A BRIOFLORA DAS PRAÇAS DA CIDADE DE ANÁPOLIS-GO: II HEPÁTICAS

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1 A BRIOFLORA DAS PRAÇAS DA CIDADE DE ANÁPOLIS-GO: II HEPÁTICAS Assad, Lailah Luvizoto 1,3 ; Xavier-Santos, Solange, 2,3 1 Bolsista PBIC-UEG 2 Pesquisadora- Orientadora 3 Curso de Ciências Biológicas, Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas, UEG. Resumo Diante do pouco conhecimento sobre as Briófitas do estado de Goiás, sobretudo em ambientes urbanos, este trabalho teve como objetivo realizar um levantamento das Hepáticas que ocorrem em praças e outras áreas urbanas da cidade de Anápolis, Goiás. Durante o período chuvoso (outubro/2003 a março/2004) cerca de 68 localidades foram visitadas, sendo que, em 52 delas foi verificada a presença de briófitas. Um total de 244 amostras de Briófitas foram coletadas, dentre as quais, 49 continham espécies de Hepáticas, representadas por 77 espécimens. A maioria dos exemplares se apresentava em estágio vegetativo e associada a outros organismos no substrato, e foi encontrada sobre tronco vivo, em praças arborizadas de bairros residenciais da periferia da cidade. Essa Brioflora de Hepáticas foi composta de 12 espécies, distribuídas em 8 gêneros e 3 famílias: Lejeuneaceae, Frullaniaceae e Metzgeriaceae (com 60, 13 e 4 exemplares; e 8, 3 e 1 espécies, respectivamente). Lejeunea minutiloba e Mastigolejeunea auriculata foram as espécies mais freqüentes, cada uma representando 27% dos exemplares coletados. O maior número de ocorrências (13), bem como a maior riqueza de espécies (7) foram verificados no Central Parque. Frullania arecae, F. nodulosa, Ceratolejeunea laetefusca, Lejeunea glaucescens, L. lamacerina subsp. germminata, L. minutiloba e Leucolejeunea unciloba constituem primeira ocorrência para o estado de Goiás e Ceratolejeunea laetefusca, Frullania nodulosa, Lejeunea lamacerina subsp. germminata e Leucolejeunea unciloba constituem primeira citação para a região Centro-Oeste. Palavra-chave: Briófitas Urbanas, Hepática, Goiás. Introdução Apesar da grande diversidade de ecossistemas e da grande extensão territorial brasileira, o número de espécies de Briófitas conhecidas no Brasil é relativamente pequeno, em torno de 13% do número de espécies existentes no mundo (Yano 1998). Além disso, pouca informação existe sobre as espécies de Goiás e da região Centro-Oeste. E, em se tratando da Brioflora urbana, a escassez de informações é ainda mais acentuada. A fim propiciar o conhecimento da Brioflora das praças e outras áreas urbanas do município de Anápolis, esse trabalho teve como objetivos realizar um levantamento das hepáticas que ocorrem nesses ambientes. O trabalho objetivou, ainda, dar início à coleção de

2 Briófitas do Herbário da UEG-Anápolis, fornecendo subsídios para futuros estudos de florística, taxonomia e ecologia, tanto com fins científicos quanto pedagógicos. Materiais e Métodos A cidade de Anápolis está localizada no planalto central do Brasil, estado de Goiás, entre as coordenadas 16º19 36 e 48º A uma altitude de metros, apresenta clima mesotérmico, quase megatérmico, com temperatura anual média de 22 o C e mostra duas estações bem definidas, verão chuvoso e inverno seco (Silva 2001). As coletas foram realizadas no período chuvoso, de outubro de 2003 a março de Um total de 64 praças foram visitadas, dentre as quais, quatro não estavam catalogadas (primeiro tem que falar que catalogação é essa), e estas foram referidas como Pç. W, X, Y e Z. Além destas praças, foram feitas coletas em outras localidades onde foi verificada a presença de Briófitas, como passeios-públicos e um parque recreativo (Tabela I). Para todos os táxons estudados, é apresentada a distribuição geográfica no Brasil, com destaque para as novas ocorrências para Goiás (*) e para o Centro-oeste (**). As exsicatas encontram-se em preparação para a incorporação no Herbário da UEG-Anápolis (HUEG). Resultados e Discussão Das 68 localidades visitadas, em 56 delas foi verificada a presença de Briófitas, onde foram coletadas 244 amostras. Destas amostras, apenas 20% continham espécies de Hepáticas, totalizando 77 espécimens identificados (Tabela 1). O trabalho de identificação permitiu o reconhecimento de 12 espécies, distribuídas em 8 gêneros e 3 famílias (Tabela 2). A famílias mais representativa em termos de números de espécies foi Lejeuneaceae com oito, seguida por Frullaniaceae com três (Tabela 2). Destas espécies, Lejeunea minutiloba e Mastigolejeunea auriculata foram as mais freqüentes, estando presentes em 21 das 49 amostras contendo hepáticas, totalizando uma freqüência de 42,7% entre as amostras (Tabela I). O número de exemplares, bem como o de espécies encontradas é satisfatório, tendo em vista que os locais estudados são áreas urbanas, de pequena extensão e sujeitas a severas intervenções antrópicas, às quais as hepáticas apresentam maior sensibilidade que os musgos (Gradstein et al. 2001).

