Bispo Sr. Dr. Gebhard Fürst O MAIOR É O AMOR. Pastoral sobre o casamento e a família à luz de Amoris laetitia

Transcrição

1 Bispo Sr. Dr. Gebhard Fürst O MAIOR É O AMOR Pastoral sobre o casamento e a família à luz de Amoris laetitia Carta Pastoral dirigida às igrejas da diocese de Rotemburgo-Estugarda na Quaresma Pascal de 2017

2 Bispo Sr. Dr. Gebhard Fürst Carta pastoral para a Quaresma de 2017 O MAIOR É O AMOR Pastoral sobre o casamento e a família à luz de Amoris laetitia 1 Domingo da Quaresma: 5 de março de 2017

3 Agora, pois, permanecem estes três: a fé, a esperança e o amor; mas o maior destes é o amor. (1 Cor. 13:13) I. Queridos irmãos e irmãs! Estamos no início da Quaresma. Os próximos dias oferecemnos uma oportunidade para refletirmos conscientemente sobre as nossas vidas. Eles brindam-nos com um espaço para recordarmos aquilo que foi alcançado com sucesso e regozijo, ao mesmo tempo que nos desafiam a contemplar também aquilo que jaz ferido e agravado à nossa frente. Apesar dos angustiantes problemas que mantêm a todos atormentados, gostaria de dedicar a minha mensagem da Quaresma deste ano ao tema Casamento e Família. II. Segundo a visão cristã, o casamento constitui um sinal visível do amor de Deus e da sua força atuante. Ele é um exemplo da autêntica igreja. Por isso, consideramos o casamento e a família também como uma igreja em pequeno formato, uma igreja doméstica 1, a qual pede de todos nós um esforço de defesa e proteção. 2

4 Congratulo-me com a maravilhosa oferta que o Papa Francisco fez à Igreja, com a sua exortação apostólica pós-sinodal Amoris laetitia sobre o amor na família. Com um perfeito senso da realidade quotidiana e da afirmação da vida, o Papa Francisco falou-nos da importância dos relacionamentos interpessoais. Ele abordou temas como o casamento, a parceria, a sexualidade, a paternidade, e especialmente o amor. A exortação apostólica Amoris laetitia foi objeto de um profundo exame entre os bispos alemães, sendo que foi tomada em consideração a seguinte vontade expressa do Papa Francisco de buscar em cada país ou região soluções mais inculturadas, atentas às tradições e aos desafios locais (AL Nº 3). No início de fevereiro já publicamos um parecer que aprofunda o sentido da carta Amoris laetitia para a nossa área de atuação. 2 Gostaria agora de referir esta Mensagem dos bispos alemães e confirmá-la para a pastoral da nossa diocese. III. Quando duas pessoas se encontram e continuam depois as suas vidas formando um casal e uma família, elas estão apoiadas e acompanhadas pelas bênçãos de Deus. O amor entre duas pessoas é algo muito especial. Trata-se do reflexo do amor de Deus por todos nós, como seres humanos. Na Igreja Católica o casamento é um sacramento celebrado mutuamente entre os cônjuges. Este sacramento anuncia claramente: Tal como o amor de Deus pelos homens é inquebrantável, eterno e único, assim também deverá ser a união entre um homem e uma mulher inquebrantável e única. 3

5 IV. Apesar de toda a devoção dos cônjuges, e toda a preparação feita para o casamento, acontece que os relacionamentos podem desfazer-se. Encontro constantemente pessoas que descrevem-me, de viva voz ou por escrito, as dolorosas vivências por que tiveram que passar devido à dissolução do seu casamento. Elas sofrem por não ter conseguido realizar o ideal de um amor para toda a vida, ou então por terem sido abandonadas pelo parceiro. Uma das experiências mais dolorosas que conheço é constatar que muitas das pessoas mergulhadas nesse drama da vida sentem-se não apoiadas pela Igreja. A todos que sofreram uma dissolução do seu casamento, rogo que deixem os vossos filhos sentirem que eles podem continuar a contar convosco como pais/mães. Queridos irmãos e irmãs, V. A indissolubilidade do casamento constitui uma parte fundamental da fé da Igreja. A Amoris laetitia não deixa qualquer dúvida acerca disto. Mas igualmente não há dúvida que as pessoas que sofreram um colapso do seu casamento permanecem integradas na Igreja. Elas continuam chamadas a ser verdadeiras testemunhas de Jesus Cristo. O Papa Francisco descreveu uma cultura pastoral que vive de membros da Igreja aptos para a liberdade, responsáveis e conscientes. Na Amoris laetitia ele sublinhou de maneira clara: 4

