de Famalicão 1º Juízo Cível Processo nº 1017/14.3TJVNF Insolvência de João Paulo da Silva Ferreira e Maria Cecília Vilaça Cruz Ferreira

Transcrição

1 Exmo.(a). Senhor(a) Doutor(a) Juiz de Direito do Tribunal Judicial de Vila Nova de Famalicão 1º Juízo Cível Processo nº 1017/14.3TJVNF Nuno Rodolfo da Nova Oliveira da Silva, Economista com escritório na Quinta do Agrelo, Rua do Agrelo, nº 236, Castelões, em Vila Nova de Famalicão, contribuinte nº , Administrador da Insolvência nomeado no processo à margem identificado, vem requerer a junção aos autos do relatório a que se refere o artigo 155º do C.I.R.E., bem como o respectivo anexo (lista provisória de créditos). P.E.D. O Administrador da Insolvência (Nuno Oliveira da Silva) Castelões, 3 de julho de 2014 Página 1 de 1

2 I Identificação dos Devedores João Paulo da Silva Ferreira, N.I.F , e Maria Cecília Vilaça Cruz Ferreira, N.I.F , residentes na Rua Sapugal, 884, freguesia de Fradelos, concelho de Vila Nova de Famalicão. II Situação profissional e familiar dos devedores Os devedores são casados entre si no regime de comunhão de adquiridos desde Maio de O devedor marido trabalha actualmente na sociedade DCZ Portugal, Unipessoal, Lda., onde exerce funções como Carpinteiro de Tosco ou Cofragem de 2ª e aufere um rendimento mensal bruto no valor de Euros 650,00. Já a devedora esposa trabalha na sociedade Cerealis Produtos Alimentares, S.A., NIPC , onde exerce funções como Auxiliar de Laboração e aufere um rendimento mensal bruto no valor de Euros 569,42. Os devedores vivem com os dois filhos (um maior e outro menor de idade) numa casa arrendada, pagando uma renda mensal no valor de Euros 455,00. III Actividade dos devedores nos últimos três anos e os seus estabelecimentos (alínea c) do nº 1 do artigo 24º do C.I.R.E.) Os devedores foram sócios e gerentes da sociedade Paulo & Cecília - Representações e Confecções Lda., NIPC , constituída no ano Durante vários anos os rendimentos obtidos nesta sociedade permitiram aos devedores celebrar diversos contratos de crédito com instituições financeiras e suportar as despesas do seu agregado familiar. Sucede que, a partir de 2005, a sociedade começou a enfrentar diversas dificuldades, tendo acabado por encerrar a sua actividade para efeitos de IVA em Dezembro de Página 1 de 7

3 Na qualidade de legal representantes desta sociedade, viram os devedores contra si revertidas as dívidas que a sociedade foi acumulando junto da Segurança Social e da Fazenda Nacional, e que ascendem actualmente a cerca de Euros ,00. Pelas informações constantes das reclamações de créditos apresentadas pelos seus credores, verifica-se que a partir de 2005 os devedores começam a demonstrar dificuldades no cumprimento das suas obrigações, o que resultou na interposição de diversos processos de índole executiva 1. Na sequência destes processos veio o imóvel dos devedores a ser adjudicado ao Banco Comercial Português, S.A. em 15 de Junho de 2010 e o salário de ambos a ser penhorado 2. A acrescer a esta situação, nos últimos anos o devedor marido tem atravessado uma situação de desemprego e de empregos sazonais e precários, que limitaram em grande medida os rendimentos obtido pelo agregado familiar. Sem ganhos nem património capazes de responder pelo passivo anteriormente assumido, e com o salário penhorado há já vários anos, os devedores viram-se na obrigação de se apresentar a tribunal e requerer que fosse declarada a sua insolvência. Apesar da situação precária que atravessavam há vários anos, apenas em Maio de 2014 os devedores iniciam os procedimentos para tal necessários. IV Estado da contabilidade dos devedores (alínea b) do nº 1 do artigo 155º do C.I.R.E.) Não aplicável. 1 Processo nº 14009/06.7YYLSB da1ª Secção do 3º Juízo dos Juízos de Execução do Porto; Processo nº 2051/08.8TJVNF do 5º Juízo Cível do Tribunal Judicial de Vila Nova de Famalicão. 2 O salário do devedor marido encontra-se penhorado desde Setembro de 2013 e o salário da devedora esposa encontra-se igualmente penhorado desde Março de Página 2 de 7

