ABORDANDO CONCEITOS DE PARASITOLOGIA COM USO DE RECURSOS MIDIÁTICOS NO ENSINO MÉDIO

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1 ABORDANDO CONCEITOS DE PARASITOLOGIA COM USO DE RECURSOS MIDIÁTICOS NO ENSINO MÉDIO Valfrido Monteiro de Carvalho Junior 1 valfridomcjr@yahoo.com.br Roberta Flávia Ribeiro Rolando 1 robertarolando@cecierj.edu.br Luiz Gustavo Ribeiro Rolando 1,2 gustavor@ioc.fiocruz.br 1. Fundação CECIERJ, Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância, Rua da Ajuda, n 5, 16 andar - Centro CEP: Rio de Janeiro 2. Instituto Oswaldo Cruz - Laboratório Avaliação em Ensino e Filosofia das Biociências, Av. Brasil, Manguinhos, Rio de Janeiro CEP: Introdução O ensino de ciências tem sofrido, nos últimos anos, inúmeras propostas de transformação. As alterações propõem mostrar a ciência como uma área do conhecimento que colabora para a compreensão do mundo e suas transformações, para reconhecer o homem como parte do universo, atuando como indivíduo e cidadão (DELIZOICOV et al, 2002). Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs (BRASIL, 2000), são procedimentos fundamentais, em Ciências Naturais, aqueles que permitem a investigação, a comunicação e o debate de fatos e ideias. A observação, a experimentação, a comparação, o estabelecimento de relações entre fatos ou fenômenos e ideias, a leitura e a escrita de textos informativos, a organização de informações através de desenhos, tabelas, gráficos, esquemas e textos, a proposição de suposições, o confronto entre suposições e entre elas e os dados obtidos por investigação, a proposição e a solução de problemas, são diferentes procedimentos que possibilitam a aprendizagem. Os conteúdos não devem ser tratados como

2 assuntos isolados e sim em blocos temáticos que permitam tratar conteúdos de importância local e fazer conexão entre conteúdos dos diferentes blocos, áreas e temas transversais. Tanto para o ensino fundamental quanto para o ensino médio, os PCNs enfatizam a necessidade da integração dos conteúdos de um mesmo tema ou de áreas diferentes. Assim, o corpo humano deve ser entendido como um todo integrado que interage com o ambiente e que reflete a história de vida do indivíduo. Da mesma forma, o entendimento sobre o funcionamento do corpo e descrição de características das doenças deve estar articulado para possibilitar a aprendizagem efetiva e transformadora de atitudes e hábitos de vida. Doenças decorrentes da poluição, bomba atômica, fome e buraco na camada de ozônio devem ser temas abordados para promoção da saúde e também para preservação do meio ambiente. Um grande número de estudos tem sido realizado para avaliar as diferentes estratégias sobre o processo de ensino e aprendizagem de temas de ciências e Biologia (Santos, 2006; Pereira, 2006; Amadeu, 2007). Além disso, as pesquisas estão se voltando para a produção de material didático e a utilização de tais materiais no ensino de ciências. Tavares (2008) apresentou a utilização de objetos de aprendizagem em ciências como uma estratégia pedagógica consistente com a teoria da aprendizagem significativa. Maior (2008) utilizou a literatura infantil para a inserção de conteúdos de parasitologia no universo infantil, desenvolvendo uma coleção de livros para a segunda infância. Amorin e colaboradores (2003) desenvolveram um jogo educativo para a promoção da saúde e prevenção de doenças parasitárias importantes. O uso de estratégias de ensino que leve o conhecimento sobre doenças parasitárias à população se faz necessário, pois a literatura relata que a classe escolar é uma das mais infectadas por parasitoses (ROCHA et al. 2000; apud OLIVEIRA, 2009), principalmente as crianças economicamente desfavorecidas. Estas vivem em áreas geralmente desprovidas de saneamento básico (PRADO, 2001), em famílias numerosas, condições desfavoráveis de higiene e moradia, áreas de degradação ambiental, (BARBOSA, 2009) e de forma geral, possuem pais/responsáveis com escolaridade inferior a 08 anos de estudo (LIMA, 2007). Deste modo, propõem-se intervenções educativas que devem atender não somente aos estudantes, mas também às suas famílias para a promoção de mudanças comportamentais, fato gerador de parte desta problemática (BARBOSA, 2008), conscientização e melhorias das condições sanitárias através dos órgãos governamentais competentes (MACEDO, 2005; OLIVEIRA, 2004).

