CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA DO MUNICÍPIO DE MONTE BELO DO SUL VISANDO A OBTENÇÃO DE DADOS QUE SUBSIDIEM A VITICULTURA DE ALTA QUALIDADE
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- Danilo Correia Domingos
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1 INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL CAMPUS BENTO GONÇALVES GUILHERME DA COSTA MENEZES CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA DO MUNICÍPIO DE MONTE BELO DO SUL VISANDO A OBTENÇÃO DE DADOS QUE SUBSIDIEM A VITICULTURA DE ALTA QUALIDADE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Tecnologia em Viticultura e Enologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul Campus Bento Gonçalves como parte dos requisitos para a conclusão do curso. Professor Orientador: Dr. Eduardo Giovannini Bento Gonçalves 2009
2 Dedicatória Dedico este trabalho à minha sobrinha Alice, que sua vida seja repleta de maravilhas. 2
3 Agradecimentos A toda minha família, por toda a paciência e carinho nestes últimos 22 anos; A Embrapa Uva e Vinho e ao CNPq, pela oportunidade de poder contribuir para o desenvolvimento da vitivinicultura nacional, e aprender muito ao mesmo tempo; A Dra. Rosemary Hoff, incansável mentora durante todo o período de estágio e elaboração deste trabalho, por toda a paciência, ajuda e amizade; Aos amigos e colegas estagiários Luiz Carlos Tomedi Júnior, Marcos Carlesso, André Coutinho, Raquel Pöerschke e Vinícius Bacca, pelo companheirismo, ajuda e pelos bons momentos passados durante o estágio. Ao atual Diretor-Geral Pro tempore do IFRS-BG, Dr. Eduardo Giovannini, por ter sido um grande mestre e amigo durante esses últimos cinco anos. 3
4 RESUMO O presente trabalho teve por objetivo a elaboração de uma caracterização geográfica do município de Monte Belo do Sul através do uso e integração de dados aerofotogramétricos visando a obtenção de informações que subsidiem a viticultura de alta qualidade naquele município. Foi utilizado um Modelo Numérico do Terreno obtido de fotos aéreas que, após processamento, deu origem a mapas de declividade e exposição solar posteriormente segmentados e cruzados, resultando em um mapa de recomendação para o cultivo da videira em Monte Belo do Sul, devidamente classificado conforme as premissas de boas práticas de viticultura e a legislação ambiental vigente. Verifica-se que neste município, em aproximadamente 10% de sua área total é altamente recomendável o cultivo da videira de acordo com a classificação supracitada. A área onde o cultivo é recomendado com restrições aproxima-se de 44% da área estudada e as áreas onde não é permitido o cultivo devido a questões ambientais chegam próximas a 46% da superfície total do município. Palavras-chave: sensoriamento remoto, modelo numérico do terreno, declividade, exposição solar, viticultura, Monte Belo do Sul. 4
5 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Efeitos relativos da orientação sobre parâmetros climatológicos e/ou fenológicos da videira...19 Tabela 2 - Áreas das classes de declividades...27 Tabela 3 - Áreas das declividades detalhadas...29 Tabela 4 - Áreas de exposição solar (4 quadrantes)...31 Tabela 5 - Áreas de exposição solar (8 quadrantes)...33 Tabela 6 - Áreas do cruzamento declividade x exposição solar...35 Tabela 7 - Áreas das classes de recomendação de cultivo
6 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Localização de Monte Belo do Sul...10 Figura 2 - Seção do mapa de geomorfologia do IBGE...11 Figura 3 - Seção da Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo da CPRM...12 Figura 4 - Foto aérea...14 Figura 5 - Modelo Numérico do Terreno do centro de Monte Belo do Sul...15 Figura 6 - Visão tridimensional do centro de Monte Belo do Sul...16 Figura 7 - Sistema de Informações Geográficas...17 Figura 8 - Ambiente do software IDRISI...22 Figura 9 - Modelo de altimetria de Monte Belo do Sul...25 Figura 10 - Mapa de declividade de Monte Belo do Sul...26 Figura 11 - Mapa de declividade detalhada de Monte Belo do Sul...28 Figura 12 - Mapa de exposição solar (4 quadrantes) de Monte Belo do Sul...30 Figura 13 - Mapa de exposição solar (8 quadrantes) de Monte Belo do Sul...32 Figura 14 - Mapa de cruzamento declividade x exposição solar de Monte Belo do Sul...34 Figura 15 - Mapa de recomendação para cultivo da videira em Monte Belo do Sul
7 SUMÁRIO Introdução Monte Belo do Sul Histórico e Produção Vitivinícola Geologia e Geomorfologia Sensoriamento Remoto Conceito Levantamentos Aerofotográficos Modelo Numérico do Terreno Sistema de Informações Geográficas Declividade e Exposição Solar em Viticultura Objetivos do Trabalho Objetivo Geral Objetivos Específicos Materiais e Métodos Aerolevantamento O Software IDRISI Pré-processamento Obtenção dos Mapas Declividade Exposição Solar Cruzamento dos Dados Reclassificação Resultados Modelo Numérico do Terreno Mapa de declividade Mapa de declividade detalhada Mapa de exposição solar (4 quadrantes) Mapa de exposição solar (8 quadrantes) Declividade X exposição solar Mapa de recomendação para cultivo da videira...36 Considerações finais...38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
