PERFIL SÓCIO-DEMOGRÁFICO, COMPORTAMENTAL E SOROLÓGICO DA POPULAÇÃO EM BUSCA DO TESTE RÁPIDO DIAGNÓSTICO DE HIV NO MUNICÍPIO DE LORENA/SP
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1 PERFIL SÓCIO-DEMOGRÁFICO, COMPORTAMENTAL E SOROLÓGICO DA POPULAÇÃO EM BUSCA DO TESTE RÁPIDO DIAGNÓSTICO DE HIV NO MUNICÍPIO DE LORENA/SP Dirce Maria de Moura Lima Enfermeira Especialista em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana, atuando no Programa de DST/HIV/AIDS/Hepatites Virais da Secretaria Municipal da Saúde de Lorena. Elaine Cristina Miquilini Lopes Enfermeira obstetra, especialista em Traumatologia/ortopedia e saúde da família, atuando no Programa de Saúde da Mulher da Secretaria Municipal de Saúde de Lorena. Mara Filomena Falavigna Enfermeira pela Faculdades de Enfermagem e Obstetrícia de Araras especialista em Dependências Químicas pela Universidad Complutense de Madrid, formação pedagógica em Educação Profissional na Área da Saúde: enfermagem pela FIOCRUZ, Mestre em Engenharia Biomédica pela Universidade do Vale do Paraíba. Regina Célia Enfermeira Mestre em Engenharia Biomédica e Graduada em Estomaterapia e UTI, formação pedagógica em Educação Profissional na Área da Saúde. Tanise de Oliveira Moraes Enfermeira Especialista em Unidade de Terapia Intensiva e docência para enfermeiros, atuando no Programa Melhor em Casa de Atendimento Domiciliar.
2 RESUMO O presente estudo tem como objetivo descrever o perfil sociodemográfico e comportamental, analisando as associações entre essas características e a soropositividade para o HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) em usuários do Serviço de Assistência Especializada (SAE), no município de Lorena, no período de janeiro de a dezembro de. A pesquisa é do tipo exploratório, a partir de fontes secundárias, utilizando o formulário padrão do Ministério da Saúde aplicado pelos profissionais de saúde no momento do pré-teste. A taxa de soropositividade para a amostra em geral foi de 4,6% (n=7). Os principais achados mostram que a maioria dos usuários, incluindo os casos positivos, era composta por homens, brancos, jovens de a 9 anos, solteiros e com 8 a anos de escolaridade. PALAVRAS CHAVE: Testagem para HIV; Populações vulneráveis; HIV. ABSTRACT The present study has as it s goal to describe the socio-demographic and behavioral profile, analysing the associations between these features and the HIV-positivity (Human Immunodeficiency Virus) in users of the Specialized Assitence Service (SAE), in the city of Lorena, between January and December. The research is of exploratory kind, from secondary sources, using the Health Ministry standard form, applied by health professionals during pre-test. The rate of HIV-positivity for the general sample was 4,6 % (n=7). The main findings show that most of the users, including positive cases, was of men, white, young between and 9 years old, single and with 8 to years of education. KEY WORDS: HIV testing; vulnerable populations; HIV.
