornalista, que acumula funções anteriormente desempenhadas por diversos profissionais. Por fim, há a multimidialidade como a combinação de pelo menos dois tipos de linguagem em apenas uma mensagem" (SALAVERRÍA, 2014, p. 30). Instantaneidade: Também denominada "atualização contínua" (PALACIOS & CUNHA, 2012, p. 670) é marca exclusiva do Webjornalismo, pois livra-se completamente das amarras físicas e temporais do impresso e das grades das emissoras televisivas e radiofônicas. Acaba também a dependência de máquinas além do computador para a publicação de material Bradshaw (2014). O autor enfatiza que não basta se falar em velocidade; imediaticidade é mesmo a ideia adequada, pois atualmente os usuários podem ultrapassar o jornalista e serem testemunhas das estórias. Memória: Capacidade beneficiada pelas bases de dados, algoritmos e buscas automatizadas, que acabaram por transformá-la também em blocos de construção para o Jornalismo contemporâneo (MIELNICZUK; BARBOSA, 2005). Com a Internet é simples e rápido recuperar informações importantes, retomar edições passadas, notícias e materiais já divulgados pelos veículos, e não há limitação alguma para o armazenamento de registros: cada usuário é um produtor potencial de memória, de testemunhos (CANAVILHAS, 2004). Ubiquidade: Ser ubíquo significa ser encontrado em todo lugar, de maneira simultânea. No contexto da mídia, ubiquidade implica que qualquer um, em qualquer lugar, tem acesso potencial a uma rede de comunicação interativa em tempo real 4

5 (PAVLIK, 2014, p. 160), ou seja, não apenas se acessam notícias e entretenimentos, mas participa-se através do compartilhamento de informação. Apesar de moldarem o conteúdo feito para dispositivos móveis (que afinal também são integrantes do universo do Webjornalismo), as funcionalidades referidas se diferenciam de outras, que seriam exclusivamente do Jornalismo Móvel: nivelabilidade, tactilidade, opticabilidade e localibilidade (PALACIOS et al., 2015). Os autores reconhecem que, no caso dos dispositivos móveis, os muitos sensores a eles incorporados (características físicas dos aparelhos: câmeras, touchscreen, acelerômetro, etc.) podem ser lidos como suas funcionalidades. As affordances, ou seja, as ações e possibilidades de uso, decorrentes de tais funcionalidades "têm efeitos práticos sobre a formatação de conteúdos para esses dispositivos, incluindo, é claro, os produtos jornalísticos (p. 21). Haveria, ainda, uma quinta funcionalidade, não mencionada pelos pesquisadores brasileiros: a plasticidade, reconhecida por autores como Canavilhas (2014b). A seguir descrevemos quatro delas, reservando o próximo tópico ao detalhamento da quinta, a nivelabilidade, a funcionalidade testada neste estudo. Tactilidade: Cunha & Aragão (2011) a veem como o principal recurso operativo das plataformas móveis, também explorada como estratégia interativa nas narrativas. O uso de gestos como input, ou seja, como entrada de informação para um sistema, atua como padrão substitutivo para o que antes era feito pelo mouse e pelo teclado. O toque do dedo humano sobre uma tela produz diferentes ações, a partir de gestos préestabelecidos por cada dispositivo, embora, em geral, comuns entre diferentes produtos e diferentes fabricantes: toque simples, toque duplo, arraste, pinça, etc. Opticabilidade: Está relacionada aos sensores de luz, ao microfone, e sobretudo à câmera digital (Palacios et al., 2015), que inicialmente foi embutida em telefones e posteriormente em tablets. Algumas possibilidades já mapeadas por autores da área identificam principalmente a leitura de códigos tipo QR (quick response, ou resposta rápida) e a utilização de recursos de realidade aumentada como modos de ativação de informações complementares na tela do aparelho enquanto se filma elementos ativadores (PALACIOS et al., 2015, p. 25). 5

