CARACTERÍSTICAS DA CARCAÇA E COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS CORTES NOBRES DE FRANGOS DE CORTE SUBMETIDOS A PROGRA- MAS DE RESTRIÇÃO ALIMENTAR 1
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- Thiago Bentes Coimbra
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1 28 CARACTERÍSTICAS DA CARCAÇA E COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS CORTES NOBRES DE FRANGOS DE CORTE SUBMETIDOS A PROGRA- MAS DE RESTRIÇÃO ALIMENTAR 1 KELY CRISTINA BASTOS TEIXEIRA RAMOS 2 AUGUSTO VIDAL DA COSTA GOMES 3 ANDRÉ MANTEGAZZA CAMARGO 4 CRISTINA AMORIM RIBEIRO DE LIMA 3 ÉRIKA CRISTINA DIAS DE OLIVEIRA 2 ARLEY ALVES DE OLIVEIRA 4 VINICIUS MACHADO DOS SANTOS 5 PRISCILA DE ANDRADE MASSI 2 1-Parte da Dissertação da primeira autora, apresentada ao PPGZ/UFRRJ 2-Zootecnista, Msc. kcbtr@yahoo.com.br; erikacdo@hotmail.com; prismassi@yahoo.com.br 3-Zootecnista, Professor do Departamento de Nutrição Animal e Pastagens/IZ/UFRRJ - Rod. BR-465, Km CEP Seropédica/RJ - Brasil - vidal@ufrrj.br, criblima@terra.com.br 4-Zootecnista, Aluno do curso de Mestrado em Zootecnia da UFRRJ - Rod. BR-465, Km 47 CEP Seropédica/RJ - Brasil - andremantegazza@gmail.com; tritao28@yahoo.com.br 5-Zootecnista, vmrj12@hotmail.com RESUMO: RAMOS, K. C. B. T.; GOMES, A. V. da C.; CAMARGO, A. M.; LIMA, C. A. Ribeiro; OLIVEIRA, É. C. D.; OLIVEIRA, A. A.; SANTOS, V. M.; MASSI, P. de A. Características da carcaça e composição química dos cortes nobres de frangos de corte submetidos a programas de restrição alimentar. Revista de Ciências da Vida, Seropédica, RJ: EDUR, v. 29, n. 1, jan. - jun., p , O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos dos diferentes programas de restrição alimentar na composição química dos cortes nobres e nas características de carcaça de frangos de corte. Foram utilizadas oito aves por tratamento distribuídas em delineamento inteiramente casualizado. Os programas de restrição alimentar (RA) foram: T1: ração à vontade; T2: RA no 8º dia; T3: RA no 8º e 13º dia; T4: RA no 8º 13º e 18º dia; T5: RA no 8º, 13º, 18º e 23º dia; T6: RA no 8º, 13º, 18º, 23º e 28º dias de idade. A restrição alimentar mais severa que ocorreu nos frangos submetidos a cinco dias de restrição alimentar levou a um menor peso vivo aos 42 dias de idade em relação aos animais alimentados à vontade. No entanto, o rendimento de carcaça, o peso e percentagem das vísceras não foram influenciados pelos programas. O peso da gordura abdominal foi superior nas aves do tratamento 6. Os animais alimentados à vontade depositaram mais gordura intramuscular na coxa e sobrecoxa do que as aves submetidas a cinco dias de restrição. A restrição alimentar mais severa resultou em piora do peso vivo e do peito. Os programas de restrição alimentar avaliados não promoveram redução de gordura na carcaça. Os frangos recebendo alimentação à vontade, depositam mais gordura intramuscular nos cortes da coxa e sobrecoxa. Palavras-Chave: dietas; produção de aves; vísceras ABSTRACT: : RAMOS, K. C. B. T.; GOMES, A. V. da C.; CAMARGO, A. M.; LIMA, C. A. Ribeiro; OLIVEIRA, É. C. D.; OLIVEIRA, A. A.; SANTOS, V. M.; MASSI, P. de A. Carcass characteristics and chemical composition of the noble cuts from broiler chickens submitted to feed restriction programs. Revista de Ciências da Vida, Seropédica, RJ: EDUR, v. 29, n. 1, jan. - jun., p , The objective of this study was to evaluate the effects of the different quantitative feed restriction programs on the chemical composition and carcass characteristics of broiler chickens. Eight chickens per treatment were used and distributed in a completely randomized design. The feed restriction (FR) programs were: T1: ad libitum; T2: FR at 8 th day of age; T3: FR at 8 th and 13 th days of age; T4: FR at 8 th, 13 th and 18 th days of age; T5: FR at 8 th, 13 th, 18 th and 23 th days of age; T6: FR at 8 th, 13 th, 18 th, 23 th and 28 th days of age. The severe feed restriction occuried in the chickens submitted to five days of feed restriction results in smaller than live weight at 42 days of age in relation to the animals fed ad