Aplicação do modelo Energy Service Company (ESCO) em retrofitting industrial no contexto português. Caracterização de Mercado
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1 Bilobite Engenharia Lda. Serviços de Engenharia Aplicação do modelo Energy Service Company (ESCO) em retrofitting industrial no contexto português Caracterização de Mercado
2 Evolução do Mercado: O mercado ESCO evolui em diversos sentidos ao longo dos anos, sendo percepcionado e adaptado pelas diversas entidades do modo que mais convinha ao seu modo de operação. Como já foi referido a definição de ESCO é suficientemente abrangente para terem evoluído vários modelos de negócio baseados nesta. Para mais o próprio mercado colocou regras diversas para situações distintas que obrigou as empresas ESCO ou com operações ESCO Similares a adaptarem o seu modelo de negócio para responderem às solicitações. Importa definir os diversos segmentos de mercado e com ambientes e regras distintas onde as empresas ESCO ou com operações ESCO Similares se movimentam. Uma primeira divisão clara é no segmento de mercado composto pelas empresas privadas e no segmento de mercado composto por instituições governamentais ou de cariz público. Mercado Privado O mercado privado é aquele onde as empresas ESCO ou de operação ESCO Similar actuam de um modo mais fiel a definição anteriormente apresentada. È definido um ESPC, sendo as ESCO ou empresas com operações ESCO Similares responsáveis pelo projecto, instalação, eventualmente manutenção, investimento (apenas no caso das ESCO), estudo de viabilidade e elaboração de plano de cash-flow positivo (ESCO Similar) e verificação dos resultados. O facto de o conceito ESCO ter nascido neste mercado não é alheio à formatação ESCO estar adaptada às necessidades do mercado. Mercado Público O mercado público despertou para as potencialidades do ESCO mais tarde e sendo um mercado com regras e especificidades próprias, obrigou a algumas adaptações no modelo de negócio. O regime legislativo impediu durante vários anos a entrada de empresas ESCO ou de operações ESCO Similares nos sistemas de produção e distribuição de energia. A legislação tem sido alterada tantos nos Estados Unidos da América como na União Europeia para o permitir embora estas mudanças sejam lentas e feitas de avanços e recuos. Além das dificuldades e constrangimentos legislativos, as responsabilidades de gestão e manutenção das redes de distribuição de energia são geralmente posse de empresas públicas ou entidades governamentais. A actuação das empresas ESCO ou de operações ESCO similares neste ambiente costuma resumir-se ao projecto de soluções de eficiência energética, a apresentação do estudo de viabilidade e o firmar de um ESPC onde a ESCO se obriga a ressarcir o cliente se os objectivos não forem atingidos ou ser bonificada se os mesmos forem ultrapassados. A instalação e manutenção ficam a cargo da empresa pública ou entidade governamental já responsável pela secção da rede de distribuição de energia em questão e o financiamento geralmente provem de pacotes governamentais ou fundos comunitários/federais criados para o efeito. Mercado EUA: O mercado privado dos Estados Unidos da América tem sido particularmente receptivo ao modelo ESCO. Embora inicialmente as empresas com modelo RESCO tenham tomado a dianteira, o retrofitting industrial 2/6
3 baseado no modelo ESCO tem tido um crescimento sustentado. Para tal tem contribuído a pressão de alguns Estados como a Califórnia, que sozinha é a oitava economia do mundo, sobre as emissões de CO 2, o consumo de energia pelas empresas e a necessidade que o sistema de gestão de fundos de capitalização tem de encontrar negócios com taxas de rentabilidade elevadas. De facto um dos grandes impulsionadores das ESCO e das RESCO nos Estados Unidos tem sido a existência de fundos de investimento que suportam os investimentos necessários à implementação dos projectos. Estes fundos operam através da NAESCO, National Association of Energy Services Companies, que além de apenas apoiar empresas ESCO suas associadas e certificadas, actua como consultor externo e independente na avaliação de risco da operação para os fundos de investimentos. No mercado público dos Estados Unidos da América a abertura legislativa deu-se na progressiva liberalização do mercado da produção e distribuição de energia. A possibilidade de empresas de cariz privado se poderem tornar produtoras e distribuidoras de energia abriu o mercado em primeira análise para as RESCO. No entanto essa tendência tem sido repensada após o escândalo ENRON, que não era mais do que uma gigantesca RESCO, colocar a nu a necessidade de não privatizar em demasia sistemas estratégicos e de interesse público como é a distribuição de energia às populações, sendo novamente preferida a dotação orçamental por parte do Congresso em maior parte das obras de carácter estratégico. No que respeita ao modelo ESCO, existe uma história de projectos no âmbito de iluminação pública, aquecimento de edifícios públicos e sistemas de força motriz associados a vários departamentos de administração estadual e federal, bem como instalações sob a égide das forças armadas. Mercado UE: No mercado da União Europeia, os principais entraves ao desenvolvimento do modelo ESCO tem surgido da diversidade legislativa e cultural existente entre os Estados Membro. As especificidades dos diversos países colocaram diferentes desafios à entrada do modelo ESCO: Áustria