PREVALÊNCIA DAS AFECÇÕES PODAIS E MORFOMETRIA DO CASCO DE VACAS LACTANTES NA BACIA LEITEIRA DE ILHÉUS-ITABUNA, BAHIA

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1 REVISÃO DE LITERATURA CLÍNICA E CIRURGIA DE GRANDES ANIMAIS PREVALÊNCIA DAS AFECÇÕES PODAIS E MORFOMETRIA DO CASCO DE VACAS LACTANTES NA BACIA LEITEIRA DE ILHÉUS-ITABUNA, BAHIA PREVALENCE OF FOOT DISORDERS AND MORPHOMETRY OF EXTERNAL STRUCTURES CLAWS OF LACTATING COWS IN THE DAIRY REGION OF ILHÉUS-ITABUNA, STATE OF BAHIA Renata M. C. Serra 1, Profa. Dra. Roberta C. Dias 2, MV. MSc. Miram P. Cavalcante 3, Prof. Dr. Fernando Alzamora Filho 4 * 1 Discente do curso de Medicina Veterinária da Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, BA, Brasil. 2 Docente do curso de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal da Bahia Salvador, BA, Brasil. 3 Médica Veterinária Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA, Brasil. 4 Docente do curso de Medicina Veterinária da Universidade Estadual de Santa Cruz Ilhéus, BA, Brasil. * fafilho@uesc.br RESUMO Apesar da grande importância econômica, a prevalência das enfermidades podais nos rebanhos leiteiros do Estado da Bahia ainda não é conhecida, o que dificulta o diagnóstico da situação e elaboração de uma estratégia de controle ou prevenção. Neste presente estudo a finalidade foi avaliar a conformação dos cascos e ocorrência das afecções podais em vacas mestiças em lactação da bacia leiteira de Ilhéus/Itabuna. Foram examinadas 80 vacas leiteiras mestiças, que obtiveram resultados médios para ângulo da pinça das unhas dos membros torácicos e pélvicos entre 43,33º a 46,83º e 43,48º a 44,40º, respectivamente. O comprimento da borda dorsal da úngula foi de 7,65 a 7,79cm e as médias para altura dos talões variaram de 2,59 a 3,66cm. Foram diagnosticadas lesões distintas, onde predominaram lesões múltiplas nas unhas dos animais, com maior prevalência para erosão de talão, doença da linha branca e hemorragia de sola. Também ocorreram variações na ocorrência de lesões entre membros torácicos e pélvicos (p=0,0064), prevalecendo uma maior ocorrência de hemorragia de sola, doença da linha branca, lesão por corpo estranho, sola dupla e abscesso de sola nos cascos dos membros pélvicos. Todas as vacas avaliadas apresentaram algum tipo de lesão podal. As conformações dos cascos são importantes para a longevidade animal e alterações nas medidas paramétricas associadas com fatores ambientais, de manejo e nutricionais são importantes para o surgimento das afecções podais. ABSTRACT Despite the great economic importance, the prevalence of foot diseases in dairy herds in the Bahia State, is not yet known, making it difficult to assess the situation and draw up and develop a strategy to control or prevention. In this study the objective was to evaluate the conformation of the hooves and the occurrence of foot problems in lactating crossbred dairy cows from Ilhéus/Itabuna, Bahia, Brazil. They examined 80 crossbred dairy cows, which obtained average results for angle pincer nails of fore and hindlimbs between 43.33º the 46.83º and 43.48º the 44.40º respectively. The length of the dorsal edge of hoof was 7.65 to 7.79cm and the averages for the beads ranged from 2.59 to 3.66cm. They were diagnosed 1,337 different lesions which predominated multiple lesions on the nails of animals, with higher prevalence of heel erosion, white line disease and sole hemorrhage. There were also variations in the occurrence of injuries among forelimbs and hind (p = ) with greater occurrence of sole bleeding, white line disease, injury foreign body, double and sola abscess on the hulls of hindlimbs. All evaluated cows had some type of claw disorders. The conformations of the hooves are important for animal longevity and changes in parametric measures associated with environmental factors, management and nutrition are important for the emergence of foot problems. Key-words: Claw conformation, Foot lesion, Lameness, Crossbreed cattle. Palavras-chave: Bovino mestiço, Claudicação, Conformação do casco, lesões podais.ia. 46