6 Localibilidade: A localibilidade está relacionada com o uso dos sensores que contribuem com a geolocalização do aparelho; de um modo geral, os modelos de smartphone atuais contam com o barômetro, o magnetômetro/bússola e, sobretudo, o GPS. De modo complementar, considera-se que as conexões via Wi-Fi ou redes móveis também são atuantes, pois sistemas como o Android contam com GPS assistido (agps), que obtém a localização aproximada do aparelho por meio das torres de telefonia celular e redes Wi-Fi. Plasticidade: O acelerómetro, o giroscópio e o GPS determinam aquilo a que podemos chamar plasticidade, ou seja, um nível superior de adaptação do dispositivo ao seu utilizador (Canavilhas, 2014b, p.6). A leitura das inclinações dos dispositivos e a geolocalização, quando cruzados com os comportamentos dos utilizadores nas redes sociais, por exemplo, possibilitam que a personalização dos conteúdos e serviços (BARDOEL; DEUZE, 2001) seja transportada para níveis dificilmente atingíveis com outro tipo de dispositivos. NIVELABILIDADE A nivelabilidade está diretamente relacionada a dois sensores presentes na maioria dos dispositivos móveis, o acelerômetro e o giroscópio. Estes permitem que o aparelho identifique níveis de posicionamento, rotação e de inclinação, bem como possibilitam ajustes de tela de acordo com o ângulo do smartphone ou tablet em relação à aceleração gravitacional. O termo "nivelabilidade" foi apresentado, no contexto do Jornalismo Móvel, por (Palacios et al., 2015), ao discutirem mecanismos de inovação no campo. Para os autores, smartphones e tablets apresentam-se como objetos particularmente promissores no âmbito dos estudos voltados para o surgimento e desenvolvimento de inovações em Jornalismo, uma vez que as especificidades dessas novas plataformas têm potencialmente uma alta capacidade de geração ou reconfiguração de modos de produção, circulação e recirculação, consumo e recepção de novos conteúdos e novos formatos/gêneros (p. 24). A nivelabilidade é identificada como relacionada aos diferentes níveis de posicionamento e inclinação do dispositivo de acesso às notícias. 6

7 Algumas das funções comumente encontradas nos dispositivos móveis, como rotação ou de tela (alternância entre os modos retrato e paisagem), posicionamento automático de imagem ou vídeo, avanço ou retrocesso de conteúdo, orientação e deslocamento espacial têm participação do acelerômetro. Costa & Brasil (2016) resumem: "O acelerômetro é uma tecnologia que mede a aceleração e movimentos de objetos. Nos aparelhos eletrônicos possibilita avaliar a posição relativa do dispositivo e ajustar o visor, fazendo com que a tela gire conforme as necessidades da imagem" (p. 6). Fonseca & Barbosa (2016) destacam a importância do giroscópio aplicado aos dispositivos móveis. O giroscópio é capaz de indicar em que plano ele se encontra (deitado, em pé), para onde aponta (qualquer direção lateral, além de para baixo ou para cima), e se houve rotação no próprio eixo do objeto, o que o acelerômetro não capta. Enquanto este fornece dados de localização do aparelho, o giroscópio complementa com informações mais precisas sobre orientação/rotação. A incorporação do acelerômetro e do giroscópio permitiu que no Jornalismo feito para dispositivos móveis, as imagens sejam pensadas em dupla orientação, "algo único em comparação o à tevê e ao cinema" (PAULINO, 2013, p. 18). Tanto no âmbito da visualização quanto da captação de filmes e fotos, as câmeras são agora dispositivos bidirecionais e a o processo de filmar uma cena na vertical tornou-se natural, sob a ótica de Costa & Brasil (2016), diferentemente de qualquer meio anterior. Dados do relatório Journalism, Media and Technology Predictions da Reuters (NEWMAN, 2016) corroboram esta visão: em cinco anos ( ), nos Estados Unidos, o tempo de visualização dos vídeos verticais subiu de 5% para 29% do tempo total. Em outro relatório do mesmo ano (NEWMAN et al., 2016) a empresa cita o produto da BBC "Ten to Watch" como tendência no âmbito dos vídeos digitais (pp ). No caso específico do smartphone, o habitual é segurá-lo principalmente na vertical, como sempre foi o habitual com telefones, por isso algumas companhias declaram entender que este é o formato a ser preferido para conteúdo móvel. O Daily Mail 4 exemplificou o referido com junho de Disponível em Acesso em 9 de 7

8 sua atuação na rede social Snapchat: o conteúdo concebido na vertical foi visto até o fim nove vezes mais do que o horizontal. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Foram selecionados para observação 15 aplicativos jornalísticos disponíveis para iphone, elencados a seguir. O corpus é composto por amostras do Brasil, Argentina, Espanha, Portugal, Estados Unidos e Inglaterra, estudados em agosto de 2017: O Globo Notícias (Brasil) Estadão (Brasil) Folha de S. Paulo (Brasil) Extra Notícias (Brasil) Gazeta do Povo (Brasil) El País (Espanha) El Mundo (Espanha) Huffington Post (USA) Washington Post (USA) The New York Times (USA) The Guardian (Inglaterra) The Telegraph (Inglaterra) La Nación (Argentina) Público (Portugal) Expresso (Portugal) Cada app foi avaliado em uma das affordances mais evidentes da nivelabilidade, que é a transição entre os modos de visualização retrato (vertical) e paisagem (horizontal). Ambos os casos estão ilustrados na Figura 1. 8

