EXTRACTO DA DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DIRECTIVO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE
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- Jónatas Felgueiras Escobar
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1 EXTRACTO DA DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DIRECTIVO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE 1. Em 6 de Fevereiro de 2007, recebeu a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) uma exposição enviada por Manuel Cirne Carvalho, nos termos da qual os Centros de Saúde da Senhora da Hora e de São Mamede Infesta não estariam a emitir credenciais para a realização de análises clínicas em laboratórios convencionados com o Serviço Nacional de Saúde (SNS), por decisão do conselho de administração da Unidade Local de Saúde de Matosinhos (ULSM). 2. Em 14 de Fevereiro, recebeu a ERS uma exposição enviada pela Associação Nacional de Laboratórios Clínicos (ANL), relativamente à não emissão pelos Centros de Saúde da Senhora da Hora e de São Mamede Infesta de credenciais para a realização de análises clínicas em laboratórios convencionados com o SNS, por decisão do conselho de administração da ULSM. 3. Em 16 de Fevereiro, recebeu a ERS uma exposição enviada pela Federação Nacional de Prestadores de Cuidados de Saúde (FNS) e pela Associação Portuguesa de Médicos Fisiatras (APMF), invocando semelhante decisão da ULSM relativamente à não emissão de credenciais para Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica (MCDT). 4. Em 5 de Março, recebeu ainda a ERS, relativamente ao mesmo assunto, uma exposição apresentada pela Ordem dos Farmacêuticos (OF). 5. Em 15 de Março, recebeu a ERS um pedido de parecer solicitado pela Ordem dos Médicos, relativamente ao Boletim Normativo n.º 360 da ULSM, referente à centralização de MCDT nas instalações daquela unidade, em alternativa à emissão de credenciais pelos Centros de Saúde, para que os utentes se possam dirigir a prestador por si escolhido. 6. Em face das exposições recebidas, e atento o facto de todas se reportarem ao mesmo tipo de factos, imputáveis à mesma entidade a ULSM entendeu a ERS, por razões de celeridade, economia processual e eficiência, tratar todas as
2 exposições no âmbito do mesmo processo de inquérito aberto na sequência da primeira exposição recebida tendo-lhe sido atribuído o número de processo ERS/17/07, no âmbito do Departamento de Acompanhamento do Sistema de Saúde e Defesa do Acesso e da Concorrência (DAC). 38. Em face de todos os elementos coligidos no processo, designadamente através de documentos juntos ao processo, pode a ERS desde já concluir que: a) Em 17 de Janeiro de 2003 deliberou a ULSM centralizar a realização de MCDT no HPH, sempre que para tanto tenha capacidade instalada. b) Em 31 de Janeiro de 2007 deliberou a ULSM aprovar o Boletim Normativo n.º 360, nos termos do qual se cria a Central de Marcação de MCDT. c) Desde 10 de Março de 2003 e 3 de Maio de 2004, os Centros de Saúde de São Mamede Infesta e Leça da Palmeira, respectivamente, passaram a centralizar a realização de MCDT no HPH, não havendo emissão de credenciais entregues directamente aos utentes. d) Desde estas datas, os operadores convencionados deixaram de receber utentes do SNS portadores de credenciais emitidas por aqueles Centros de Saúde. e) Desde estas datas, os utentes cuja residência obrigue à consulta, dentro do SNS, naqueles Centros de Saúde, deixaram de receber as credenciais para realização de MCDT e poder escolher o prestador convencionado da sua preferência, ficando obrigados enquanto utentes do SNS a recorrer aos serviços oferecidos pela ULSM. f) Nos termos do Boletim Normativo n.º 360, sempre que a ULSM não tenha capacidade para realizar determinado MCDT, procede à selecção directa do prestador convencionado que realizará o exame, mais agendando directamente com este a respectiva data de realização, a qual é comunicada ao utente. g) Por Acórdão de 9 de Dezembro de 2004, proferido pelo Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto (TAF), foi anulada a Deliberação de 2003 adoptada pela ULSM, e determinado o restabelecimento da normal e 2
3 regular execução das convenções (este acórdão foi confirmado pelo Acórdão do Tribunal Central Administrativo Norte (TCA) de 9 de Março de 2007, proferido em sede de recurso). 40. A questão que à ERS importa aferir, nos termos das suas atribuições legais, prende-se com a afectação, ou não, dos direitos dos utentes e operadores convencionados, em consequência da Deliberação adoptada pela ULSM. 47. Os utentes que agora se desloquem ao Centros de Saúde que integram a ULSM, deverão realizar as análises prescritas pelos médicos de família no HPH quando este tenha capacidade para a realização do mesmo ou em estabelecimento privado seleccionado pela própria ULSM quando o HPH não tenha capacidade para a realização do exame requerido. 48. Este procedimento vem coarctar de forma clara a possibilidade de escolha dos utentes. A questão assume, contudo, particular acuidade no caso em que o HPH não tenha capacidade para a realização do exame requerido, e a ULSM selecciona o estabelecimento privado onde o mesmo será realizado, uma vez que embora a ULSM não tenha capacidade para a realização de determinado exame, não deixa de controlar o processo de selecção e agendamento da realização do mesmo em operador por si escolhido, não tendo o utente qualquer influência nesse processo [Outra] questão que suscita dúvidas prende-se com a internalização de MCDT quando a ULSM tenha capacidade instalada para realizar os exames prescritos Como se referiu, confrontam-se aqui duas posições distintas: por um lado, a ULSM, enquanto entidade pública integrada no SNS, reclama dever poder utilizar os seus recursos disponíveis e, como tal, poder internalizar os MCDT; por outro lado, não pode deixar de enfatizar-se que este procedimento implica a violação da liberdade de escolha dos utentes, e afecta os direitos dos operadores (obtidos aquando da celebração dos contratos com o Estado, e enquanto esses contratos vigorarem). 3