3 INTRODUÇÃO Na década de 8, indivíduos aparentemente saudáveis desenvolveram uma síndrome que afetava gravemente o sistema imunológico. Essa síndrome ficou conhecida como Síndrome da Imunodeficiência Adquirida AIDS. Entre 98 e 984, os investigadores isolaram seu causador, o vírus HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) (). Desde então, a epidemia é uma realidade mundial e constitui um dos maiores desafios para a saúde pública. Atualmente evidenciou-se uma estabilização nas taxas de incidência, porém, o número ainda é alarmante; todos os dias mais de 7 mil pessoas se infectam pela primeira vez com HIV (,). De acordo com o Boletim Epidemiológico de, de 98 a, no Brasil, foram notificados 68. casos de AIDS e no Estado de São Paulo.55, sendo que, ao longo desses anos, o perfil dos indivíduos vulneráveis sofreu modificações. A epidemia era concentrada em gays adultos, usuários de drogas injetáveis e hemofílicos e atualmente observa-se uma tendência de feminização, heterossexualização, pauperização e interiorização dos casos (4,5). Essas mudanças levaram à criação de novas estratégias de ampliação do acesso ao diagnóstico, como sua implantação na rede básica de saúde, promovendo o acesso universal ao diagnóstico, prevenção do HIV/DST e a integralidade do cuidado (6). Em 6 houve a implantação do teste rápido no município de São Paulo, visando à detecção de anticorpos específicos da infecção pelo HIV tipos e, em amostras de sangue total venoso, punção digital, soro ou plasma humano, sendo rápido e de uso único, possibilitando assim, a ampliação do acesso e permitindo que o usuário tivesse conhecimento de sua situação sorológica no mesmo dia, diminuindo angústias e dando maior resolubilidade de resposta à demanda do usuário (7,8, 9). No município de Lorena, o Serviço de Assistência Especializada (SAE) tem caráter de atendimento ambulatorial, para o indivíduo com diagnóstico de HIV e DST e para a população que busca testagem rápida como método de triagem e diagnóstico, sendo subordinada à Coordenadoria Regional de Saúde. O teste rápido foi implantado em janeiro de, sendo capacitado somente um profissional para atendimento de toda a demanda. Os usuários chegam por demanda espontânea ou por meio de encaminhamento das Unidades Básicas de Saúde (UBS), Estratégia de Saúde da Família (ESF) e demais municípios de referência, para acompanhamento da equipe multidisciplinar. REENVAP, Lorena, n. 8, Jan./Julho, 5. 8
4 A importância de conhecer o perfil epidemiológico da população que busca o teste rápido para diagnóstico e triagem é fundamental, para levantar as diferentes características e necessidades que devem ser priorizadas para um planejamento adequado, tanto na forma de prevenção, quanto da assistência. Dessa forma se torna importante, para elaborar estratégias de prevenção intra e extramurais em DST/Aids, integrando sistema de vigilância do HIV, em Lorena/SP. OBJETIVO PRIMÁRIO Descrever o perfil sociodemográfico e comportamental, analisando as associações entre essas características e a soropositividade para o HIV, em usuários do SAE. OBJETIVOS SECUNDÁRIOS Oferecer subsídios para a implantação e implementação de ações mais efetivas de controle e prevenção do HIV; Aprimorar as políticas públicas locais, no sentido de estabelecer a promoção e prevenção da saúde e o estabelecimento de uma melhor qualidade de vida aos portadores de HIV/AIDS. JUSTIFICATIVA Trabalhando no Programa DST/HIV/AIDS/Hepatites Virais do município desde 6, os números de casos notificados chamaram a atenção. Dessa forma, alguns pontos mereciam ser investigados: Qual o perfil epidemiológico dos casos positivos e da população vulnerável? Qual o perfil comportamental dessa população? 84 REENVAP, Lorena, n. 7, Agos./Dez., 5.
5 Qual a porcentagem de casos positivos relacionados à população total do município e do total de usuários testados? O estudo além de propiciar conhecimento de aspectos epidemiológicos e sorológicos, dará subsídios para avaliar a qualidade do atendimento oferecido pelo município? HIPÓTESE Neste trabalho, esperamos encontrar maior busca pela testagem rápida diagnóstica de HIV e maior número de casos de HIV positivo em homossexuais e profissionais do sexo, usuários de drogas injetáveis, baixa escolaridade e múltiplos parceiros. MÉTODOS Estudo de caráter exploratório, constituído a partir de fontes secundárias. Para atender aos objetivos da investigação, optou-se pela utilização do formulário de atendimento (Anexo ) aplicado pelos profissionais de saúde no momento do pré-teste para o HIV, em atendimento individual e sigiloso, no Serviço de Assistência Especializada, no município de Lorena/SP. O formulário de atendimento é padrão, de uso nacional, específico para realização do pré-teste, de acordo com a orientação do Ministério da Saúde. O formulário contém 64 questões, 5 consideradas relevantes para investigação. Das questões, foram selecionadas 6 de múltipla escolha e 7 de resposta sim-não; masculino-feminino; zona rural-zona urbana. Além de respostas curtas sobre município e bairro. A população foi constituída de todos os usuários que procuraram o Serviço de Assistência Especializada em busca de testagem rápida diagnóstica de HIV, no período de janeiro de a dezembro de. Os dados foram tabulados e apresentados por meio de figuras e tabelas. REENVAP, Lorena, n. 8, Jan./Julho, 5. 85
6 RESULTADOS Tabela. Distribuição das características sócio-demográficos da população em busca do Teste Rápido Diagnóstico de HIV, Lorena, / a /. Geral HIV positivos Variáveis N % N % Gênero Masculino 86 (6,6) (78,6) Feminino (9,4) (,4) Etnia Branca 9 (4,) 9 (64,) Preta 4 (7,8) Parda 7 (,8) 4 (8,6) Amarela (,7) Indígena 8 (6,7) (7,) Faixa Etária -9 8 (7,) (4,) (5,) 5 (5,8) -9 6 (9,5) (,4) (,7) (4,) (7,8) (7,) (5,5) 7+ (,7) (,7) (7,) 86 REENVAP, Lorena, n. 7, Agos./Dez., 5.
