III-250 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CAMADAS DE COBERTURA INTERMEDIÁRIAS E FINAIS EM CÉLULAS EXPERIMENTAIS DE DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS
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- João Pedro Amaral Coelho
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1 III-250 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE CAMADAS DE COBERTURA INTERMEDIÁRIAS E FINAIS EM CÉLULAS EXPERIMENTAIS DE DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS Hosmanny Mauro Goulart Coelho (1) Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestrando do Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil. Liséte Celina Lange Química, Doutora em Tecnologia Ambiental pela Universidade de Londres Inglaterra, Profª. Adjunta do Departamento de Engenharia de Sanitária e Ambiental da UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil. Gustavo Ferreira Simões Engenheiro Civil pela UFMG, Doutor em Engenharia Civil pela PUC-RIO, Prof. Adjunto do Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia da UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil. Cynthia Fantoni Alves Ferreira Engenheira Civil. Especialista em Gestão Ambiental. Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela UFMG. Doutoranda em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela UFMG e pesquisadora vinculada ao Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil. Danielle Fernandes Viana Química e Técnica em Saneamento, pesquisadora vinculada ao Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil. Endereço (1) : Av. do Contorno, 842-7º andar - Sala Centro - Belo Horizonte - Minas Gerais - CEP: Brasil - Tel: +55 (31) Fax:: +55 (31) hosmanny@hotmail.com RESUMO O desenvolvimento de alternativas tecnológicas que viabilizem o aumento da longevidade dos aterros de disposição final de RSU e a diminuição na demanda por material utilizado nas camadas de cobertura, se mostra de extrema importância. Este trabalho objetiva avaliar a influência dessas camadas de cobertura na degradação dos RSU e na geração e características físico-químicas dos lixiviados (ph, DQO, DBO). Os experimentos vêm sendo realizados em 4 células experimentais de 27,0m 3 construídas no aterro de RSU do município de Catas Altas, Minas Gerais, e, preenchidas com os resíduos da coleta diária municipal ao longo de um período de aproximadamente 3 meses. Para possibilitar comparações entre as células, diferentes configurações de camadas de cobertura foram executadas. A pesquisa envolveu também o monitoramento dos recalques das células, a coleta e análise dos lixiviados das células, obtenção de dados climatológicos (temperatura, precipitação) e elaboração de balanço hídrico. Os trabalhos realizados até o momento possibilitaram verificar que as camadas de cobertura finais realizadas não apresentaram diferenças significativas no que se refere à infiltração de água de chuva e que as camadas intermediárias interferem nos parâmetros físico-químicos dos lixiviados. Além disso, os recalques observados vêm revelando uma similaridade entre as células experimentais. A pesquisa continua sendo realizada e os resultados serão finalizados em dezembro de PALAVRAS-CHAVE: Resíduos Sólidos Urbanos, Disposição de Resíduos, Camadas de Cobertura, Cobrimento de Resíduos, Células de Resíduos. INTRODUÇÃO De acordo com TCHOBANOGLOUS e O LEARY (1994), os aterros sanitários se referem a uma técnica de engenharia para a disposição de resíduos sólidos urbanos (RSU), sendo projetados e operados com o objetivo de minimizar os impactos ambientais e à saúde pública. O termo célula é usado para descrever o volume de material depositado em um aterro durante um determinado período de operação. Dentre os procedimentos operacionais de um aterro sanitário se inclui a execução de camadas de coberturas intermediárias e finais sobre os RSU dispostos nesses locais. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1