4 135. Nessa medida o que importa assegurar, neste momento, é que tanto utentes como operadores possam ver garantidos os seus direitos à prestação de cuidados de saúde com qualidade, celeridade e eficiência, e à manutenção em vigor do regime das convenções, respectivamente Para tanto terá de existir uma concordância prática entre os interesses do Estado (de rentabilizar a sua capacidade instalada), dos utentes (de receberem cuidados de saúde e garantirem a sua liberdade de escolha) e dos operadores (de continuarem a receber utentes do SNS, mantendo as convenções celebradas) De todo o exposto resulta que, a actuação da ULSM legitima e obriga, nos termos agora expostos, uma intervenção da ERS, mais consubstanciando uma clara violação dos princípios elencados Efectivamente, de facto e de direito, a actuação da ULSM parece poder acarretar uma violação dos direitos plasmados nas seguintes normas: a) A liberdade de escolha dos utentes, consagrada na Base V, n.º 5, e na Base XIV, n.º 1, al. a) da LBS, o que motiva a intervenção da ERS nos termos da alínea a), do n.º 2 do artigo 25.º do Decreto-Lei n.º 309/2003; b) O Direito dos utentes de acesso à prestação de cuidados de saúde, consagrada na Base I, n.º2 e Base II, n.º1, al. b) da LBS, o que motiva a intervenção da ERS nos termos do n.º 1 do artigo 6.º, das alíneas a), do n.º 1 e b) do n.º 2, do artigo 25.º, do Decreto-Lei n.º 309/2003; c) A qualidade dos serviços de saúde prestados aos utentes consagrada na Base XIV, n.º1, al. c) da LBS, o que motiva a intervenção da ERS por força do n.º 1 do artigo 6.º, na alínea b), do n.º 1, do artigo 25.º do Decreto-Lei n.º 309/2003; d) A concorrência entre operadores e direito à segurança do investimento destes, consagrados nos artigos 5.º, 6.º, 8.º, do Decreto-Lei n.º 97/98, de 18 de Abril, o que motiva uma actuação da ERS por força da alínea b) do n.º 2 do artigo 6.º, do Decreto-Lei n.º 309/2003; 4
5 e) O cumprimento dos contratos de convenção celebrados com o Estado nos termos previstos no Decreto-lei n.º 97/98, de 18 de Abril, enquanto obrigação que impende sobre a ULSM, consagrada no n.º 1 do artigo 6.º, do Decreto-Lei n.º 309/ A presente deliberação foi precedida da necessária audiência de interessados, realizada nos termos do artigo 101.º, n.º 1, do CPA, aplicável ex vi do artigo 36.º Decreto-lei n.º 309/2003, de 10 de Dezembro, tendo sido apresentadas observações pela ULSM, ANL e Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos. VI. DECISÃO 271. Nos termos e para os efeitos dos artigos 27.º e 36.º do Decreto-lei n.º 309/2003, de 10 de Dezembro, o Conselho Directivo da Entidade Reguladora da Saúde, deliberou em 19 de Julho de 2007, emitir a seguinte recomendação e instrução, dirigida à Unidade Local de Saúde de Matosinhos: a) A Unidade Local de Saúde de Matosinhos, deverá de forma imediata assegurar que a prestação de cuidados de saúde aos utentes do SNS, inscritos nos Centros de Saúde de Matosinhos, quando exista internalização de MCDT em função da capacidade instalada dessa unidade de saúde, se realiza nas melhores condições em termos de qualidade, celeridade, eficiência, as quais não poderão ser inferiores às que teriam lugar se os utentes pudessem continuar a recorrer a operadores privados convencionados; b) Sempre que a ULSM verifique que não pode prestar os cuidados de saúde requeridos nas melhores condições em termos de qualidade, celeridade, eficiência, nos termos definidos na alínea anterior, deverá ser entregue ao utente a credencial correspondente (P1), para que este possa escolher livremente o prestador convencionado para a realização dos MCDT prescritos. Será considerado inexistência de capacidade instalada, a não realização dos 5
6 MCDT prescritos nos prazos e com a qualidade normalmente verificada no sector convencionado. c) As presentes recomendações não contendem com a necessária execução do que venha a ser julgado pelos Tribunais Administrativos quanto à legitimidade da internalização de MCDT na vigência dos contratos de convenção celebrados, nem fazem precludir qualquer obrigação de indemnização ou compensação de operadores privados que deva ter lugar. Mais se reserva a ERS o direito de rever ou adoptar nova recomendação ou instrução à luz do que venha a ser decidido pelos Tribunais. d) Sempre que a ULSM constate não ter capacidade para realizar os MCDT prescritos nos Centros de Saúde que a integram, deverá, de forma imediata, emitir as credenciais (P1) respectivos, as quais serão sempre entregues directamente aos utentes, podendo estes recorrer aos serviços de operador convencionado por si livremente escolhido. e) Em consequência, todos os procedimentos internos, designadamente os que se encontram previstos no Boletim Normativo n.º 360, deverão ser alterados em conformidade, mediante deliberação do Conselho de Administração da ULSM. O Conselho Directivo 6
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