7 Geral HIV positivos Variáveis N % N % Localidade Norte 6 (,7) 4 (8,6) Sul 7 (,) (7,) Leste 6 (9,5) 4 (8,6) Oeste 86 (8,) 5 (5,7) Outros municípios 66 (,5) (7,) Situação Conjugal Casado 87 (8,) 6 (4,9) Separado (,4) (7,) Solteiro 7 (55,4) 6 (4,9) Viúvo (,) 8 (,6) (7,) Escolaridade Nenhuma a 7 (5,5) 4 a 7 67 (,8) (4,) 8 a 84 (7,4) (4,) ou + 7 (,5) (,4) 67 (,8) 7 (5,) Este estudo contou com 7 formulários de atendimento preenchidos por todos os usuários que buscaram o teste rápido diagnóstico de HIV entre janeiro de a dezembro de. Destes, 9,4% (n=) eram mulheres e 6,6% (n=86), homens. A soropositividade geral foi de 4,6%, sendo 78,6% entre homens e,4% entre as mulheres. REENVAP, Lorena, n. 8, Jan./Julho, 5. 87
8 A informação sobre a variável etnia da população em busca de testagem rápida diagnóstica para HIV foi obtida em 7,% (n=5) dos questionários Destes, 4% eram brancos;,8% pardos e 7,8% negros. Dentre os HIV positivos, 64,% eram de etnia branca. Os grupos etários com maior concentração foram os de a 9 anos, totalizando 7% da população. Observou-se que 5,% estavam na faixa etária dos aos 9 anos e 9,5% entre e 9 anos. No serviço, a informação idade foi encontrada em 99% (n=5) dos questionários. A maior prevalência de HIV ocorreu na faixa etária dos aos 9 anos (5,8%), seguida dos aos 9,,4%. No Serviço de Assistência Especializada, foi registrada, em 9,8% (n=85) dos questionários, a informação do bairro onde os clientes residiam. Destes, 8% residiam na região Oeste do município; 9,5%, na Leste;,%, na Sul;,7% na Norte e,5% em outros municípios. Os bairros foram divididos em regiões para facilitar a visualização e o planejamento das ações, sendo a região Oeste com maior predomínio de soropositividade. No que se refere ao estado civil, foi observado que os solteiros (55,5%) foram os que mais procuraram o SAE, em busca de teste rápido diagnóstico de HIV, porém a porcentagem entre casados e solteiros foi a mesma na população soropositiva. A escolaridade dos clientes do SAE foi registrada em 78,% dos questionários. Desses, 7,4% tiveram de 8 a anos de estudo concluídos;,5% anos ou mais;,8% de 4 a 7 anos e 5,5% de a anos de estudo. Tabela. Distribuição das características comportamentais da população em busca do Teste Rápido Diagnóstico de HIV, Lorena, / a /. Geral HIV positivos Variáveis N % N % Tipo de relação sexual nos últimos meses Nunca teve relação sexual (,) Homem que faz sexo com homem (HSH) 6 (8,5) 4 (8,6) Mulher que faz sexo com mulher (MSM) (,) Bissexual (,9) Heterossexual 4 (78,) 8 (57,) 6 (5,) (4,) 88 REENVAP, Lorena, n. 7, Agos./Dez., 5.