3 No campo da parasitologia, as pesquisas se voltam para relatos de experiências em cursos de graduação e cursos técnicos profissionalizantes. Porém, não se encontra relatos de pesquisas sobre o ensino de conteúdos de parasitologia no ensino médio. As dificuldades e deficiências dos alunos nessa área são pouco conhecidas e dessa forma, pouco se pode fazer para criar uma abordagem integrada entre corpo humano, saúde e meio ambiente. Neste sentido, é notória a necessidade de investigar como se dá o processo de ensino e aprendizagem dos conceitos básicos de parasitologia e promover, na escola, intervenções educativas que incentivem a promoção da saúde e prevenção de doenças parasitárias importantes, possibilitando a inserção de ensinamentos básicos sobre formas de contágio e profilaxia dessas doenças. Este estudo teve como objetivo investigar o processo de ensino aprendizagem das doenças infecciosas e parasitárias no ensino médio e propor intervenções educativas na escola para suprir as deficiências encontradas. Metodologia O presente estudo foi realizado no segundo semestre de 2010, em uma escola municipal, localizada em Rio Bonito, Estado do Rio de Janeiro. A abordagem aos estudantes foi feita nas salas de aula por um professor de biologia componente do grupo de pesquisa durante o horário de aula e ocorreu da seguinte maneira: primeiro foram apresentados os objetivos do trabalho, informado quanto ao sigilo das informações fornecidas, explicado sobre o TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e sua assinatura, em seguida foi feito o convite para que os alunos presentes fossem voluntários e distribuição do questionário de forma coletiva em sala de aula. O questionário investigativo foi confeccionado de acordo com os PCNs, objetivando avaliar o conhecimento dos alunos em alguns tópicos relacionados às doenças parasitárias. O questionário continha 10 questões objetivas (ANEXO 1) e foi aplicado, pré-teste, em uma turma de 2º ano, com 67 alunos (turno da tarde), uma turma de 3º ano, com 60 alunos (turno da tarde) e uma turma de 3º ano, com 30 alunos (noturno), totalizando 157 alunos. Tais alunos possuíam as seguintes características: 65% possuíam de anos, 22,3% de anos, 5,1% idade maior ou igual a 25 anos e 7,6% não revelaram a idade. Do total de alunos, 41,4% são do sexo masculino e 58,6% pertencem ao sexo feminino. Os alunos são residentes de Rio Bonito (82,8%), Tanguá (15,9%), Silva Jardim (0,6%) e Itaboraí (0,6%).

4 A partir das deficiências em conteúdos de parasitologia detectadas nos questionários investigativos, foi planejada uma intervenção com utilização de arquivos em Power point, vídeos, imagens e animações em Flash, selecionados a partir do repositório de objetos de aprendizagem TECA ( Esta intervenção foi aplicada em uma aula de dois tempos, 1 hora e 40 minutos de duração em cada turma. Foi apresentado aos alunos os conceitos básicos de parasitologia, incluindo agentes etiológicos, vetores e hospedeiros, ciclos evolutivos, sintomatologia, cortes histológicos de órgãos lesados por parasitoses, profilaxia, educação em saúde e relacionamento dos hábitos do comportamento humano com parasitoses. Após a intervenção, foi aplicado novamente o mesmo questionário, pós-teste (ANEXO 1) para a avaliação da evolução do conhecimento dos alunos sobre os temas de parasitologia selecionados. As respostas dos questionários aplicados foram analisadas e tabuladas no programa Microsoft Office Excel Resultados e discussão Durante cada uma das intervenções, observou-se que os alunos se mantiveram motivados e interessados pelo tema da parasitologia. Os objetos de aprendizagem utilizados facilitaram a visualização dos fenômenos, criando um ambiente favorável para o ensino. Os dados obtidos a partir do estudo foram tabulados e podem ser visualizados no gráfico 1. Figura 1 Acertos pré e pós teste.

5 De forma geral, os alunos tiveram um bom desempenho já no pré-teste, com a maior parte deles, acertando as questões propostas. A análise do pós-teste revelou um aumento no percentual de acertos em oito das dez perguntas realizadas, indicando que as intervenções educativas resultaram em um maior entendimento e conhecimento sobre doenças parasitárias pelos alunos. Algumas questões apresentaram discrepância se comparado com a alternativa correta, o que induz dizer que, tais respostas foram possíveis por confusão entre as doenças e os ciclos evolutivos por parte do aluno. Nossos resultados corroboram com outros estudos que enfatizam a articulação entre informática e educação para um ensino interdisciplinar das disciplinas de ciências e Biologia. Segundo Carvalho Jr. (2009), Oficinas, palestras, encontros e aulas podem ser mais eficazes quando executadas com o auxílio das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), mas isto só se torna viável quando há alteração na prática habitual do ensino (MIRANDA, 2007). Os alunos afirmam se sentirem mais interessados e compreenderem melhor o conteúdo quando ministrados com auxílio do computador (STRADA & ALBANO 2006), porém os mesmos autores constatam que muitos professores sentem-se inseguros quanto à utilização da informática em sala de aula e propõe treinamento para que os docentes utilizem esta ferramenta de apoio no processo de ensino. Deste modo, a formação continuada se faz necessária para os professores de Biologia. É necessário que haja uma maior valorização para o ensino de parasitologia no ensino médio e séries anteriores, visto que são enfermidades que atingem várias classes sociais, principalmente as economicamente desfavorecidas e que os docentes possam integrar em suas aulas recursos tecnológicos como os descritos neste trabalho. Embora não tenha sido realizado um levantamento socioeconômico dos alunos, acreditamos que este levantamento poderia ser correlacionado aos dados desta pesquisa, elucidando motivos de deficiências dos estudantes. Este estudo deverá continuar, a fim de levantar dados socioeconômicos dos alunos envolvidos. Conclusão Concluímos que as intervenções educativas com a utilização de recursos midiáticos, apresentando aos alunos, a temática da parasitologia, seus agentes, vetores e hospedeiros,

