MORFOLOGIA DA PLATAFORMA CONTINENTAL INTERNA ADJACENTE AO MUNICÍPIO DE TAMANDARÉ, PERNAMBUCO, BRASIL
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- Luiz Henrique Borba Rios
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1 MORFOLOGIA DA PLATAFORMA CONTINENTAL INTERNA ADJACENTE AO MUNICÍPIO DE TAMANDARÉ, PERNAMBUCO, BRASIL João Marcello Ribeiro de Camargo 1, Tereza Cristina Medeiros de Araújo 1, Mauro Maida 1 1 Laboratório de Oceanografia Geológica LABOGEO, Depto. Oceanografia, UFPE (jcamargocn@yahoo.com.br) Abstract. Tamandaré city is located at the southern coast of Pernambuco state, northeastern Brazil and its continental shelf is in a Marine Protected Area (MPA) called Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais. The morphology of the inner continental shelf adjacent to Tamandaré city was investigated based in twenty bathymetric profiles obtained by a GARMIN GPSMAP 185 Sounder echosounder. The sampling area was characterized by the occurence of submerged reefs, distributed around 16, 20 e 22 m depth, and a paleochannel with a N-S orientation. These morphologic features are related with the coastal evolution of the southern Pernambuco continental shelf during sea-level variations and their description and location will be useful in future works concerning ancient conditions of sea-level stability during the Quaternary. Furthermore, the submerged reefs location is an important subsidy for the national and global coral reef monitoring programs (Reef Check) and for the management iniciatives of a project called Projeto Recifes Costeiros (UFPE-IBAMA-FMA-BID-AVINA). Palavras-chave: Plataforma continental interna, recifes submersos, paleocanal. 1. Introdução O município de Tamandaré está localizado a 110 km ao sul da cidade do Recife e seu litoral se estende entre as latitudes 8 42,602 S e 8 46,671 S. A plataforma continental nesta região apresenta paleocanais e afloramentos rochosos, identificados como arenitos de praia submersos. Estes substratos consolidados geralmente ocorrem paralelamente em relação à linha de costa e são essenciais para a ocorrência de ecossistemas recifais (Dominguez et al., 1990). Segundo Michelli et al. (2001), uma suave declividade caracteriza a topografia da plataforma continental sul de Pernambuco, exceto junto às margens de um paleocanal, nas quais foram registradas acentuadas variações de declividade. Os arenitos de praia são estruturas submersas registradas por Michelli et al. (2001) junto às isóbatas de 20 e 40 m, e que indicam condições pretéritas de estabilidade do nível do mar (França, 1976; Dias et al., 1984; Hopley, 1986; Araújo e Silva, 1996; Araújo e Freire, 1997; Michelli et al. 2001; Caldas, 2002; Guerra e Manso, 2004). Parte desta região está inserida na APA Costa dos Corais, a maior Unidade de Conservação Marinha do Brasil. O Projeto Recifes Costeiros (UFPE-IBAMA-FMA- BID-AVINA) desenvolve pesquisas científicas na região, com o intuito de contribuir para a elaboração do seu Plano de Manejo. O mapeamento dos recifes costeiros e seu monitoramento biológico são algumas atividades desenvolvidas pelo citado projeto. O mapeamento através de imagens de satélites e fotografias aéreas obteve resultados apenas para os recifes situados em águas rasas (Lima, 2003). Levantamentos batimétricos são uma alternativa viável para a localização de recifes submersos (Vora e Almeida, 1990), pois estas feições geralmente são detectáveis num perfil batimétrico. Vale lembrar que o posicionamento das linhas de recifes é um conhecimento empírico compartilhado por alguns pescadores artesanais, que não utilizam equipamentos de posicionamento (GPS, DGPS). O presente trabalho investiga a morfologia da plataforma continental
