Meu Deus tem piedade de mim que sou pecador

Transcrição

1 30º Domingo do Tempo Comum 23 de outubro de 2016 Meu Deus tem piedade de mim que sou pecador Leituras: Eclesiástico 35, 15b a; Salmo 33 (34); Segunda Carta de São Paulo a Timóteo 4, ; e Lucas 18, COR LITÚRGICA: VERDE Animador: Nesta páscoa semanal de Jesus, a liturgia nos apresenta a oração do fariseu e do publicano. A oração que chega ao coração de Deus é a do publicano que confessa humildemente ser pecador e necessitado da misericórdia de Deus. A misericórdia é a palavra-chave para indicar o agir de Deus para conosco. Ele não se limita a afirmar o seu amor, mas torna-o visível e palpável (MV 9). Que Deus nos dê um espírito de pobres e sedentos de justiça, para reconhecermos e superarmos a autossuficiência farisaica que carregamos em nós. Que neste dia Mundial das Missões, possamos sempre evocar a misericórdia de Deus. (O Dia Mundial das Missões de 2016, mundialmente tem como tema: Igreja missionária, testemunha de misericórdia, sobre o qual o Papa Francisco escreveu uma mensagem cujo conteúdo está disponível em no Blog da Catequese) 1. Situando-nos Celebramos neste domingo o Dia Mundial das Missões. A Campanha Missionária, promovida e coordenada no Brasil pelas Pontifícias Obras Missionárias, propõe para este ano de 2016 o tema: Cuidar da Casa Comum é nossa missão, e o lema: Deus viu que tudo era muito bom (Gn 1,31) A parábola do fariseu e do publicano, a última das parábolas próprias de Lucas, também proporciona um foco interessante para a celebração e a pregação deste domingo. É muito importante penetrar no sentido mais profundo da parábola e não ficar apenas na ideia de que fariseu é mau e o publicano é bom. É fácil conectar o tema da oração com a dimensão missionária da Igreja. O discípulo missionário nunca pode deixar de cultivar uma mística orante para levar a bom termo a missão que lhe foi confiada. O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que a Igreja está a viver, proporciona uma luz para participar também ao Dia Mundial das Missões de 2016: convida-nos a olhar a missão ad gentes como uma grande imensa obra de misericórdia quer espiritual quer 1

2 material. Com efeito, neste Dia Mundial das Missões, todos somos convidados a sair como discípulos missionários e por os talentos, a criatividade, a sabedoria e experiência de cada um de nós para levar a mensagem da ternura e da compaixão de Deus a todas as famílias. Em virtude do mandato missionário, a Igreja se dirige aos que não conhecem o Evangelho, pois deseja que todos sejam salvos e cheguem a experimentar o amor do Senhor. Ela tem a missão de anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho (MV, n.12), e anunciá-la em todos os cantos da terra, até alcançar toda a mulher, homem, idoso, jovem e criança (PAPA FRANCISCO. Mensagem do Dia Mundial das Missões). 2. Recordando a Palavra A primeira leitura nos traz novamente a figura de Deus como juiz. Para entendermos o que significa isso, precisamos deixar de lado a imagem de juiz que conhecemos: nossa sociedade entende que o juiz, para julgar corretamente, deve ser imparcial, isto é, não ter predileção, simpatia, ligação, preferência por nenhuma das partes que se apresentem diante dele. Deus não é assim: Ele toma partido, é portanto, parcial. Coloca-se ao lado do pobre. Os ricos tentam subornar a Deus com ofertas grandiosas e com presentes caros. O pobre só tem para oferecer suas lágrimas, fome, enfermidade, gritos de dor. Deus atende o pobre: esta é sua justiça. Nossa opção pelos pobres corre o riso de ficar em plano teórico ou meramente emotivo, sem verdadeira incidência em nossos comportamentos e em nossas decisões. É necessária uma atitude permanente que se manifeste em opções e gestos concretos, e evite toda atitude paternalista (DAp, n.397). O mal, a dor e o sofrimento existem no mundo. Deus não faz uma intervenção para tirar todos os problemas da vida dos que a Ele recorrem, mas coloca-se ao lado de quem sofre. Seu juízo torna-se negativo contra quem é rico e não se sensibiliza com os que sofrem, porém podem ser ajudados. A prece dos humildes, por ser sincera, atravessa as nuvens, chega a Deus e é ouvida. É isso que canta o salmo 33: o pobre clama a Deus e Ele o escuta, o Senhor liberta a vida de seus servos. Deus está perto do coração atribulado, confortando os de espírito abatido. Que bom sabermos que, em nossas dores, dificuldades e problemas, Deus está conosco. A segunda leitura, ainda da segunda Carta de Paulo a Timóteo, é uma exortação à fidelidade. Para essa exortação, o Apóstolo vale-se de sua história pessoal: nele se revelou a fidelidade de Deus. A fidelidade de Paulo, contudo, pode levar à morte, igual ao que ocorreu a Jesus. O apóstolo pode sentir-se desanimado e tentado, como Jesus na Cruz. A angustia, porém, não tem a última palavra, mas a esperança. Paulo encara com serenidade a possibilidade da morte e a aceita como um sacrifício que há de oferecer a Deus em um retorno à casa do Pai. 2

