MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO EM ÁREAS LITORÂNEAS: ANÁLISE DE TÉCNICA ATRAVÉS DE ESTUDO DE CASO
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- Zaira Franca Palha
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1 MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO EM ÁREAS LITORÂNEAS: ANÁLISE DE TÉCNICA ATRAVÉS DE ESTUDO DE CASO Tissiana de Almeida de Souza Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Campus de Rio Claro Cenira Maria Lupinacci da Cunha - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Campus de Rio Claro cenira@rc.unesp.br Resumo: Historicamente, os ambientes litorâneos foram as primeiras áreas ocupadas pelo homem no Brasil e apresentam, nos dias atuais, elevados índices de urbanização. Aliado a este fato, considera-se que tais ambientes apresentam elevada suscetibilidade ambiental em razão de suas características hidrográficas, climáticas, biogeográficas, litológicas e geomorfológicas. Neste contexto se insere a região litorânea do estado de São Paulo, na qual a intensa atividade turística associada à sua fragilidade ambiental demonstra um alto grau de alteração causada pelas atividades antrópicas, que muitas vezes ultrapassa a capacidade de suporte desse ambiente. Para tal análise, os aspectos geomorfológicos são de suma importância por constituírem o substrato sobre o qual tais atividades atuam. Com o objetivo de contribuir com as pesquisas sobre o litoral sul paulista, este trabalho contém um mapa morfográfico na escala 1: , o qual possibilita avaliar os procedimentos técnicos propostos por Tricart (1965) e obter informações sobre o relevo deste setor do litoral. A área de estudo tem início no Porto do Una, no município de Bertioga e se estende até o limite entre os estados de São Paulo e Paraná, marcado pela Barra do Ararapira. Para tanto, a abordagem sistêmica é considerada a mais adequada para o estudo das feições geomorfológicas litorâneas, pois é impossível compreender o relevo sem considerar os fluxos de matéria e energia responsáveis por sua configuração. Como resultados, pretendese obter uma reflexão sobre a legenda elaborada por Tricart (1965) e a análise de seus procedimentos propostos para os estudos litorâneos, visando, dessa forma, na contribuição com as discussões existentes a respeito do litoral e subsidiar, com dados geomorfológicos regionais, futuras pesquisas que visem identificar as fragilidades ambientais dessa área. Palavras-chave: mapeamento geomorfológico; litoral sul paulista; relevo litorâneo. Abstract: Historically, the coastal environments were the first área to be inhabited by humans in Brazil and nowadays it presents both high urbanization rates and a high enviromental susceptibility, because its hydrographic, climate, biogeography, lithological and geomorphological features. The coastline of São Paulo state is inserted in this context, once its intense tourist activity, associated to the environmental fragility, it demonstrate a high level of alterations caused by human activities which, in turn, often exceed the environment capacity. For analise, the geomorphological aspects are importante because constitute the substrate about what this activities work. As a contribution for the studies of the coastline of São Paulo state, this article has a 1: scale morphographic map which, in turn, helps to assess the technical procedure proposed by Tricart (1965) and obtain information about the relief of the coastline of São Paulo state. The study area begins at the Port of Una, in the Bertioga municipal and extends to the boundary between the states of São Paulo and Paraná, marked by the Barra of Ararapira. Taking it into consideration, the systemic approach is considered the most appropriate one to analise coastal geomorphologic features, because it is impossible to comprehend the relief without considering the matter and energy flows which are responsible for this configuration. As a result, it intends to have a reflection on the legend established by Tricart (1965) and analysis of its proposed procedures for coastal studies, and in this way, the contribution to the existing discussions about coastline and support, with geomorphologic regional data, future research aimed at identifying the weaknesses of the environmental area Key-words: geomorphological mapping; the south coastine of São Paulo state; coastal relief. 1.Introdução As regiões litorâneas foram as primeiras áreas ocupadas pelo homem no Brasil, bem como no estado de São Paulo, e apresentam, nos dias atuais elevados índices de urbanização. Segundo Souza e Suguio (1996, citados por Suguio, 2003), durante férias escolares e feriados prolongados, o número de pessoas, no mínimo, duplica, sobretudo na área de Santos. A intensa atividade turística, associada à fragilidade ambiental, gera um alto grau de alteração causada pelas atividades antrópicas, que muitas vezes ultrapassam a capacidade de suporte desse ambiente. Tal fragilidade é dada pelas características hidrográficas, litológicas, biogeográficas, climáticas e geomorfológicas das áreas litorâneas e