9 Geral HIV positivos Variáveis N % N % Número de parceiros sexuais nos últimos mesessexuais nos últimos mese Nenhum (4,) 9 (8,8) (7,) 54 (7,6) (,4) a 5 44 (4,) (4,) 6 a 4 (7,8) (7,) a (4,) a 5 7 (,) 5 a (,) (7,) + de 4 (,) (4,) 6 (8,5) 4 (8,6) Tipo de exposição Relação sexual sem camisinha (69,) (78,6) Uso de droga injetável (UDI) (,) Uso de outras drogas (UD) 9 (8,7) (7,) Transmissão materno-infantil (,) Hemofílico/transfusão Não possui risco 7 (8,) Outros (6,8) (6,8) (4,) Relato de DST nos últimos mesesnos últimos meses Sim (7,) (4,) Não (65,8) 7 (5,) 8 (7,) 5 (5,7) REENVAP, Lorena, n. 8, Jan./Julho, 5. 89
10 Geral HIV positivos Variáveis N % N % Uso de drogas Nunca usou Bebe ou já bebeu álcool com frequência Usa ou usou drogas injetáveis Usa ou usou outras drogas (cocaína, crack, ecstasy) Tem ou teve parceiro que usou drogas injetáveis (4,9) (,) (,9) (,) (,) (9,6) 6 4 (4,) (6,6) (,) (6,7) (6,7) Uso de camisinha nas relações com parceiro fixo Nunca (6,5) 4 (8,6) Sempre 4 (,7) (,4) Às vezes 7 (,8) 5 (5,8) Não tem parceiro fixo 48 (5,6) (7,) Nunca teve relação sexual 6 (5,) (7,) 6 (5,) Uso de camisinha nas relações com parceiro eventual Nunca 47 (5,) (,4) Sempre 46 (5,) 4 (8,6) Às vezes 44 (4,) (,4) Não tem parceiro fixo (,9) (,4) Nunca teve relação sexual 9 (,7) (9,8) Freqüência de coleta ª vez 4 (45,) 6 (4,9) + de vez 64 (,8) (7,) (,6) 7 (5,) 9 REENVAP, Lorena, n. 7, Agos./Dez., 5.
11 De acordo com o tipo de relação sexual nos últimos meses, 78,% tiveram relação heterossexual; 8,5% eram homens que faziam sexo com homens;,9% tinham relação com homens e mulheres e apenas % eram mulheres que faziam sexo com mulheres. A maioria dos soropositivos era heterossexual (57,%). No SAE, foi registrada em 9,5% (n=8) dos questionários a informação de número de parceiros sexuais no último ano. Destes, 8,8% responderam ter apenas parceiro sexual; 7,6%, parceiros; 4,%, a 5 parceiros; 7,8% tiveram de 6 a parceiros e,% se relacionaram com mais de parceiros. Entre os usuários HIV positivo que responderam à questão tiveram de a 5 parceiros (,4%). De acordo com o tipo de exposição ao vírus HIV, 69,% relataram exposição por relação sexual sem camisinha; 8,7% pelo uso de outras drogas, como crack, cocaína e maconha e 8% disseram não possuir risco. As respostas menos frequentes foram uso de drogas injetáveis e transmissão materno-infantil, com,% cada. A exposição mais relatada por ambos os sexos nos soropositivos foi relação sexual sem camisinha, com 78,6%. Quanto ao relato de DST nos últimos meses, 65,8% dos usuários e 5% dos soropositivos referiram não ter apresentado lesões compatíveis com doença sexualmente transmissível, sendo que 7% optaram por não responder a questão. Observou-se que 4,9% (n=5) da população que buscou teste rápido diagnóstico para HIV no SAE nunca usaram drogas; % (n=79) usaram ou já usaram outras drogas, como cocaína, crack, ecstasy;,% (n=7) bebem ou já beberam álcool com frequência;,% (n=8) têm ou tiveram parceiro (a) que usou drogas injetáveis e,9% usa ou já usou drogas injetáveis. Entre os usuários HIV positivos 4% responderam nunca terem usado drogas. Uma característica identificada no estudo foi que 6,5% dos entrevistados nunca usaram camisinha nas relações com parceiro fixo;,8% disseram usar eventualmente e,8% não usaram camisinha por não terem parceiro fixo ou nunca terem tido relação sexual. Em relação ao comportamento sexual com parceiro fixo, 5,8% dos HIV positivos referiram usar preservativo eventualmente. Quando questionados quanto ao uso de camisinha com parceiro eventual, 5,% nunca utilizaram; 5% usam em todas as relações e 4,% usam eventualmente. REENVAP, Lorena, n. 8, Jan./Julho, 5. 9