8 Introdução A Serra Gaúcha, localizada no nordeste do estado do Rio Grande do Sul, é a principal região vitivinícola brasileira, produzindo aproximadamente 70% da uva do país, e é nesta região que se encontra o município de Monte Belo do Sul, uma região montanhosa, com declividades acentuadas, onde os solos são condicionados ao relevo e ao substrato rochoso, caracterizado por rochas vulcânicas. A Associação dos Produtores de Vinhos Finos de Monte Belo do Sul APROBELO trabalha atualmente em conjunto com a Embrapa Uva e Vinho no desenvolvimento de uma Indicação Geográfica para os vinhos produzidos em uma região delimitada do município, fazendo uso de tecnologias de sensoriamento remoto e geoprocessamento, dentro do projeto intitulado "Desenvolvimento de Indicações Geográficas e Alerta Vitícola para o APL de Vitivinicultura do Rio Grande do Sul Projeto APL Vinhos - financiado pela Financiadora de estudos e projetos - FINEP e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq do Brasil. Este estudo foi realizado durante estágio curricular no Laboratório de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento da Embrapa Uva e Vinho, dentro do Projeto APL Vinhos, sob orientação da Dra. Rosemary Hoff, pesquisadora da área. 8
9 1 Monte Belo do Sul 1.1 Histórico e Produção Vitivinícola O município de Monte Belo do Sul está localizado aproximadamente a 29º10' de latitude Sul e 51º40' de longitude Oeste de Greenwich, na região nordeste do Estado do Rio Grande do Sul (Figura 1). O território do município integrou a área da Colônia D. Isabel, atual município de Bento Gonçalves, que foi colonizado por imigrantes italianos, que chegaram a partir de O município emancipou-se de Bento Gonçalves em 20 de março de O plantio de videiras na área iniciou-se por volta do ano de 1878 e, em 1880, já havia uma pequena produção de vinhos. (TONIETTO et al., 2008). O município de Monte Belo do Sul cultiva atualmente cerca de ha de videiras, sendo mais de 800 ha explorados com cultivares de Vitis vinifera destinadas à elaboração de vinhos finos. Os vinhedos geralmente localizam-se entre 450 e 650 m de altitude em relação ao nível do mar, nos topos dos morros e nas meias encostas, com predominância naquelas áreas com melhor exposição solar. A topografia acidentada da região obriga à adequação do terreno dos vinhedos a fim de propiciar o trânsito de implementos utilizados, principalmente nas pulverizações e na colheita das uvas. (TONIETTO et al., 2008). Em 2003 foi formada a Associação dos Produtores de Vinhos Finos de Monte Belo do Sul - APROBELO - com o intuito de promover a evolução tecnológica dos produtos da região e fortalecer o setor produtivo do município. Desde 2004 está sendo desenvolvido em conjunto com a Embrapa Uva e Vinho um projeto para a criação de uma Indicação Geográfica para vinhos finos Monte Belo. DADOS GERAIS DO MUNICÍPIO (Prefeitura Municipal de Monte Belo do Sul): População: habitantes (78,4% na zona rural) Perfil Econômico: Agropecuária (vitivinicultura 75%, outros 4,9 %), serviços 19,1% PIB: R$ ,00 9
10 Figura 1 Localização de Monte Belo do Sul (Modificado a partir de TONIETTO et al., 2008) 1.2 Geologia e Geomorfologia A área do município está localizada na chamada Formação Serra Geral, que é constituída por derrames vulcânicos em platô que ocorreram no período Cretáceo, relacionados à separação do Continente Gondwana, ocorrido há mais de 130 milhões de anos. Os primeiros derrames, da Fácies Gramado, são constituídos principalmente por basaltos, com derrames sucessivos de espessura entre 15 e 35 metros sobre os arenitos da formação Botucatu. Esta fácies alcança em média 300 metros de espessura. Já os derrames superiores da Fácies Caxias são constituídos por riolitos e riodacitos depositados diretamente sobre os basaltos da Fácies Gramado, apresentando derrames maciços e espessos, chegando a 80 metros por derrame (WILDNER et al., 2004). De acordo com o mapa de Geomorfologia do IBGE (Folha SH.22-V-D, 2003) a região do município está localizada na Região Geomorfológica do Planalto das Araucárias, tendo presentes as unidades geomorfológicas Serra Geral (Dt 435) e Planalto dos Campos Gerais (Dt 213). 10
11 Figura 2: Seção do mapa de geomorfologia do IBGE (Folha SH.22-V-D) 11
12 Figura 3: Seção da Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo da CPRM (Folha SH.22, 2004) 12