3 As palavras de Paulo poderiam parecer, sob um primeiro olhar, muito semelhantes às do fariseu que se vangloria de suas próprias obras diante de Deus. O sentido, no entanto, é muito diferente: Paulo agradece ao Senhor a ajuda recebida para cumprir sua missão no mundo. Conclui o discurso dando toda a glória ao Senhor. Nenhuma dessas atitudes teve o fariseu em sua oração. Quando ele fala em ser oferecido em sacrifício, evoca a imagem do azeite ou do vinho derramados sobre o altar nas oferendas diárias da manhã e do entardecer no Templo. Esta imagem serve para Paulo expressar que sua vida é uma oferenda, uma doação, um devolver a Deus o que Ele lhe deu. Para ele, morrer é como uma partida ao encontro definitivo e pleno com Cristo. Paulo, para se referir à sua vida, usa comparações com uma corrida e um combate em que ele saiu vencedor. O prêmio é uma coroa, a coroa da justiça. Entretanto, não só ele a receberá, mas também todos os que esperam com amor a manifestação gloriosa o Senhor. O Evangelho nos apresenta uma parábola que é sequencia imediata daquela que ouvimos no último domingo (da viúva insistente e do juiz iníquo). Mas esta de hoje é endereçada diretamente a uma classe de pessoas: os autossuficientes. Temos duas pessoas que são importantes para analisar: o fariseu e o publicano. Aqui há que ter muito cuidado ao falar dos fariseus. Eles não são pessoas más. Às vezes os caricaturamos demais. O fariseu é o personagem dos direitos, da necessidade de cumprir a lei, da rigidez. O publicano é o encarregado de recolher os impostos que serão remetidos aos romanos. À cobrança dos impostos, os publicanos acrescentavam sua porcentagem pessoal, muitas vezes abusiva, configurando-se verdadeira extorsão. Nem é preciso dizer que os judeus não gostavam, deles, pois eram colaboracionistas da ocupação romana na Palestina. O publicano desta parábola é, porém, uma pessoa consciente de seu mau comportamento, por isso não se julga melhor que ninguém. Os fariseus, nesta parábola, são as pessoas religiosas dentro do povo de Deus. Estas não foram atingidas pelo convite à oração no último domingo, porque já fazem isto. A elas hoje Jesus dirige sua crítica, ressonância daquela feita aos nove leprosos que não voltaram para agradecer dirige-se aos judeus que não se abriram à ação de Deus por se considerarem merecedores dela. Esta crítica de Jesus é uma crítica frontal ao povo de Deus. Nada do que o fariseu diz a Deus é mentira, no entanto lhe falta a atitude fundamental: reconhecimento de sua pequenez diante de Deus. O fariseu diz que jejua duas vezes por semana e dá o dízimo de toda a sua renda. O erro do fariseu é se considerar justificado pelas obras que realiza e pensar ser melhor que as outras pessoas. Se ele se julga bom, merecedor da salvação, para que precisa de Deus? O cobrador de impostos ficou a distância, sem elevar os olhos a Deus e batendo no peito reconhecia seu pecado e pedia perdão. Bater no peito é um gesto de arrependimento profundo, uma vez que o coração é a sede as decisões humanas. A situação do publicano é, de fato, desesperadora. Para ser perdoado terá que deixar o emprego e ressarcir a todas as pessoas de quem roubou. Como fazer isso? Jesus faz uma conclusão que deve ter deixado a todos boquiabertos: este último voltou para casa justificado, o outro não. 3