2 As camadas de cobertura intermediárias, realizadas ao longo do processo de preenchimento do aterro com os RSU, têm como funções principais o controle dos seguintes problemas: proliferação de vetores de doenças (insetos, roedores, etc.); emanação de odores; combustão espontânea; ação do vento ao provocar espalhamento ou escape dos resíduos do interior das células de aterramento; proteção contra pássaros; minimização do afluxo de águas pluviais para o interior do maciço de resíduos. Já as camadas de cobertura finais, executadas na finalização de uma célula de aterramento, têm como finalidade evitar a infiltração de águas pluviais, que podem resultar em um aumento do volume de líquidos lixiviados, e impedir que gases gerados na degradação da matéria escapem para a atmosfera. Além disso, favorecem a recuperação final da área e a revegetação. Geralmente, o solo é o material mais utilizado para a execução dessas camadas, porém, nem sempre a área do aterro sanitário possui quantidade disponível do mesmo que seja suficiente para cobrimento dos resíduos ao longo de toda vida útil do aterro. Dessa forma, faz-se necessária à exploração de jazidas de solo, que após serem exploradas não são, muitas vezes, recuperadas tornando-se grandes passivos ambientais. Camadas de cobertura, especialmente as intermediárias, executadas em grandes espessuras demandam muito material e podem diminuir o volume disponível para aterramento e, conseqüentemente, reduzir a vida útil do aterro. Além disso, as camadas de cobertura intermediárias e finais podem influenciar diretamente os parâmetros de degradação dos resíduos como, por exemplo, o teor de umidade, ao estabelecer, no interior da massa de resíduos, zonas com características distintas, também conhecidas como bolsões. Os processos de degradação ou decomposição dos RSU são, em essência, processos de nutrição e respiração (aeróbia, em presença de oxigênio livre, e anaeróbia, na ausência deste) dos microrganismos. Durante a vida de um aterro, as fases de degradação anaeróbia (hidrólise, metanogênese etc.) não são muito bem definidas. Isto ocorre na medida em que sempre há o aterramento de novos resíduos sólidos, causando uma grande variabilidade na idade do material disposto e, conseqüentemente, gerando a possibilidade de se encontrar diferentes fases ocorrendo simultaneamente em um único aterro. Essas fases de degradação podem ser avaliadas indiretamente por meio de parâmetros físico-químicos e biológicos dos líquidos lixiviados, bem como dos resíduos aterrados e, também, pelo monitoramento dos recalques do maciço de resíduos. Os recalques identificados em aterros sanitários são devidos a movimentações verticais da massa de resíduos e das camadas de cobertura intermediária e final. Tais movimentações, muitas vezes causadas pela degradação dos RSU e rearranjo dos resíduos internamente ao maciço, geram reduções de volume e aumento da capacidade de armazenamento e, conseqüentemente, da vida útil desses aterros. Determinando-se os recalques remanescentes pode-se projetar a utilização do aterro depois de encerrada sua vida útil (SIMÕES, 2000). Sendo assim, o desenvolvimento de alternativas tecnológicas que viabilizem o aumento da longevidade dos aterros de disposição final de RSU e a diminuição na demanda por material utilizado nas camadas de cobertura intermediárias e finais, especialmente por solo, se mostra justificado e importante. Logo, o presente trabalho, inserido no âmbito do Programa de Pesquisa em Saneamento (PROSAB), tem como objetivo avaliar a influência de diferentes configurações de camadas de cobertura intermediárias e finais na degradação dos resíduos sólidos urbanos e nas características físico-químicas dos líquidos lixiviados, a partir da implantação, operação e monitoramento de células experimentais de disposição final de resíduos sólidos urbanos. MATERIAIS E MÉTODOS Inicialmente o trabalho envolveu aspectos construtivos, operacionais e monitoramento, como também a realização de balanço hídrico das células experimentais, conforme descrito a seguir. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2