3 Tabela 1. Distribuição das espécies segundo a localidade, a freqüência e o estado de fertilidade. Praças e demais Espécies localidades com ocorrência de hepáticas Frullania arecae Frullania kunzei Frullania nodulosa Ceratolejeunea laetefusca Cololejeunea sp Lejeunea glaucesecns Lejeunea lamacerina subesp. germminata Lejeunea minutiloba Leucolejeunea unciloba Lopholejeunea nigricans Mastigolejeune a auriculata Metzgeria dichotoma Total Central Parque 3 Augusto Cesar Miranda 8 Bom Jesus 3 Americana do Brasil 3 Gomes de Souza Ramos Do Ancião 5 Dom Emanuel Cônego Trindade 2 Dona Zumira Maria de Jesus Martins 5 Oscar Mioto X 3 Paulo Lobo 5 Y Engenheiro Castilho 3 Luiz Pintado º 5 Da Igreja Nossa Senhora da 2 Abadia 31 de Julho Z Cora Coralina Ana Silvéria Borges Frei Ro nualdo Mulinari º 2 Adamacili Vicente Ferreire Rua Coronel Batista Aenida Belo Horizonte Total Obs.1: Nas praças: Oeste, Dr. Bernardo José Rodrigues, Coronel Vespasiano, Sinhô Barbosa, Humberto Batista, Manuel Demóstenes, Bartolomeu Nunes de Oliveira, Henrique Curado, Dos Romeiros, Manuel Batista Ribeiro, Eugênio dos Vasconcelos, Do Feirão do São Jorge, João Pele, Odilon Domingos de Lemos, Manuel Lemos, Expedicionário Brasileiro, D. Julieta, Miguel João, Isidoro Sabino, Francisco Bernardes, Abadia Daier, Capitão Armando, W, Jornalista Petrônio Cruz, Central, Divino do Livramento da Silva, Benedito Teixeira da Silva e José Geraldo da Silva Leão foi verificada a presença de Briófitas, mas não de Hepáticas. Obs.2: Nas praças: Santana, Das Mães, Monsenhor Gregoriano, Silvestre Alves Chaveiro, João Miranda da Silva, Dr. Washington Valente, Antenor, J.T. Álvaro, José Machado da Silvéria, Jornalista Gilson Mendes, Francisco Vieira Fonseca, Cosmo Prosttis, Inácio Mendes do Vale e Frederico Ozamam não foi verificada a presença de Briófitas.

4 Tabela 2. Ordenação das Hepáticas segundo a família e a distribuição geográficas Família Espécies Distribuição geográfica FRULLANIACEAE *Frullania arecae (Spreng.) Gottsche Frullania kunzei (Lehm. & Lindenb.) Lehm. & Lindenb. AC, DF, ES, MG, MT, RJ, PR, RS, SE, SP AM, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MT, PB, PE, RJ, PR, RS, SE, SP LEJEUNEACEAE **Frullania nodulosa (Reinw., Blume e Nees) Nees. **Ceratolejeunea laetefusca (Aust.) Schust. Cololejeunea sp. (Aust.) Evans. AC, AM, BA, PA, PE, RR AC, AM, BA, ES, MG, RJ, RR SP - *Lejeunea glaucescens Lindenb. & Nees. Gott. in Gott., AC, BA, ES, MT, MS, PA, PE, PR, RJ, RO, RR, SP **Lejeunea lamacerina Nees & Mont. subesp. germminata Schst. *Lejeunea minutiloba Evans, Bull. **Leucolejeunea unciloba (Lindenb.) Evans. Lopholejeunae nigricans (Lindenb.) Schiffn Mastigolejeunea auriculata (Wils. & Hook) Sciffn. SP ES, MS, PR, RJ E SP AC, AM, ES, GO, MG, MT, PA, PE, RJ, PR, SC, SP AM, BA, ES, MG, PA, PE, RJ, RS, SC, SP AC, AM, AP, BA, ES, GO, MS, MT, PA, PR, RJ, RO, SP METZGERIACEAE Metzgeria dichotoma (Sw.) Nees. BA, DF, GO, MG, PB, PE, RJ, RS, SP Os exemplares de Hepáticas foram encontrados predominantemente sobre troncos de árvores vivas; apenas uma espécie foi coletada sobre rocha natural. Essa primazia de troncos vivos em relação aos outros tipos de substratos pode sugerir que, nas áreas urbanas estudadas, esses microambientes sejam os mais efetivos em proporcionar condições de umidade, temperatura, sombreamento, entre outras, necessárias para a sobrevivência dessas plantas. Com exceção de quatro exemplares, a maioria não se encontrava em estágio fértil (Tabela 1). Esse baixo índice de fertilidade encontrado entre as amostras pode ser conseqüência da excessiva fragmentação dos habitats, causada pela antropização dos