9 Figura 1 - Orientação vertical/retrato à esquerda e horizontal/paisagem à direita Para a avaliação foi composto um sistema próprio para o trabalho. A apropriação da affordance mencionada será classificada em uma das três opções a seguir: Será considerada "Plena" quando houver transição vertical-paisagem e vice-versa e concomitantemente adaptar de modo automático o conteúdo ao tamanho e orientação da tela do dispositivo, proporcionando a melhor visualização possível; Será considerada "Elementar" quando houver transição vertical-paisagem e vice-versa, mas não adaptar de modo automático o conteúdo ao tamanho e orientação da tela; Será considerada "Inexistente" quando não permitir transição vertical-paisagem e viceversa; São também exigidos quatro momentos distintos de análise dentro de cada app: na capa após a abertura; dentro de uma notícia, após sua seleção manual (denominada "texto" para fins classificatórios); em uma fotografia; em um vídeo. RESULTADOS Os resultados das observações realizadas estão sintetizados no Quadro 1. Nota-se que, dos 60 momentos de análise, apenas dois não puderam ser classificados, por não terem sido encontrados durante os testes: vídeos nos aplicativos O Globo Notícias e Extra Notícias. Durante o período observatório, estes recursos não foram identificados nos apps. 9

10 Quadro 1 - Classificação de 4 momentos de observação em cada um doa 15 apps selecionados. Aplicativo Capa Texto Fotografia Vídeo O Globo Notícias inativa inativa inativa - Estadão inativa inativa inativa inativa Folha de S. Paulo inativa inativa inativa inativa Extra Notícias inativa inativa elementar - Gazeta do Povo inativa inativa inativa elementar El País plena plena elementar elementar Huffington Post inativa inativa inativa elementar Washington Post plena plena elementar elementar The New York Times plena plena elementar elementar The Guardian inativa inativa elementar elementar The Telegraph inativa inativa inativa inativa El Mundo plena plena elementar elementar La Nación inativa inativa inativa elementar Público inativa inativa elementar elementar Expresso inativa inativa inativa inativa No contexto geral, percebe-se que a nivelabilidade é inativa em 59% dos casos estudados, predominando nas situações Capa e Texto (73%) e também em Fotografia, embora com menor vantagem (53%). No caso dos vídeos, a nivelabilidade elementar foi a mais presente (69%) e não houve casos de nivelabilidade plena, assim como nas fotografias. Os dados gerais estão no Quadro 2. Vale destacar que quando inativa a nivelabilidade, a orientação possível para visualizar o conteúdo foi sempre a vertical. Tabela 1 - Quantificação dos casos de nivelabilidade do estudo Nivelabilidade Ocorrências Capa Texto Fotografia Vídeo N. Total % Total Inativa Elementar Plena Total A Tabela 1 permite observar que o comportamento da nivelabilidade em Capa e em Texto foi idêntico, ou seja, ao se acessar uma notícia, o comportamento da orientação de tela é sempre igual ao que ocorre na capa do aplicativo: ou não se adapta (inativa), ou se adapta ao tamanho correto, sem ocasionar problemas de leitura ou necessidade de rolagem/scroll horizontal (plena). Os gráficos da Figura 2 (a) e (b) demonstram claramente o afirmado. 10

11 (a) (b) Figura 2 - Resultados para Capa (a) e Texto (b) Em Vídeo houve o único caso em que a nivelabilidade se apresentou em menor percentual como inativa, sendo principalmente elementar, isto é, que permite assistir ao vídeo na orientação desejada, mas que exige a troca manual. O gráfico da Figura 3 demonstra o número de ocorrências de cada tipo de nivelabilidade em cada app estudado. Figura 3 - Resultados totais do estudo, por app 11