3 ASPECTOS CONSTRUTIVOS DAS CÉLULAS EXPERIMENTAIS Para a execução da pesquisa foram construídas em campo, 4 células de 27m 3 cada uma, dotadas de sistema de impermeabilização da base e laterais constituídos de manta asfáltica e geotêxtil; drenos testemunhos para detecção de vazamentos pelas camadas de impermeabilização; sistema de drenagem de gases; sistema de drenagem e captação dos líquidos lixiviados, além de poços de monitoramento desses líquidos (Figura 1). Figura 1: Planta e Detalhe do Perfil Típico das Células Experimentais. TUBOS PARA ADIÇÃO DE ÁGUA CE4 DRENO DE GÁS COBERTURA FINAL MANTA ASFÁLTICA GEOTÊXTIL DRENO DE GÁS DRENAGEM DE LIXIVIADOS CAMADA DE DETECÇÃO DE VAZAMENTOS RSU i=2% 300 cm i=2% 300 cm 10 cm TANQUE DE COLETA DE LIXIVIADOS CE1 TUBOS PARA ADIÇÃO DE ÁGUA CÉLULA EXPERIMENTAL CE3 TUBO DE DRENAGEM DE LIXIVIADOS POÇO DE MONITORAMENTO 300 cm Após a construção, as células foram preenchidas com resíduos sólidos provenientes da coleta diária do município de Catas Altas, Estado de Minas Gerais. Tais resíduos sofreram compactação mecânica até a obtenção de peso específico de 500kgf/m 3. Durante o preenchimento das células os resíduos foram caracterizados por meio da realização do ensaio composição gravimétrica (Figura 2), além dos ensaios físicoquímicos de determinação do teor de umidade, sólidos voláteis e capacidade de campo (Tabela 1). CE2 300 cm Figura 2: Composição Gravimétrica dos RSU Aterrados nas Células Experimentais (Base Úmida). matéria orgânica putrescível 0% 3% 1%1% 13% 1% 38% 10% 1% 2% 0% 13% 18% plástico papel/papelão vidro metal ferroso metal não ferroso pano/trapo/couro/borracha madeira contaminante biológico contaminante químico pedra/terra/cerâmica diversos serviços de saúde Tabela 1: Características físico-químicas dos resíduos sólidos aterrados. Parâmetro Valor Médio Obtido (%) Teor de Umidade 55 Sólidos Voláteis 77 Capacidade de Campo 70 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3
4 PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS DAS CAMADAS DE COBERTURA DOS RSU Antes da execução das camadas de cobertura intermediárias e finais nas células experimentais, foram realizados ensaios de caracterização geotécnica do solo utilizado, segundo os critérios apresentados pelas normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) relacionadas a cada análise específica. Abaixo são listadas as análises realizadas, bem como os valores médios obtidos em 5 amostras ensaiadas do mesmo material: Teor de umidade: 24,2%; Massa específica dos grãos: 2,62 g/cm 3 ; Granulometria: 80% silte, 13% argila, 6% areia e 1% pedregulho; Limite de Liquidez (LL): 41%; Limite de Plasticidade (LP): 24%; Compactação: massa específica seca máxima de 1,68g/cm 3 e umidade ótima de 16%. Para possibilitar a avaliação das camadas intermediárias foram executadas 3 configurações diferentes de camadas nas células experimentais, a saber: nas células experimentais (CE1 e CE2), não foi realizada camada de cobertura intermediária dos resíduos aterrados. Entretanto, para facilitar comparações, este procedimento foi denominado (I1); na célula experimental CE3, foi executada uma camada intermediária constituída por capim (função suporte e separação entre o solo e os resíduos) de aproximadamente 2 cm de espessura e solo compactado com 5cm de espessura; este procedimento foi denominado (I2); na célula experimental CE4, foi executada uma camada intermediária constituída apenas por solo compactado com 10cm de espessura, este procedimento foi denominado (I3). É importante salientar nas células que receberão camada intermediária, estas foram executadas à altura de 1,50m a partir do fundo da célula, sendo compactadas manualmente com soquete de 9kg. Já para permitir a avaliação das camadas finais foram executadas 2 configurações diferentes de camadas nas células experimentais, da seguinte maneira: na célula experimental (CE1), foi executada uma camada de 40cm de solo compactado a um grau de compactação de 90%, realizada com soquete manual de 9kg; nas demais células experimentais (CE2, CE3 e CE4), foi executada uma camada de 40cm de solo compactado a um grau de compactação de 100%, realizada com compactador mecânico (tipo sapo). Um resumo esquemático dos procedimentos operacionais referentes às camadas de coberturas intermediárias e finais realizadas na pesquisa é apresentado na Figura 3. Figura 3: Resumo Esquemático das Camadas de Cobertura Realizadas nas Células Experimentais. h GC1 h GC2 h GC2 h GC2 Intermediária - I1 Intermediária - I1 Intermediária - I2 Intermediária - I3 CE1 CE2 CE3 CE4 MONITORAMENTO E ANÁLISE LABORATORIAIS Para o monitoramento dos recalques das células experimentais foram instaladas placas de aço (base = 20 x 20 cm e haste = 30 cm), uma em cada célula e executados níveis de referência próximos às células experimentais. Os recalques foram monitorados quinzenalmente com início correspondendo ao 98º dia de aterramento dos RSU, sendo a medição realizada por meio de um nível de mangueira. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4