libitum. However, the carcass yield, absolute and relative viscera weights were not influenced by the programs. Abdominal fat relative weight was higher in the chickens of treatment six. The animals fed ad libitum deposited more intramuscular fat in the thigh and drumstick in relation to the birds submitted to five days of feed restriction. The feed restriction affected negatively the live weight, as well as the breast weight. The evaluated feed restriction programs did not promote reduction in the carcass fat deposition. Chickens receiving ad libitum feed deposited more intramuscular fat in the thigh and drumstick. Key Words: diet, birds production, viscera
2 RAMOS, K. C. B. T, et al. 29 INTRODUÇÃO Os avanços nas áreas de melhoramento genético, nutrição, manejo, biosseguridade, entre outros proporcionaram melhoras significativas na produção de frangos de corte, sendo o frango moderno caracterizado por sua alta taxa de crescimento e precocidade. A elevada taxa de crescimento corporal é desejável; entretanto, o avanço no ganho de peso e no consumo de ração intensifica alguns problemas como aumento na deposição de gordura, desordens ósseas e metabólicas, que levam a perdas econômicas. Diversos estudos sobre programas de manejo que restringem o rápido crescimento inicial e os problemas associados têm mostrado que a prática da restrição alimentar é uma proposta a ser explorada. Entretanto, esse manejo deve ser realizado de forma adequada e planejada para que as exigências do mercado consumidor sejam atingidas sem que ocorra diminuição do peso das aves e, consequentemente, do rendimento dos cortes nobres como peito e coxa. A indústria avícola vem buscando tecnologias para produzir aves com menor teor de gordura. Assim, a utilização de programas de restrição alimentar como forma de manejo tem sido pesquisada com o objetivo de melhorar a qualidade da carcaça sem afetar o desempenho zootécnico e econômico da criação (SUGETA et al., 2002). O acúmulo excessivo de gordura na carcaça, em particular a gordura abdominal em linhagens modernas de frangos de corte, tem sido um dos grandes problemas enfrentados pelos produtores. Apesar de ser fisicamente necessária em quantidades moderadas para melhorar as características da carne, parte da gordura depositada é perdida durante a evisceração da carcaça ou processamento da carne, resultando em menor rendimento de carcaça (TOGASHI, 2004). O acúmulo excessivo de gordura na carcaça pode ser prejudicial para o rendimento dos cortes e produtos preparados pela indústria, bem como pode refletir na atratividade do produto frente ao mercado consumidor atual, cada vez mais ávido por alimentos benéficos à saúde. Objetivou-se avaliar neste estudo os efeitos de diferentes programas de restrição alimentar nas características da carcaça e na composição química dos cortes nobres de frangos de corte. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no Departamento de Nutrição Animal e Pastagens do Instituto de Zootecnia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, no município de Seropédica, RJ. O período experimental foi de 24 de julho a 03 de setembro de As médias das temperaturas mínima e máxima registradas foram de 23,5 e 26,3 o C, respectivamente, monitoradas diariamente de manhã e tarde, durante o período experimental. Inicialmente, 264 pintos de corte machos com 1 dia de idade, da linhagem comercial Cobb Avian 48, foram alojados em baterias metálicas com três andares, com cada andar subdividido em dois compartimentos com 0,90 x 0,85 x 0,40m. Cada compartimento foi provido de dois bebedouros e um comedouro tipo calha. As aves foram pesadas após o recebimento e distribuídas nas unidades experimentais (compartimento) de forma que os pesos vivos em cada repetição tivessem valores médios semelhantes (39,92g), alojando-se 11 pintos por compartimento. Do primeiro ao sétimo dia de idade, todas as aves receberam água e ração à vontade. No final do 7 o dia de idade, todas as aves foram pesadas novamente e redistribuídas, tendo em vista a equalização dos pesos corporais entre os tratamentos, sendo retirado 1 animal de cada unidade experimental que apresentasse maior diferença em relação ao peso médio da repetição (160,43g), perfazendo um total de 10 animais por unidade experimental. Os pintos foram vacinados contra as doenças de Marek, Bouba Aviária e Gumboro no incubatório. Aos doze dias de idade, as aves