2 neste contexto se insere o litoral paulista. Para a análise da qualidade ambiental do litoral, os aspectos geomorfológicos são essenciais, pois constituem o substrato físico sobre o qual as atividades antrópicas atuam. Com o objetivo de contribuir com as pesquisas sobre o litoral sul paulista, este trabalho contém um mapa morfográfico na escala 1: , o qual possibilita avaliar o procedimento técnico proposto por Tricart (1965) e obter informações sobre o relevo deste setor do litoral. A área de estudo deste trabalho tem início na Praia do Una (Município de Bertioga) e se estende até o limite entre os estados de São Paulo e Paraná, marcado pela Barra do Ararapira. 2. Material e Método Para a execução deste trabalho foram utilizados os seguintes materiais: Cartas Topográficas São Paulo e Iguape (Instituto Geográfico e Geológico do Estado de São Paulo, 1954), escala 1: ; Cartas Geológicas Iguape e Cananéia (Suguio e Martin, 1978), escala 1: ; duas imagens ETM+ do satélite Landsat 7, na Banda 4, em branco e preto, passagem de 2000; e levantamentos bibliográficos. A abordagem sistêmica é considerada o método mais adequado para a análise das feições geomorfológicas litorâneas, pois é impossível compreender o relevo sem considerar os fluxos de matéria e energia responsáveis por sua configuração. De acordo com os critérios estabelecidos por Chorley e Kennedy (1971, citados por Christofoletti, 1979), as áreas litorâneas são consideradas sistemas não-isolados abertos, pois trocam matéria e energia com outros sistemas. De acordo com sua complexidade estrutural, são classificadas como sistemas processo-resposta, nos quais a partir das formas não alteradas pelo homem buscam-se os processos geradores; e podem ainda serem classificadas como sistemas controlados, pois o homem quando atuante no litoral modifica seus processos e suas formas, principalmente o relevo. 3.Resultados e Discussões 3.1.Aplicação e Análise da Técnica de Tricart (1965) A carta geomorfológica, segundo Tricart (1965), deve demonstrar a evolução da forma e como ela se encontra na atualidade. Para isso, o autor criou um sistema de símbolos que tenta corresponder à realidade geomorfológica. A figura 1 demonstra o Mapa Geomorfológico do Litoral Sul Paulista com base na proposta de Tricart (1965):
3 Figura 1: Mapa Geomorfológico do Litoral Sul Paulista, baseado na técnica de Tricart (1965). A elaboração do mapa teve início com a digitalização das cartas topográficas e foram obtidos os contornos de linha de costa e de drenagens da área de estudo. A seguir, os contornos foram sobrepostos às imagens de satélite e estas sofreram ajuste para atingirem a escala 1: O próximo procedimento foi a digitalização das cartas geológicas e, em seguida, os dados obtidos foram sobrepostos às imagens de satélite e adaptados à escala de trabalho. Em seguida foram identificadas as feições geomorfológicas e delimitou-se a área de estudo em setores cristalino e sedimentar. Na área sedimentar foram identificados: planície marinha, terraço marinho, acumulação fluvio-marinha, acumulação fluvial, acumulação coluvial. Nas áreas de acumulação fluvial ocorreu ainda a inserção da natureza dos aluviões. Tal preenchimento foi adaptado, já que nestas áreas ocorre a deposição de areia e argila. Esta simbologia acaba provocando redundância de informações, indicando duas vezes as áreas de acumulação fluvial. Em seguida, através da legenda sugerida por Tricart (1965), foram definidas as cores e os preenchimentos para os dois grandes setores. As rochas cristalinas aparecem nas cores laranja e branco, alternadas por traços largos e verticais. As áreas sedimentares
