de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia

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1 Anais do I Seminário Internacional de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia COMPOSIÇÃO DA DIETA DOS PEIXES DO LAGO PRATO NO PERÍODO DE SECA NA ESTAÇÃO ECOLÓGICA DE ANAVILHANAS, RIO NEGRO, AM. Ronãn Alves de Freitas; Ana Cristina Belarmino de Oliveira; Kedma Cristine Yamamoto; Daniel Pinto Borges; cambixeronan@yahoo.com.br. Realização Apoio

2 INTRODUÇÃO A região Amazônica possui a maior bacia hidrográfica do mundo sendo essa riqueza hídrica refletida na mais diversificada ictiofauna. As estimativas de diversos autores para as espécies de peixes presentes na imensa área de drenagem da bacia Amazônica variam entre 1.5 e 5. (MALABARBA, 1998). Na Amazônia Central a flutuação do nível d água, média anual de 1 m, promove a alternância das fases terrestre e aquática resultando em modificações drásticas nas condições ambientais exigindo adaptações específicas da ictiofauna (JUNK et al., 1989). Na época de cheia, o aumento da área alagada favorece a exploração de vários hábitats incrementando o espectro alimentar dos peixes (SOARES et al, 1986; YAMAMOTO et al, 4). Na seca as condições ambientais obrigam muitas espécies a migrarem em busca de outros locais, principalmente por causa da retração das águas, que aumenta a competição pelo espaço e alimento Existem duas categorias principais de estudos com alimentação de peixes. A primeira é aquela que examina a dieta de uma população para verificar o seu comportamento alimentar no contexto da comunidade. Assim o estudo pode considerar variações sazonais na dieta e/ou comparações dietárias entre diferentes sub-grupos de mesmas espécies. Em ambos os casos, o objetivo pode ser a verificação de competição por alimentos. A segunda categoria é aquela que estima a soma total do alimento consumido por uma população de peixes (HYSLOP, 198). Na Amazônia Central, vários trabalhos têm sido realizados sobre a biologia dos peixes que colonizam as áreas alagadas dos rios Solimões, Madeira e Negro fornecendo informações sobre hábitos alimentares, com destaque as inter-relações entre os peixes e o meio ambiente (GARCIA, 1995; GOULDING et al.1988). Os estudos realizados em lagos e rios de água preta mostram aspectos das comunidades que habitam os bancos de macrófitas aquáticas (ARAÚJO-LIMA, 1986), migrações (RIBEIRO & PETRERE, 199), riqueza, diversidade e relações tróficas em vários habitats do rio Negro (GOUDING et al., 1988) e distribuição e diversidade no lago Prato, arquipélago de Anavilhanas (GARCIA, 1995). Dentre os ambientes de água preta já estudados, destaca-se o arquipélago de Anavilhanas localizado no município de Novo Airão, possui um complexo de 4 ilhas que teriam sido formadas a partir da deposição de sedimentos vindos do rio Branco (LEENHEER & SANTOS,198). Além do destaque ecológico, o rio Negro apesar de denominado como rio pobre (devido à baixa quantidade de nutrientes), apresenta grande importância para as comunidades ribeirinhas que dependem da fauna íctica como fonte de alimento. Podemos observar na literatura que há uma necessidade urgente de aumentar os estudos para geração de mais informações sobre a ictiofauna de ambientes de água preta e de entender os processos que regulam as populações destes ambientes. Anais do I Seminário Internacional de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia. 2