3 30 foram vacinadas contra doença de Newcastle, amostra La Sota, adicionando-se a vacina à água dos bebedouros. Os frangos foram distribuídos em delineamento experimental inteiramente casualizado, com seis tratamentos (Tabela 1) e quatro repetições. Tabela 1. Tratamentos Tratamento 1 (T1) Tratamento 2 (T2) Tratamento 3 (T3) Tratamento 4 (T4) Tratamento 5 (T5) Tratamento 6 (T6) Tratamentos Ração à vontade As aves submetidas ao tratamento 1 receberam ração e água à vontade, durante todo o período experimental. Os frangos que foram submetidos aos programas de restrição alimentar permaneceram em jejum por um período de 24 horas, com início às 8 horas e término no mesmo horário do dia seguinte, mas tiveram livre acesso à água. Restrição alimentar no 8 dia Restrição alimentar no 8, 13 dia Restrição alimentar no 8, 13, 18 dia Restrição alimentar no 8, 13, 18, 23 dia Restrição alimentar no 8, 13, 18, 23, 28 dia Utilizaram-se quatro tipos de rações (Tabela 2 e 3) que foram formuladas para atender no mínimo às recomendações de Rostagno et al. (2005). Tabela 2. Composição percentual das rações. Ingredientes (%) 1 a 7 dias * 8 a 21 dias 22 a 33 dias 34 a 42 dias Milho 51,990 57,171 60,483 63,596 Farelo de soja 41,215 36,577 33,340 30,365 Óleo de soja 2,701 2,524 2,693 2,831 Fosfato bicálcico 1,946 1,819 1,648 1,491 Calcário calcítico 0,870 0,838 0,790 0,753 Cloreto de sódio 0,510 0,489 0,459 0,434 DL-metionina 0,306 0,197 0,188 0,169 L-lisina HCl 0,207 0,090 0,104 0,119 Suplemento vitamínico 1 0,100 0,100 0,100 0,100 Suplemento mineral 2 0,100 0,100 0,100 0,100 Cloreto de colina 0,042 0,042 0,042 0,042 Promotor de desempenho 3 0,013 0,013 0, Coccidiostático ,040 0, Total * Período não experimental 1 Níveis de garantia por kg de produto: Suplemento vitamínico inicial: Vitamina A UI, Vitamina D , Vitamina E mg, Vitamina K mg, Vitamina B mg, Vitamina B mg, Vitamina B mg, Vitamina B mcg, Niacina mg, Ac. Pantotênico mg, Biotina 110mg, Ac. Fólico mg, antioxidante 500mg, Suplemento vitamínico final: Vitamina A UI, Vitamina D , Vitamina E mg, Vitamina K mg, Vitamina B mg, Vitamina B mg, Vitamina B mg, Vitamina B mcg, Niacina mg, Ac. Pantotênico mg, Biotina 25mg, Ac. Fólico 500 mg, 2 Níveis de garantia por kg de produto: Selênio 250 mg, Manganês mg, Zinco mg, Ferro , Cobre mg, Iodo mg, Cobalto 200 mg. 3 Colistina 8% 4 Semduramicina 5g
4 RAMOS, K. C. B. T, et al. 31 Tabela 3. Composição química calculada das rações. Nutrientes 1 a 7 dias * 8 a 21 dias 22 a 33 dias 34 a 42 dias Energia metabolizável (kcal/kg/ms) Proteína bruta (%) 23,21 21,30 20,08 18,95 Cálcio (%) 0,931 0,878 0,810 0,751 Fósforo disponível (%) 0,466 0,439 0,405 0,374 Sódio (%) 0,221 0,213 0,201 0,191 Lisina (%) 1,435 1,227 1,157 1,094 Metionina (%) 0,655 0,526 0,502 0,469 Metionina+Cistina (%) 1,019 0,871 0,833 0,788 Treonina (%) 0,900 0,834 0,787 0,744 Triptofano (%) 0,287 0,261 0,243 0,226 Ácido linoleico (%) 2,7481 2,719 2,769 2,877 * Período não experimental Aos 42 dias de idade, as aves foram submetidas a jejum de sólidos por oito horas. Para avaliação das características da carcaça e composição química dos cortes, foram retiradas duas aves por unidade experimental com peso médio do grupo, sendo 8 aves por tratamento e totalizando 48 aves. As aves foram pesadas individualmente, identificadas e sacrificadas por deslocamento cervical. Posteriormente foram sangradas, escaldadas a 54 o C por 2 minutos, depenadas mecanicamente, evisceradas, sendo retirados a cabeça, o pescoço e os pés. Após serem lavadas, as carcaças foram dependuradas por 5 minutos para eliminação do excesso de água. As carcaças foram pesadas para avaliação do peso da carcaça quente. Em seguida, foram embaladas em sacos plásticos previamente identificados e mantidas resfriadas por 1 hora