2 INTRODUÇÃO A pecuária tem se expandido significativamente nas últimas décadas e o rebanho bovino da Bahia, cabeças, equivalente a 36,6% do efetivo do Nordeste, contribui para a crescente importância do agronegócio no Estado (IBGE, 2010). O melhoramento genético dos bovinos e intensificação do sistema de criação têm tornado os rebanhos mais produtivos, entretanto, os animais têm apresentado maior susceptibilidade às patologias podais (SILVA et al. 2015). As claudicações em vacas leiteiras causam significativas perdas econômicas, ocasionadas pela diminuição da produção leiteira, redução dos índices reprodutivos, descartes prematuros, custos com tratamentos (ALVES, 2007; SILVA et al. 2004, MAUCHLE et al. 2011) e predisposição ao desenvolvimento de mastite (SOUZA et al. 2006; ALVES et al. 2007). Segundo Mauchle (2001) e Silva et al. (2015), as claudicações apresentam origem multifatorial e fatores como umidade, higiene precária, pisos abrasivos, distúrbios nutricionais, predisposição genética e uso do pedilúvio são importantes para as ocorrências das enfermidades digitais. A conformação dos cascos das diversas raças bovinas, principalmente as leiteiras, tem sido utilizada como caráter fenotípico de seleção em programas de melhoramento genético, com a finalidade de reduzir a ocorrência de claudicações e melhorar a longevidade e produtividade animal (VERMUNT e GREENOUGH, 1995). Machado et al. (2008) encontraram uma prevalência de 5,08% para lesões podais em fêmeas bovinas e de 17,50% para fêmeas lactantes do rebanho da região leiteira de Itapecuru Mirim, Maranhão. Silveira et al. (2009) avaliaram 1236 vacas provenientes de propriedades da bacia leiteira do município de Rondon, Pará, das quais 22,25% (275) apresentaram lesão podal. Souza (2002), examinando 323 vacas em 63 fazendas de Minas Gerais, sendo 57 de sistema de criação semi-intensivo de produção e seis de intensivo, encontrou uma prevalência de lesões de casco de 89,8%, sendo as lesões de maior ocorrência a erosão de talão (59,8%) e dermatite digital (30,3%). Rabelo et al. (2011) relataram uma prevalência de 22,46% (190/846) vacas claudicantes em dez fazendas localizadas no município de Jataí, Goiás. Borges et al. (1992) relataram uma incidência de afecções podais de 11,11% em vacas holandesas criadas em várzea úmida e 14,17% para as confinadas, enquanto as vacas mestiças (Holandês X Zebu) apresentaram incidência de 2,63% e 3,05%, respectivamente. Os fatores para animais criados em várzeas úmidas foram as trilhas traumatizantes e a elevada umidade, enquanto para os animais confinados foi o piso de cimento que ocasionou desgaste acentuado do estojo córneo e traumatismo. Gogoi et al. (1981) também observaram que os animais mantidos em regiões quentes e úmidas, com elevado índice pluviométrico, apresentaram maior propensão às afecções podais do que aqueles mantidos em regiões áridas. As enfermidades podais adquiriram importância crescente na bovinocultura sendo em muitos casos uns dos principais entraves econômicos ao seu desenvolvimento. A saúde dos cascos é importante para o rendimento animal e a profilaxia das enfermidades podais requer conhecimento sobre medidas anatômicas e os aspectos funcionais do casco (LIMA, 2013). O objetivo desse trabalho foi avaliar a ocorrência de enfermidades podais e as características morfométricas dos