2 interna de Tamandaré e disponibiliza o citado conhecimento empírico à comunidade científica, com o intuito de gerar subsídios para programas de monitoramento de recifes de coral (Reef Check) e para estudos sobre as variações do nível do mar, durante o Quaternário. 2. Métodos e Técnicas A bordo do R/V Velella, pertencente ao Projeto Recifes Costeiros, os dados analisados foram obtidos por uma ecossonda com sistema de posicionamento integrado GARMIN GPSMAP 185 Sounder, durante a execução de vinte perfis batimétricos, nos dias 09 de julho, 18 e 19 de novembro de Estes perfis foram realizados com uma distância de 500 m entre eles e com uma orientação sudestenoroeste, até a profundidade de 25 m (Fig. 1). Os valores de profundidade foram corrigidos com base na Tábua de Marés para o Porto de Suape, calculada e publicada pela Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN, 2004). Um filtro passabaixa descrito por Limeburner (1985) foi aplicado aos perfis batimétricos e eliminou as variações de alta freqüência decorrentes de instabilidades na embarcação frente à atuação das ondas. Usando o programa Surfer 8.0, o padrão de distribuição das isóbatas e uma visualização tridimensional do terreno foram obtidos após a interpolação do tipo Natural Neighbor dos dados de profundidade corrigida. Finalmente, usando os programas IDRISI32 e CorelDraw, o gride batimétrico foi sobreposto a uma imagem do Satélite LandSat TM5, Órbita-Ponto D, do dia 21/09/1998, já geoprocessada por Lima (2003) e obtida junto ao banco de dados do Projeto Recifes Costeiros. 3. Resultados e Discussão Na plataforma continental interna de Tamandaré, além de suaves declives, destacaram-se áreas com relevo vertical positivo e negativo. O relevo vertical positivo pôde ser atribuído aos recifes submersos, considerados como prováveis arenitos de praia; enquanto que as depressões (relevo negativo) estavam correlacionadas com a existência de um paleocanal. O padrão de distribuição das isóbatas na área amostrada permitiu observar declives mais acentuados em profundidades inferiores a 18 m e ao longo das margens do paleocanal, que apresentou uma orientação norte-sul. Além disso, também indicou a ocorrência dos recifes submersos em torno das isóbatas de 16, 20 e 22 m, bem como a ocorrência de uma depressão no setor sul. Os recifes submersos situados em torno da isóbata de 16 m apresentaram as maiores variações verticais no relevo. Entre aqueles situados em torno das isóbatas de 20 e 22 m foi observada uma distância média de 2 km, o que indica que não constituem uma mesma unidade. Estes recifes foram considerados prováveis arenitos de praia e indicam condições pretéritas de estabilidade do nível do mar. Aqueles localizados junto à isóbata de 20 m corroboram o descrito por Michelli et al. (2001) para a área de estudo, bem como com o descrito por Araújo e Freire (1997) e Corrêa (1996), nas plataformas continentais do Estado do Ceará e Rio Grande do Sul, respectivamente. Contudo, foi registrada pela primeira vez na plataforma continental interna de Tamandaré a ocorrência de outras duas profundidades de provável estabilização do nível do mar: 16 e 22 m. A localização destes recifes submersos e sua identificação como arenitos de praia são fundamentais para a elaboração de curvas de variação do nível do mar em escala regional. Através de métodos geocronológicos, a idade de formação dos arenitos de praia poderá ser determinada e, comparando-se as idades de linhas consecutivas e, geralmente paralelas se obterá um cenário das flutuações do nível
3 do mar em termos espaço-temporais. A localização dessas feições geomorfológicas é também uma importante contribuição ao programa nacional de monitoramento de recifes de coral (Reef Check Brasil). Os resultados deste programa alimentam uma rede internacional, vinculada a um programa desenvolvido a partir da Rede Global de Monitoramento de Recifes de Coral (GCRMN) das Nações Unidas, presente em mais de 40 países. Quanto ao paleocanal, sua largura apresentou valores mínimo e máximo de 561 e 2212 m, respectivamente; e sua profundidade atingiu o valor máximo de 9,3 m no perfil 10, a partir do qual as profundidades diminuíram em direção ao norte, conforme as larguras aumentaram. Provavelmente, o paleocanal mapeado é o mesmo descrito por Michelli et al. (2001) em um trecho situado em profundidades superiores a 30 m, ao largo do município de Tamandaré. Sua conexão com o continente não é evidente, o que provavelmente está relacionado com os processos de sedimentação atuais, responsáveis por mascarar a ocorrência desta feição na porção mais próxima do continente. O tamanho da malha amostral usada no trabalho permitiu obter mais detalhes da porção do paleocanal localizada próximo ao continente, indicando sua semelhança com o leito de um rio. A ocorrência desta feição geomorfológica está associada à