ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO TIBAGI/PARANÁ

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1 43 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO TIBAGI/PARANÁ CARVALHO, Silvia Méri 1 KRAVUTSCHKE, Angelita Czezacki Introdução A normativa das águas no Brasil é a Lei de 1997 que traz em sua estrutura o Sistema Nacional de Recursos Hídricos (SINGREH). Dentre os princípios ou fundamentos que a lei das águas se refere, um deles passa a ter maior relevância, que é a gestão descentralizada e participativa (SOUZA JUNIOR, 2004). Esse sistema atribui a entes a responsabilidade de sua realização. Uma figura destacável por sua particular caracterização é o Comitê de Bacia Hidrográfica, que é um órgão com poder deliberativo, responsável por tomadas de decisão sobre a gestão de recursos hídricos em sua área de atuação, constituídos de forma tripartite, ou seja, por representantes dos setores interessados pela gestão da água, como Poder Público, Usuários e Sociedade Civil. Os Comitês, como uma forma de instituições executoras dos planos de gestão das águas, necessitam ser conhecidos e esses temas são singulares, recentes e tão essenciais para a gestão da água. Estudos que abordem a estruturação e funcionamento do Comitê permitem um maior estímulo para compreensão do processo de gestão da Bacia como um todo, de forma integrada. Nesta linha alguns autores tem buscado discutir a efetiva representatividade dos três segmentos no Comitê demonstrando que o atual modelo não contempla os diferentes grupos sociais de usuários diferenciados. O Comitê de bacia, alvo deste trabalho, é o Comitê do Rio Tibagi, no Paraná, criado em 2002, como parte do Sistema Estadual e Nacional de Recursos Hídricos e da Política de Recursos Hídricos vigente. O Estado do Paraná foi uma das unidades da federação que mais tardou na aprovação de sua Lei Estadual de Recursos Hídricos como sistema descentralizado para gestão de recursos hídricos. Com a aprovação da Lei de 26 de novembro de 1999, ficou instituído a Política Estadual e criado o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos no Paraná. Atualmente o Paraná está dividido em 16 bacias hidrográficas e possui 11 Comitês instalados (figura 1). Objetivo Apresentar a estruturação e o funcionamento do Comitê de Bacia do Rio Tibagi, no Paraná a partir dos fundamentos legais. Metodologia O levantamento foi feito a partir de estudos bibliográficos e análise documental, com base nas atas do Comitê da Bacia do Rio Tibagi. A coleta de dados ocorreu a partir da consulta de 11 atas da mesa diretora provisória e 27 atas do Comitê da Bacia do Rio Tibagi e 1 Orientadora

2 44 visitas ao escritório regional do Instituto de Aguas do Paraná denominado Aguasparaná com sede em Curitiba, em 7 de agosto de 2015 e à secretaria do Comitê na Gerência de Bacias, função exercida pela Aguasparaná situada em Londrina, em 4 de setembro de Figura 1: Comitês de Bacias Instalados no Estado do Paraná. Fonte: (AGUASPARANÁ, 2015) Resultados e Discussões Para a criação do Comitê do Rio Tibagi a bacia foi considerada na integralidade. A Bacia do Tibagi teve a divisão em alto Tibagi e baixo Tibagi para fins de unidade hidrográfica e de gerenciamento conforme Resolução nº 49 de 20 de dezembro de 2006 do Conselho Estadual de Recursos Hídricos, que instituiu as doze Unidades Hidrográficas do Estado do Paraná. A bacia do Rio Tibagi tem como maior contribuinte o rio Tibagi com 550 quilômetros de extensão, 91 saltos e cachoeiras, com sua nascente localizada na Serra das Almas, na Escarpa Devoniana entre os municípios de Ponta Grossa e Palmeira, a metros de altitude e desaguando no reservatório da Usina Hidrelétrica de Capivara no Rio Paranapanema, a 298m de altitude (PARANÁ, 2013). Abrange integralmente ou parcialmente cinquenta e três (53) municípios: conforme demonstrado na figura 2. É uma bacia extensa com uma área ,4 Km² cerca de 13% da área do Estado, e abrange uma população de habitantes em torno de 16% do total do Estado. (PLANO, 2013). As etapas do processo de instalação do Comitê da Bacia do Tibagi aconteceram conforme a Lei de 26 de novembro de 1999 para composição dos Comitês de Bacia Hidrográfica para o Estado do Paraná e contemplaram as seguintes fases: preparatória, divulgação e mobilização, inscrição e habilitação, eleição de diretoria e posse dos membros.