dígitos em vacas lactantes de rebanho da bacia leiteira de Ilhéus - Itabuna-Bahia. MATERIAL E MÉTODOS No presente estudo foram utilizadas 80 vacas lactantes mestiças (Holandês x Gir), criadas em sistema semi-intensivo, em uma fazenda na bacia leiteira de Ilhéus - Itabuna, Bahia, Brasil. O levantamento dos dados foi realizado no período de Outubro a Dezembro de Os animais avaliados tinham idades entre três e sete anos, ordenhados duas vezes ao dia e percorriam uma trilha de cascalho para acesso ao curral. Os animais destinados para produção recebiam concentrado na proporção de um quilo de grãos para três quilos de leite produzido. A higienização do curral era feita por raspagem da matéria orgânica e não era realizada a passagem de animais em pedilúvio. Após uma inspeção geral, os animais foram identificados e contidos em um tronco para podologia bovina. Foi realizada a limpeza do casco e o exame clínico constituiu-se na inspeção, palpação, teste de pressão e percussão dos cascos. O espaço interdigital e perioplo também foram avaliados. Com o auxílio de um paquímetro (King Tools ) e goniômetro (Protractor), as medidas paramétricas dos dígitos dos membros torácicos e pélvicos foram obtidas conforme a técnica descrita por Gitau et al. (1997), utilizando as medidas paramétricas do ângulo da pinça, comprimento da parede dorsal, altura do talão e área da sola. A área da sola foi calculada conforme Vermunt e Greenough (1995), multiplicando-se o comprimento diagonal do casco pela metade da soma das larguras das unhas medial e lateral. Após a tomada das medidas os dígitos foram examinados individualmente, totalizando 640 dígitos, realizou-se a classificação do tipo de lesão, seguindo o critério proposto por Greenough e Weaver (1997). Os achados clínicos e conformação dos cascos de cada animal foram registrados em fichas individuais e analisados por estatística descritiva simples e diferença de proporções com o Teste Qui-quadrado, considerando um nível de significância de cinco por cento, utilizando-se o programa estatístico SPSS vs RESULTADOS Na propriedade estudada, as 80 vacas mestiças pesquisadas apresentaram uma ou mais lesões nos dígitos lateral e medial dos membros torácicos e pélvicos, havendo predomínio das doenças da parte córnea do casco, destacando-se erosão de talão (100%), doença da linha branca (95%), hemorragia de sola (85%), hemorragia de linha branca (41,25%), corpo estranho no casco (18,75%), casco em forma de tesoura (13,75%), sola dupla (13,75%) e abscesso subsolear (3,75%). As afecções de parte mole não foram frequentes no rebanho avaliado e as lesões observadas foram dermatite interdigital (2,5%) e a hiperplasia interdigital (2,5%) (Gráfico 1). 47

3 Gráfico 1 Distribuição de prevalência das lesões digitais diagnosticadas em vacas mestiças lactantes da bacia leiteira de Ilhéus-Itabuna, BA em 2013 A frequência de lesões por dígitos entre os membros torácicos e pélvicos estão dispostos na tabela 1, onde pode-se observar que a erosão de talão e a doença da linha branca apresentaram elevada ocorrência nos dígitos dos membros torácicos e pélvicos. A hemorragia de sola e a hemorragia da linha branca apresentaram uma maior ocorrência nos dígitos dos membros pélvicos. As lesões causadas por corpo estranho foram mais prevalentes nos cascos posteriores (0,90%) e apenas os membros torácicos foram acometidos pela dermatite interdigital e hiperplasia interdigital (0,15%). Chama a atenção que apenas o casco em tesoura obteve diferença estatística entre os membros torácico e pélvico, sendo maior a ocorrência entre os membros torácicos (p=0,0014). Tabela 1 Distribuição das lesões digitais, por membro afetado, em vacas mestiças lactantes da bacia leiteira