12 Quanto à frequência de coleta 45,6% (n=4) realizaram a testagem rápida diagnóstica para HIV pela primeira vez e,8% (n=64) já haviam realizado mais de uma vez. 66,4% (n=4) dos questionários não apresentavam dados da frequência de coleta. Gráfico. População em busca do teste rápido diagnóstico de HIV, conforme o meio de divulgação do serviço, Lorena, / a /. Fonte: Instrumento de Pesquisa. Com relação aos meios de divulgação, 6,7% da população que buscou testagem rápida diagnóstica para HIV foram informados por profissionais da saúde/serviços; 6,8% através de materiais de divulgação; 6% por amigos/ usuários do serviço; 6,7% através de jornal/rádio/tv. 8,4% dos questionários não apresentavam resposta para esta variável. 9 REENVAP, Lorena, n. 7, Agos./Dez., 5.
13 DISCUSSÃO Os achados do presente trabalho mostraram o perfil dos usuários que buscaram testagem rápida para HIV, no município de Lorena entre e. Cabe ressaltar que,5% dos atendimentos eram provenientes da Fundação Casa, justificando a prevalência de maior número do sexo masculino, adolescentes e residentes em outros municípios. Vale ressaltar que o elevado percentual de casos ignorados (não respondeu) pode interferir na qualidade dos dados, sendo necessário analisá-los com cautela. Pode-se justificar o alto número de respostas em branco, devido à dificuldade de interpretação das questões, falha do serviço na orientação realizada aos usuários e o medo de ser reconhecido e estigmatizado. Segundo Souza (), o preenchimento do formulário pode ser considerado, em alguns casos, como invasivo e ofensivo. A proporção de positividade para HIV foi baixa no presente estudo, o que pode ser explicado, provavelmente, pela busca desse serviço por uma clientela menos exposta ao risco de infecção. A ausência de profissionais do sexo no SAE reforça a necessidade do serviço de desenvolver atividades de prevenção voltadas para esta população. Os principais achados mostram que a maioria dos usuários, incluindo os casos positivos era composta por homens, brancos, jovens ( a 9 anos), moradores da zona oeste do município, solteiros e com 8 a anos de escolaridade, semelhante ao observado no Boletim Epidemiológico do estado de São Paulo (4). Os sujeitos testados se caracterizaram por serem na sua maioria jovens e solteiros, porém a maior proporção e o maior risco para o HIV, segundo a literatura, encontram-se na faixa etária de a 9 anos. O estudo de Pechansky (), revela que quanto maior a idade, maior a chance de infecção pelo HIV, por terem se exposto a situações de risco durante mais tempo, bem como terem sido expostos ao vírus, em uma época em que havia menos informação preventiva. Entretanto, cabe ressaltar que dados oficiais do Ministério da Saúde salientam o fato de que a incidência de HIV tem aumentado nas parcelas mais jovens da população e isso parece estar relacionado ao início precoce da atividade sexual de adolescentes, com parceiros mais velhos. Quanto ao estado civil, a maior procura do teste pelos solteiros pode ser devida a percepção de exposição a risco, por estarem envolvidos com múltiplos parceiros sexuais, ou por formas específicas de relacionamento sexual (). REENVAP, Lorena, n. 8, Jan./Julho, 5. 9
14 A busca do teste rápido diagnóstico de HIV pelos moradores da região oeste da cidade pode ser justificada devido ao fato de ser uma área em que se concentra maior número de pessoas vulneráveis, como por exemplo, usuários de drogas e com status social pouco favorecido, aumentando a exposição a situações de risco. Indivíduos de classe econômica menos favorecida apresentam maior associação com soropositividade, pois indivíduos de baixa renda também têm menor nível educacional e menor acesso às informações sobre saúde, tornando-se alvos de doenças potencialmente evitáveis, através de mudanças de comportamento, o que justificaria um