CARACTERIZAÇÃO DA MACROFAUNA BENTÔNICA EM UM CANAL DE MARÉ DO ESTUÁRIO DO RIO ACARAÚ-CE
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1 CARACTERIZAÇÃO DA MACROFAUNA BENTÔNICA EM UM CANAL DE MARÉ DO ESTUÁRIO DO RIO ACARAÚ-CE Iara Késia Alves dos Santos 1 Marcos Roberto dos Santos 2 Mayara Sâmia Amaro Rodrigues 3 Brena Késia de Sousa Lima 4 1 Graduanda de Licenciatura em Ciências Biológicas IFCE campus Acaraú. iarag20.is@gmail.com; 2 Graduando de Licenciatura em Ciências Biológicas IFCE campus Acaraú. marcosrob20@gmail.com; 3 Graduanda em Licenciatura em Ciências Biológicas IFCE campus Acaraú. samiamayara70@gmail.com; 4 Orientadora. Pós- Graduanda em Meio Ambiente e Desenvolvimento IFCE campus Acaraú. brenakesia7@hotmail.com. RESUMO O manguezal é um ecossistema de grande importância ecológica e econômica, representado por grandes grupos zoológicos. A macrofauna bentônica dessas áreas está diretamente associada ao tipo de substrato, que serve como residência, refúgio, fonte de alimentação e nutrientes para esses organismos. O presente estudo foi realizado no canal de maré do estuário do Rio Acaraú, CE, objetivando a caracterização da macrofauna bentônica. Para amostragem da macrofauna bentônica foi realizado coletas em três pontos, os quais foram classificados ponto 1 ( interior do canal de maré, totalmente imerso), ponto 2 ( exposto durante a maré baixa) e ponto 3 ( próximo aos bosques de mangue, superior ao canal). Em cada ponto foi coletado três subréplicas com o auxilio de amostrador cilíndrico de PVC, ainda foram amostrados os daos abióticos (Temperatura, salinidade e umidade). Foram amostrados 321 organismos, pertencentes aos táxons zoológicos, Mollusca, Annelida e Artrophoda. O grupo mais representativo foi de Amphipodas, seguido do grupo de poliquetas, representados por duas grandes famílias, Neredidae e Capitellidae. Os organismos apresentaram distribuição diferenciada ao longo dos pontos, sendo o ponto 1 a área que apresentou mais abundância. A realização de estudos como este, é de extrema importância para a caracterização de áreas de manguezais assim como para a compressão da distribuição dos organismos bentônicos. Palavras-chaves: Arpoeiras- Macrobentos- Manguezal.
2 1 INTRODUÇÃO Manguezal é um ecossistema costeiro que ocorre em regiões tropicais e subtropicais do mundo ocupando as áreas entremarés. E caracterizado por vegetação lenhosa típica, adaptada as condições limitantes de salinidade, substrato inconsolidado e pouco oxigenado e frequente submersão pelas marés (SOARES, 1997). Esse ecossistema ainda destaca-se por sua alta produtividade e diversidade funcional, possuindo elevada importância ecológica, econômica e social. De acordo com Baran & Hambrey, (1998), os principais fatores que explicam a alta produtividade dos manguezais são: i) quantidade constante de matéria orgânica, ii) turbidez da água e iii) diversidade estrutural das plantas. Embora seja considerado importante o seu valor de existência, as florestas de mangues, ao longo dos anos, vêm sendo alvo de degradação resultante da ação humana, que ao desenvolver-se tecnologicamente e crescer em termos populacionais, tende a consumir de forma rápida e insustentável os recursos naturais (COUTINHO, 2004). A diversidade e a complexidade estrutural das raízes das plantas típicas deste ambiente úmido também proporcionam hábitats bastante diferenciados para uma grande variedade de espécies animais. Esta, por sua vez, é a base da cadeia alimentar, onde o fito e zooplâncton constituem uma diversidade abundante de recursos para pós-larvas e juvenis de peixes, camarões, e outros organismos aquáticos. De acordo com Levington (2001), os invertebrados bentônicos são organismos que estão diretamente associados ao substrato. A macrofauna bêntica é composta por indivíduos de tamanho que variam de 0,3 a 0,5 mm, representados pelos organismos pertencentes aos mais diversos grupos taxonômicos (FONDO & MARTENS, 1998; LUI et al., 2002; BOSIRE et al., 2004). No ecossistema manguezal destacam-se na composição da macrofauna os filos: Annelida, Mollusca e Crustacea (LEVINGTON, 2001; LUI et al., 2002; BOSIRE et al., 2004). Diante disso o presente estudo tem como objetivo caracterizar a macrofauna bentônica de um canal de maré no estuário do Rio Acaraú-CE, buscando identificar as variações espaciais dos mesmos, ao longo do transecto.