em água com gelo. Após esse período, foram transferidas para câmara fria a 5 o C por período de 24 horas. Posteriormente, as carcaças foram pesadas individualmente para determinação do peso da carcaça resfriada, realização dos cortes (peito, coxa, sobrecoxa, dorso e asa) e pesagem dos mesmos. Os cortes nobres (peito, coxa e sobrecoxa) foram embalados individualmente em sacos plásticos, identificados e congelados a uma temperatura média de -10 o C para posteriores análises químicas. O rendimento de carcaça (%) foi obtido pela relação entre o peso da carcaça resfriada (sem pés, cabeça e pescoço) e o peso vivo após o jejum. O rendimento dos cortes (%) foi obtido pela relação entre o peso desses cortes e o da carcaça resfriada. Foram avaliados os pesos (g) da gordura abdominal, do intestino e das vísceras comestíveis (coração, fígado e moela). Os pesos relativos foram expressos em percentual e calculados a partir dos respectivos pesos absolutos em relação ao peso da carcaça resfriada. A moela foi aberta; o conteúdo, removido com papel toalha seco, obtendo-se seu peso após esse procedimento. O coração e fígado foram removidos e pesados. Para obtenção do peso do intestino, inicialmente foi retirado todo conteúdo intestinal através da compressão dos dedos da porção proximal até a distal, em seguida computado o peso. A gordura abdominal foi considerada como a parte constituída por todo tecido adiposo aderido ao redor da cloaca, da Bursa de Fabrícius e dos músculos abdominais adjacentes e da periferia da moela. As análises químicas dos cortes nobres foram realizadas no Laboratório de Análises Bromatológicas do Instituto de
5 32 Zootecnia da UFRRJ. Para preparo das amostras e a realização das análises químicas, os cortes foram descongelados em geladeira, as peles retiradas e as amostras de carne foram cortadas, separadas dos ossos, retirando-se com cuidado todo tecido aderido. Posteriormente, foram moídos em processador doméstico e homogeneizados. As amostras foram previamente secas em estufa ventilada a 55ºC por 24 horas para obtenção da matéria seca (MS) em estufa a 105ºC. As análises de proteína bruta (PB) e extrato etéreo (EE) foram realizadas de acordo com a metodologia descrita por Silva & Queiroz (2004). Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância, utilizando-se o programa Statistical Analyses System - SAS (2000) e as médias dos tratamentos comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. Utilizou-se o seguinte modelo: y m t e ij i ij onde: y ij é a i-ésima observação referente a j- ésima repetição, j= 1, 2, 3 e 4; m é a média geral; t i é o efeito referente ao i-ésimo tratamento, i= 1, 2, 3, 4, 5 e 6; e ij é o erro experimental suposto homocedástico, independente e normalmente distribuído. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos do peso e rendimento da carcaça, peito, coxas, sobrecoxas, dorso e asas estão apresentados na Tabela 4. O rendimento de carcaça se refere à carcaça sem pés, sem cabeça e sem vísceras comestíveis. Tabela 4. Peso vivo pós jejum, peso e rendimento das carcaças e dos cortes (peito, coxas, sobrecoxas, dorso e asas) de frangos de corte submetidos a programas de restrição alimentar. Variáveis Tratamentos Média CV (%) Peso (g) Peso Vivo a 2710a 2702ab 2676ab 2614ab 2524b ,78 Carcaça Quente Carcaça Resfriada 1960a 1958a 1950a 1900a 1869a 1814a , a 1954a 1947a 1893a 1866a 1808a ,49 Peito 708a 696a 707a 638ab 667ab 606b 670 5,36 Coxas 333a 336a 331a 331a 325a 305a 327 5,68 Sobrecoxas 311a 309a 296a 297a 292a 295a 300 4,55 Dorso 394a 376a 384a 387a 351a 357a 375 6,66 Asas 198a 204a 196a 204a 196a 205a 201 5,00 Rendimentos (%) Carcaça 70,01a 70,24a 70,78a 70,00a 70,05a 70,36a 70,24 1,53 Peito 36,17ab 35,59abc 36,32a 33,71bc 35,75abc 33,53c 35,18 3,29 Coxas 17,02a 17,19a 16,99a 17,46a 17,41a 16,87a 17,16 4,32 Sobrecoxas 15,93a 15,79a 15,20a 15,72a 15,60a 16,34a 15,76 4,15 Dorso 20,10a 19,23a 19,70a 20,46a 18,89a 19,78a 19,69 5,55 Asas 10,11b 10,46ab 10,05b 10,78ab 10,53ab 11,1a 10,51 4,76 Médias seguidas da mesma letra na linha não diferem pelo teste de Tukey (P>0,05).