drenagem continental em períodos de níveis do mar mais baixos que o atual. Esta relação vem sendo discutida e aceita, mesmo em casos em que a conexão com o continente não é muito evidente (Summerhayes et al., 1976; França, 1979; Ramsay, 1994). A preservação do paleocanal está relacionada ao caráter faminto da plataforma continental do Estado de Pernambuco, decorrente de um pequeno aporte sedimentar e, portanto, reduzidas taxas de sedimentação. Desta forma, o presente trabalho reforça a idéia levantada por Michelli et al. (2001), de que, através deste canal, o Rio Formoso já cruzou a plataforma continental adjacente ao município de Tamandaré. 4. Conclusões A plataforma continental interna de Tamandaré apresentou relevos positivos e negativos, intercalados por superfícies com declives mais suaves. Os relevos positivos foram atribuídos a recifes submersos, considerados prováveis arenitos de praia. Estas feições topográficas se distribuíram nas profundidades em torno de 16, 20 e 22 m e não aparentam constituir a mesma unidade, portanto, provavelmente suas formações estão relacionadas a períodos distintos, nos quais o nível do mar era mais baixo que o atual. Os relevos negativos são correlatos a um paleocanal sem uma clara conexão com o continente e que apresentou uma orientação N-S, profundidade e largura média de 6 e 1400 m, respectivamente. A localização destas feições topográficas, que indicam níveis do mar mais baixos que o atual, forneceram subsídios para pesquisas acerca da evolução costeira na plataforma continental sul de Pernambuco. Além disto, o levantamento batimétrico contribuiu para o programa de monitoramento nacional e global de recifes de coral, já que disponibiliza para a comunidade científica a localização dos ecossistemas recifais, importantes por sustentarem recursos pesqueiros explorados pela pesca artesanal na região. 5.Referências ARAÚJO TCM e FREIRE GSS Evidências de variação do nível do mar na plataforma continental do estado do Ceará. In: Congr. Latino-americano sobre Ciências do Mar, 7., Santos. Anais..., Santos: 1997, p
4 ARAÚJO TCM e SILVA GC Análise sismoestratigráfica da plataforma continental rasa entre Cabo Frio e Cabo de São Tomé RJ. In: Congr. Bras. Geol., 39., Salvador. Anais..., Salvador: 1996, p CALDAS LH de O Late quaternary coastal evolution of the northern Rio Grande do Norte coast, NE Brazil. PhD Thesis, Kiel, University Christian-Albrechts zu Kiel, 100pp. CORRÊA ICS Les variations du niveau de la mer durant les derniers ans BP: l exemple de la plate-forme continentale du Rio Grande do Sul Brésil. Mar. Geol. 130: DIRETORIA DE HIDROGRAFIA E NAVEGAÇÃO Tábua das Marés para o Porto de Suape (Estado de Pernambuco). Disponível: DIAS GTM; GORINE MA; GALLEA CG; ESPINDOLA CRS; MELLO S L; DELLAPIAZA, H; CASTRO JRJC Bancos de arenitos de praia (beach-rocks) submersos na plataforma continental SE brasileira. In: Congr. Bras. Geol., 32., Salvador. Anais..., Salvador: 1984, p DOMINGUEZ JML; BITTENCOURT ACSP; LEÃO ZMAN; AZEVEDO AEG Geologia do Quaternário costeiro do estado de Pernambuco. Rev. Bras. Geociências 20 (1/4): FRANÇA AMC Sedimentos superficiais da margem continental nordeste brasileira. Rev. Bras. Geociências 6 (2): GUERRA NC, MANSO V do AV Beachrocks (Recifes de Arenito). In: ESKINAZI-LEÇA E et al. (Orgs.), Oceanografia: um cenário tropical, Recife, Bagaço, p HOPLEY D Beach-rocks as sealevel indicator. In: PLASSCHE OV (Ed.), Sea-level research: a manual for the collection and evaluation data, GeoBooks, Norwich U. K, p LIMA DCC Aplicação de imagem do satélite LandSat TM5 e de fotografias aéreas verticais para o mapeamento dos recifes costeiros e análise dos processos físicos litorâneos relacionados Tamandaré, PE, Brasil. Recife, Universidade Federal de Pernambuco, Dissertação de Mestrado, 120pp. LIMEBURNER R (ed.) CODE-2: Moored array and large-scale data report, WHOI Tech. Rep , CODE Tech. Rep. 38, Woods Hole Oceanogr. Inst., Woods Hole, Mass. 220 p. MICHELLI M; ARAÚJO TCM; MAIDA, M; VITAL H Indicatives of ancient conditions of sea level stability on the southern Pernambuco continental shelf. Rev. Pesq. Geociências 28 (2): RAMSAY PJ Marine geology of the Sodwana Bay shelf, southeast Africa. Mar. Geol. 120: SUMMERHAYES CP, FAINSTEIN R,
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