Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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1 Número do /003 Númeração Relator: Relator do Acordão: Data do Julgamento: Data da Publicação: Des.(a) Paulo Balbino Des.(a) Paulo Balbino 05/08/ /08/2015 EMENTA: REPARAÇÃO CIVIL - CONTRATO DE CONSULTORIA FINANCEIRA - COMPRA E VENDA DE FUNDOS DE INVESTIMENTO - CONSULTORIA FINANCEIRA - FRAUDE PRATICADA PELOS ADMINISTRADORES - DANOS MORAIS CONFIGURADOS - PEDIDO INDENIZATÓRIO - DANO MATERIAL - CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE MORA - TERMO INICIAL. - As empresas de consultoria financeira respondem objetivamente pelos danos causados aos consumidores em razão da inadequada e defeituosa prestação de serviço. -A correção monetária alusiva à condenação da indenização por danos materiais decorrentes de ato ilícito tem incidência a partir do evento danoso. Inteligência da Súmula n. 43 do Superior Tribunal de Justiça. - Já os juros moratórios inerentes às relações contratuais devem ser contados a partir da citação, conforme previsto pelo artigo 219, caput, do Código de Processo Civil c/c o artigo 405 do Código Civil (Des. Paulo Balbino). - A fraude praticada pelos administradores da empresa de consultoria financeira gera danos morais indenizáveis aos consumidores que foram vítimas do golpe praticado. - A quantificação do dano moral obedece ao critério do arbitramento judicial, que, norteado pelos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, fixará o valor, levando-se em conta o caráter compensatório para a vítima e o punitivo para o ofensor (Des. Marcos Lincoln). 1

2 VVp.: - O inadimplemento contratual, mesmo quando aliado a uma prestação de serviço defeituosa não configura o dano moral se dele não decorre qualquer ofensa aos atributos íntimos e à personalidade do ofendido (Des. Paulo Balbino) APELAÇÃO CÍVEL Nº /003 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): JUSSARA VITORIA REIS, MARIA JOSÉ DE PÁDUA E OUTRO(A)(S), JOSÉ GUILHERME DA MATA REIS - APELADO(A)(S): OSEIAS MARQUES VENTURA, THALES EMANUELLE MAIOLINE, FIRV CONSULTORIA E ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS FINANCEIROS LTD E OUTRO(S),REPDO(S)P/C. ESPEC DEFENSORIA PÚBLICA A C Ó R D Ã O Vistos etc., acorda, em Turma, a 11ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em DAR PROVIMENTO AO RECURSO, VENCIDO, EM PARTE, O RELATOR. DES. PAULO BALBINO RELATOR DES. PAULO BALBINO (RELATOR) V O T O Versa a presente ação sobre um pedido de reparação por danos morais e materiais decorrentes de um contrato de investimento celebrado entre as partes. Em sua sentença (f. 170/173-TJ e declarada à f. 179-TJ), o MM. Juiz da 35ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte, Dr. Rui de Almeida Magalhães, acolheu preliminar para excluir a requerida, Iany Márcia Maioline do pólo passivo da relação processual e julgou parcialmente procedente o 2

3 ajuste celebrado entre as partes e para condenar os requeridos, solidariamente, a restituir importância de R$ ,00 (dez mil reais) a Maria José de Pádua, de R$ 7.500,00 (sete mil e quinhentos reais) a José Guilherme da Matta Reis e de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) a Jussara Vitória Reis, as quais serão atualizadas monetariamente, a partir da data do ajuizamento do feito, e acrescida de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, desde a citação, além de reconhecer a sucumbência recíproca entre os litigantes. Inconformados com seu teor, interpuseram José Guilherme da Mata Reis e Outros a presente apelação (f. 174/188-TJ), aduzindo que a correção monetária e os juros de mora devem incidir desde a data do efetivo desembolso e que se denotam caracterizados os requisitos da responsabilidade, pelo que se deve imputar aos requeridos a obrigação de lhe reparar moralmente. Assim sendo, requerem a reforma da sentença recorrida, seja de maneira monocrática ou após julgamento pelo órgão colegiado, com a total procedência do pedido inicial. Regularmente intimados, apresentaram FIRV Consultoria e Administração de Recursos Financeiros e Outros, réus revéis citados por edital, neste ato representados por sua curadora especial, as contra-razões de f. 190/198-TJ, onde pugnam pela confirmação da decisão combatida. Relatado, DECIDO. recurso. Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço deste Anota-se, inicialmente, que os certificados de f. 25/27-TJ demonstram que os apelantes aderiram ao FICAP - Fundo de Investimento Capitalizado - o qual era administrado pela apelada FIRV - Consultoria e Administração de Recursos Financeiros Ltda -, sociedade que tinha como diretores e administradores os apelados, Thales Emanuelle Maioline e Oséias Marques Ventura (f 19/24-TJ. 3