foco especial no desenvolvimento ou adaptação de metodologia preventiva específica para esse extrato populacional (). A grande maioria dos usuários que buscaram o teste rápido referiu ser heterossexual; porém a proporção de positividade para HIV entre heterossexual e HSH é pequena. Essas informações mostram a vulnerabilidade elevada dos HSH em relação ao vírus HIV, chamando a atenção para o incremento de estratégias específicas de prevenção nessa população (4,). Atualmente, no Brasil, a principal via de transmissão da doença é a relação heterossexual desprotegida, sendo o maior número dos casos notificados em mulheres (4). As mulheres têm maior dificuldade em negociar sexo seguro com seus parceiros, e isso as deixa vulneráveis para práticas sexuais de risco, seja sexo sem preservativo, seja sexo com usuários de drogas injetáveis (). No estudo de Lima e Freitas () sobre comportamentos em saúde de uma população portadora do HIV/AIDS, 86,5% das mulheres não utilizaram o preservativo nas últimas relações sexuais. Essas atitudes foram atribuídas a fatores como: a prática não faz parte da cultura de idosos; as mulheres ainda consideram o uso de preservativo como um método com objetivo de prevenir a gravidez; as mulheres confiam no parceiro (). Embora o conceito de grupo de risco tenha sido superado, ainda existe resistência para aceitação dentro das relações estáveis. É preciso encarar o risco para homens casados que se envolvem em relações extraconjugais, sem uso de preservativo (4). No presente estudo, o relacionamento com dois ou mais parceiros e relação sexual sem proteção, independente de parceiro fixo ou eventual, apresentaram maior associação com a soropositividade, o que corrobora com a literatura pesquisada. Observou-se também, que a presença de DST nos últimos meses foi maior nos casos soropositivos, salientando o risco do sexo sem proteção (5). 94 REENVAP, Lorena, n. 7, Agos./Dez., 5.
15 Com relação ao estilo de vida, no que diz respeito ao fator de risco, o uso de drogas injetáveis (UDI), a maioria dos pacientes desse estudo relata nenhuma participação e/ou consumo. Os motivos que levam os indivíduos a buscarem um teste para HIV são bastante complexos e podem variar com a cultura do país. Um estudo realizado na Austrália discute que a maioria das pessoas testadas se encontra em baixo risco para a infecção, comparadas com o tipo de população que poderia ser atingida. Os autores sugerem que os medos, as crenças e culpas relacionadas a uma doença estigmatizante e potencialmente fatal dificultam a procura pelo exame (). No presente estudo, ressalta-se a importância de usuários de qualquer tipo de droga, assim como as diversas formas de uso, como a segunda situação de risco na população que buscou a testagem rápida. Os indivíduos que fizeram uso de drogas apresentaram forte associação com a soropositividade para o HIV, mostrando vulnerabilidade para infecção, quando estavam sob o efeito dessas substâncias (8). A procura pelo serviço esteve comumente relacionada a profissionais de saúde e à escola, diferente do encontrado no estudo de Souza (8) em que a divulgação foi feita por amigos e banco de sangue (). CONSIDERAÇÕES FINAIS Esse foi o primeiro estudo sobre as características da população que busca o teste rápido no SAE de Lorena. A análise desse estudo na rotina, bem como a divulgação e discussão com os profissionais que atuam no setor, têm o sentido de responder às necessidades da demanda, à adequação da oferta de recursos e ao planejamento das atividades, visando a uma melhor eficiência e efetividade do serviço. Durante a pesquisa de referencial bibliográfico, observamos um pequeno número de trabalhos abordando dados comportamentais. Os dados sobre comportamento sexual ajudam a explicar as tendências de prevalência da infecção, possibilitando a elaboração de ações mais próximas da realidade dessa população. Salientamos a necessidade de novos estudos com essa temática, porque embora o conceito de grupo de risco tenha sido superado, os autores acreditam REENVAP, Lorena, n. 8, Jan./Julho, 5. 95