de Ilhéus- Itabuna, BA em Lesão Membro Torácico Membro Pélvico F % F % Significância Estatística Erosão de Talão , ,44 0,7678 Doença da Linha Branca , ,77 0,3257 Hemorragia de Sola 132 9, ,67 0,1768 Hemorragia da Linha Branca 26 1, ,07 0,0716 Casco em Tesoura 25 1,87 7 0,52 0,0014* Corpo Estranho 9 0, ,90 0,5238 Sola Dupla 5 0,37 9 0,67 - Abscesso de Sola ,15 - Hiperplasia Interdigital 2 0, Dermatite Interdigital 2 0, TOTAL , ,19 0,0065 F Frequência das lesões Os resultados obtidos para conformação podal estão apresentados na tabela 2. Foram encontrados valores para os ângulos das pinças dos cascos dos membros torácicos entre 43,33º e 46,83º e os membros pélvicos apresentaram medidas entre 43,48º e 44,40º. O comprimento da borda dorsal da úngula foi observado valores entre 7,65 a 7,75 cm para as unhas anteriores e medidas entre 7,65 e 7,79 cm para dígitos posteriores. Os resultados paramétricos para altura do talão foram de 3,62 a 3,66 cm para as unhas laterais e entre 3,44 a 3,52 cm para as unhas mediais dos membros torácicos. Para os dígitos dos membros pélvicos, o talão apresentou medidas entre 2,73 a 2,81 cm para as unhas laterais e de 2,59 a 2,61 cm para as unhas mediais. As médias para a área de sola variaram entre 78,56 cm2 e 80,32 cm2 para as unhas do membro torácico e de 66,33 cm2 a 68,04 cm2 para as unhas do membro pélvico. Estes resultados apresentaram diferença significativa (p<0,0001) entre unhas do mesmo membro e entre as unhas dos membros torácicos e pélvicos. Tabela 2 - Conformação dos cascos vacas mestiças da bacia leiteira de Ilhéus/ Itabuna BA em Medidas Unha Lateral Esquerda Unha Lateral Direita Unha Medial Esquerda Unha Medial Direita Membros torácicos x s x s x s x s Ângulo da pinça 46,53 ± 5,86 Aa 46,83 ± 4,70 Ab 44,51± 5,82 Ac 43,33 ± 6,29 Ad Altura do casco 6,53 ± 0,64 Aa 6,57 ± 0,67 Ab 6,35 ± 0,70 Ac 6,36 ± 0,69 Ad Compr. borda dorsal 7,74 ± 0,61 Aa 7,66 ± 0,73 Ab 7,75 ± 0,77 Ac 7,65 ± 0,74 Ad Compr. diagonal 14,35 ± 1,08 Aa 14,37 ± 1,11 Ab 14,42 ± 1,09 Ac 14,52 ± 1,16 Ad Altura do talão 3,66 ± 0,53 Aa 3,62 ± 0,44 Ab 3,52 ± 0,53 Ac 3,44 ± 0,51 Ad Largura da unha 5,73 ± 0,44 Aa 5,77 ± 0,42 Ab 5,17 ± 0,41 Ac 5,25 ± 0,40 Ad Área da sola 78,56 ± 10,72 Aa 79,51 ± 11,09 Ab 78,92 ± 0,52 Ac 80,32 ± 11,03 Ad Membros pélvicos Ângulo da pinça 43,48 ± 5,16 Ba 44,25 ± 6,68 Bb 43,81 ± 5,86 Bc 44,40 ± 6,67 Bd Altura do casco 6,10 ± 0,67 Ba 6,05 ± 0,59 Bb 6,04 ± 0,63 Bc 5,94 ± 0,64 Bd Compr. borda dorsal 7,65 ± 0,73 Ba 7,67 ± 0,73 Bb 7,79 ± 0,72 Bc 7,78 ± 0,78 Bd Compr. diagonal 13,78 ± 1,16 Ba 13,71 ± 1,01 Bb 13,46 ± 0,96 Bc 13,49 ± 1,07 Bd Altura do talão 2,81 ± 0,48 Ba 2,73 ± 0,49 Bb 2,61 ± 0,45 Bc 2,59 ± 0,49 Bd Largura da unha 5,08 ± 0,39 Ba 5,08 ± 0,42 Bb 4,75 ± 0,42 Bc 4,77 ± 0,40 Bd Área da sola 68,04 ± 10,00 Ba 67,71 ± 8,89 Bb 66,33 ± 8,35 Bc 66,59 ± 8,86 Bd x - Médias; s - Desvio padrão. A,B Médias seguidas por letras diferentes, na mesma coluna diferem (p < 0,0001). a,b, c,d Médias seguidas por letras diferentes, na mesma linha diferem para anteriores e posteriores em separado (p < 0,0001). DISCUSSÃO Na propriedade estudada, com sistema de criação semiintensivo, verificou-se uma frequência elevada de enfermidades podais, sendo que todas as vacas avaliadas apresentaram pelo menos uma ou mais lesões nos dígitos. Foram identificadas 1337 lesões, sendo a erosão de talão, doença da linha branca, hemorragia de sola e hemorragia da linha branca as mais frequentes. Ferreira et al. (2004) também relataram uma prevalência de afecções podais elevadas (78,3%) em bovinos submetidos ao manejo intensivo, enquanto Borges et al. (1992) observaram que vacas holandesas e mestiças submetidas a diferentes sistema de manejo apresentaram prevalência de até 14,7% e pododermatite séptica foi a lesão podal predominante. Pozzatti et al. (2009b) 48