4 V Perspectivas futuras (alínea c) do nº 1 do artigo 155º do C.I.R.E.) Os devedores apresentaram o pedido de exoneração o passivo restante, nos termos do artigo 235º e seguintes do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas. Estabelece o nº 4 do artigo 236º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas que na assembleia de apreciação do relatório é dada aos credores e ao administrador da insolvência a possibilidade de se pronunciarem sobre o requerimento do pedido de exoneração do passivo. Por sua vez, o artigo 238º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas enumera as situações em que o pedido de exoneração do passivo é liminarmente indeferido. A aceitação do pedido de exoneração do passivo determina que durante um período de 5 anos o rendimento disponível que os devedores venham a auferir se considere cedido a um fiduciário. Integram o rendimento disponível todos os rendimentos que advenham a qualquer título aos devedores com exclusão do que seja razoavelmente necessário para o sustento minimamente digno dos devedores e do seu agregado familiar, não podendo exceder três vezes o salário mínimo nacional (subalínea i da alínea b) do nº 3 do artigo 239º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas). Actualmente o salário mínimo nacional mensal é de Euros 485,00. Conforme atrás foi referido, o devedor marido aufere actualmente um rendimento mensal bruto no valor de Euros 650,00, pelo que o seu rendimento pode ser legalmente fixado entre os Euros 165,00 e os Euros 0,00. Já a devedora esposa aufere um rendimento mensal bruto no valor de Euros 569,42, pelo que o seu rendimento disponível pode ser legalmente fixado entre os Euros 84,42 e os Euros 0,00. De acordo com a alínea d) do nº 1 do artigo 238º do CIRE, o pedido de exoneração é liminarmente indeferido se o devedor tiver incumprido o dever de Página 3 de 7

5 apresentação à insolvência ou, não estando obrigado a se apresentar, se tiver abstido dessa apresentação nos seis meses seguintes à verificação da situação de insolvência, com prejuízo em qualquer dos casos para os credores, e sabendo, ou não podendo ignorar sem culpa grave, não existir qualquer perspectiva séria de melhoria da sua situação económica. Da análise deste dispositivo legal verifica-se no entanto que, para além do incumprimento de apresentação à insolvência se torna necessário que disso advenha prejuízo para os credores e, ainda, que o devedor saiba, ou não possa ignorar sem culpa grave, não existir qualquer perspectiva séria de melhoria da sua situação económica. Tal significa que, se do atraso na apresentação não advier prejuízo para os credores, o mesmo não deve ser negativamente valorado. E ainda é necessário que a devedora saiba que a sua situação é definitiva, no sentido de não ser alterável a curto prazo, ou que não possa deixar de disso estar consciente, a não ser por inconsideração grave. Tais requisitos são cumulativos. A nível doutrinal e jurisprudencial têm existido diferentes entendimentos sobre o segundo requisito (advir prejuízo para os credores): enquanto uma corrente defende que a omissão do dever de apresentação atempada à insolvência torna evidente o prejuízo para os credores pelo avolumar dos seus créditos, face ao vencimento dos juros e consequente avolumar do passivo global do insolvente, outra corrente defende que o conceito de prejuízo pressuposto no normativo em causa consiste num prejuízo diverso do simples vencimento dos juros, que são consequência normal do incumprimento gerador da insolvência, tratando-se assim dum prejuízo de outra ordem, projectado na esfera jurídica do credor em consequência da inércia do insolvente (consistindo, por exemplo, no abandono, degradação ou dissipação de bens no período que dispunha para se apresentar à insolvência), ou, mais especificamente, que não integra o prejuízo previsto no artigo 238º, nº 1, d) do C.I.R.E. o simples acumular do montante dos juros. O signatário tem defendido esta última posição, entendendo que não basta o simples decurso do tempo para se considerar verificado o requisito em análise (pelo Página 4 de 7

6 avolumar do passivo face ao vencimento dos juros). Tal entendimento representaria uma valoração de um prejuízo ínsito ao decurso do tempo, comum a todas as situações de insolvência, o que não se afigura compatível com o estabelecimento do prejuízo dos credores enquanto requisito autónomo do indeferimento liminar do incidente. Enquanto requisito autónomo do indeferimento liminar do incidente, o prejuízo dos credores acresce aos demais requisitos é um pressuposto adicional, que aporta exigências distintas das pressupostas pelos demais requisitos, não podendo por isso considerar-se preenchido com circunstâncias que já estão forçosamente contidas num dos outros requisitos. O que se pretende valorizar neste quesito, como acima foi posto em evidência, é a conduta do devedor, de forma a apurar se o seu comportamento foi pautado pela licitude, honestidade, transparência e boa-fé no que respeita à sua situação económica, devendo a exoneração ser liminarmente coarctada caso seja de concluir pela negativa. Ao estabelecer, como pressuposto do indeferimento liminar do pedido de exoneração, que a apresentação extemporânea do devedor à insolvência haja causado prejuízo aos credores, a lei não visa mais do que penalizar os comportamentos que façam diminuir o acervo patrimonial do devedor, que onerem o seu património ou mesmo aqueles comportamentos geradores de novos débitos (a acrescer àqueles que integravam o passivo que estava já impossibilitado de satisfazer). São estes comportamentos desconformes ao proceder honesto, lícito, transparente e de boa-fé cuja observância por parte do devedor é impeditiva de lhe ser reconhecida possibilidade (verificados os demais requisitos do preceito) de se libertar de algumas das suas dívidas, e assim, conseguir a sua reabilitação económica. O que se sanciona são os comportamentos que impossibilitem (ou diminuam a possibilidade de) os credores obterem a satisfação dos seus créditos, nos termos em que essa satisfação seria conseguida caso tais comportamentos não ocorressem. No que respeita à verificação da situação de insolvência, entende o signatário que a mesma se confirmou aquando do encerramento da actividade da sociedade da qual os devedores eram sócios e gerentes em Senão, vejamos: Página 5 de 7