3 OBJETIVOS Geral: Determinar a composição da dieta dos peixes mais abundantes do lago Prato na Estação Ecológica de Anavilhanas durante o período de seca. Específicos: Identificar a ictiofauna do lago Prato predominante no período de seca; Determinar a atividade alimentar das principais espécies de peixes no período de seca; Identificar os itens alimentares que compõem a dieta dos peixes no período de seca; Classificar o hábito alimentar das principais espécies de peixes durante o período de seca. METODOLOGIA O estudo foi realizado no lago Prato no Parque Nacional de Anavilhanas localizada no Município de Novo Airão. A coleta foi realizada durante o período de seca (outubro/7). Os peixes foram capturados com baterias de malhadeiras variando de 3 a 9 mm entre nós opostos, que ficaram expostas durante 24 horas com despesca de seis em seis horas. Os exemplares capturados foram identificados, fixados em formol a 1% e transportados ao Laboratório de Matérias Primas Aqüicolas (LAMPAQ), da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), onde foram identificados e registrados os dados biométricos, o comprimento padrão (Cp), em centímetros (cm), e peso total, em gramas (g). Através de uma incisão ventral nos peixes, os estômagos foram retirados e pesados. Os estômagos retirados dos tratos digestivos foram examinados sob microscópio estereoscópico e os itens alimentares identificados até o nível taxonômico mais inferior possível. A atividade alimentar foi avaliada através da identificação do grau de repleção estomacal, conforme a escala proposta por Yabe & Bennemann (1994): vazio; 25% = pouco cheio; 5% = freqüente e 1% = estômago cheio. A determinação da composição da dieta foi realiza através da análise do conteúdo estomacal, utilizando os métodos da freqüência de ocorrência (F.O) proposto por Hynes (195) e do volume relativo. Os resultados individuais de ambos os métodos foram combinados no índice alimentar (IAi), que avalia o grau de importância que cada alimento possuiu na dieta dos peixes. O IAi é expresso em percentagem e calculado segundo Kawakami & Vazzoler (198) para cada item. Anais do I Seminário Internacional de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia. 3

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram capturados 119 exemplares de vinte e cinco espécies, distribuídas nas ordens respectivamente: Siluriformes (32%), Clupeiformes (29%), Characiformes (29%), Perciformes (9%) e Gymnotiformes (1%). As espécies mais abundantes em número de indivíduos foram: Pellona flavipinnis Hemiodus immaculatus, Pimelodina flavipinnis, Plagioscion squamosissimus e Triportheus albus. Os resultados de conteúdo estomacal do lago Prato referem-se às análises das seis espécies mais abundantes: Hemiodus immaculatus (N=14), Pellona flavippinis (N=33), Pimelodina flavipinnis (N=12), Plagioscion squamosissimus (N=1), Pinirampus pirinampus (N=7) e Triportheus albus (N=8). A atividade alimentar das seis espécies foi baseada na estimativa de grau de repleção de 84 exemplares. Para as espécies Pellona flavipinnis, Hemiodus immaculatus, Pinirampus pirinampus, Plagioscion squamosissimus mais de 5% dos estômagos analisados apresentaram grau de repleção zero, ou seja, não continham alimento em seus estômagos. Esses resultados revelam uma atividade alimentar muito baixa desses peixes no período de seca do lago Prato, definindo assim esse período de águas baixas como um período de restrição alimentar, concordando com os resultados de Garcia (1995) quando analisou a comunidade bentônica do lago Prato. Para a espécie Pimelodina flavipinnis cerca de 8% dos exemplares analisados apresentaram alimento no seu estômago e para Triportheus albus todos os exemplares analisados continham alimentos em seus estômagos (Figura 1). As espécies piscívoras e insetívoras apresentaram uma menor atividade alimentar. Leite (1987) também observou um alto índice de estômagos sem alimento nas espécies piscívoras. Entre os grupos tróficos, a abundância de piscívoros com estômagos vazios é muito comum. Isso provavelmente ocorre devido à digestão mais rápida em piscívoros, uma vez que os tecidos moles de peixes são mais facilmente digeridos do que tecidos vegetais (Bowen, 1984). Segundo Nikolsky (1963) outro fator que explica essa baixa atividade alimentar seria o melhor aproveitamento e valor nutricional do alimento, o que torna sua tomada menos freqüente. Outro fator é a diminuição do espaço na seca que pode influenciar na redução do espectro alimentar. Anais do I Seminário Internacional de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia. 4

