Homilia no Dia da Comunidade da Paróquia de Nossa Senhora da Areosa

Transcrição

1 1.Celebramos neste domingo o Dia da Comunidade, na paróquia de Nossa Senhora da Areosa. O berço da nossa paróquia foi uma pequena Capela dedicada ao Sagrado Coração de Maria, sita na rua Costa Cabral, propriedade dos Sacerdotes Claretianos. Aos Sacerdotes Claretianos confiou o nosso Bispo de então, D. António Ferreira Gomes, a organização e o cuidado pastoral desta paróquia, por ele criada, a 4 de março de Hoje, reunimo-nos, como o fazemos todos os domingos, nesta igreja matriz, inaugurada a 17 de maio de 1987 e dedicada à Mãe de Deus, sob a invocação tão expressiva de Nossa Senhora da Areosa. É de olhar voltado para a Mãe de Deus, que assumiu como seu o nome da Areosa, na periferia da nossa cidade do Porto, que aqui nos congregamos em torno do altar da Eucaristia. Neste Dia da Comunidade, quero agradecer a Deus a bênção que constitui para a nossa cidade e diocese esta paróquia e testemunhar publicamente aos Sacerdotes Claretianos a gratidão da Igreja do Porto pelo testemunho da sua entrega, pelo exemplo do seu ministério e pelo carisma religioso cordimariano. Bem-hajam! Que Deus vos recompense em vida, em saúde e em vocações, nascidas no terreno fecundo das famílias cristãs desta comunidade! 1 / 7

2 Associamos, assim, a esta celebração litúrgica do segundo domingo da quaresma a evocação do aniversário da nossa paróquia e a alegria de sermos uma comunidade unida e dinâmica, a viver com encanto a Caminhada que propus à diocese para esta quaresma-páscoa. Não esquecemos, também, que hoje se inicia em todo o nosso país a Semana Nacional da Cáritas, sob o lema: Num só coração, uma só família. 2.A Palavra de Deus, que agora escutamos, ajuda-nos a iluminar as razões que aqui nos trazem, para que este seja verdadeiro dia de festa de toda a Comunidade. Há pessoas a quem devemos uma imensa gratidão: as que nos fazem nascer e crescer na vida; as que nos ajudam a ser felizes e a ser irmãos; as que nos ensinam a evoluir na qualidade da fé. Essas pessoas revelaram-nos desde crianças que Deus é grande; que Deus é pai; que Deus é bom; que Deus nos ama; que Deus nos perdoa; que Deus nos quer bem; que Deus está vivo, presente, atento e próximo de cada um de nós. Essas pessoas, dotadas de uma fé invulgar, ajudam-nos a encontrar coragem nas horas difíceis, a escutar Deus e a obedecer-lhe sem reservas, sem medo, sem cálculos! Uma dessas pessoas, distante de nós no tempo mas sempre próximo de nós na fé, foi Abraão. A vida de Abraão é uma vida tocada por Deus; é uma vida transformada por Deus; é uma vida obediente a Deus. 2 / 7

3 Foi tão estranho humanamente aquele primeiro convite de Deus: Sai da tua terra e vai para a terra que te darei em herança E Abraão partiu. Desde esse momento, Deus nunca mais deixou de o acompanhar. Voltou de novo ao seu encontro e ao diálogo então iniciado. Chamou pelo seu nome novo: Abraão. Ele respondeu: Aqui estou. E Deus disse-lhe: Toma o teu filho, o teu único filho e sobe ao monte de Moriá e oferece-o em holocausto. Mais uma vez, humanamente, parece incompreensível este imperativo divino! A fé é esta aventura louca aos olhos humanos, mas com cores de obediência e matizes de sabedoria aos olhos divinos. A obediência a Deus é sempre escola de fidelidade e o único e necessário caminho de felicidade! Abraão cumpriu a ordem de Deus e o milagre aconteceu. O filho de Abraão foi poupado. Todos temos por perto de nós exemplos desta grandeza, que juntam à simplicidade de vida o heroísmo dos gestos corajosos, a sabedoria das decisões lúcidas, a grandeza dos testemunhos humildes. Lembremos os pais, professores, sacerdotes e catequistas que moldam em nós os saberes, sentimentos e convicções de fé, que hoje temos. Lembremos os adultos, jovens e crianças que fazem dia a dia, semana a semana, das nossas comunidades cristãs verdadeiras ilhas de misericórdia estampada na vida e impressa no coração daqueles que abrem caminhos novos à transformação do mundo. A vida das pessoas que acreditam faz-se deste encontro obediente a Deus, que nos chama pelo nosso nome, como outrora chamou Abraão. A felicidade das pessoas que querem construir um mundo melhor à luz da fé faz-se do encontro com Jesus e da missão que daí nasce, como nos falava o evangelho da transfiguração, que acabamos de ouvir. 3 / 7