4 relataram uma prevalência de 16,67% e 40% de problemas podais em sistema de manejo extensivo e semi-intensivo, respectivamente. Silveira et al. (2009) observaram uma prevalência de 22% para as enfermidades podais em vacas criadas sob manejo extensivo na bacia leiteira de Rondon do Pará. Quando se observa por tipo de lesão, os resultados são divergentes entre os autores. No presente trabalho, as principais lesões encontradas nas vacas mestiças examinadas foram erosão de talão (100%), doença da linha branca (95%), hemorragia de sola (85%) e hemorragia da linha branca (41,25%). Silveira et al. (2009) identificaram 655 lesões, sendo as mais frequentes hiperplasia interdigital (80,92%), necrobacilose interdigital (6,11%) e cascos com crescimento excessivo (6,42%). Pozzatti et al. (2009a) avaliaram a prevalência das afecções podais em rebanho leiteiro mantidos em sistema intensivo, sendo as lesões que mais prevaleceram foram erosão de talão (80,5%), estrias horizontais (71,9%), hemorragia de sola (54,8%) e doença da linha branca (61,9%). Molina et al. (1999) relataram que a lesão podal mais frequente foi a erosão de talão (48,5%); resultado semelhante ao observado nesse estudo. Os pesquisadores mencionaram que o amolecimento dos cascos por excesso de umidade e desgaste excessivo, decorrente de abrasão no piso da maioria das instalações, podem ser as causas mais importantes para o aparecimento de claudicação nas vacas criadas em regime de confinamento. A erosão de talão e doença da linha branca foram equivalentes nos membros torácicos e pélvicos e o abscesso de sola afetando os cascos posteriores, resultado semelhante ao relatado por Pozzatti et al. (2009a). A hemorragia de sola e da linha branca foram mais predominantes nos membros pélvicos, resultado semelhantes ao encontrado por Mauchle (2001). Segundo Souza et al. (2007), a dermatite interdigital foi mais prevalente nos membros torácicos (3,3%), observação semelhante ao encontrado nesse estudo e diferindo do relatado por Pozzatti et al. (2009a), que observaram uma prevalência de 5,7% nos membros pélvicos. As doenças podais têm origem multifatorial e os fatores genéticos, ambientais e alimentares são importantes para a etiologia (MAUCHLE et al. 2008). Esses fatores apresentam variações significativas devido aos diferentes sistemas de produção, favorecendo diferenças nas prevalências das diferentes lesões digitais. A alta prevalência de afecções digitais neste estudo, possivelmente foi decorrente da presença de fatores predisponentes, como pisos irregulares e abrasivos do curral, que associados às condições de elevada umidade no sistema, higiene precária e trilhas traumatizantes pela presença de pedregulhos, ocasionaram danos ao estojo córneo do casco, tornando-os mais susceptíveis aos agentes infecciosos. Também a ausência do casqueamento preventivo na propriedade e a pouca utilização do pedilúvio, corroboraram com os problemas podais. A conformação anormal dos dígitos está relacionada à susceptibilidade do casco a diversas enfermidades ou por ser um componente importante na patogenia das claudicações podais (TOUSSAINT RAVEN et al. 2003; SILVA et al. 2015). Devido a essa relação entre conformação e susceptibilidade a afecções podais, é preconizada a seleção genética a partir das medidas conformacionais dos cascos para diminuir a ocorrência de lesões, entretanto, a falta de dados sobre as medidas padrões para as diversas raças bovinas torna difícil a sua utilização (MAUCHLE et al. 2011). Os valores médios para ângulo de pinça nos membros torácicos (45,3º) e membros pélvicos (43,9º) nesse estudo foram