3 2 METODOLOGIA 2.1 Área de estudo O presente trabalho foi realizado em um Canal de Maré que localiza-se na região de Arpoeiras, compondo um sistema estuarino de manguezal. A praia de Arpoeiras está localizada aproximadamente 12 km da cidade de Acaraú (02º36 94 S, 40º16 32 W). As florestas de mangue nessa região ocorrem em pequenas extensões e estão limitadas aos sistemas estuarinos e a salinidade dessas áreas (SCHAEFFER-NOVELLI et. al., 1990). O clima local pode ser classificado como subtropical úmido, com chuvas distribuídas ao longo do ano e temperatura variando em média 28 C. Figura 01: Localização da área de coleta das amostras Fonte: Modificado a partir do Google Earth 2.2 Metodologia de coleta e processamento A amostragem foi realizada no manguezal próximo à Praia de Arpoeiras especificamente próximo a um canal de maré, no dia 11 de abril de 2016, às 14 horas,
4 com maré 0,4 m (maré baixa). Em média de vinte metros de distância ao longo de cada transecção foram definidos pontos de coletas, sendo determinados três pontos, os quais foram classificados ponto 1 ( interior do canal de maré, totalmente imerso), ponto 2 ( exposto durante a maré baixa) e ponto 3( próximo aos bosques de mangue, superior ao canal). Figura 02: Desenho amostral para a coleta da macrofauna bentônica Fonte: Elaborada pelos autores. Foram feitas coletas nestes pontos aleatoriamente ao longo do transecto, cada um com três sub-réplicas. Foi coletada água para mensuração de salinidade com refratômetro, a umidade com o uso do termohidrômetro, também foram mensuradas a temperatura do ar, água e do solo. A macrofauna foi amostrada com a utilização de um coletor denominado core, confeccionado de tubo PVC, em uma profundidade de 10 cm. E com uma malha de 0,5 mm as amostras foram lavadas para retirada do substrato lamoso. As amostras foram armazenadas em sacos plásticos e os organismos que ficaram retidos na peneira foram coletados por meio de triagem com o auxilio de lupas, e posteriormente foram conservados em álcool 70%. Os animais foram separados por grupos e depois identificados ao menor nível taxonômico possível utilizando a chave de identificação Amaral e Nonato (1996), Rios (1997).
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6 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante a realização da coleta, ás 14h00min horas com dia chuvoso, a altura da maré se encontrava baixa, de sizígia. Foram coletados os dados abióticos do local, a salinidade registrada durante a coleta foi de 16, com umidade relativa a 81%. Também foram atribuídas as temperaturas relativas ao ar, ao solo e a água. (TABELA 1) Tabela 01: Temperaturas obtidas a partir do Termohidrômetro Temp. do Ar 28 C Temp. do Solo Temp. da Água 28,4 C 29,3 C Foram amostrados 321 organismos, pertencentes aos táxons Zoológicos, Mollusca, Annelida e Artrophoda, o que corrobora com vários trabalhos desenvolvidos nestas áreas de manguezal onde foi amostrado tais grupos de organismos (FRANKLIN- JÚNOR, 2000; FRENCH, et al, 2004). A composição da macrofauna bentônica nos pontos de estudo foi representada por alguns grupos de indivíduos característicos (Tabela 02) destas áreas, assim como importantes para o ambiente, por contribuir com aeração do sedimento, ciclagem de nutrientes, e produção secundária (SOARES- GOMES, 2003).
7 Annelida Mollusca Arthopoda Tabela 02: Listagem das Espécies Amostradas Espécies Quantidade Ucides cordatus 1 Uca rapax 1 Amphipodas 269 Lucina pectinata 3 Pilargidae 2 Neredidae 8 Capitellidae 36 Oligochaeta 1 Fonte: Elaborada pelos autores Os pontos 1, 2 e 3 apresentaram médias de (2,13), (0,09) e (0,25) respectivamente de indivíduos por metros quadrado. A densidade de organismos mostrou-se maior no ponto 1, o qual sempre esteve submerso por água, seguido do ponto 3, área mais distante do canal de maré, e ponto 2, foi o que apresentou menor taxa de densidade por organismos (Figura 03). Tal fato pode ser explicado, pelo fato destes organismos bentônicos estarem associado ao tipo de sedimento lamoso, característicos dos canais de maré, do quais dependem principalmente para locomoção e alimentação (GASTON, 1998).