4 3. Atualizando a Palavra Podemos resumir a mensagem desta Liturgia da Palavra em quatro pontos, que nos podem ser úteis para refletir na homilia: 01. O centro de tudo: saber-se e sentir-se pecador e fraco. O farisaísmo está hoje presente no mundo cristão, tanto no contexto individual quanto comunitário. No individual, devemos confessar que, muitas vezes, educamos no farisaísmo nossos cristãos ao lhes dar as leis como norma fundamental de suas vidas. No comunitário, ocorre o farisaísmo em grupos da Igreja que se creem os bons, os cumpridores, os únicos fiéis. Estes rezam para que os que não pensam como eles se convertam, porque estão errados!! Onde está radicado o mal do farisaísmo? Na nossa visão de Deus, visto como um comerciante que vende o céu em troca de obras humana. Esta parábola prepara muito bem a teologia paulina da justificação que Deus concede a quem não pode justificar-se a si mesmo. Esta justificação se obtém por meio da cruz de Cristo e o Batismo é seu instrumento. Aproximar-se de Deus consiste em abandonar o próprio egoísmo para encontrar a felicidade em Deus. Os santos sempre se consideravam pecadores: quanto mais perto da luz se está, mais se percebe as manchas do pecado em nós. Quando se toma consciência do pecado, então e somente então, aparece Deus com a promessa da salvação. 02. Do coração atribulado ele está perto (Sl 33/34). Deus salva os que não tem como salvar-se: todos nós. Cristo, no Evangelho, não louva a situação humana de pecado do publicano, nem a indigência moral, sua escassa prática religiosa. Mas louva, isto sim, seu arrependimento, sua humildade, seu não julgamento dos demais. Jesus também não condena o fariseu por ser religioso, por levar uma vida moral digna, por fazer jejum e dar o dízimo. Critica sua soberba e julgamento dos outros. 03. Paulo mostra aos que querem se salvar sozinhos, que se tornaram escravos da Lei. Paulo foi mestre em mostrar que o cristianismo não é a religião da liberdade em Cristo. Por isso ele testemunha que seu êxito de vida não se deve ao fato de ter sido um bom observante da Lei mosaica, mas se deve ao fato de Cristo ter estado ao seu lado e ter-lhe dado forças na missão. A salvação vem pela fé em Cristo. Participar da vida de Deus é graça, dom que recebe quem tem um coração capaz de receber. 04. Os sacramentos, medicina e alimento para a vida cristã. Santo Agostinho, em seus Sermões, assim comenta essa passagem bíblica: tendo se extraviado do caminho e sem saber para onde se dirigia, foi para a casa do médico, onde podia ser curado. Mas mostrava ao médico os membros sadios e escondia as feridas que tinha no corpo. Deixa Deus cuidar das feridas, não tu; pois, se por vergonha, quiseres cobri-las tu, não te curará o médico. Enfaixa-as e as cura o médico, depois de aplicar nelas o medicamento. A ferida cura sob os cuidados do médico. Se, ao contrário, escondes a ferida, ele não a curará. De quem tentas escondê-las? De quem conhece tudo?. Reconciliação e Unção dos Enfermos são sacramentos de cura. Precisamos deles nas diversas circunstâncias da vida. No entanto, como diz Agostinho, muitas vezes preferimos ocultar nossas feridas e exibir apenas o que estas são. O cristianismo é uma religião de cura, de cuidado, de salvação. Basta abrir-se e estar disponível à graça e à misericórdia de Deus que cobre todos os pecados. 4

