Luz: janela para as vendas Iluminação bem dimensionada e dinâmica é atrativo para público consumidor em centros comerciais Por Flávia Lima

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1 Luz: janela para as vendas Iluminação bem dimensionada e dinâmica é atrativo para público consumidor em centros comerciais Por Flávia Lima Os centros comerciais brasileiros estão cada vez mais investindo na arquitetura e no design como estratégias de marketing para atrair o público consumidor. Isso porque os shoppings centers deixaram de ser apenas locais para se fazer compras para se tornarem espaços de convivência, lazer e cultura. Para tanto, um dos artifícios já adotados por muitas empresas é a exploração da luz, que "bem projetada, destaca os produtos, desperta a atenção, estimula o desejo, por meio da forma, da textura e da cor e, assim, vende o produto", explica o diretor técnico da Associação Brasileira das Indústrias de Iluminação (Abilux), Isac Roizemblatt. Dessa maneira, as pessoas se sentem mais confortáveis, passam mais tempo nos estabelecimentos e consomem mais. A indústria de shopping centers é altamente lucrativa e grande geradora de empregos. Temos no País 257 shoppings, que juntos faturaram em 2003 R$31,6 bilhões. Dados da Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce) revelam que essa indústria gera aproximadamente 470 mil empregos por mês e recebe, em média, 175 mil visitas mensais. Essa afluência vem estimulando empresários, a apelar para a criatividade dos arquitetos e luminotécnicos, que apostam na iluminação dinâmica para conquistar o consumidor. "Os gostos não são mais estáticos, o consumidor assume a cada instante um perfil diferente, forçando o empreendedor a ser mais flexível", avalia a diretora da Arch Scenic, a arquiteta Marcia Guimarães. "A luz é o único elemento dinâmico de um projeto que pode ocupar o espaço sem obstruí-lo", diz Marcia. Assim, pode e deve ser manipulada constantemente para provocar diferentes sensações nas pessoas. Para ela, as iluminações técnica e decorativa têm a função de guiar, enquanto a temática e a cênica têm a função de contemplação e indução. A junção delas traz a dramaticidade, uma característica já bastante explorada em outros países. É o caso da iluminação cênica automatizada dos grandes parques internacionais temáticos, -como Walt Disney e Universal Studios, além de outros espaços, como bares, restaurantes, hotéis e shoppings. O arquiteto chileno Sergio Linares, responsável por diversos trabalhos nos Estados Unidos, na Europa e no Brasil, conta que a tendência internacional é empregar uma iluminação mais suave e dramática, com utilização de cor e movimento. "Aqui no Brasil temse muita iluminação direta. Os shoppings são superiluminados, com pontos de luz intensos. Iluminação ideal para mim é uma luz mais branda que acentua alguns elementos, como acontece nas lojas de alto padrão de São Paulo", opina. Na hora de iluminar estabelecimentos comerciais, há ainda que se considerar o conforto visual dos funcionários. Em shoppings, a iluminação natural é pouca ou quase nula, obrigando o arquiteto a utilizar 100% da iluminação artificial. No entanto, é preciso tomar alguns cuidados com o uso da luz, pois ela pode causar cansaço visual e comprometer o rendimento dos funcionários. Por isso, algumas normas devem ser seguidas para que haja o mínimo de conforto e segurança para os usuários. O superintendente do Comitê Brasileiro 3, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), Martin Crnugelj, explica que as normas são recomendações elaboradas por especialistas do País e seguidas pelos principais profissionais brasileiros. Entretanto, os lighting designers contestam a infalibilidade da norma NBR 5413, que estipula os níveis mínimos, médios e máximos de iluminância para interiores. A lighting designer Neide Senzi, por exemplo, cita pesquisas que comprovaram