4 aparecem com preenchimentos verticais finos nas cores sépia e branco. Quanto mais próximo o traço sépia, mais consolidado é o terreno. Este uso de tramas permite que o leitor tenha a noção de profundidade, possibilitando perceber as diferenças altimétricas. No entanto, o uso das tramas é difícil de ser visualizado quando as áreas são muito pequenas. O processo seguinte foi a inserção das simbologias. Para rebordo de terraço marinho foram adaptadas duas simbologias rebordo de terraço abrupto e rebordo de terraço suave sendo que todas as transições de terraços marinhos para modelados de acumulação sedimentar de menor altitude foram mapeadas, o que foi considerado eficiente para a escala de trabalho. Para dunas, a simbologia proposta por Tricart (1965) transmite a idéia de sinuosidade e quebra, pois as dunas presentes na área de estudo encontram-se desmanteladas pela ação antrópica. No entanto, para escalas de pouco detalhe, tal símbolo torna-se de difícil visualização. Já a representação de cordões litorâneos proposta por Tricart (1965) dificulta a localização precisa dos cordões e seu tamanho foi considerado grande para a escala de trabalho, acabando por generalizar a localização dessas feições. Convém esclarecer que, se o símbolo fosse desenhado em tamanho menor que o apresentado, seria impossível visualiza-lo em um mapa nesta escala. A simbologia proposta para meandro abandonado, formada por linhas tracejadas, indica abandono. A coloração preta destaca a feição no mapa. Portanto, é uma simbologia adequada à escala de trabalho. O símbolo proposto por Tricart (1965) para escarpa de falha é de difícil visualização, pois tem pouco destaque no mapa. As linhas de cumeada são representadas por traços pontilhados, diferindo de outros traços e sem o problema de serem confundidos com outros traços presentes no mapa. Já o símbolo de falésias rochosas apresentou dúvidas quanto à sua localização. Para melhor representação, considerou-se que o símbolo estivesse dentro dos limites da área cristalina, transmitindo a idéia do processo de erosão constante por ação do mar. Para morros isolados, foi adaptado o símbolo de topos agudos, por ter o tamanho mais adequado à escala de trabalho. Tricart (1965) sugere que as superfícies construídas sejam representadas. Para tal, foi utilizado o preenchimento proposto pelo autor, com linhas pretas diagonais em fundo branco. O autor também sugere simbologias para estradas: nas áreas cristalinas, inseriu-se o símbolo de estradas construídas com corte na vertente e, nas áreas sedimentares, o símbolo de estradas construídas em aterros. Ao representar os modelados gerados pela ação antrópica, o autor considera o homem como um agente acelerador dos processos de esculturação do relevo. A diferenciação entre os tipos de estradas ressalta ainda mais esta idéia. Tricart (1965) criou uma simbologia para mangue, colocando-o como uma forma de acumulação litorânea. Entretanto, conforme as bibliografias consultadas, o mangue não se
5 constitui numa forma geomorfológica e sim em um tipo de vegetação comum nas áreas de acumulação flúviomarinha. Dessa forma, considera-se que a forma de relevo é a planície flúviomarinha e não o mangue como propõe o autor. O último processo foi a confecção da legenda, com base no padrão proposto por Tricart (1965). A legenda proposta pelo autor é composta por detalhamentos e subdivisões que facilitam ao leitor compreender a origem da forma representada pela simbologia. A grande representação da legenda de Tricart (1965) é a inserção do homem como agente atuante na esculturação do relevo, dedicando um item de sua legenda ao modelado antrópico. 4. Conclusões A partir do trabalho realizado foi possível compreender a complexidade da formação do litoral paulista e as dificuldades para estudar este setor do estado. A concepção de Tricart (1965) mostra uma ousadia no detalhamento das feições geomorfológicas, com a proposta de simbologias complexas que tentam demonstrar as feições com a maior proximidade possível da realidade. O fato mais importante de sua legenda é o destaque dado ao modelado antrópico, ou seja, a inclusão do homem como um agente que altera as formas de relevo. Este trabalho teve a intenção de contribuir com as pesquisas a respeito do litoral paulista, um universo de estudo que ainda tem muito a ser explorado. Espera-se ainda que este trabalho estimule o surgimento de novos estudos a respeito não só da área de estudo, como também de todo o litoral do Estado de São Paulo. 5. Referências Bibliográficas CHRISTOFOLETTI, A. Análise de sistemas em geografia. São Paulo: Hucitec, INSTITUTO GEOGRÁFICO E GEOLÓGICO DE SÃO PAULO. Folhas Topográficas de Iguape e de São Paulo. São Paulo, mapas. Escala 1: LANDSAT TM 7. São José dos Campos: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, imagens de satélite. Canal 4. S/Escala. SUGUIO, K.. Tópicos de geociências para o desenvolvimento sustentável: as regiões litorâneas. Geologia USP: Série Didática, v.2, n.1, p Disponível em: < Acesso em: 21 ago SUGUIO, K.; MARTIN, L. Mapas Geológicos do Litoral Paulista: Cananéia e Iguape. São Paulo, mapas. Escala 1: TRICART, J. Principes et Méthodes de la Géomorphologie. Paris: Masson et Cie, 1965.
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