Processo nº 10943/15.1T8VNG Insolvência de Cláudia Cristina Barbosa Soares Silva Costa

Transcrição

1 Exmo.(a). Senhor(a) Doutor(a) Juiz de Direito da Instância Central de Vila Nova de Gaia 2ª Secção de Comércio J1 Processo nº 10943/15.1T8VNG Insolvência de Cláudia Cristina Barbosa Soares Silva Costa V/Referência: Data: Nuno Rodolfo da Nova Oliveira da Silva, Economista com escritório na Quinta do Agrelo, Rua do Agrelo, nº 236, Castelões, em Vila Nova de Famalicão, contribuinte nº , Administrador da Insolvência nomeado no processo à margem identificado, vem requerer a junção aos autos do relatório a que se refere o artigo 155º do C.I.R.E.. Mais informo que não foi elaborada a lista provisória de créditos prevista no artigo 154º do CIRE, uma vez que nesta data é junto aos autos a relação de credores a que alude o artigo 129º do CIRE. P.E.D. O Administrador da Insolvência (Nuno Oliveira da Silva) Castelões, 11 de março de 2016 Página 1 de 1

2 I Identificação da Devedora Cláudia Cristina Barbosa Soares Silva da Costa, N.I.F , divorciada, residente na Rua do Património, nº 25, 2º Direito, Traseiras, freguesia de Mafamude, concelho de Vila Nova de Gaia ( ). II Situação profissional e familiar da devedora A devedora reside, conjuntamente com a sua filha menor que tem a seu cargo 1, em casa arrendada, suportando a renda mensal no valor de Euros 250,00. Actualmente a devedora trabalha na empresa C. H. V. N. Gaia Espinho, E.P.E., com o N.I.P.C , desempenhando a função de Auxiliar de Acção Médica e auferindo a remuneração bruta mensal de Euros 555,70. III Actividade da devedora nos últimos três anos e os seus estabelecimentos (alínea c) do nº 1 do artigo 24º do C.I.R.E.) A devedora foi casada com Ricardo Jorge da Cunha Costa 2 entre 1 de Setembro de 2001 e de Julho de 2011, data em que o casamento foi dissolvido por divórcio. Durante a constância do matrimónio, a devedora celebrou 3 conjuntamente com o seu exmarido, diversos contractos de mútuo junto do Banco Santander Totta, S.A., nomeadamente para aquisição de habitação própria e permanente. Desde Junho de 2013 que a devedora começou a incumprir junto desta entidade bancária. Para além dos contractos por si celebrados, a devedora afiançou ainda outros contractos de mútuo outorgados pela sua irmã e pelo seu cunhado 4 e também pela empresa JUDECOR 1 Em Acordo sobre o Exercício das Responsabilidades Parentais foi determinado que o ex-marido da devedora pagaria como pensão de alimentos o valor mensal de Euros 150,00, contudo, a devedora indica que essa obrigação não é cumprida. 2 Declarado insolvente por sentença de 8 de Novembro de 2018, no âmbito do Processo de Insolvência nº 9158/13.8TBVNG, que correu termos no 4º Juízo Cível do Tribunal Judicial de Vila Nova de Gaia. 3 Em 6 de Abril de 2001 celebraram contracto de mútuo com hipoteca e fiança, pelo valor de Euros ,44, para aquisição da habitação própria e permanente, contracto que passou a incumprir em Junho de Em 19 de Junho de 2006 foi celebrado contracto de mútuo com hipoteca e fiança pelo valor de Euros 6.590,00, em incumprimento desde Julho de A devedora, conjuntamente com o seu marido, constitui-se ainda fiadora de dois contratos de mútuo, outorgados pela irmã e pelo cunhado junto do Banco de Investimento Imobiliário, S.A. em Dezembro Página 1 de 8