2 que um homem de 40 anos de idade realiza uma leitura com 2001ux, enquanto para desempenhar a mesma tarefa uma criança só precisa de 30% dessa iluminância; um jovem de 20 anos, de 50%; e um homem de 60 anos, 500%. Dessa forma, cabe ao iluminador analisar todos os aspectos da utilização na hora de calcular o projeto. Crnugelj, da ABNT, admite que a NBR 5413 precisa ser revista: "É uma norma bastante antiga e na última década tivemos muitas evoluções em tecnologias para i I um i nação de interiores", conclui. Razão X Emoção Dramaticidade, ou seja, a combinação entre luz e sombra, cor e movimento, é o que pede a tendência internacional, entretanto as tecnologias responsáveis por esses efeitos ainda são pouco acessíveis no Brasil. A maioria delas é importada e chega ao País a custos altos. Nesse caso, um projeto à altura dos empreendimentos internacionais ainda depende de inúmeros fatores, como predisposição do cliente e recursos financeiros disponíveis para a iluminação. "Um bom projeto de iluminação deve causar emoção nas pessoas", define o arquiteto Linares. O engenheiro Plínio Godoy concorda, mas ressalta que "esse efeito é na maioria das vezes, desenvolvido pela experiência do projetista". Na opinião de Neide Senzi, para o sucesso de um bom projeto luminotécnico, é essencial que o empreendedor seja informado sobre todos os custos dos equipamentos e suas vantagens em relação à economia de energia, eficiência Iluminação de lojas A luz pode atrair e também afastar as pessoas. Locais mal iluminados, seja pela falta, seja pelo excesso de luminosidade, levam o consumidor a procurar outras lojas. Isso se dá porque o calor excessivo causa inquietação e incômodo; já os ambientes com pouca luz dão a sensação de frieza e morbidez. "A boa iluminação traz vendas com um retorno sempre muito maior que o investimento", garante Isac Roizemblatt, da AbiIux. Para o engenheiro Rodrigo Matos, da Facho de Luz, como a iluminação comercial caracteriza-se por muitas horas de uso, é muito importante o emprego de lâmpadas fluorescentes, que garantem economia de energia elétrica. Ele lembra, no entanto, que elas têm um baixo índice de Reprodução de cores (IRC) e em determinadas situações é preferível à utilização de outros tipos de lâmpadas, como halógenas e vapor metálico. Matos, dá ainda algumas dicas de como deixar o ambiente agradável, econômico e funcional: boas condições de visibilidade, ou seja iluminância adequada (Iux), bom IRC e luminárias eficientes, antiofuscantes e com design arrojado. Outra dica é iluminar corretamente as vitrinas, que são a porta de entrada das lojas. O consumidor é induzido à compra pela maneira como vê o que está à venda e não necessariamente pelo que se predispôs a comprar. Assim, pode-se afirmar que iluminação ideal é aquela que ressalta cores e formas, sem provocar desconfortos visual e térmico. Na opinião da lighting designer Carmen Salaroli, é possível fazer da própria fachada um outdoor. "A imagem de uma loja de shopping deve ser transmitida com criatividade e bom senso por meio da iluminação da vitrina, pois é o primeiro contato com o cliente", avalia. Salaroli cita ainda pesquisas que indicam que cerca de 25% das vendas são motivadas pelas vitrinas. No entanto, não há um padrão de iluminação que sirva para todos os empreendimentos comerciais. "As soluções luminotécnicas dependem do tipo de produto, do público-alvo, da localização do estabelecimento comercial, da imagem da