5 ambientes estudados. Este fator interfere na reprodução, limitando a dispersão e o intercâmbio genético entre espécimens. Também merece atenção o fato da maioria dos espécimens ter sido encontrada associada a outros organismos como diferentes espécies de briófitas, liquens, fungos e artrópodes; com destaque especial ao musgo Fabronia ciliares var. polycarpa que apareceu como espécie associada em 39 das 49 amostras de hepáticas (ou seja, em 79,6%). Esses dados podem sugerir que a associação seja uma estratégia que garanta a manutenção da umidade e do sombreamento que são fatores reduzidos em ambientes urbanos abertos, como os das praças estudadas. Apenas a espécie Leucolejeunea unciloba não se apresentou associada a outros organismos. O desenvolvimento do trabalho também permitiu constatar que a cidade de Anápolis tem poucas praças proporcionalmente a sua extensão territorial (1.078,2 km²) e a sua população ( habitantes). A maioria das quais é pouco arborizada, com predominância apenas de canteiros com plantas de pequeno porte. Além disso, algumas localidades referidas oficialmente como praças, principalmente aquelas da periferia da cidade, não possuem características de praças, sendo que muitas delas são constituídas apenas de rotatórias de ruas e avenidas, sem bancos, canteiros ou árvores. Nestas praças poucas ou, em alguns casos, nenhuma amostra foi coletada. Contrário a isso, o maior número de amostras com Briófitas foi coletado em praças grandes e arborizadas, em bairros residenciais, na periferia da cidade, com pouco movimento de pedestres e veículos nos arredores. A maior freqüência de exemplares foi verificada em áreas recreativas do Central Parque Onofre Quinan (13 espécimens) e nas praças Augusto César Miranda (8 espécimens), Paulo Lobo (5 espécimens), Martins (5 espécimens) e praça do Ancião (5 espécimens). A maior diversidade de hepáticas também foi encontrada em áreas recreativas do Central Parque Onofre Quinan (7 espécies), seguida pelas praças Augusto César Miranda (5 espécies), Martins (4 espécies) e Luiz Pintado (4 espécies) (Tabela I). O fato do maior número de ocorrências e da maior diversidade terem ocorrido no Central Parque Onofre Quinan pode estar relacionado às condições ambientais que o parque proporciona, como ampla arborização, proximidade com áreas de preservação ambiental e com um curso d água no seu interior, o que certamente permite maiores índices de umidade, sombreamento e maior disponibilidade de substratos. Das espécies encontradas, apenas Metzgeria dichotoma, Frullania arecae, Lejeunea glaucescens e Lopholejeunea nigricans já foram citadas para ambiente urbano sendo que as demais, estão sendo referidas pela primeira vez para ambientes urbanos no Brasil.

6 Dentre as espécies coletadas, merecem destaque Frullania arecae, F. nodulosa, Lejeunea glaucescens, L. minutiloba, L. lamacerina subesp. germminata, Leucolejeunea unciloba e Ceratolejeunea laetefusca que estão sendo referidas pela primeira vez para o estado de Goiás. Frullania nodulosa, Lejeunea lamacerina subesp. germminata, Leucolejeunea unciloba e Ceratolejeunea laetefusca são também novas referências para a região Centro-Oeste. Referencias Bibliográficas Gradstein, S. R.; Churchill. S. & Salazar-Allen, N A guide to the bryophytes of tropical America. Memoirs of New York Botanical Garden. 86p. Yano, O Briófitas do estado de São Paulo. Pp 79. In: Bicudo, C. E. M. e Shepherd, G. J. (ed.). Biodiversidade do estado de São Paulo, Brasil: síntese do conhecimento ao final do século XX. 2: fungos macroscópicos e plantas. FAPESP, São Paulo. Silva, A. M Dossiê de Goiás: Enciclopédia regional. 2ª ed. Máster Publicidade, Goiânia, 706p.