5 Frequência relativa (%) Frequência relativa (%) Frequência Relativa (%) Frequência relativa (%) Frequência Relativa (%) Frequência relativa (%) Composição da Dieta dos do Lago Prato no Período de Seca na Estação Ecológica de Anavilhanas, Rio Negro, AM Pellona flavipinnis N = Hemiodus immaculatus N = Grau de Repleção (%) Pinirampus pirinampus N = Plagioscion squamosissimus N = Pimelodina flavipinnis N = Triportheus albus N = Figura 1. Freqüência relativa de grau de repleção (GR%) das espécies de peixes mais abundantes capturadas no lago Prato no período de seca. A composição da dieta da ictiofauna foi pouco diversificada. A dieta dos peixes na seca no lago Prato foi composta de apenas 4 itens alimentares, são eles: (P), constituídos por restos de peixes, escamas e larvas Insetos (IN), representados pelos insetos imaturos, larvas, ninfas, e insetos adultos, pedaços de outros insetos Material Vegetal (MV) e Frutos e Sementes (FS) pedaços de folhas, flores e raízes. O principal recurso alimentar ingerido para Pellona flavipinnis, Plagioscion squamosissimus, Pinirampus pirinampus e Pimelodina flavipinnis foram peixes, cujos índices alimentares para P. flavipnnis foi de 98%, P. squamosissimus 1%, P. pirinampus 1% e P. flavipinnis 99%. Estas espécies apresentam dieta piscívora, pois ingerem peixes em diferentes estágios de desenvolvimento. São peixes predadores, responsáveis pelo controle populacional e mais da metade das espécies piscívoras Anais do I Seminário Internacional de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia. 5

6 Composição da Dieta dos do Lago Prato no Período de Seca na Estação Ecológica de Anavilhanas, Rio Negro, AM. praticam canibalismo (ARAÚJO-LIMA, 4) (Figura 2). Hemiodus immaculatus, teve como principal item alimentar insetos, estes foram identificados ao nível taxonômico mais próximo possível, onde se destacaram a presença de insetos das ordens Hymenoptera e Diptera, cujo índice alimentar foi de 5% para ambas as ordens, totalizando 1% insetos. Portanto, esta espécie esta na categoria trófica insetívora (Figura 2). Insetos das ordens Coleoptera, Diptera, Hymenoptera e Ephemeroptera foram os itens alimentar de maior importância para a espécie Triportheus albus, cujo índice alimentar foi de 95%, seguido de frutos e sementes e peixes, ambos com o valor de 2,5%, caracterizando assim esta espécie como insetívora. Alimentam-se exclusivamente de insetos aquáticos e/ou terrestres em estágios de desenvolvimento. Esses resultados também foram confirmados por Vadas (199) (Figura 2) Pellona flavipinins N = Plagioscion squamosissimus N = Inseto (Ephemeropta) Pinirampus pinirampus N = Pimelodina flavipinnis N = Material Vegetal Hemiodus immaculatus N = Triportheus albus N = Insetos (Hymenoptera) Insetos (Diptera) Insetos Frutos e Sementes Figura 2. Valores de Índice alimentar (IAi %) e itens de maior importância na composição da dieta, das espécies de peixes mais abundantes capturadas no lago Prato no período de seca. Anais do I Seminário Internacional de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia. 6

7 CONCLUSÃO A composição alimentar da ictiofauna durante o período de seca no lago Prato foi caracterizada por pouca diversidade de alimentos explorados. Os itens mais importantes foram insetos e peixes. As espécies estudadas foram classificadas de acordo com o regime alimentar em piscívoras e insetívoras. A atividade alimentar mostrou que na seca as espécies apresentam pequeno consumo, com maior freqüência de estômagos vazios, confirmando que a seca é um período de restrição alimentar. Devido ao baixo número de estômagos analisados sugere-se aumentar as amostragens para quantificar e qualificar com mais confiabilidade os resultados de composição alimentar da ictiofauna do lago Prato. Anais do I Seminário Internacional de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia. 7