6 ciclos, sintomatologia, e profilaxia, foi facilitada principalmente pela possibilidade de visualização que estes recursos oferecem. Estes recursos podem potencializar o ensino da parasitologia, sendo importantes ferramentas para o auxílio do professor de Biologia. O resultado do pós-teste indicou um aumento geral do conhecimento dos alunos. É necessário realizar ajustes na proposta de intervenção no que diz respeito ao entendimento dos ciclos evolutivos das diferentes doenças. ANEXO 1: Questões e Alternativas 1 - Parasito é um tipo de associação entre seres vivos de espécies diferentes onde... a- O parasito obtém benefícios para si mesmo, à custa da matéria viva do hospedeiro, prejudicando-o. b- O parasito se alimenta do resto ou sobras da alimentação de outro animal, sem que isso lhe cause prejuízo. c- O parasito obtém benefícios para si mesmo, à custa da matéria viva do hospedeiro, prejudicando-o. 2 - Das doenças parasitárias abaixo quais são causadas por protozoários? a- Doença de Chagas / Tétano b- Amebiose / Dengue c- Malária / Doença de Chagas 3 - Das doenças abaixo qual pode ser transmitidas através de picada (hematofagia) de inseto? a- Amebiose b- Doença de Chagas c- Tricomoníase 4 - O agente causador da doença de Chagas é... a- Trypanossama cruzi

7 b- Toxoplasma gondii c- Plasmodium vivax 5 - O Plasmodium vivax é causador de qual doença parasitária? a- Esquistossomose b- Malária c- Leishimaniose 6 - Quais das doenças abaixo podem ser adquiridas por via oral? a- Tétano e Malária b- Amebiose e Toxoplasmose c- Dengue e Filariose 7 - Os felinos são os únicos hospedeiros definitivos de qual doença? a- Toxoplasmose b- Amebiose c- Tricomoníase 8 - O caramujo é um importante hospedeiro para o desenvolvimento da larva ciliada, miracídio. Com qual doença ele está relacionado? a- Doença de Chagas b- Dengue c- Esquistossomose 9 - A esquistossomose também é conhecida popularmente por... a- Barriga d'água b- Elefantíase c- Febre terçã 10 - A teníase é caracterizada pela presença de tênias na luz intestinal do indivíduo contaminado. Estas tênias também são conhecidas popularmente como...

8 a- Botão do oriente b- Solitárias c- Calazar Referências Bibliográficas AMADEU, S. G. A contribuição da fala dos alunos na construção do conhecimento em ciências. Dissertação de mestrado. Fiocruz. Rio de Janeiro AMORIN, F. D. B.; AMADOR, D. D.; MARINHO, A. H.; ALMEIDA, R. A.; Aprender e ensinar parasitologia brincando. In: XI Encontro de iniciação à docência da UFPB. Disponível em: MT03-P.pdf. Acessado em 09/05/2009. BARBOSA, R. N. Conhecimentos de escolares frente às parasitoses intestinais. Ciência & Consciência - Vol. 2 (2008). BRASIL. Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias: Parâmetros Curriculares Nacionais - Ensino Médio. Brasília: MEC /SEMTEC, DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J.A.; PERNAMBUCO, M.M. Ensino de Ciências: fundamentos e métodos (Coleção Docência em Formação - Ensino Fundamental). São Paulo: Editora Cortez, p. LIMA, A.M.A. Percepção sobre o conhecimento e profilaxia das zoonoses e posse responsável em pais de alunos do pré-escolar de escolas situadas na comunidade localizada no bairro de Dois Irmãos na Cidade do Recife, PE. Revista Ciência & Saúde Coletiva da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva / ISSN , MACEDO, H.S. Prevalência de Parasitos e Comensais Intestinais em Crianças de Escolas da Rede Pública Municipal de Paracatu (MG). RBAC, vol. 37(4): , 2005 MAIOR, C. M. A. U. S. A literatura infantil na contextualização da parasitologia para a educação em saúde de crianças pequenas. Tese de doutorado. Fiocruz. Rio de Janeiro OLIVEIRA, J. R. E COLS. Produção e utilização de material didático como forma profilática às parasitoses humanas causadas por protozoários e helmintos. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação Universidade do Vale do Paraíba, Disponível em:

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