4 Observa-se, neste contexto, embora os apelantes tenham promovido o necessário aporte financeiro, não se denota que o negócio jurídico em foco tenha surtido os efeitos por ele pretendidos, já que as cotas não foram liquidadas nas datas previstas tampouco foram acrescidas dos frutos previstos pelo 2º do artigo 10 do estatuto de f. 19/24-TJ. Aponta-se, ainda, ser incontroversa a fraude perpetrada pelos administradores da empresa de consultoria apelada, a qual teve ampla divulgação pela mídia por ter lesionado milhares de investidores, conforme se denota da Deliberação n. 632, da CVM - Comissão de Valores Mobiliários (f. 32-TJ) - autoridade competente no mercado financeiro para autorizar e para fiscalizar as atividades alusivas ao mercado de valores mobiliários. Neste aspecto, a presente lide deva ser decidida sob a égide da responsabilidade civil objetiva, conforme previsto pelo artigo 12, do Código de Defesa do Consumidor, porque a relação jurídica em apreço denota-se de natureza consumerista por ostentarem as partes os atributos previstos pelos artigos 2º e 3º, ambos da Lei n /90 Nada obstante, em que pesem a ilicitude do negócio jurídico em foco e o prejuízo financeiro suportado pelos apelantes, o qual ensejou a procedência do pedido de reparação por dano material com a restituição das importâncias por eles vertidas, o risco inerente ao referido mercado de ações aliado à ausência da demonstração da repercussão na esfera íntima dos apelantes obstam a pretensão à reparação por danos morais. Tais fatos, na realidade, apontam que os apelantes foram alvos de um golpe, o qual ensejou a eles contratempo, dissabor ou aborrecimento, mas nenhuma mácula às suas personalidades. manifesta: Sobre o tema, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça 4

5 "CIVIL. RECURSO ESPECIAL. APLICAÇÃO FINANCEIRA. FUNDO DEINVESTIMENTO. VARIAÇÃO CAMBIAL OCORRIDA EM PERDA DE TODO O VALOR APLICADO.CLÁUSULA STOP LOSS. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. CDC. RELAÇÃO DE CONSUMO. DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL. MERO DISSABOR. 1. Por estar caracterizada relação de consumo, incidem as regras do CDC aos contratos relativos a aplicações em fundos de investimento celebrados entre instituições financeiras e seus clientes. Enunciado n. 297 da Súmula do STJ. 2. O risco faz parte do contrato de aplicação em fundos de investimento, podendo a instituição financeira, entretanto, criar mecanismos ou oferecer garantias próprias para reduzir ou afastar a possibilidade de prejuízos decorrentes das variações observadas no mercado financeiro. (...) 5. O simples descumprimento contratual, por si, não é capaz de gerar danos morais, sendo necessária a existência de um plus, uma consequência fática capaz, essa sim, de acarretar dor e sofrimento indenizável pela sua gravidade. 6. Recurso especial conhecido e parcialmente provido. (STJ - Recurso Especial n /SP, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, DJe de ). Assim sendo, conforme previsão do artigo 333, inciso I, do Código de Processo Civil, a ausência da comprovação dos fatos constitutivos do direito que a apelante aduziu ser titular na petição inicial enseja a improcedência do pedido de reparação civil por dano moral. Aponta-se, por fim, em conformidade com o enunciado da Sumula 43, do Superior Tribunal de Justiça, a correção monetária alusiva à condenação da indenização por danos materiais decorrentes 5

6 de ato ilícito tem incidência a partir do evento danoso, o que, no caso em apreço, ocorreu em 10 de novembro de 2010, data em que os apelantes aderiram ao plano de investimento. Por sua vez, os juros de mora, em se tratando de obrigação decorrente de relação contratual, são devidos a partir da citação, nos termos previstos pelo caput do artigo 219 do Código de Processo Civil c/c o artigo 405 do Código Civil. Destarte, pelos fundamentos em que prolatada, a sentença não merece prevalecer em seus termos integrais. Ante o exposto, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao presente recurso tão-somente para FIXAR o termo inicial de incidência da correção monetária no dia 10 de novembro de Diante da sucumbência recíproca, CONDENO as partes ao pagamento das custas recursais, à razão de 80% (oitenta por cento) pelos apelantes e de 20% (vinte por cento) pelos apelados, na forma prevista pelo artigo 21, caput, do Código de Processo Civil. Todavia, deixo sobrestados os pagamentos devidos pelos apelantes em virtude de se encontrarem litigando sob o pálio da assistência judiciária, na forma do artigo 12, da Lei n /50. Transitada esta em julgado, retornem os autos ao juízo de origem, observando-se as cautelas legais. DES. MARCOS LINCOLN (REVISOR) No tocante à modificação do termo inicial da correção monetária, acompanho o ilustre Relator. 6