16 que são necessárias intervenções focadas na prevenção da transmissão do HIV, em populações com comportamento de risco, como por exemplo, abordagens distintas entre homens e mulheres, já que aparentemente elas apresentam práticas diferentes. Outro ponto importante observado na pesquisa foi a necessidade do atendimento humanizado, que possibilita melhor adesão ao tratamento dos soropositivos e maior vínculo com os soronegativos, visando à prevenção da doença. REFERÊNCIA - Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/SIDA. O SIDA e a infecção por vírus HIV: informação para os funcionários das nações unidas e suas famílias. Genebra: ONUSIDA; Costa DA, Silva LR, Silva LD, Santos JA, Souza CM, Souza SMB. Características epidemiológicas, clínicas e laboratoriais de mulheres com 5 anos ou mais de idade vivendo com HIV/AIDS em Goiás. - Programa Conjunto das Nações unidas sobre HIV/AIDS. Estratégia do UNAIDS/ ONUSIDA -5: CHEGANDO A ZERO. Genebra: UNAIDS;. 4- Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST/AIDS. Boletim epidemiológico AIDS/DST; ano VIII, n;. 5- Araújo CLF, Costa LPM, Schilkowsky LB, Silva SMB. Os centros de testagem e aconselhamento (CTA) no município do Rio de Janeiro e o acesso ao diagnóstico do HIV entre a população negra: uma análise qualitativa. Saúde Soc. São Paulo, v.9, supl., p.85-95,. 6- Programa Nacional de DST e AIDS. Centros de testagem e aconselhamento do Brasil: Desafios para a equidade e o acesso. Brasília: Ministério da Saúde; Wolffenbuttel K. Recomendações para a realização de teste rápido diagnóstico anti- HIV (TRD HIV) em atividade de prevenção extramuros. BEPA 9; 6(67): Farias N, Tancredi MV, Wolffenbuttel K, Tayra A. Características dos usuários e fatores associados à soropositividade para o HIV em usuários de Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) no Estado de São Paulo, a 7. BEPA 8; 5(6): Fundação Oswaldo Cruz [homepage na internet]. Manual de treinamento para TR DPP - HIV / SSP: ensaio qualitativo para detecção de anticorpos específicos da infecção pelo HIV / em amostras de sangue total, soro, punção digital, plasma humano [acesso em 6 mar ]. Disponível em: 96 REENVAP, Lorena, n. 7, Agos./Dez., 5.
17 - Souza V, Czeresnia D, Natividade C. Aconselhamento na prevenção do HIV: olhar dos usuários de um centro de testagem. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 4(7): , 8. -Pechansky F, Diemen LV, Kessler F, De Boni R, Surrat H, Inciardi J. Preditores de soropositividade para HIV em indivíduos não abusadores de drogas que buscam centros de testagem e aconselhamento de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, (): 66-74, jan-fev, 5. -Características e fatores associados ao HIV em usuários de CTA São Paulo, -7/ Farias N et al. -Lima TC, Freitas MIP. Comportamentos em saúde de uma população portadora do HIV/AIDS. Rev Bras Enferm, Brasília, jan-fev; 65():-5. 4-Schneider IJC, Ribeiro C, Breda D, Skalinski LM, d Orsi E. Perfil epidemiológico dos usuários dos Centros de Testagem e Aconselhamento do estado de Santa Catarina, Brasil, no ano de 5. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 4(7): , jul, Piot P, Islam MQ. Sexually transmited diseases in the 99s. Global epidemiology and challenges for control. Sex Transm Dis. 994; ( Suppl):S7-. Responsável pela submissão Dirce Maria de Moura Lima dmprado@gmail.com REENVAP, Lorena, n. 8, Jan./Julho, 5. 97
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