5 Os líquidos lixiviados coletados no poço foram quantificados e amostrados para realização de análises físicoquímicas, segundo o Standard Methods of Chemical Analysis (APHA, 1992), dos seguintes parâmetros: ph, alcalinidade, demanda química de oxigênio (DQO), demanda bioquímica de oxigênio (DBO), nitrogênio total (NTK), nitrogênio amoniacal (NH 3 -N), cloretos (Cl - ), fósforo total, além da determinação de metais pesados (Fe, Cd, Pb, Zn e Cr) por meio de espectrofotometria de absorção atômica. BALANÇO HÍDRICO O balanço hídrico das células experimentais pode ser dividido em duas etapas: balanço hídrico da camada de cobertura final, armazenamento e fluxo de umidade na massa de RSU. Para obtenção da geração teórica de lixiviados nas células foi realizado o balanço hídrico quinzenal entre o período de setembro de 2004 a março de A vazão de água percolada pela camada de cobertura final foi estimada e o lixiviado gerado foi medido. Após estimar estes parâmetros, foi possível avaliar a quantidade de água remanescente no interior das células experimentais e o teor de umidade total dos RSU. Para estimar a percolação de água através da camada de cobertura final foi desenvolvida uma planilha eletrônica utilizando o procedimento descrito por KOERNER e DANIEL (1997), que é baseado nas publicações de THORNTHWAITE e MATHER (1957), FENN et al. (1975) e KMET (1982). A evapotranspiração potencial foi calculada pelo método de THORNTHWAITE e MATHER (1957), sendo obtida a partir de correlações empíricas que envolvem a média mensal de temperatura do ar. Dados diários de precipitação foram inicialmente obtidos na estação climatológica mais próxima (operada pela Agência Nacional de Águas ANA), localizada a 15km do aterro (ANA, 2005). A partir de dezembro, um pluviômetro foi instalado no aterro, possibilitando a obtenção das precipitações diárias do local. Dados da temperatura mensal média (baseada em um histórico de 30 anos) foram obtidos na estação meteorológica mais próxima (operada pelo Instituto Nacional de Meteorologia INMET) que possuía esses dados arquivados e disponíveis, localizada a 118 km do aterro na cidade de Belo Horizonte. RESULTADOS MONITORAMENTO DOS RECALQUES A Figura 4 apresenta os recalques observados ao longo do tempo em cada uma das células experimentais. Como se pode observar na Figura 4 as células experimentais apresentaram um perfil similar de variação de seus recalques, destacando a célula experimental CE3 cujos abatimentos se mantiveram ligeiramente acima dos valores observado nas demais células. Figura 4: Recalques das células experimentais em função do tempo. 0 5 Recalque (cm) CE1 CE2 CE3 CE Tempo de aterramento (dias) ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5
6 Dessa forma, pode-se dizer que as diferentes configurações de camadas de cobertura intermediárias e finais não apresentaram, no período de observação, influência no que tange a ocorrência dos recalques nas células experimentais. ANÁLISES LABORATORIAIS DO LIXIVIADO A Figura 5 apresenta a evolução do ph em função do período de aterramento, cujo 1º dia foi dia 01 de julho de Figura 5: Evolução do ph ao Longo do Tempo. 