inferiores aos preconizados para vacas holandesas, que variam de 50 a 55 para os membros torácicos e 45 a 50 para os membros pélvicos (SHEARER e VAN AMSTEL, 1997). Mauchle et al. (2011), ao avaliarem vacas 7/8 Holandês/Gir, relataram que os ângulos das pinças dos cascos torácicos foram de 41,35o a 51,69o e para os cascos dos membros pélvicos variaram entre 47,23o e 49,19, resultados diferentes aos relatado nesse estudo. Casagrande (2010) relatou que vacas com ângulo do casco maior que 50 nos membros torácicos apresentaram menor ocorrência de doença da linha branca que vacas com ângulos dos cascos entre 45 e 50. Os comprimentos da borda dorsal dos casco de Nelores relatado por Silva et al. (2015) e por vacas mestiças relatado por Mauchle et al. (2011) foram superiores ao observados nesse estudo. As altura do talões dos cascos dos membros pélvicos (2,59 2,81 cm) foram inferiores aos citados por Shearer e Van Amstel (1997) para a raça Holandesa e por Mauchle et al. (2011) para vacas 7/8 Holandês/ Gir e valores semelhantes ao relatado na literatura para os talões dos cascos dos membros torácicos. Casagrande (2010) relatou que vacas com altura do talão menores que 3cm nos membros pélvicos apresentaram maior ocorrência de úlcera de sola que animais com altura do talão superiores a 3,5 cm e para hemorragia de sola, foi observado uma maior ocorrência em vacas com altura de talão menor que 4 cm nos membros torácicos em relação aos animais com altura de talão superior a 4,5 cm. As alterações do ângulo do casco e altura do talão são fatores que afetam negativamente a biomecânica do animal, reduzindo a eficiência da amortização dos impactos pelo coxim digital. A morfometria digital dos cascos de bovinos mestiços nessa pesquisa pode ter contribuído para que ocorram alterações nas forças de pressão que atuam no dígito, interferindo com a irrigação do cório, originando tecido queratinizado de baixa qualidade. Desta forma, as alterações na morfometria dos dígitos nesse estudo, como ângulo das pinças e altura do talão que foram inferiores ao relatados em outros estudos, podem estar relacionadas com a falta de casqueamento preventivo ou por fatores nutricionais e ambientais, contribuindo para a gênese multifatorial das enfermidades podais na região. As conformações dos cascos são importantes para a longevidade e a produtividade do animal e as alterações na morfometria digital contribuem para a epidemiologia das lesões nos dígitos, mas não age isoladamente, sendo necessários outros fatores como os citados anteriormente. As alterações encontradas neste trabalho, com 100% dos animais com algum tipo de lesão podal, podem estar relacionadas à permanência prolongada em pastos úmidos, ambiente com 49

5 acúmulo de matéria orgânica, além da falta do casqueamento preventivo e o uso de pedilúvio. O conhecimento da prevalência das lesões e seus fatores predisponentes para a região são importantes para determinar o tratamento e desenvolver medidas profiláticas direcionadas ao controle dessas enfermidades podais. REFERÊNCIAS Alves CGT Análise comparativa das afecções podais em fêmeas bovinas adultas das raças holandesa, parda alpina e girolanda, no Agreste Setentrional de Pernambuco. 90f. Recife, PE. Dissertação (Mestrado em Ciência Veterinária), Universidade Federal Rural de Pernambuco. Borges JRJ, Pitombo CA, Santiago SS. et al Incidência de afecções podais em bovinos leiteiros submetidos a diferentes sistemas de manejo. Arquivos da Escola de Medicina Veterinária, UFBA. 15(1): Casagrande FP Conformação dos cascos e das pernas de fêmeas bovinas holandesas em diferentes idades e prevalência de lesões. 95f. Belo Horizonte, MG. 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