6 RAMOS, K. C. B. T, et al. 33 Pode ser observado que o peso vivo ao abate das aves submetidas a 1, 2, 3 e 4 dias de restrição alimentar não diferiram (P>0,05) do peso dos frangos dos sem restrição alimentar. No entanto, a restrição alimentar mais severa que foi imposta no 8, 13, 18, 23 e 28 dia, causou redução no peso vivo (2524g) aos 42 dias de idade. Da mesma forma, Lana et al. (2000) ao estudarem a restrição alimentar sobre o desempenho e a composição da carcaça de frangos de corte, observaram que os animais que receberam ração à vontade e os que foram submetidos a dois dias de restrição (8º e no 10º dia de idade) não apresentaram diferenças no peso ao abate. No entanto, os frangos que foram submetidos a programas de restrição alimentar mais severos apresentaram pesos inferiores. Discordando dos resultados deste trabalho, Leone et al. (2001) avaliaram a influencia da restrição alimentar proteica e energética e não observaram diferença no peso vivo das aves aos 42 dias de idade. Com relação ao peso da carcaça quente e da carcaça resfriada, não houve diferença (P>0,05) entre os programas de restrição alimentar, sendo as médias de 1909g e 1904g, respectivamente. Esses resultados estão de acordo com o observado por Camacho et al. (2004) que não observaram influência significativa no peso da carcaça de frangos de corte submetidos a diferentes programas de restrição alimentar e a carcaça de frangos alimentados à vontade. No entanto, esses resultados não estão de acordo com os citados por Zubair & Leeson (1994), Figueiredo et al. (1998), Lana et al. (1999),Urdaneta-Rincon & Leeson (2002) e Togashi (2004) que observaram que as aves que tiveram livre acesso à ração apresentaram pesos de carcaça superiores aos dos frangos submetidos à restrição alimentar. Sugeta et al. (2002) relataram que frangos com restrição alimentar de 30% responderam de forma semelhante aos animais que receberam ração à vontade. No entanto, os frangos com restrição alimentar de 70% tiveram peso de carcaça significativamente inferior. O peso do peito foi influenciado (P<0,05) pelos programas de restrição alimentar adotados. As aves alimentadas à vontade, as submetidas a 1 dia e as submetidas a 2 dias de restrição alimentar (tratamentos 1, 2 e 3, respectivamente) apresentaram maiores pesos de peito (P<0,05) quando comparados aos frangos submetidos a 5 dias de restrição (tratamento 6), de 708, 696 e 707 e 606g, respectivamente. O peito é considerado um dos cortes mais nobres do frango, tendo maior valor econômico, sendo que neste estudo o tratamento com maior número de dias de restrições resultou em perda de 102g de peso de peito em relação aos frangos do sem restrição alimentar. Urdaneta-Rincon & Leeson (2002) e Togashi (2004) observaram que o peso do peito das aves que foram alimentadas à vontade foi superior ao de aves que tiveram acesso restrito a ração. Entretanto, Albanez et al. (2000), Lana et al. (2000) e Camacho et al. (2004) não observaram influência dos programas de restrição alimentar sobre os pesos médios do peito. Avaliando o peso da coxa, sobrecoxa, dorso e asa, não se observou diferença significativa entre os tratamentos estudados (1, 2, 3, 4, 5 e 6), sendo as médias para esses cortes de 327, 300, 375 e 201g, respectivamente. Estes resultados estão de acordo com os resultados citados por Albanez et al. (2000) que não encontraram diferença significativa dos pesos da coxa e sobrecoxa de aves com ou sem restrição alimentar. Da mesma forma, Urdaneta-Rincon e Leeson (2002), ao avaliarem a restrição alimentar quantitativa nas características de crescimento de frangos de corte machos, não observaram diferenças do peso da coxa dos animais submetidos aos programas de restrição alimentar. No entanto, Togashi (2004) observou valores significativamente superiores dos pesos das coxas e das sobrecoxas dos frangos alimentados à vontade em relação aos submetidos ao diferentes programas de restrição.