4 É o conhecimento de Deus, a paixão pela justiça e o fascínio da santidade que estabelecem os paradigmas de diferença do testemunho cristão no mundo e que nos devem fazer confiar, olhar em frente e ser sinal de esperança, abrindo portas ao futuro. 3.Instruídos espiritualmente pela Palavra de Deus compreendemos melhor a razão de ser, o sentido da vida e o alcance da missão das comunidades cristãs, como são as paróquias. Há tanta gente nas nossas paróquias que, pela fé iluminada pela Palavra de Deus e pela ação alimentada pelos sacramentos, transformam as terras humanas que somos em oásis divinos onde floresce a alegria do evangelho e se estrutura uma vida solidária e fraterna entre todos. Atentos ao clamor do povo, sobretudo dos mais pobres, somos convocados, neste Dia da Comunidade, a abrir a porta do nosso coração à alegria do evangelho, vivendo o desafio que a Caminhada da quaresma-páscoa nos propõe neste domingo, ao dizer-nos: Levanta-te. O bem comum que sonhamos para todos por igual no nosso país precisa do esforço, do trabalho e da partilha solidária, enraizada na ousadia da caridade cristã. 4 / 7

5 Por seu lado, a criatividade pastoral, sempre necessária para os caminhos a percorrer nas nossas paróquias, deve fortalecer a comunhão da Igreja que somos. Celebrar o Dia da Comunidade é abrirmo-nos às outras comunidades para sermos Igreja, comunidade de comunidades, em comunhão diocesana e em união com a Igreja universal e com o Papa Francisco, nesta primavera que ele veio despertar na Igreja. 4. Com este mesmo espírito queremos, nesta Semana Cáritas, sonhar viver num só coração, como uma só família humana e dispomo-nos a concretizar este sonho ao longo de toda a vida. E isto, parecendo pouco, é um desafio imenso, é uma urgência enorme, é um dever de todos, é um caminho ao alcance de cada cristão e é uma missão de cada comunidade. Isto mesmo está inscrito no programa e no horizonte de missão da nossa paróquia desde o seu início. Propusemo-nos ser, em 1979, e queremos renovar hoje esse sonho, esse compromisso e esse programa pastoral: uma comunidade que anuncia as bem-aventuranças do evangelho; uma comunidade que reza e dá glória a Deus na celebração dos mistérios sagrados da nossa fé; uma comunidade solidária com todos, sobretudo com os mais desfavorecidos. Em 36 anos de vida da nossa paróquia erguemos de raiz esta igreja nova e edificamos uma comunidade viva. Somos uma Comunidade de portas abertas a todos. Daqui, pelas mesmas portas partimos diariamente em missão para levar a alegria do evangelho, a presença solidária e o Pão da Eucaristia a muitas as famílias e muitas as casas. Soube da alegria dos mais pequeninos que disseram ao longo da semana aos seus professores na escola que estavam 5 / 7

6 felizes porque iam receber o Bispo hoje na sua Igreja. Obrigado por essa alegria! Brilha assim, para mim e para todos nós, no vosso olhar a alegria de Jesus e a alegria do evangelho, que é a alegria que salva e faz feliz o mundo. Os tempos novos que vivemos exigem de todos nós audácia no esforço da evangelização e de renovação da Igreja e impõem coerência no testemunho da fé e da comunhão por parte dos cristãos de todas as idades e condições. 5. Agradeço-vos, irmãos e irmãs, o testemunho de fé, o acolhimento festivo e a comunhão fraterna, incentivo-vos a prosseguirdes o belo caminho iniciado há 36 anos e imploro para a nossa Cidade e Diocese, a proteção de Nossa Senhora da Areosa, nossa Padroeira. Igreja matriz de Nossa Senhora da Areosa, 1 de março de 2015 António Francisco, Bispo do Porto 6 / 7

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