3 Comércio de Materiais de Construção, Unipessoal, Lda. 5 (N.I.P.C ), cujo sócio unitário era o seu marido à data e que tinha como objecto social o comércio por grosso de materiais de construção 6. Pelo incumprimento dos contractos outorgados pela devedora e pelo seu exmarido junto do Banco Santander Totta, S.A., foram instaurados por esta instituição bancária os processos executivos nºs 9413/12.4TBVNG 7 e 1815/14.8T8PRT 8. No âmbito do processo executivo nº 1815/14.8T8PRT em conjunto com o processo de insolvência do ex-marido da devedora foi adjudicada ao Sanco Santander Totta, S.A., pelo valor de Euros ,93 o imóvel que haviam adquirido para habitação própria e permanente 9. Por sua vez, no âmbito do processo nº 9413/12.4TBVNG foi penhorado o salário da devedora, já desde Janeiro de 2013, que se estendeu até, pelo menos Fevereiro de Para além destes processos executivos, corre ainda contra a devedora o Processo Executivo nº 4612/11.9TBVNG por incumprimento dos contractos de mutuo outorgados pela sua irmã e que afiançou. O passivo da devedora ascende, actualmente a cerca de Euros ,00. O seu rendimento mostra-se escasso para fazer face às despesas e encargos diários, pelo que depende da ajuda de familiares, nomeadamente da sua mãe. Assim, pelos seus parcos rendimentos e mostrando-se o seu património incapaz de responder pelas obrigações assumidas, dada a inexistência de quaisquer bens, viu-se a devedora na de 2004, um no valor de Euros ,00 e outro no valor de Euros ,00. A estes contractos acrescem ainda o contrato de reestruturação de divida que avalizou em Maio de 2012 junto do Banco Comercial Português, S.A.. 5 Em 23 de Setembro de 2010 esta empresa outorgou contrato de mútuo com o Banco Santander Totta, S.A., no valor de Euros ,00, em incumprimento a partir de 15 de Fevereiro de Foi ainda celebrado por estas entidades e avalizado pela devedora em 31 de Março de 2010 um contrato de locação financeira para aquisição de um veículo automóvel. A devedora avalizou ainda uma garantia autónoma prestada pela Norgarante Sociedade de Garantia Mútua, S.A. ao Banco Santander Totta, S.A. por contrato Outorgado com a empresa Judecor Comércio de Materiais de Construção, Unipessoal, Lda.. 6 Esta empresa foi declarada insolvente por sentença de 16 de Novembro de 2012, no âmbito do Processo de Insolvência nº 1220/12.0TYVNG, que correu termos no 2º Juízo do Tribunal Judicial de Vila Nova de Gaia. 7 Que corre termos na Comarca de Porto Instância Central do Porto 1ª Secção de Execução J6. 8 Que corre termos na Comarca do Porto Instância Central do Porto 1ª Secção de Execução J8. 9 Fracção autónoma designada pela letra K, destinado a habitação no 2º andar esquerdo frente, com aparcamento na cave; descrito na Conservatória do Registo Predial de Vila Nova de Gaia sob o nº K da freguesia de Canelas, concelho de Vila Nova de Gaia e inscrito na respectiva matriz predial urbana sob o artigo 3426º. Página 2 de 8

4 obrigação de se apresentar a tribunal e requerer que fosse declarada a sua insolvência, tendo iniciado os procedimentos para tal em Dezembro de IV Estado da contabilidade da devedora (alínea b) do nº 1 do artigo 155º do C.I.R.E.) Não aplicável. V Perspectivas futuras (alínea c) do nº 1 do artigo 155º do C.I.R.E.) A devedora apresentou, com a petição inicial, o pedido de exoneração do passivo restante, nos termos do artigo 235º e seguintes do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas. Estabelece o nº 4 do artigo 236º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas que na assembleia de apreciação do relatório é dada aos credores e ao administrador da insolvência a possibilidade de se pronunciarem sobre o requerimento do pedido de exoneração do passivo. Por sua vez, o artigo 238º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas enumera as situações em que o pedido de exoneração do passivo é liminarmente indeferido. A aceitação do pedido de exoneração do passivo determina que durante um período de 5 anos o rendimento disponível que a devedora venha a auferir se considere cedido a um fiduciário. Integram o rendimento disponível todos os rendimentos que advenham a qualquer título a devedora com exclusão do que seja razoavelmente necessário para o sustento minimamente digno dos devedores e do seu agregado familiar, não podendo exceder três vezes o salário mínimo nacional (subalínea i da alínea b) do nº 3 do artigo 239º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas). Actualmente o salário mínimo nacional mensal é de Euros 530, Conforme atrás foi referido, a devedora trabalha na empresa C. H. V. N. Gaia Espinho, E.P.E. 10 Desde 1 de Janeiro de 2016 passou a ser de Euros 530,00. Página 3 de 8

