O COMBATE AO TRÁFICO INTERNACIONAL DE MULHERES PARA FINS DE PROSTITUIÇÃO EM RORAIMA
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- Zilda Monteiro Ramires
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1 O COMBATE AO TRÁFICO INTERNACIONAL DE MULHERES PARA FINS DE PROSTITUIÇÃO EM RORAIMA SOUZA, Rodolfo S. G. C.* Departamento de Polícia Federal Resumo: O tráfico de pessoas é considerado, por diversos fatores, uma atividade de baixo risco e alta lucratividade para quem trafica, o que serve de incentivo para que parte do crime organizado mude seu foco de atuação para atuar nesta área. O tráfico de pessoas, portanto, é uma atividade difícil de ser combatida. Por esta razão, se dá importância à informação e à articulação de todas as forças policiais e sociais no seu enfrentamento. Este trabalho visa, justamente, acrescentar e divulgar informações e, ainda, sugerir soluções na repressão a este tipo de crime. PALAVRAS-CHAVE: Tráfico, mulheres, prostituição. INTRODUÇÃO: O tráfico de seres humanos é um fenômeno mundial que ocorre, sobretudo, nos países que passam por crises econômicas e sociais. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho, quase um milhão de pessoas são traficadas no mundo anualmente com a finalidade de exploração sexual, sendo que 98% são mulheres. O tráfico chega a movimentar 32 bilhões de dólares por ano, sendo apontado como uma das atividades criminosas mais lucrativas, ficando atrás apenas das modalidades de tráfico de drogas e de armas. A implantação de uma rede de atendimento fortalecida com servidores bem capacitados e remunerados de diversas disciplinas, é fundamental para que se evite a ocorrência da sub-notificação dos casos de vítimas de tráfico de pessoas, impedindo a sua confusão com casos de abuso e/ou exploração sexual pura e simples ou, ainda, com casos de violência contra a mulher. A adequação da legislação nos moldes preconizados pela Convenção de Palermo e o fortalecimento da presença do Estado nas fronteiras, são outras formas de combater este fenômeno criminológico transnacional. MATERIAL E MÉTODOS: O presente trabalho tem como objetivo analisar, quantificar e comparar a identificação do fenômeno criminológico do tráfico internacional de mulheres para fins de prostituição no Brasil, bem como identificar a rede de atendimento e oferecer sugestões para o aprimoramento do enfrentamento desse crime. Foi coletado pelo autor vasto material entre os anos 2012 e 2016, consistente em relatórios de fontes oficiais de dados estatísticos, vídeos e entrevistas da imprensa nacional e internacional e, ainda, informações da literatura especializada disponível. O autor identificou a legislação vigente e as possíveis alterações legislativas em curso no Congresso Nacional, a atual rede de atendimento disponível no estado de Roraima e a realidade na faixa de fronteira, a fim de ilustrar o quanto ainda há para se fazer referente ao enfrentamento deste complexo crime. A inexistência de rede de atendimento específica para o atendimento das vítimas de tráfico de mulheres em Roraima é inexplicável e sintomática da falta de capacidade do Estado brasileiro em
2 lograr meios capazes de identificar os casos e a partir daí investigá-los. A fronteira leste do Estado com a República Cooperativista da Guiana é ainda pior. A cidade de Bonfim não conta mais com um posto avançado da Polícia Federal (PF), apenas um posto para fins de imigração, ou seja, a PF na cidade apenas desempenha cotidianamente a atividade de polícia administrativa de imigração e não mais o seu papel primordial de polícia judiciária. A Secretaria de Política para as Mulheres (integrante do Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos) promete que até o final do ano inaugurará em Bonfim um centro de atendimento às mulheres em situação de violência. Enquanto isso não acontece, a fronteira com a Guiana continua totalmente desassistida. Em que pese o trabalho social desempenhando pelo Exército Brasileiro através de um Pelotão de Fronteira em Bonfim, a sua atuação se restringe ao patrulhamento ostensivo da fronteira, a um programa de inclusão digital e a atendimentos médicos eventuais. A observação de que as fronteiras com os países vizinhos estão completamente abandonadas não é novidade para os residentes do estado. A fronteira norte, com a Venezuela, embora na teoria possua uma delegacia da Polícia Federal e uma unidade de atendimento própria para mulheres vítimas de violência, não torna o município melhor preparado para o enfrentamento ao tráfico de pessoas. As rotas clandestinas e estradas vicinais que passam por trás dos órgãos oficiais transformam a fiscalização virtualmente impossível, sobretudo em razão do escasso quadro de servidores. RESULTADOS E DISCUSSÃO: A disseminação pela sociedade da existência do tráfico de pessoas e seus crimes correlatos e a conscientização da existência de uma rede de atendimento própria fará com que casos sequer notificados venham à tona e, por outro lado, propiciará ao Estado mecanismos hábeis à coleta de dados e informações sobre o tráfico de pessoas, de forma a diagnosticar futuramente com maior