5 4. Ligando a Palavra com ação litúrgica Paulo vê sua morte iminente como um sacrifício oferecido a Deus. Na celebração eucarística, oferecemos nossa vida a Deus, para que também nós sejamos associados ao sacrifício redentor de Cristo. Tanto sacramento mais procurado, que é a Eucaristia, como os menos valorizados, como a Unção dos Enfermos e a Penitência, são momentos privilegiados de, como a atitude do publicano, reconhecer nossa total dependência de Deus. Se nos fechamos em nossa autossuficiência, Deus não tem como agir em nós, pois fazemos dele alguém dispensável. Na oração pós-comunhão deste domingo rezamos: Ó Deus, que os vossos sacramentos produzam em nós o que significam, a fim de que um dia entremos em plena posse do mistério que agora celebramos. A Eucaristia, sendo ação de graças nos ensina a ser agradecidos. Agradece quem percebe o que tem e o que é não é mérito seu, mas obra do amor de Deus em nós. Neste Dia Mundial das Missões a Conferência Nacional dos Bispo do Brasil, citando o Documento de Aparecida, assim nos exorta: A missão não é tarefa opcional, mas parte integrante da identidade cristã (Ibidem, n ). É muito importante reavivar a consciência de que a Igreja existe para evangelizar e a missão tem um caráter fundamentalmente transformador da vida das pessoas, porque quem se encontra com Jesus Cristo passa por uma real e verdadeira mudança de vida. A Eucaristia, fonte inesgotável da vocação cristã é, ao mesmo tempo, fonte inextinguível do impulso missionário. Aí, o Espírito Santo fortalece a identidade do discípulo e desperta nele a decidida vontade de anunciar com audácia aos demais o que tem escutado e vivido (ibidem, n.251). Preces dos fiéis Presidente: Com a confiança de quem sabe que nossa oração ultrapassa as nuvens e é ouvida por Deus, imploremos a graça divina para que venha em nosso auxílio e atenda nossas preces. 1. Senhor, que a Igreja, na humildade, possa ser exemplo de tua grande misericórdia e acolha com carinho os pecadores. Peçamos: Todos: Escuta-nos, Senhor. 2. Senhor, que os governantes, na humildade, possam olhar com mais carinhoso o povo sofrido. Peçamos: 3. Senhor, que os sofredores, na humildade possam achar sempre carinho e proteção em teu grande amor. Peçamos: 4. Senhor, que nossa comunidade, na humildade, possa sempre se reconhecer pecadora e necessitada de Ti. Peçamos: (Outras intenções) Presidente: Escuta, Senhor, nossas orações. Faça com que perseveremos na fé e a manifestemos em nossa vida comprometida. Por Cristo, nosso Senhor. Todos: Amém 5

6 III. LITURGIA EUCARÍSTICA ORAÇÃO SOBRE AS OFERENDAS: Presidente: Olhai, ó Deus, com bondade, as oferendas que colocamos diante de vós, e seja para vossa glória a celebração que realizamos. Por Cristo, nosso Senhor. ORAÇÃO SOBRE AS OFERENDAS: Presidente: Ó Deus, que os vossos sacramentos produzam em nós o que significam, a fim de que um dia entremos em plena posse do mistério que agora celebramos. Por Cristo, nosso Senhor. BÊNÇÃO E DESPEDIDA Presidente. O Senhor esteja convosco. T. Ele está no meio de nós. Presidente: O Deus Pai, que em Jesus manifestou a solidariedade e a caridade, vos faça mensageiros do Evangelho e testemunhas do seu amor no mundo. Presidente: O Senhor Jesus que prometeu a sua Igreja estar a seu lado até o fim dos tempos, dirija os vossos passos e confirme as vossas palavras. Presidente: O Espírito Santo esteja sobre vós, para que percorrendo os caminhos do mundo, possais evangelizar os pobres, dar vistas aos cegos, e curar os corações humilhados e contritos. Presidente: (Dá a bênção e despede a todos). 6