7 34 O rendimento da carcaça não foi influenciado (P>0,05) pelos programas de restrição alimentar estudados, tendo sido observado o valor médio de 70,24%. Da mesma forma, não se observou influência dos programas de restrição sobre os rendimentos de coxa, sobrecoxa e dorso. Esses resultados são semelhantes aos observados por Longo et al. (1999), Albanez et al. (2000), Lana et al. (2000) e Lee & Leeson (2001). Contudo, Togashi (2004) citou maiores valores dos rendimentos de coxa e sobrecoxa dos animais que tiveram livre acesso à alimentação. Quanto ao rendimento do peito, foram observadas diferenças (P<0,05) entre os programas de restrição estudados. Esse resultado não está de acordo com Zubair & Leeson (1994), Lana et al. (1999) e Albanez et al. (2000) que não observaram diferenças no rendimento do peito em estudos de restrição alimentar. Por outro lado, Lee e Leeson (2001) e Togashi (2004) citam valores superiores para rendimento do peito dos frangos que foram alimentados à vontade. Analisando o rendimento de asa, verificou-se que os frangos submetidos a maior número de dias de restrição alimentar (8, 13, 18, 23, 28 dia) apresentaram maior percentagem de asa (P<0,05), entretanto, isso está mais relacionado ao menor peso vivo pós jejum dos frangos desse tratamento do que ao peso das asas. Os frangos dos tratamentos submetidos a 1, 3 e a 4 dias de restrição alimentar apresentaram valores intermediários do rendimento de asa e não diferiram (P>0,05) dos demais. Os resultados dos pesos e percentagens do coração, fígado, moela, intestino e gordura abdominal em relação ao programa de restrição alimentar, encontram-se na Tabela 5. Tabela 5. Peso e percentagem das vísceras (coração, fígado, moela), do intestino e da gordura abdominal de frangos de corte submetidos a diferentes programas de restrição alimentar. Variáveis Tratamento Peso (g) Médias Coração 12,53a 13,76a 12,91a 13,05a 13,42a 12,90a 13,10 7,94 Fígado 43,43a 49,02a 44,45a 45,62a 47,72a 47,88a 46,35 8,85 Moela 30,81a 29,37a 29,41a 32,35a 30,79a 29,74a 30,41 8,11 Intestino 99,01a 105,59a 99,88a 97,51a 104,16a 106,93a 102,18 5,83 Gordura abdominal CV (%) 33,86a 39,50a 35,38a 42,31a 44,16a 48,70a 40,65 20,16 Percentagem (%) Coração 0,64a 0,70a 0,66a 0,69a 0,72a 0,71a 0,69 7,93 Fígado 2,22a 2,51a 2,29a 2,41a 2,57a 2,65a 2,44 8,85 Moela 1,57a 1,50a 1,51a 1,71a 1,65a 1,65a 1,60 8,11 Intestino 5,07a 5,41a 5,15a 5,16a 5,60a 5,91a 5,38 10,61 Gordura abdominal 1,73b 2,02ab 1,82ab 2,23ab 2,36ab 2,69a 2,14 18,84 Médias seguidas da mesma letra na linha não diferem pelo teste de Tukey (P>0,05)
8 RAMOS, K. C. B. T, et al. 35 Os pesos e percentagens do coração, fígado, moela e intestinos não foram influenciados (P>0,05) pelos programas de restrição alimentar estudados. Da mesma forma, Longo et al. (1999) e Furlan et al. (2001, 2002) não verificaram diferença significativa nos pesos das vísceras. A nutrição e os programas alimentares podem gerar mudanças no perfil do crescimento do trato digestivo (MACARI et al, 2002). Longo et al. (1999), ao avaliarem os efeitos da restrição alimentar qualitativa sobre as características do trato gastrintestinal de frangos de corte, não observaram diferença significativa do peso do intestino. Sugeta et al. (2002) citam que o peso do intestino foi afetado pela restrição alimentar mais severa (70%), no entanto, os autores também não observaram diferenças significativas desta variável quando compararam a restrição de 30% do consumo diário em relação às aves que receberam alimentação à vontade. Quanto à gordura abdominal, não foi observado efeito significativo dos programas de restrição alimentar sobre o peso, todavia a percentagem dessa variável diferiu (P<0,05), tendo sido observado maior deposição de gordura nos frangos submetidos a maior número de dias de restrição alimentar (2,14%), e uma menor deposição de gordura nos animais alimentados à vontade (1,73%). Observa-se, portanto, que a deposição de gordura abdominal, um fator indesejável, foi acentuada com a restrição alimentar e sua severidade. Aparentemente, os frangos que receberam ração durante todo período experimental conseguiram ingerir os níveis diários adequados de nutrientes e os utilizaram de forma eficaz para síntese e a deposição