precisão a sua ocorrência no Brasil. Exemplo a ser considerado, refere-se ao diagnóstico realizado no Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas: Consolidação dos dados de 2005 a 2011 e na Metodologia integrada de coleta e análise de dados e informações sobre Tráfico de Pessoas, divulgados na primeira reunião ordinária do Grupo Interministerial de monitoramento e avaliação do II PNETP, constatando-se que nos países desenvolvidos, onde a rede de atendimento ao tráfico de pessoas está bem estabelecida, ocorrem cerca de 70% (setenta por cento) de notificações envolvendo vítimas do tráfico, enquanto que nos países em desenvolvimento o registro cai para, aproximadamente, 30% (trinta por cento) dos casos. A pesquisa diagnosticou que o estado de Roraima não possui rede de atendimento destinada às vítimas de tráfico de seres humanos, qualquer que seja a sua modalidade. Verificouse a existência de uma pequena rede de atendimento para mulheres vítimas de violência em geral, porém, também foi observado que esta rede de atendimento não dispõe de capacitação suficiente para identificar dentre os casos de violência contra as mulheres quais seriam provenientes de tráfico internacional ou interno para fins de exploração sexual. Assim, não surpreende que nas estatísticas oficiais, sempre produzidas por órgãos federais, Roraima figure com um número reduzidíssimo de casos ou sem nenhum caso, como o trabalho do professor Flávio Lirio Corsini também pode apurar. Segundo o Mapa da Violência contra a Mulher (2015) e o Ministério da
3 Justiça (2015), o Brasil registrou, respectivamente, 97 e 254 vítimas de tráfico de pessoas nos anos 2014 e 2013, conforme gráficos abaixo. Tabela 1: Número de casos de violência contra as mulheres no Brasil em 2014 Tabela 2: Casos de vítimas de tráfico de pessoas e crimes conexos em 2013
4 CONCLUSÕES: É importante ressaltar que a dificuldade em enfrentar esse fenômeno transnacional encontra guarida na falta de unificação das legislações que tratam do assunto, pois apesar do Protocolo de Palermo ser hoje o marco norteador das ações a serem adotadas por todos os países signatários, a realidade é que cada país adota uma legislação específica para o assunto, e este quadro legal torna-se muitas vezes uma barreira para o seu enfrentamento. Portanto, dada a transnacionalidade do crime em comento e as variáveis que ele assume, urge a necessidade de se harmonizar o ordenamento jurídico interno de cada país com o vigente no plano internacional, bem como fomentar a cooperação internacional entre todos os países, como forma de combater de maneira unificada o crime de tráfico internacional de pessoas para os seus mais variados fins. Neste sentido, a implantação total do II Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas surge como fundamental para a pretensão do Estado brasileiro que se obrigou internacionalmente a reprimir esta modalidade criminosa que vem assolando tanto mulheres e crianças como o público LGBT com o abuso e a exploração sexual, como todos os gêneros sexuais e faixas etárias para as demais modalidades. AGRADECIMENTOS: Professor Flávio Corsini Lirio, UFRR, por ter gentilmente fornecido cópia de seu trabalho acerca do mapa da violência sexual contra a criança e o adolescente em Boa Vista e em Roraima, permitindo uma análise local mais aproximada do fenômeno criminológico do tráfico internacional de mulheres para fins de prostituição. REFERÊNCIAS: BRASIL. Desafios e perspectivas para o enfrentamento ao tráfico de pessoas no Brasil, Coordenação de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Justiça, BRASIL. Metodologia integrada de coleta e análise de dados e informações sobre Tráfico de Pessoas, Coordenação de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Justiça, BRASIL. II Plano nacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas, Secretaria Nacional de Justiça, Ministério da Justiça, Brasília, BRASIL. Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas: Consolidação dos dados de 2005 a Secretaria Nacional de Justiça, Ministério da Justiça, Brasília, BRASIL. I Plano nacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas, Secretaria Nacional de Justiça, Ministério da Justiça, Brasília, BRASIL. Política nacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas, Ministério da Justiça, Brasília, 2006.
5 BRASIL. Relatório Final de Execução do Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, Secretaria Nacional de Justiça, Ministério da Justiça, GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO. Pesquisa e diagnóstico de tráfico de pessoas para fins de exploração sexual e de trabalho no Estado de Pernambuco, Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Justiça, Secretaria Nacional de Segurança Pública, UNODC, Governo do Estado de Pernambuco, LIRIO, Flávio Corsini. Mapa da violência sexual contra a criança e o adolescente em Boa Vista e Roraima, Centro de Educação/UFRR, WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência Homicídio de mulheres no Brasil, FLACSO Brasil, 1ª Edição Brasília DF, 2015.
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