8,5 8,0 7,5 ph 7,0 6,5 6,0 CE1 CE2 CE3 CE4 5, Tempo de aterramento (dias) Ao longo dos 181 dias de monitoramento (do 91º ao 272º dia de aterramento) as células experimentais apresentaram valores de ph na faixa de 5,6 a 8,0, compatíveis com o estudo realizado por PESSIN et al. (2003) cujos valores mínimo e máximo de ph obtidos no monitoramento de aterros experimentais foram, respectivamente, 5,3 e 8,0. Os valores de ph (Figura 5) de todas as células experimentais apresentaram valores similares até o 153º dia de aterramento. A partir desse dia a célula nº4 apresentou valores menores que o das outras células. Como justificativa, pode-se supor que a camada de cobertura intermediária utilizada na célula nº4 esteja conferindo uma maior resistência à percolação de água pelos resíduos e conseqüentemente, gerando uma característica atípica em relação as demais células. Verifica-se também que a partir do 118º dia de aterramento os valores ph alcançaram a faixa acima de 6,5 e próximas a ph neutro (7,0) favorecendo assim, o desenvolvimento da fase metanogênica. A Figura 6 apresenta o perfil de variação dos valores de DQO ao longo do tempo. Observa-se uma queda contínua dos valores de DQO a partir do 153º dia de monitoramento em todas as células experimentais. A partir do 188º de aterramento a célula nº 4 apresentou menores valores de DQO ao longo do tempo, o que pode ser correlacionado com os valores de ph. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6
7 Figura 6: Evolução da DQO ao Longo do Tempo DQO (mg/l) CE1 CE2 CE3 CE Tempo de aterramento (dias) A Figura 7 apresenta a evolução dos valores de nitrogênio total (NTK) ao longo do tempo. Figura 7: Evolução do NTK ao Longo do Tempo NTK (mg/l) CE1 CE2 250 CE3 CE Tempo de aterramento (dias) Na Figura 7, todas as células experimentais apresentaram elevação nos valores de nitrogênio total até o 153º dia de aterramento, a partir desta dia a célula nº 4 sofreu uma diminuição maior em relação ao padrão observado nas as demais células. A partir do 180º de aterramento os valores de NTK situaram abaixo de 500mg/L. A Figura 8 apresenta a evolução dos valores de nitrogênio amoniacal (NH 3 -N) ao longo do tempo. Pode-se observar que entre os dias 111º e 153º de aterramento os valores de nitrogênio orgânico oscilaram entre 550 e 950 mg/l. A partir do 153º de aterramento a célula experimental nº4, analogamente ao ocorrido com o nitrogênio total, sofreu uma diminuição maior que as demais células. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 7
8 Figura 8: Evolução do NH3-N ao Longo do Tempo N-NH3 (mg/l) CE1 200 CE2 CE3 CE Tempo de aterramento (dias) Salienta-se ainda que a partir do dia 153º as chuvas tornaram-se bastante intensas na área de aterramento, podendo ter, a partir desse período, influenciado diretamente em determinados parâmetros analisado como a DQO, nitrogênio total e amoniacal. BALANÇO HÍDRICO DAS CÉLULAS EXPERIMENTAIS A Tabela 2 apresenta os resultados do balanço hídrico realizado para a camada de cobertura final dos RSU de 40 cm de espessura de solo compactado. Tabela 2: Balanço Hídrico. Dias Mês P (mm) EP(mm) I (mm) ES (mm) AS (mm) ER (mm) PER (mm) VPER (L) set/ out/ out/ nov/ nov/ dez/ dez/ jan/ jan/ fev/ fev/ mar/ mar/ TOTAL 7099 Em que: P = precipitação; EP = evapotranspiração potencial; I = infiltração; ES = escoamento superficial, desprezado em função dos recalques ocorridos, que favoreceram a acumulação de água no topo das células; AS = altura de água armazenada na camada de cobertura final, considerando uma capacidade de campo do solo de 300mm H 2 O/m solo (ROCCA et al., 1993 apud FIRTA E CASTILHOS JUNIOR, 2003); ER = evapotranspiração real; PER = percolação de água pela camada de cobertura final; ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 8
9 VPER = volume de água percolada pela camada de cobertura final acumulado no período de 15 dias de cada uma das células experimentais. Entre os dias 15 de setembro de 2004 e 31 de março de 2005, cada uma das células experimental gerou um volume médio de aproximadamente 4050 litros de lixiviado. O volume total estimado de água que percolou a camada de cobertura final foi de 7099 litros em cada célula ao longo do mesmo período. Dessa forma, do volume estimado, 3049 litros de lixiviado estariam retidos no interior das células de aterramento, cuja umidade atual estimada seria de 69%, isto é, as células já teriam atingido valores de teor de umidade próximos a capacidade de campo dos resíduos de 70%. CONCLUSÕES Com base no trabalho realizado, concluiu-se que: A utilização do capim como componente de uma