7 1- O passivo resultante da actividade da sociedade ascende actualmente a mais de Euros ,00; 2- O início dos incumprimentos dos devedores coincide com o encerramento da actividade da sociedade; 3- O património dos devedores existente à data é claramente insuficiente para responder pelo passivo pessoal dos devedores e ainda pelo passivo gerado pela sociedade referida; 4- Comprovando tal informação, verifica-se que o imóvel propriedade dos devedores acaba por ser vendido em sede de acção executiva pelo preço de Euros ,00 em 2010, não tendo sido sequer suficiente para o pagamento das hipotecas voluntárias sobre o mesmo existentes; A partir do momento em que esta sociedade encerra, não podiam os devedores desconhecer dois factores relevantes: que as dívidas geradas pela mesma junto da Segurança Social e perante a Fazenda Nacional iriam reverter contra si e que dificilmente os rendimentos obtidos como trabalhadores dependentes gerariam o nível de receita necessário para responder pelo passivo que detinham. Ainda que pudessem os devedores ter alguma expectativa de com o seu emprego ou com a venda do imóvel de que eram proprietários gerar as receitas para tal necessárias, entende o signatário que foram tais esperanças mais do que goradas aquando da interposição das acções executivas que geraram a venda do imóvel referido Junho de 2010 e ainda a penhora do salário da devedora esposa Março de O momento em que foi vendido o imóvel dos devedores determina o fim de qualquer expectativa séria dos devedores em recuperar a situação de insolvência em que se encontrava, uma vez que era este o seu único activo, para além dos seus rendimentos do trabalho. Apesar de todo o exposto, apenas no início do presente ano os devedores iniciam os procedimentos necessários para se apresentarem à insolvência, incumprindo claramente o prazo previsto na alínea d) do nº 1 do artigo 238º do CIRE. Página 6 de 7

8 Quanto à verificação de prejuízo para os credores resultante do atraso dos devedores na sua apresentação à insolvência, tal prejuízo verifica-se com a penhora do salário da devedora esposa em Março de 2011 e já em 2013 do salário do devedor marido. Durante todo este período de penhora esteve o único rendimento dos devedores canalizado para apenas um dos seus credores, situação que se revelaria diferente em caso de apresentação à insolvência atempada dos mesmos. Por todo o exposto, o signatário é do entendimento que os devedores incumpriram o seu dever de apresentação à insolvência nos termos previstos na alínea d) do nº 1 do artigo 238º do CIRE, pelo que deve ser indeferido o pedido de exoneração do passivo restante formulado pelos mesmos na petição inicial. Os credores deverão ainda deliberar no sentido do encerramento do processo por manifesta insuficiência da massa insolvente, nos termos do artigo 232º do CIRE, considerando a inexistência de bens passiveis de serem apreendidos nos autos. Castelões, 3 de Julho de 2014 O Administrador da Insolvência (Nuno Oliveira da Silva) Página 7 de 7

9 Lista Provisória de Credores (Artigo 154º do C.I.R.E.)

10 Insolvência de "João Paulo da Silva Ferreira e Maria Cecília Vilaça Cruz Ferreira" Lista Provisória de Credores (nº 1 do artigo 154º do C.I.R.E.) # Identificação do Credor Montante dos Créditos e sua Natureza Valor do Crédito Garantidos Privilegiados Comuns Subordinados Sob Condição C/ Voto S/ Voto % Fundamento Mandatário 1 Banco BPI, S.A. Andreia Tomaz Lobato, Drª Rua Tenente Valadim, nº 284 Contrato de mútuo e cartão de 5.457, ,90 5,0530% Palácio Sottomayor, Rua Sousa Martins, nº 1, 6º andar Porto crédito Lisboa NIF / NIPC: NIF: Banco Comercial Português, S.A. Joaquim Taveira da Fonseca, Dr. 2 Praça D. João I, nº , ,71 19,2393% Mútuo com hipoteca Rua Pedro Homem de Melo, nº 55, 7º Andar Porto Porto 3 NIF / NIPC: BNP Paribas Personal Finance, S.A. Rua Tomás da Fonseca, Torres de Lisboa, Torre G, 15º Lisboa 750,00 750,00 0,6944% Relacionado Fazenda Nacional 4 409, , ,57 52,6891% IVA, IRC, IRS, IMI, IUC e Coimas Serviços do Ministério Público de Vila Nova de Famalicão Avenida Engenheiro Pinheiro Braga, nº Vila Nova de Famalicão Instituto da Segurança Social, I.P. José Querido Azevedo, Dr. 5 Rua de António Patrício, nº ,82 79, ,82 79,00 22,3242% Contribuições - reversão Rua de António Patrício, nº Porto Porto Total 409, ,34 79, ,00 79,00 100,0000% O Administrador da Insolvência 3 de julho de 2014 (Nuno Oliveira da Silva) Elaborado por Nuno Oliveira da Silva Lista Provisória de Credores (nº 1 do artigo 154º do C.I.R.E.) - Folha 1 de 1