3 45 Figura 2 Municípios que compõe o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Tibagi/Pr Fonte:(AGUASPARANÁ, 2015) A mesa provisória teve a incumbência de promover o chamamento dos membros que comporiam o Comitê efetivo. Foi composta uma mesa com representantes de prefeituras, governo estadual e usuários conforme resolução n.05 CERH/PR de 4 dezembro de 2001 em que a presidência interina ficou a cargo da prefeitura de Ibiporã e a secretaria geral ao município de Ortigueira. Dia 28 de janeiro de 2002, quando ocorreu a instalação do Comitê, até 26 de abril de 2002, aconteceram onze reuniões com fins de exposição sobre a estrutura da política estadual, fundamentos do Comitê do Tibagi e da intenção de preenchimento das vagas dentro dos segmentos tripartites estruturados. Em 6 de Maio de 2002, foi enviado ao Conselho Estadual, um rol de quatorze documentos pela mesa provisória, que embasaram o pedido do ofício 20/01 do Consórcio do Rio Tibagi COPATI, requerendo a criação do Comitê de Bacia, que culminaria no Decreto nº 5.790, de 13 de janeiro de O COPATI foi criado em 1989 como um grupo gestor formado por instituições do poder público municipal para gestão da água dos municípios da bacia. Em 1997 a alteração dos estatutos permitiu a participação de usuários e sociedade civil na realizar a gestão da água e de requerer a instauração do processo de criação do Comitê. Em 2002 o Consórcio tinha o interesse de se transformar em Agência de aguas para realizar a gerencia do Comitê, mas isso não ocorreu e e essa gerência do Comitê acabou ficando a cargo da Aguasparaná, que é um segmento do governo do Estado. Assim, após participar da criação do Comitê, ajustou seus

4 46 estatutos para a qualificação da titulação de OSCIP, e continuou atuando como modelo de pessoa jurídica representante da Sociedade civil. A forma de estruturação do Comitê está estabelecida no artigo 36 da Lei Estadual nº /99. O artigo cita que os Comitês terão no mínimo, dez e no máximo 40 membros observados os seguintes limites de até dois quintos de representantes do Poder Executivo da União, Estados e Municípios; até dois quintos de representantes de usuários de recursos hídricos; no mínimo um quinto de representantes de entidades da sociedade civil com atuação regional relacionada a recursos hídricos. O Comitê do Tibagi está formado por representantes de 40% de Usuários, 35% de membros do poder público e 25% de sociedade civil. (PARANA, 2013). Comitê da Bacia do Rio Tibagi, conforme Lei que o instituiu e no artigo 5º. do Regimento interno, está descrito sua composição por 40 (quarenta) membros titulares e respectivos, 40 (quarenta) suplentes, sendo 14 (quatorze) representantes do Poder Público, 16 (dezesseis) representantes dos Setores Usuários de Recursos Hídricos e 10 (dez) representantes da Sociedade Civil, assim distribuídos: I Representantes do Poder Público: União: 1 (um); Estado: 4 (quatro); Municípios: 9 (nove); II Representantes dos Setores Usuários: Abastecimento de água e diluição de efluentes urbanos: 5 (cinco); Hidroeletricidade: 2 (dois); Captação industrial e diluição de efluentes industriais: 4 (quatro); Agropecuária e irrigação, inclusive piscicultura: 2 (dois); Drenagem e resíduos sólidos urbanos: 2 (dois); Lazer, recreação e outros usos não consuntivos: 1 (um); III - Representantes da Sociedade Civil: Organizações não governamentais: 2 (dois); Entidades de ensino e pesquisa: 3 (três); Entidades técnico profissionais: 4 (quatro); Conselho Indígena: 1 (um). A Sociedade civil sofreu uma alteração tendo ganhado um representante, pois o COPATI passou a integrar essa categoria rearranjando as vagas da Sociedade Civil ficando com 11 integrantes. O regimento interno é um documento importante do Comitê e vista organizar o funcionamento interno do mesmo. São partes integrantes: a denominação, área de atuação, sede finalidade, composição, estrutura organizacional, atribuições dos órgãos e dirigentes e os processos de desligamento (ANA, 2011). No Comitê do Rio Tibagi o regimento de 2002 sofreu atualização em Constam do regimento além da estruturação, as atribuições, eleição e demais regras das reuniões e procedimentos. Conforme artigo 4º. e parágrafo único do regimento interno a estrutura do Comitê da bacia do Rio Tibagi compreende: plenário do Comitê, Mesa diretora, Câmaras técnicas. O plenário é a Assembleia geral dos membros do comitê. A diretoria é composta por presidente, vice-presidente, secretário. As Câmaras Técnicas (CTs) são criadas pelo plenário e servem para aprofundar as discussões sobre temáticas antes da plenária e em geral tem caráter permanente. Também são criados os Grupos de Trabalhos (GTs) que são instituídos para realizar análise ou execução de temas específicos para subsidiar alguma decisão colegiada. A secretaria executiva está estruturada para ser responsável pelo apoio administrativo, técnico, logístico e operacional do Comitê e é exercida pelo Instituto das Águas do Paraná. Dentro do funcionamento de um comitê, as atas representam o registro dos eventos e as deliberações e moções dão materialidade aos atos de decisões de um Comitê. O Comitê do Tibagi utiliza, além das atas, as deliberações e expressa moções, essas últimas, com menos frequência. Após ampla discussão aprovam em reuniões plenárias deliberações e moções que são documentos por meio do qual o Comitê materializa as decisões. Deliberação é o instrumento utilizado para normatizar assuntos de acordo com suas competências legais e moção é o documento por meio do qual o Comitê se manifesta em relação aos assuntos que estão fora de sua esfera de competência como protestos, apelos, e outros similares.(ana,