3 loja no contexto de um plano de marketing estratégico, entre outros fatores", afirma Isac Roizemblatt, da Abilux. Segundo ele, a iluminação tem um papel tão importante no bem-estar das pessoas que o Wall Mart, por exemplo, modificou um terço de 128 lojas nos EUA com mais luz de qualidade, utilizando a contribuição da luz natural. Resultado: aumento de cerca de 30% nas vendas nas áreas onde se melhorou a iluminação. Ademais, é necessário frisar que uma boa iluminação não depende apenas do profissional que a projeta. A especificação correta é crucial para o bom desempenho da iluminação. "Muitas vezes o arquiteto indica um produto e outro, com diferentes características técnicas, é instalado, interferindo nos efeitos almejados pelo conceito original", alerta o diretor da Highlights, Luiz Santos Ornare Rio de Janeiro (RJ) Há cinco anos no mercado carioca, a Ornare optou por fundir duas lojas em uma maior, com 800m2, localizada no Casa Shopping, no Rio de Janeio (RJ). O novo espaço conta com uma moderna iluminação e novas tecnologias. A proposta da lighting designer Ines Benevolo, da LD Studio, foi criar uma iluminação geral difusa e luzes de destaque para alguns elementos da loja. O paisagismo foi destacado com filtro laranja, a fim de criar um diferencial na vegetação. Já alguns projetores para lâmpadas AR 111 instalados nos trilhos permitem a aplicação de filtros coloridos, conforme a necessidade da loja. Em todo o projeto luminotécnico, foram utilizadas lâmpadas AR 111, AR 70, fluorescentes T5 de 28W e dicróicas de 50W. Destaque para a instalação de 60 luminárias Giro, projetor orientável da Lumini. "Procuramos sempre escolher luminárias com bom controle de ofuscamento e de fácil manutenção para o cliente", afirma Ines.

4 Imaginarium Manaus (AM) A loja da Imaginarium instalada no novo Millennium Center Mall Manaus, inaugurado no dia 7 de dezembro no Estado do Amazonas, apresenta uma iluminação diferenciada. Com paredes pretas, o espaço é todo iluminado com lâmpadas fluorescentes verdes com vidro jateado de 32W embutidas em eletrocalhas. Já a iluminação pontual foi realizada com cerca de 40 spots AR 111 com ângulos de abertura de 4,8 e 24. Para a iluminação geral, o arquiteto optou por seis lâmpadas fluorescentes de 32W com gelatina deep orange e conjunto ótico preto.

5 Loja Uma São Paulo (SP) Premiada pela Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA) e pelo Instituto de Arquitetos do Brasil de São Paulo (IAB-SP), a loja UMA apresenta arquitetura e iluminação diferenciadas. Localizada no Shopping Higienópolis, em São Paulo, a loja é marcada por uma arquitetura contemporânea e minimalista, de Márcio Kogan, e iluminação suave e moderna, idealizada pela lighting designer Carmen Salaroli. Para harmonizar a iluminação com a decoração, as luminárias foram ocultadas. A iluminação geral foi feita com uma linha de luminárias quadradas sem aro externo para diferentes tipos de lâmpadas: dicróicas, Mastercolor e ALR 111. "A loja possui ambientes com duas alturas de pé-direito, portanto procuramos obter o mesmo resultado de luz, sem diferença entre os ambientes, para não ocorrer uma ruptura na iluminação", explica Carmen. Dessa forma, onde há pé-direito duplo, a iluminação geral foi feita com luminárias para lâmpadas Mastercolor PAR 30, de 35W. Já nas áreas com pé-direito baixo, foram utilizadas lâmpadas Mastercolor PAR 20, também de 35W, e dicróicas de 50W nos destaques do balcão de atendimento e das prateleiras, para nivelar com a iluminação das araras, destacadas com lâmpadas halógenas refletoras de 50W ALR 111 com foco fechado de 8. Além disso, há fibras óticas que mudam de cor suavemente, para,dar um toque lúdico na parte frontal do balcão. Em cada provador, para criar um bom nível de luz e sem sombras, foi projetada uma iluminação intensa e uniforme, com lâmpadas fluorescentes tubulares T5 de 14W e 28W com temperaturas de cor mais quentes. As lâmpadas foram instaladas e ocultadas atrás do espelho, contornando todo o seu perímetro. Revista Lumiere ano 7 edição 79 novembro/2004 (caderno especial) páginas 64 a 69