de proteína corporal, enquanto os frangos que foram submetidos à restrição alimentar apresentaram consumo compensatório de ração nos dias sem restrição, mas canalizaram parte da energia da dieta para síntese de gordura, talvez por terem atingido a máxima deposição de proteína corporal no período. Esse efeito foi descrito por diversos autores, que ao estudarem os diferentes programas de restrição alimentar não observaram diferenças significativas nos pesos de gordura abdominal (SUMMER et al., 1990; LEESON et al., 1991; YU & ROBINSON et al., 1992; LEESON & ZUBAIR, 1997; LEE e LEESON, 2001; URDANETA-RINCON e LEESON, 2002; CAMACHO et al., 2004). Segundo Jones & Farrel (1992), o sucesso da restrição alimentar na recuperação do peso corporal e no decréscimo da gordura da carcaça estaria associado a um balanço negativo de energia e positivo de nitrogênio durante a fase de restrição. O teor de gordura da carcaça de frangos foi superior nos frangos submetidos à restrição alimentar nos estudos de Sugeta et al. (2002) e Furlan et al. (2002). No entanto, Albanez et al. (2000) e Lana et al. (2000) não observaram influência da restrição alimentar nos teores de gordura abdominal Os teores de matéria seca, proteína bruta e extrato etéreo do peito, coxa e sobrecoxa da carcaça de frangos submetidos aos diferentes programas de restrição alimentar estão apresentados na Tabela 6.
9 36 Tabela 6. Valores percentuais de matéria seca, proteína bruta e extrato etéreo dos cortes (peito, coxa e sobrecoxa) de acordo com os programas de restrição alimentar. Matéria Seca (%) Proteína Bruta (%) Extrato Etéreo Tratamentos Cortes CV Peito 24,18a 24,03a 24,34a 23,96a 23,51a 23,95a 1,88 Coxa 21,53a 21,36a 21,13a 21,22a 21,69a 21,05a 3,84 Sobrecoxa 26,44a 23,36b 23,01b 22,67b 23,77ab 23,75ab 5,15 Peito 58,84a 60,24a 59,98a 58,40a 58,36a 60,16a 2,28 Coxa 52,11ab 53,91a 53,96a 50,70b 52,61ab 53,78a 1,63 Sobrecoxa 47,79b 50,36ab 52,14a 50,11ab 48,50b 50,03ab 2,78 Peito 4,93a 5,69a 4,03a 3,44a 4,26a 3,18a 26,78 Coxa 15,20a 14,14ab 13,21ab 14,74ab 13,61ab 12,17b 8,34 (%) Sobrecoxa 22,01a 19,43ab 16,88b 16,41b 17,91b 18,31ab 9,50 Médias seguidas da mesma letra na linha não diferem pelo teste de Tukey (P>0,05) Não houve influência (P>0,05) da restrição alimentar nos teores de matéria seca, proteína bruta e extrato etéreo do peito. Os teores de proteína bruta do peito observado neste estudo está em acordo com observações de Togashi (2004). Vargas Júnior et al. (1999) e Lana et al. (2000) não observaram diferença significativa dos teores de proteína na carcaça devido aos diferentes programas de restrição alimentar utilizados. Quanto à coxa, a restrição alimentar não influenciou (P>0,05) os teores de matéria seca. Entretanto, os teores de proteína bruta foram superiores (P<0,05) nos tratamentos 2, 3 e 6 quando comparados ao tratamento 4, de 53,91, 53,96, 53,78 e 50,70%, respectivamente. Com relação ao teor de extrato etéreo da coxa, as aves alimentadas à vontade apresentaram valores significativamente superiores aos frangos que foram submetidos a cinco dias de restrição alimentar de 15,20 e 12,17%, respectivamente. Esse fato indica que as aves submetidas à restrição alimentar mais intensa apresentaram menor conteúdo de extrato etéreo na coxa. Os teores de matéria seca da sobrecoxa foram significativamente maiores nas aves alimentadas à vontade em relação aos animais submetidos a 1, 2 e 3 dias de restrição alimentar que foram de 26,44, 23,36, 23,01 e 22,67%, respectivamente. O teor de proteína bruta da sobrecoxa do tratamento 3 foi superior (P<0,05) em comparação com os tratamentos 1 e 5 de 52,14, 47,79 e 48,50%, respectivamente. Os frangos alimentados à vontade apresentaram teor de extrato etéreo da sobrecoxa estatisticamente superior aos dos tratamentos 3, 4 e 5 (22,01, 16,88, 16,41 e 17,91%, respectivamente). Observa-se que os frangos que receberam ração à vontade durante todo período experimental tenderam a depositar mais gordura intramuscular na coxa e na sobrecoxa, dois cortes muito valorizados no processamento e comercialização de carne de aves. Togashi (2004) não observou diferenças significativas do teor do extrato etéreo da coxa e sobrecoxa ao estudar diferentes programas de restrição alimentar.