7 Todavia, em relação aos danos morais, com a devida vênia, ouso divergir de Sua Excelência. Isso porque, é fato incontroverso nos autos que os autores - apelantes foram vítimas do golpe praticado pelos réus, tendo perdido todos os valores investidos na empresa que supostamente iria lhes prestar consultoria financeira. Assim sendo, os fatos narrados na inicial não constituem meros aborrecimentos, pois se trata de um ilícito contratual ensejador de dano moral, já que os autores - apelantes foram privados de suas economias e, ainda, foram obrigados a contratar advogado e ingressar em juízo para tentar minimizar os prejuízos experimentados. É evidente que o ilícito praticado pelos réus-apelados causou aos autores-apelantes um dissabor, um aborrecimento e uma irritabilidade que excedem a normalidade, acarretando aflições, angústia, desequilíbrio em seu bem estar. Por conseguinte, sendo inconteste o dano moral, impõe-se fixar o quantum indenizatório. A quantificação do dano moral permanece a cargo da doutrina e da jurisprudência, predominando no Direito Brasileiro o critério do arbitramento judicial (art. 944 do CCB), tendo em conta que a reparação do dano moral tem duplo caráter: compensatório para a vítima e punitivo para o ofensor. Nesse sentido, vejamos os ensinamentos de CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA: "A - de um lado, a idéia de punição ao infrator, que não pode ofender em vão a esfera jurídica alheia...; B - de outro lado proporcionar a vítima uma compensação pelo dano suportado, pondo-lhe o ofensor nas mãos uma soma que não é pretium dolores, porém uma ensancha de reparação da afronta" 7

8 (Instituições de Direito Civil, V, II, Ed. Forense, 16ª ed., 1.998, p. 242). A fixação deve ocorrer com prudente arbítrio, para que não haja enriquecimento à custa do empobrecimento alheio, mas também para que o valor não seja irrisório. que: As decisões de nossos Tribunais têm assentado o entendimento de "A indenização por dano moral é arbitrável, mediante estimativa prudencial que leve em conta a necessidade de, com a quantia, satisfazer a dor da vítima e dissuadir, de igual e novo atentado, o autor da ofensa." (RT 706/67). "A indenização haverá de ser suficientemente expressiva para compensar a vítima pelo sofrimento, tristeza ou vexame sofrido e penalizar o causador do dano, levando em conta ainda a intensidade da culpa e a capacidade econômica dos ofensores." (COAD, Bol. 31/94, p. 490, nº ). "Para a fixação do dano moral o julgador pode usar de certo arbítrio, devendo, porém, levar em conta as condições pessoais do ofendido e do ofensor." (RJTJRS, 127/411). Logo, considerando os parâmetros adotados por este egrégio Tribunal e pelo Superior Tribunal de Justiça, atento ao princípio da prudência e às peculiaridades do caso sub judice, ausente o critério objetivo de fixação da verba indenizatória por danos morais, entendo que o valor da indenização deve ser fixado em R$ ,00 (doze mil reais) para cada autor, quantia que não configura uma premiação, nem mesmo uma importância insuficiente para concretizar a pretendida reparação civil. Com essas considerações, renovando vênia ao eminente Relator, DOU PROVIMENTO AO RECURSO, reformando a sentença, para 8

9 julgar procedente o pedido de indenização por dano moral, condenando os réus ao pagamento da quantia de R$ ,00 (doze mil reais) para cada autor, corrigida monetariamente pela Tabela da CGJ a partir da publicação deste acórdão, incidentes juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, a partir do evento danoso. Diante do novo resultado da lide, condeno os réus ao pagamento da integralidade das custas processuais, inclusive recursais, além de honorários advocatícios que fixo em 20% sobre o valor da condenação. É como voto. DES. ALEXANDRE SANTIAGO (VOGAL) Acompanho, data venia, o voto proferido pelo e. Desembargador Revisor, ressaltando apenas que não coaduno com o posicionamento de que a contratação de advogado para a defesa dos direitos de quem considera ter sido lesado constitua, também, fator que contribuia para ultrapassar um dissabor, um aborrecimento e uma irritabilidade que excedem a normalidade que justificam o dano moral. SÚMULA: "DERAM PROVIMENTO, VENCIDO, EM PARTE, O RELATOR" 9