Falta de familiaridade dos clientes com o conceito ESCO; Falta de consultores qualificados; Custos elevados na preparação dos ESPC. Bélgica Falta de legislação; Inércia do mercado; Preço baixo da energia no consumidor final. Alemanha Exigência de Retorno de Investimento baixos; Sistema de gestão de energia público não compatível com ESCO; Companhias relutantes em rever sistema produtivo. Suécia Falta de conhecimento e compreensão das vantagens do ESPC; Falta de confiança no conceito ESCO agravado por fiascos iniciais; Falta de legislação; Custo de oportunidade no tempo perdido entre a proposta e a decisão. Reino Unido Falta de uma política de energia; Preço baixo da energia no consumidor final; Visão de curto termo dos investimentos. O mercado privado e público tem evoluído de forma diferente nos diversos Estados Membro. Apenas recentemente tem surgido estudos e passos concretos para a uniformização da Legislação Europeia referente às ESCO e aos ESPC. No entanto, existem exemplos de penetração das ESCO em vários Estados Membro onde existem projectos ESCO e RESCO que abrangem: Fornecimento e exploração de aquecimento para edifícios Instalação e exploração de sistemas de cogeração 3/6
4 Retrofitting industrial Retrofitting e exploração de sistemas de iluminação pública. O estudo do estado em que se encontra actualmente o mercado ESCO em cada Estado Membro escapa ao âmbito desta Dissertação. O foco de análise será centrado nas necessidades do mercado português. Na figura 1 podemos ver a evolução da intensidade energética primária e final na União Europeia entre 1990 e Portugal tem uma evolução claramente no sentido inverso de os restantes países europeus, revelando a necessidade de uma política integrada de racionalização de consumo de energia. Figura 1: Variação da intensidade energética primária e da energia final na U.E. entre ( ) Mercado Português: Em resposta à necessidade de uma política integrada de racionalização de consumo energético, o governo português tem lançado um conjunto de pacotes legislativos. Estes incluem objectivos e apoios ambiciosos a energias renováveis, certificação energética de edifícios e auditorias energéticas para consumidores intensivos de energia. Tendo em conta que o âmbito desta Dissertação é a aplicação do modelo ESCO em ambiente industrial, o pacote legislativo relevante é sem dúvida o das auditorias energéticas para consumidores intensivos de energia. Presentemente a legislação mais recente e em vigor é o Decreto de Lei 71/2008 no âmbito do Sistema de Gestão dos Consumos Intensivos de Energia, que obriga as empresas que consumam mais do que 500 toneladas equivalentes de petróleo por ano a uma Auditoria Energética efectuada por empresas certificadas para o efeito. Da Auditoria resulta um Plano de Racionalização de Energia (PREn) com metas e objectivos 4/6
5 definidos mediante o nível de consumo da instalação industrial em análise. Este pacote legislativo cria oportunidades de negócio para as empresas ESCO, RESCO ou com operações ESCO Similares no projecto e implementação das medidas de racionalização de consumo definidas nos PREn. Depois de definido o âmbito de intervenção e as oportunidades criadas para as ESCO ou ESCO Similar pela actual legislação, importa contextualizar a dimensão do mercado. As figuras 2 e 3 apresentam a evolução e desagregação dos consumos de energia em Portugal por tipo de energia e por sector de actividade. Figura 2: Desagregação do consumo de energia primária em Portugal no período ( ) Figura 3: Desagregação do consumo de energia em Portugal por sector A figura 2 mostra que o petróleo é sem qualquer dúvida a fonte de energia primária mais usada. Esta fonte de energia primária permite a produção de electricidade e a produção de derivados como a nafta, o gasóleo 5/6
6 e a gasolina. A figura 3 mostra que os consumidores industriais representam 34% do consumo de energia primária. Se excluirmos os transportes que utilizam derivados do petróleo directamente nos motores de combustão dos veículos, o peso do sector industrial no consumo global de energia torna-se ainda mais relevante. Uma das principais parcelas de consumos de energia numa instalação industrial, muitas vezes a mais relevante, refere-se à energia eléctrica. As figuras 4 e 5 apresentam a desagregação dos consumos de electricidade pelas principais cargas e equipamentos. Figura 4: Desagregação dos consumos de electricidade pelas principais cargas na indústria e no sector terciário Figura 5: Desagregação dos consumos de electricidade pelos principais tipos de equipamento de força motriz Vamos centrar a nossa análise nos sistemas de força motriz que tem como elemento de transformação de energia, motores de indução trifásicos e nos sistemas de iluminação. Os motores de indução trifásicos presentes na indústria estão geralmente dimensionados para picos de carga, aumentados de um factor de segurança que pode exceder os 30%. Nestas condições, o regime de carga dos motores de indução estará abaixo dos 50% da potência nominal, durante uma parte significativa da sua vida útil, resultando em degradação do rendimento do motor e degradação do factor de potência de toda a instalação. Os sistemas de iluminação são geralmente desadequados e poupo eficientes. O seu peso no consumo global e o nível de poupanças que podem ser atingidas não deve ser desprezado como tantas vezes o é. Ricardo João Guimarães 6/6
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