5 e aufere a remuneração bruta mensal de Euros 555,70, pelo que o seu rendimento disponível varia entre Euros 25,70 e Euros 0,00. De acordo com a alínea d) do nº 1 do artigo 238º do CIRE, o pedido de exoneração é liminarmente indeferido se a devedora tiver incumprido o dever de apresentação à insolvência ou, não estando obrigado a se apresentar, se tiver abstido dessa apresentação nos seis meses seguintes à verificação da situação de insolvência, com prejuízo em qualquer dos casos para os credores, e sabendo, ou não podendo ignorar sem culpa grave, não existir qualquer perspectiva séria de melhoria da sua situação económica. Da análise desta disposição legal verifica-se que, para além do incumprimento de apresentação à insolvência se torna necessário que disso advenha prejuízo para os credores e, ainda, que a devedora saiba, ou não possa ignorar sem culpa grave, não existir qualquer perspectiva séria de melhoria da sua situação económica. Tal significa que, se do atraso na apresentação não advier prejuízo para os credores, o mesmo não deve ser negativamente valorado. E ainda é necessário que a devedora saiba que a sua situação é definitiva, no sentido de não ser alterável a curto prazo, ou que não possa deixar de disso estar consciente, a não ser por inconsideração grave. Tais requisitos são cumulativos. A nível doutrinal e jurisprudencial têm existido diferentes entendimentos sobre o segundo requisito (advir prejuízo para os credores): enquanto uma corrente defende que a omissão do dever de apresentação atempada à insolvência torna evidente o prejuízo para os credores pelo avolumar dos seus créditos, face ao vencimento dos juros e consequente avolumar do passivo global do insolvente, outra corrente defende que o conceito de prejuízo pressuposto no normativo em causa consiste num prejuízo diverso do simples vencimento dos juros, que são consequência normal do incumprimento gerador da insolvência, tratando-se assim dum prejuízo de outra ordem, projectado na esfera jurídica do credor em consequência da inércia do insolvente (consistindo, por exemplo, no abandono, degradação ou dissipação de bens no período que dispunha para se apresentar à insolvência), ou, mais especificamente, que não integra o prejuízo previsto no artigo 238º, nº 1, d) do C.I.R.E. o simples acumular do montante dos juros. Página 4 de 8

6 O signatário tem defendido esta última posição, entendendo que não basta o simples decurso do tempo para se considerar verificado o requisito em análise (pelo avolumar do passivo face ao vencimento dos juros). Tal entendimento representaria uma valoração de um prejuízo ínsito ao decurso do tempo, comum a todas as situações de insolvência, o que não se afigura compatível com o estabelecimento do prejuízo dos credores enquanto requisito autónomo do indeferimento liminar do incidente. Enquanto requisito autónomo do indeferimento liminar do incidente, o prejuízo dos credores acresce aos demais requisitos é um pressuposto adicional, que aporta exigências distintas das pressupostas pelos demais requisitos, não podendo por isso considerar-se preenchido com circunstâncias que já estão forçosamente contidas num dos outros requisitos. O que se pretende valorizar neste quesito, como acima foi posto em evidência, é a conduta da devedora, de forma a apurar se o seu comportamento foi pautado pela licitude, honestidade, transparência e boa-fé no que respeita à sua situação económica, devendo a exoneração ser liminarmente coarctada caso seja de concluir pela negativa. Ao estabelecer, como pressuposto do indeferimento liminar do pedido de exoneração, que a apresentação extemporânea do devedor à insolvência haja causado prejuízo aos credores, a lei não visa mais do que penalizar os comportamentos que façam diminuir o acervo patrimonial da devedora, que onerem o seu património ou mesmo aqueles comportamentos geradores de novos débitos (a acrescer àqueles que integravam o passivo que estava já impossibilitado de satisfazer). São estes comportamentos desconformes ao proceder honesto, lícito, transparente e de boa-fé cuja observância por parte da devedora é impeditiva de lhe ser reconhecida a possibilidade (verificados os demais requisitos do preceito) de se libertar de algumas das suas dívidas, e assim, conseguir a sua reabilitação económica. O que se sanciona são os comportamentos que impossibilitem (ou diminuam a possibilidade de) os credores obterem a satisfação dos seus créditos, nos termos em que essa satisfação seria conseguida caso tais comportamentos não ocorressem. Exposta esta questão, verificamos assim que o indeferimento do pedido de exoneração do passivo restante por violação do dever de apresentação à insolvência passará pela verificação cumulativa de três pressupostos: Página 5 de 8