6 Não só não devem sentir-se excomungados, mas podem viver e maturar como membros vivos da Igreja, sentindo-a como uma mãe que sempre os acolhe, cuida afectuosamente deles e encoraja-os no caminho da vida e do Evangelho. (AL Nº 299) Segundo o Papa Francisco, o objetivo das assistências pastorais é assegurar um amparo na revinculação. Isto vale também para a recepção dos sacramentos. Também nós, como bispos, desejamos sublinhar com a nossa voz conjunta: A Amoris laetitia não ignora a pesada culpa que muitas pessoas contraem em situações de ruptura e fracasso nas relações matrimoniais, nem a problemática de um novo casamento civil, em clara contradição com o sacramento do casamento. 3 Como bispo, eu favoreço e defendo assim soluções diferenciadas, apropriadas a cada caso individual. Juntamos assim a mensagem dos bispos: A Amoris laetitia baseia-se num processo de busca de decisão acompanhado por um pároco. Com base neste processo de tomada de decisão, durante o qual é exigido o máximo grau de consciência, a Amoris laetitia abre a possibilidade de recepção dos sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia. (...) Semelhante processo espiritual tem sempre por objetivo a revinculação, e não ficará sempre e em todos os casos encerrado por uma admissão aos sacramentos da Penitência e da Eucaristia. A decisão individual quanto a permitir, ou não permitir ainda, o acesso aos sacramentos é algo que exige respeito e elevada consideração. Mas deverá ser respeitada também uma decisão positiva quanto à recepção dos sacramentos. 4 5

7 VI. Queridos irmãos e irmãs, O acompanhamento de casais precipitados em crises, em separações, ou novos casamentos civis, constitui um enorme desafio. Tais pessoas deverão poder sentir, precisamente nessas suas situações existenciais na vida, que a sua Igreja, a sua comunidade dos fiéis em Cristo, está do seu lado. Neste contexto, estou perfeitamente ciente que a nossa compreensão do que é o casamento, inclusive a imagem que fazemos do que é o Homem, é algo que precisa ser constantemente considerado e discutido. Como Diocese de São Martinho, nós pretendemos ser uma Igreja missionária, diacónica, auxiliadora e curadora. Para todos nós para mim próprio como vosso bispo, para os párocos e diáconos, para os colaboradores e colaboradoras dos serviços pastorais e dos serviços especializados da Caritas resulta daí o compromisso de oferecer um acompanhamento caridoso e competente para todos aqueles cujos casamentos e relacionamentos estejam em crise, ou desfeitos. Queremos apoiá-los de modo a encontrarem uma nova perspectiva positiva. Gostaria assim de incentivar todas as pessoas nessas condições a procurar os conselhos de um pastor, bem como a fazer uso das várias ofertas diocesanas de orientação e acompanhamento. 5 Em parceria com os responsáveis, desde o nível da diocese até às paróquias, iremos aprofundar as nossas ofertas de apoio, de modo a acompanhar o caminho para o casamento como um caminho consciente de fé. Ao mesmo tempo, sentimos também o dever de intensificar os esforços de apoio aos cônjuges e às suas famílias. Em breve iremos distribuir um folheto de orientação 6

8 para sacerdotes, diáconos e todos os conselheiros e conselheiras, para apoiá-los no seu trabalho com casais, cônjuges e famílias. VII. Para finalizar, gostaria de expressar o meu agradecimento a todos vós. Com a vossa vida cristã, vós prestais testemunho da jubilosa e vitalizante mensagem de Jesus Cristo. Vivemos todos amparados na convicção de que Deus, como Deus fiel e inabalável (Deut. 32,4), acompanha cada ser humano com a sua misericórdia. Agradeço a todos que, com as suas contribuições para o sínodo da família em Roma, colaboraram para o sucesso da caminhada sinodal do Papa Francisco! Agradeço a todos os serviços e departamentos da nossa Igreja, e a todos os conselheiros, pelo vosso inestimável serviço de apoio às pessoas necessitadas. Mas o meu maior agradecimento vai para vós mulheres e homens, mães e pais que dia após dia enfrentam os numerosos desafios da vida quotidiana. Agradeço às famílias, com os seus filhos, que animam de maneira tão diversa e fervorosa a comunidade dos fiéis. Que as bênçãos de Deus vos acompanhem! Rotemburgo, 2 de fevereiro de 2017, Dia da Festa da Apresentação do Senhor. O vosso bispo, Dr. Gebhard Fürst 7

9 1 Ver a exortação apostólica Familiaris Consortio, 49 2 A alegria do amor que vive nas famílias é também a alegria da Igreja Convocação para uma renovada pastoral do casamento e família à luz de Amoris laetitia: Mensagem dos bispos alemães, Bona/Würzburg O documento pode ser consultado na internet em: / a-Wortlaut-Wort-der-Bischoefe-Amoris-laetitia.pdf 3 Mensagem dos bispos alemães, conf. pág. 5 4 Mensagem dos bispos alemães, conf. pág

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