10 RAMOS, K. C. B. T, et al. 37 CONCLUSÃO A restrição alimentar mais severa resultou em piora do peso vivo e do peito. Os programas de restrição alimentar avaliados não promoveram redução de gordura na carcaça. Os frangos recebendo alimentação à vontade depositam mais gordura intramuscular nos cortes da coxa e sobrecoxa. REFERÊNCIAS ALBANEZ, J.R.; FONSECA, J.B.; SILVA, M.A. et al. Efeito da restrição alimentar sobre o desempenho produtivo e a qualidade da carcaça de frangos de corte. Revista Brasileira de Zootecnia, v.26, n.6, p , CAMACHO, M.A.; SUÁREZ, M.E.; HERRERA, J.G. et al. Effect of age of feed restriction and microelement supplementation to control ascites on production and carcass characteristics of broilers. Poultry Science, v.83, n.2, p , FIGUEIREDO, A.C.S; SOARES, P.R.; ALBINO, L.F.T. et al. Desempenho, rendimento de carcaça e avaliação econômica de diferentes programas de restrição alimentar em frangos de corte. Revista Brasileira de Zootecnia, v.27, n.3, p , FURLAN, R.L.; CARVALHO, N.C.; MALHEIROS, E.B. et al. Efeito da restrição alimentar inicial e da temperatura ambiente sobre o desenvolvimento de vísceras e ganho compensatório em frangos de corte. Arquivos Brasileiros de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.53, n.4, p.1-7,2001. FURLAN, R.L.; MACHADO, J.G.C.F; GIACHETTO, P.F. et al. Desempenho e composição de carcaça de frangos submetidos a diferentes períodos de arraçoamento. Revista Brasileira de Zootecnia, v.31, n.6, p , JONES, G.P.D.; FARREL, D.J. Early-life food restriction of broiler chickens. II. Effects of food restrictions on the development of fat tissue. British Poultry Science, v.33, n.3, p , LANA, G.R.Q.; ROSTAGNO, H.S.; DONZELE, J.L. et al. Efeito de programas alimentares sobre o desempenho produtivo e econômico e a deposição de gordura nas carcaças de frangos de corte. Revista Brasileira de Zootecnia, v.28, n.6, p , LANA, G.R.Q.; ROSTAGNO, H.S.; ALBINO, L.F.T. et al. Efeito da temperatura ambiente e da restrição alimentar sobre o desempenho e a composição da carcaça de frangos de corte. Revista Brasileira de Zootecnia, v.29, n.4, p , LEE, K.H.; LEESON, S. Performance of broilers fed limited quantities of feed or nutrients during seven to fourteen days of age. Poultry Science, v.80, p , LEENSON, S.; SUMMERS, J.D.; CASTON, L.J. Diet dilution and compensatory growth in broilers. Poultry Science, v.70, p , LEESON, S.; ZUBAIR, A.K. Nutrition of the broiler chicken around the period of compensatory growth. Poultry Science, v.76, p , LEONE, E.R; BERNAL, F.E.M, FURLAN, R.L. et al. Efeitos da restrição alimentar protéica ou energética sobre o crescimento de frangos de corte criados em diferentes temperaturas ambiente. Revista Brasileira de Zootecnia, v.30, n.3, p , LONGO, F.A.; SAKOMURA, N.K.; BENATTI, M.R.B. et al. Efeito da restrição alimentar qualitativa precoce sobre o desempenho, as características do trato gastrintestinal e a carcaça de frangos de corte. Revista Bra-
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