7 1- Incumprimento do dever de apresentação à insolvência ou, não estando a devedora obrigado a se apresentar, se se tiver abstido dessa apresentação nos seis meses seguintes à verificação da situação de insolvência; 2- Inexistência de perspectivas sérias de melhoria da situação financeira da devedora que o mesmo conhecesse ou não pudesse ignorar sem culpa grave; 3- Existência de prejuízo para os credores, decorrente do atraso da devedora na apresentação à insolvência; Assim, devemos ter em consideração os seguintes elementos: 1- A devedora passou a incumprir os contractos celebrados junto da Banco Santander Totta, S.A. em Junho de 2013; 2- A devedora constituiu-se ainda fiadora por diversos contractos outorgados pela sua irmã e pelo seu cunhado e também pela empresa JUDECOR Comércio de Materiais de Construção, Unipessoal, Lda. ; 3- Pelo que a devedora se constituiu solidariamente responsável por estas obrigações e pelo seus incumprimentos que datam de 2012 e 2010 respectivamente; 4- Correram contra a devedora três processos de carácter executivo; 5- No âmbito do Processo Executivo nº 1815/14.8T8PRT em conjunto com o processo de insolvência do ex-marido da devedora foi adjudicada ao Banco Santander Totta, S.A., em Abril de 2015, pelo valor de Euros ,93 o imóvel que haviam adquirido para habitação própria e permanente; 6- No âmbito do Processo Executivo 9413/12.4TBVNG foi penhorado o salário da devedora, já desde Janeiro de 2013, que se estendeu até, pelo menos Fevereiro de 2015, bem como o reembolso de IRS relativo ao ano de 2013, num total de Euros 4.436,47; 7- Este valor foi entregue ao exequente ( Banco Santander Totta, S.A. ) em Fevereiro de 2015; 8- A devedora acumulou ainda passivo junto da Fazenda Nacional pelo não pagamento de valores de IMI referentes ao ano de Pelo exposto, entende o signatário que a devedora se encontra sem capacidade para cumprir as suas obrigações desde o ano de 2013, data em que passa a incumprir os Página 6 de 8

8 contractos que havia celebrado com o Banco Santander Totta, S.A. para aquisição da casa de morada de família. Com a penhora do seu salário, que data de Janeiro de 2013, mostram-se esgotadas todas as expectativas de melhoria da sua capacidade financeira, pelo que nenhum elemento existe nos autos que indique naquela data, uma possível alteração substancial da sua situação financeira, que pudesse afastar este contexto de carência económica. Esta situação mostrou-se ainda mais exacerbada com a adjudicação do imóvel ao Banco Santander Totta, S.A., constituindo este o único activo imóvel de que era proprietária. Ainda assim, apenas em Dezembro de 2015 a devedora inicia os procedimentos necessários para se apresentar em tribunal e requerer que fosse declarada a sua insolvência. Preenchidos os dois primeiros pressupostos, resta verificar se de tal atraso resultou algum prejuízo para os seus credores Poderia concluir-se que a venda do seu imóvel, constitui um acto prejudicial, dada a redução que o mesmo significou no seu activo. Contudo, tal conclusão não pode ser retirada, uma vez que o bem foi adjudicado ao Banco Santander Totta, S.A., credor com garantia real (hipoteca) sobre este mesmo imóvel. Assim, o destino dado a este activo não foi distinto do que teria sido no âmbito do processo de insolvência. No âmbito do Processo Executivo nº 9413/12.4TBVNG verifica-se a penhora da remuneração da devedora, desde Janeiro de 2013 (cerca de três anos antes do início do processo de insolvência), pelo que entende o signatário que se encontra diminuído o acervo patrimonial da devedora e se verifica o consequente prejuízo para os restantes credores, que vêem diminuídas as possibilidades de serem ressarcidos do seu crédito. Por todo o exposto, entende o signatário que está preenchida a totalidade dos pressupostos previstos na alínea d) do nº 1 do artigo 236º do CIRE por violação do seu dever de apresentação à insolvência. Posto isto, conclui assim o signatário pelo indeferimento do pedido de exoneração do passivo restante apresentado pela devedora nos termos do disposto na alínea d) e na alínea e) do nº 1 do artigo 238º do CIRE. Página 7 de 8

9 Considerando que a massa insolvente se encontra numa situação de insuficiência patrimonial, nos termos do disposto no artigo 232º do CIRE, face à inexistência de bens passíveis de serem apreendidos nos autos, deverão os credores deliberar no sentido do encerramento do processo nos termos da alínea e) do nº 1 do artigo 230º do CIRE, caso venha a ser proferido despacho inicial de exoneração do passivo restante, ou nos termos da alínea d) do mesmo artigo, caso venha a ser indeferido o pedido de exoneração formulado pela devedora. Castelões, 11 de Março de 2016 O Administrador da Insolvência (Nuno Oliveira da Silva) Página 8 de 8