12 Na Figura 4 (a) e (b) tem-se os dados referentes ao percentual de ocorrências em Fotografia e em Vídeo, respectivamente. As fotos se destacam pelo equilíbrio de casos entre as categorias inativa e elementar, enquanto nos vídeos houve predominância do tipo elementar. (a) (b) Figura 4 - Resultados para Fotografia (a) e Vídeo (b) CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho estudamos um aspecto (affordance) da nivelabilidade, a partir de sistema classificatório desenvolvido pelas autoras. Foram avaliados 15 apps em itens que observam a apropriação dos modos retrato (vertical) e paisagem (horizontal) nos aplicativos em quatro momentos distintos da navegação Capa, Notícia, Fotografia e Vídeo, nas categorias "inativa", "elementar" ou "plena". As observações realizadas permitiram perceber um interessante padrão de apropriação da affordance da nivelabilidade selecionada para o estudo nos 15 apps envolvidos no estudo. Em primeiro lugar, o já citado modo idêntico de comportamento das telas em Capa e em Texto: ou não se adapta (inativa), ou se adapta ao tamanho correto, sem ocasionar problemas de leitura ou necessidade de rolagem/scroll horizontal (plena). Em segundo lugar, ressalta-se a dicotomia identificada: em Capa e em Texto, quando não inativa, a nivelabilidade foi do tipo plena; zero casos do tipo elementar. Já para Fotografia e Vídeo, quando não inativa, a nivelabilidade foi elementar; em zero casos foi plena. 12

13 Diante da predominância da inatividade constatada, com exceção dos vídeos, que em geral se adaptam à mudança de orientação de tela (embora não de forma automática/plena), afirmamos que este recurso tão básico da nivelabilidade selecionado para este estudo, que é a possibilidade do usuário selecionar o modo de visualização do conteúdo (retrato/paisagem), é pouco oferecido pelo apps jornalísticos selecionados. Se por um lado, esta limitação pode se ancorar nos mencionados estudos que preveem a preferência pela orientação vertical nos usuários de smartphone (NEWMAN, 2016; (NEWMAN et al., 2016), desta forma se vai de encontro a outras premissas do Jornalismo Móvel, como a possibilidade de personalização de conteúdo ainda mais minuciosa do que no Webjornalismo, a chamada plasticidade, marca distintiva da prática jornalística na mobilidade. Autores como Itzkovitch (2012) 5 afirmam: "Nearly all mobile and tablet applications would benefit from being designed for device orientation 6 " (online). 5 Disponível em: Acesso em 1 de julho de Em tradução livre: Quase todos os aplicativos para smartphone e tablets se beneficiariam da "orientação dispositivo" [Esta última designa, para o autor, a possibilidade de alternância entre orientações de tela retrato/paisagem]. 13

14 REFERÊNCIAS BARBOSA, S. Jornalismo digital e bases de dados: mapeando conceitos e funcionalidades. SOPCOM: Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, p , BARDOEL, J.; DEUZE, M. Network Journalism: Converging Competences of Media Professionals and Professionalism. Australian Journalism Review, v. 23, n. 2, p , BRADSHAW, P. Instantaneidade: Efeito da rede, jornalistas mobile, consumidores ligados e o impacto no consumo, produção e distribuição. In: CANAVILHAS, J. (Org) (Ed.). Webjornalismo. Covilhã: Livros Labcom, v. 7p CANAVILHAS, J (2004). A Internet como Memória. Disponível em: Acesso em 1 de setembro de CANAVILHAS, J. Webjornalismo: 7 caraterísticas que marcam a diferença. CovilhãLivros Labcom, 2014a. CANAVILHAS, J. A reportagem paralaxe como marca de diferenciação da Web. In: REY, P. R.; PISONERO, C. G. (Eds.). Contenidos innovadores en la Universidad Actual. [s.l.] McGraw-Hill Education, 2014b. p COSTA, L.; BRASIL, A. Imagens verticais no telejornalismo. XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul. Anais... Curitiba: 2016 CUNHA, R. DO E. S. DA; ARAGÃO, R. M. Clicar, arrastar, girar: o conceito de interatividade em revistas para ipad. 9o. Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo. Anais...Rio de Janeiro: 2011 FONSECA, A. DOS A.; BARBOSA, S. Affordances indutoras de inovação no jornalismo móvel de revistas para tablets. XXV Encontro Anual da Compós. Anais... Goiânia: 2016 MIELNICZUK, L.; BARBOSA, S. Digital journalism: democratizing social memory. Brazilian Journalism Research, v. 1, n. 2, p , MORAES, M. DE. Produtos interativos para consumidores multimídia: discutindo a interatividade na era dos bits. PreTextos, NEWMAN, N. Journalism, Media and Technology Predictions Londres: Reuters Institute for the Study of Journalism, NEWMAN, N. et al. Reuters Institute Digital News Report Londres: Reuters Institute for the Study of Journalism, PALACIOS, M. Ruptura, continuidade e potencialização no jornalismo on-line: o lugar da memória. In: MACHADO, E.; PALACIOS, M. (ORGS) (Eds.).. Modelos do Jornalismo Digital. Salvador: Editora Calandra,

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