5 ). Através destes documentos, o grupo gestor do Comitê age em nome dos representados e de toda a sociedade, em relação a temas ligados a um bem de uso comum de todos que é a água. Considerações Finais A partir da revisão de literatura e de documentos, evidencia que a estrutura política governamental estadual visou construir o sistema de gestão de recurso hídrico no Estado, com gestão por bacia hidrográfica, onde a descentralização passou a ser o tema nos planejamento e nos procedimentos de implantação dos Comitês de forma tardia. Os Comitês no Paraná foram criados com a grande presença das estruturas do governo estadual e dos usuários não evidenciando uma participação da sociedade civil. A estrutura na atualidade segue a formalidade legal e o funcionamento deveria permitir que os membros componentes do Comitê representassem todas as esferas municipais integrantes da bacia e os interesses dos segmentos que representam, com toda a complexidade de demandas de multiusuários, setor público, e a complexidade e da sociedade civil. Porém não existe uma estratégia de análise definida para avaliar a representação dentro do Comitê. Evidencia-se a existência de um órgão colegiado que se construiu com as formalidades legais descritas conforme a necessidade do momento histórico. Para que a gestão da água pregada na Política e no Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos seja legitimada na Bacia do Rio Tibagi, necessita ultrapassar a estruturação e a formalidade da implantação da figura do Comitê e alcançar a efetividade da gestão descentralizada com a participação e a representação efetiva de todos os setores envolvidos da sociedade. Referências ANA - AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. O comitê de Bacias Hidrográficas: o que é o que faz. Brasília: SAG,2011. AGUASPARANA. Instituto das Águas do Paraná. Disponível em acesso em 10 de nov PARANÁ. Secretaria de Estado do meio ambiente SEMA. Bacias Hidrográficas do Paraná: serie histórica. Curitiba: SEMA disponível em< s_2013.pdf > Acesso em 29 ago PLANO da bacia do Rio Tibagi. Cenários alternativos. Contrato n. 16/2012 Produto 3 Segunda revisão. Julho Disponível em < agi.pdf > Acesso em 20 ago SOUZA JUNIOR, W.C. Gestão das águas no Brasil: reflexões, diagnóstico e desafios. São Paulo: Peirópolis: IEB-Instituto Internacional de Educação do Brasil, 2004.