camada intermediária favoreceu a compactação do solo de cobertura possibilitando a utilização de uma camada de apenas 5 cm de espessura, e, conseqüentemente, minimizando a quantidade de material demandado para o cobrimento intermediário dos resíduos aterrados. Provavelmente a camada intermediária realizada na célula experimental 4, constituída por 10cm de solo compactado está interferindo nos parâmetros físico-químicos dos lixiviados e, conseqüentemente, na degradação dos RSU ali aterrados. Além disso, a geração de lixiviados se apresenta um certo atraso em relação as demais células no que se refere ao efeito da chuva. Não foram observadas variações significativas entre as camadas de cobertura finais que justifiquem a utilização de grau de compactação de 100% contraponto a 90%, uma vez que ambas as configurações desempenharam suas funções adequadamente, se comportamento de forma bastante similares. As estimativas de geração de lixiviados indicam que as células experimentais já apresentam teor de umidade próximos da capacidade de campo de 70%. Finalmente, pode-se dizer que com a continuidade do monitoramento que se estenderá até o final de dezembro de 2005, juntamente com a análise estatística que será realizada, ter-se-á possibilidades de melhor compreensão das possíveis diferenças de comportamento existentes entre as células experimentais. AGRADECIMENTOS Agradecemos ao Programa de Pesquisa em Saneamento (PROSAB) pelo financiamento deste trabalho, a CAPES e ao CNPq pelas bolsas cedidas, a Prefeitura de Catas Altas/MG, e as alunas Ramille Araújo Soares, Cristiane Fernanda da Silva e Kenya Gonçalves Millard. Agradecemos à VIAPOL, na pessoa do Sr. Gercino Eustáquio Tavares, pela doação das mantas asfálticas e à BIMIG, na pessoa do Sr. Oldac César Elias, pela doação das mantas geotêxteis. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. APHA (1992) Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater, 17th Edition. American Public Health Association, Washington, DC. 2. BIDONE, F. R. A., POVINELLI, J. Conceitos básicos de resíduos sólidos, EESC/USP, São Carlos, 1999, 120p. 3. CASTILHOS JUNIOR, A. B., MEDEIRO, P. A., FIRTA, I. N., LUPATINI, G., SILVA, J. D. Principais processos de degradação de resíduos sólidos urbanos. In: CASTILHOS JUNIOR, A.B. (Org.). Resíduos Sólidos Urbanos: Aterro Sustentável para Municípios de Pequeno Porte. Rio de Janeiro: Rima ABES, 2003, 294p. 4. FENN, D.G., HANLEY, K. J., DE GEARE, T. V. Use of water balance method for predicting leachate generation from solid waste disposal sites. U. S. Environmental Protection, ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 9
10 5. FIRTA, I. N., CASTILHOS JUNIOR, A. B. Método do balanço hídrico. In: CASTILHOS JUNIOR, A.B. (Org.). Resíduos Sólidos Urbanos: Aterro Sustentável para Municípios de Pequeno Porte. Rio de Janeiro: Rima ABES, 2003, 294p. 6. KMET, P. EPA s 1995 Water balance method Its use and limitations. Wisconsin Departament of Natural Resources, Madison, WI, KOERNER, R. M., DANIEL, D. E. Final covers for solid waste landfills and abandoned dumps. Virginia: American Society of Civil Engineers, KREITH, F. Handbook of solid waste management. Mc-Graw Hill Inc, U.S, 1994, 887p. 9. SIMÕES, G. F. Modelo para a avaliação de recalques em aterros de disposição de resíduos sólidos urbanos. Tese de Doutorado, PUC-Rio, PESSIN, N., SILVA, A. R., PANAROTO, C. T. Monitoramento de aterros sustentáveis para municípios de pequeno porte. In: CASTILHOS JUNIOR, A.B. (Org.). Resíduos Sólidos Urbanos: Aterro Sustentável para Municípios de Pequeno Porte. Rio de Janeiro: Rima ABES, 2003, 294p. 11. TCHOBANOGLOUS, G.; THEISEN, H.; VIGIL, S.A.. Integrated solid waste management: engineering principles and management issues. Mc. Graw Hill, 1993, 978 p. 12. TCHOBANOGLOUS, G.; O LEARY P. R. Landfilling. In: KREITH, F. Handbook of solid waste management. Mc-Graw Hill Inc, U.S, 1994, 887p. 13. THORNTHWAITE, C. W., MATHER, J. R. The water balance. Drexel Institute of Technology, Publications in Climatology, v. 8, n. 1, Philadelfia, PA, ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 10
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