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO-LIMA, C.; FORSBERG, B.R.; VICTORIA, R.; MARTINELLI, L. Energy sources for detritivores fishes in the Amazon. Science 234, p ARAÚJO, L. M. S. Assembléia íctica em ambientes lacustres da RDS Piranha, Manacapuru, Amazonas, Brasil. Dissertação de mestrado, Instituto Nacional de Pesquisas INPA/ Universidade Federal do Amazonas UFAM. 68 pp. 4. BOWEN, S. H. Detritivory in neotropical fish communities. In: Zaret, T. M. (ed), Evolutionary Ecology of Neotropical Freshwater Fiches. The Hague: DR. W. Junk Publishers. P GARCIA, M. Aspectos ecológicos dos peixes das águas abertas de um lago no Arquipélago das Anavilhanas, rio Negro, Am. Dissertação de Mestrado, Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia / Fundação Universidade do Amazonas, Manaus, Amazonas. 95pp GOULDING, M.; CARVALHO M. L.; FERREIRA E. G. rio Negro: rich life in poor water: Amazonian diversity and foodchain ecology as seen through fish communities. The Hague: SPB Academic Publishing. pp HYNES, H. B. N. The food of freshwater sticklebacks (Gasterosteus aculeatus and Pygocentrus pungitius) with a review of methods used in the studies of the food of fishes. Journ. Anim. Ecol., 19: HYSLOP, E.J. Stomach contents analysis review of methods and their applications. J. Fish Biol., 17: KAWAKAMI, E. & VAZZOLER, G. Métodos gráficos e estimativa de índice alimentar aplicado no estudo de alimentação de peixes. Bol. Inst. Oceanogr., 29 (2): JUNK,W.J.; BAYLEY,P.B. & SPARKS,R.E. The flood puse concept in river floodplain systems. pp In: Dodge, D.P. (ed.). Proceedings of the International Large Rivers Systems (LARS). Can. Spec. Publ. Fish. Aquatic. Sci., LEITE, R.G. Alimentação e hábitos alimentares dos peixes do rio Uatumã. Dissertação de mestrado. Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia / Fundação Universidade do Amazonas, Manaus, Amazonas. 81pp LEENHEER, J. A. & SANTOS, V. Consideração sobre os processos de sedimentação na água preta ácida do rio Negro (Amazônia Central). Acta Amazônica 1 (2): MALABARBA, L.R.; REIS, R.E.; VARI, R.R.; LUCENA, Z.M.S.; LUCENA, C.A. Phylogeny and classification of neotropical fishes. EDIPUCRS: Porto Alegre, RS, BR. 63p NIKOLSKY, G. V. The cology the fishes. Londom: Academic press, 352p RIBEIRO, M.C.L.B.; PETRERE JR., M. Fisheries ecology and management of the jaraqui (Semaprochilodus taeniurus, S. insignis) in the central Amazonia. Regulated river. Res. & Manag. 5: SOARES, M.G.M., ALMEIDA, R.G., JUNK, W.J. The tropic status of the fish fauna in lago Camaleão e macrophyte dominated floodplain lake in the middle Amazon. Amazoniana, 9(4): YAMAMOTO, K. C. Alimentação de Triportheus angulatus (Spix & Agassiz, 1829) no lago Camaleão, Manaus, AM, Brasil. Acta Amazônica, 34 (4): YABE, R.S. & T. BENNEMANN. Regime alimentar de Schizodon intermedius Garavello & Britski do rio Tibagi, Paraná, e sua relação com algumas características morfológicas do trato digestivo (Osteichthyes, Anostomidae). Rev. bras. Zool. 11 (4): Anais do I Seminário Internacional de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia. 8

9 VADAS, R. L. The importance of omnivory and predator regulation of prey in fresh water fish assemblages of North America, Env. Biol.Fish.,27(4); Anais do I Seminário Internacional de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia. 9