8 Densidade (ind/m²) Figura 03: Densidade de indivíduos por m² nos pontos de estudo. 2,5 2 1,5 1 0,5 0 Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Fonte: Elaborada pelos autores. Os amphipodas foram o grupo mais representativo dentro das amostras, seguido pelos poliquetas, representados pela família Capitellidae e Nereididae. A forte presença de amphipodas nas amostras do Ponto 1, está relacionada ao fato dos mesmos necessitarem de água para locomoção e se alimentarem dos detritos carreados pelas marés.(gráfico 01) Os Capitellidaes foram predominantes nos três pontos de amostragem, tal fato é explicado pela forte presença de poliquetas nesse tipo de ecossistema. Estudos realizados por Lui et. al., (2002), mostram a predominância de anelídeos em sedimentos do ecossistema de manguezal, esta condição está relacionada aos hábitos alimentares e as condições de mobilidade no substrato. A presença da família de poliquetas Pilagidae foi observada em menor abundância no Ponto 1. O grupo Oligochaaeta foi amostrado apenas no Ponto 1. Esse grupo de organismos possui abundância baixa em áreas sobre influência de salinidade por serem organismos sensíveis ao estresse e mudança bruscas de salinidades. Segundo Bemvenuti (1997), esses anelídeos são organismos intolerantes a variações ambientais e possuem caráter resiliente, sendo que conseguem se recuperar de sedimento em defaunação.
9 Gráfico 01: Abundância de espécies e sua distribuição em cada amostra Fonte: Elaborada pelos autores.
10 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS De modo geral a macrofauna bentônica apresentou variações, nas amostragens estudadas, sendo que na área de estudo compreendeu três filos de invertebrados (Annelida, Mollusca, Crustacea). As estimativas de diversidade mostraram que há diferença entre os três sítios estudados, visto a distribuição espacial dos indivíduos. Esse tipo de levantamento é importante para o acompanhamento da distribuição das espécies, assim como caracterização das áreas de manguezais, ainda não estudado. Portanto se faz necessário à realização de atividades como essa para o melhor entendimento da ecologia do ecossistema manguezal.
11 REFERÊNCIAS SOARES, M. L. G. (1997). Estudo da biomassa aérea de manguezais do sudeste do Brasil analise de modelos. Tese de doutorado. Instituto Oceanográfico, Universidade de São Paulo. 2 vol. 294p. COUTINHO, L. A. Mapa de vulnerabilidade à ação antrópica em Mangue Seco e proximidades, Vitória, ES. Vitória, ES: UFES, BARAN, E; HAMBREY, J. Mangrove Conservation and Coastal Management in Southeast Asia: What Impact on Fishery Resources? Marine Pollution Bulletin. v. 37, n. 8-12, p , AMARAL, A. C. Z; NONATO, E.F. Annelida Polychaeta: características, glossário e chaves para famílias e gêneros da costa brasileira. Campinas: Editora da UNICAMP. 124p FIORI, E. F. Caracterização da Macrofauna bentônica de substrato inconsolidado do estuário de Santos São Paulo Dissertação (Mestrado em Recursos Naturais). Faculdade de Ciências Biológicas, Santos SP GASTON, G. R. Benthic Polychaeta of the middle Atlantic Bight: feeding and distribution. Marine Ecology Progress Series, V.36, p , RIOS, Y.M. Mangroves as a coastal protection from waves in the Tong King delta, Vietnam. Mangr. S. Mars., V.01, n.02, p SCHAEFFER-NOVELLI, Y.; MOLERO, G. C.; ADAIME, R. R. ; CAMARGO, T. M. Variability of mangrove ecosystems along the Brazilian coast. Estuaries, Caribbean Ecological Research, v. 13, n. 2, p , ago.1990.
12 SCHULER, C. A. B.; ANDRADE, V. C.; SANTOS, D. S. O manguezal: composição e estrutura. In: Gerenciamento Participativo de Estuários e Manguezais. Barros, H.M., Eskinazi-Leça, E., Lima, T., Ed. Universitária, Recife, PE, p.7-38, BEMVENUTI, C. E.; ROSA-FILHO, J. S.; ELLIOTT, M. Changes in soft-bottom macrobenthic Assemblages after a sulphuric acid spill in the Rio grande harbor (RS, Brazil). Brazilian Journal. Biology., v.63 n.2; p , FRENCH, K. R; O DONNELL M. A. Differences in vertebrate infaunal assemblages of constructed and natural tidal in new South Wales, Australia. Estuarine Coastal and Shelf Science.p , 2004.
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