13 2 Sensoriamento Remoto 2.1 Conceito Novo (1992) define Sensoriamento Remoto como:...a utilização conjunta de modernos sensores, equipamentos para processamento de dados, equipamentos de transmissão de dados, aeronaves, espaçonaves, etc., com o objetivo de estudar o ambiente terrestre através do registro e da análise das interações entre a radiação eletromagnética e as substâncias componentes do planeta Terra em suas mais diversas manifestações. O Sensoriamento Remoto é visto como um sistema de aquisição de informações, subdividido em Coleta de dados e Análise de dados. Para que o sistema de coleta de dados funcione é necessário que sejam preenchidas algumas condições: a) Existência de fonte de radiação; b) Propagação de radiação pela atmosfera; c) Incidência da radiação sobre a superfície terrestre; d) Ocorrência de interações entre a radiação e os objetos da superfície; e) Produção de radiação que retorna ao sensor após propagar-se pela atmosfera. O que chega ao sensor é uma certa intensidade de energia que posteriormente se transforma em um sinal passível de interpretação. As interpretações compõem os sistemas de análise dos dados que incluem o processamento fotográfico, o processamento eletrônico do sinal, a modelagem, etc. Esta análise permite que dados de reflectância da vegetação, solo, rochas, águas e alvos produzidos pela atividade humana, como no caso da viticultura, integrem modelos de produtividade agrícola. 2.2 Levantamentos Aerofotográficos É o tipo mais comum de missão de Sensoriamento Remoto baseados em aeronaves. As missões com o objetivo de restituição planialtimétrica devem ser feitas com recobrimento 13
14 longitudinal de 60%, para possibilitar a observação tridimensional do terreno. Pares sucessivos de fotografias mostram a região recoberta a partir de diferentes perspectivas, podendo ser observadas em um estereoscópio para visualização tridimensional. Muitas das aplicações de fotografias aéreas usam cobertura estereoscópica, por exemplo, a geração do Modelo Numérico do Terreno (MNT). As fotos aéreas na escala de detalhe são mais indicadas quando uma boa resolução espacial é importante, podendo superar a qualidade de dados de imagens orbitais comumente utilizadas em estudos temáticos. No entanto a qualidade das informações espectrais é inferior às obtidas através de sensores orbitais. A geometria de fotografias verticais é bem conhecida, permitindo medições muito precisas e com uma grande aplicabilidade em diversas ciências. Estas fotos são comumente interpretadas de forma analógica (estereoscopia) ou digital num sistema de informação geográfica (SIG). (CCRS, 2008) Figura 4: Foto aérea. No detalhe o centro de Monte Belo do Sul (Cedida pela EMBRAPA Uva e Vinho) 14
15 2.3 Modelo Numérico do Terreno Um Modelo Numérico de Terreno (MNT) é uma representação matemática computacional da distribuição de um fenômeno espacial que ocorre dentro de uma região da superfície terrestre. Dados de relevo, informação geológica, levantamentos de profundidade do mar ou de um rio e informações meteorológicas são exemplos típicos de fenômenos representados por um MNT. (CÂMARA et al, 2001). Para modelos de altimetria, esta representação se configura em um conjunto de coordenadas (X, Y, Z), onde Z representa altitude. A técnica para obtenção do MNT através de fotos aéreas é chamada de fotogrametria, que consiste na restituição de informações altimétricas a partir da sobreposição estereoscópica, tendo por fundamento o conceito da paralaxe, que consiste na observação simultânea de um mesmo objeto segundo dois ângulos de observação distintos, proporcionando a percepção de profundidade. A propriedade de paralaxe do modelo estereoscópico permite a aquisição de medidas de altura a partir de fotografias aéreas. A partir de um MNT é possível gerar linhas e/ou pontos de cotas altimétricas para confecção de mapas topográficos, mapas de declividade e exposição solar para análise integrada ou separada de aspectos da morfologia do terreno, ou mesmo na ortorretificação de imagens de sensoriamento remoto e ainda na obtenção de imagens de perspectiva tridimensional. (CCRS, 2008) Figura 5: Modelo Numérico do Terreno do centro de Monte Belo do Sul, com cotas altimétricas. Cada ponto ou pixel nesta imagem contém uma informação de altimetria. 15
16 Figura 6: Visão tridimensional do centro de Monte Belo do Sul obtida através da sobreposição da foto aérea ao MNT 2.4 Sistema de Informações Geográficas Conforme Câmara et al.(2005), O termo sistemas de informação geográfica (SIG) é aplicado para sistemas que realizam o tratamento computacional de dados geográficos. A principal diferença de um SIG para um sistema de informação convencional é sua capacidade de armazenar tanto os atributos descritivos como as geometrias dos diferentes tipos de dados geográficos. Os SIGs possibilitam a integração, em um único banco de dados, das informações geográficas geradas de infinitas fontes, tais como dados cartográficos, dados censitários, cadastro urbano e rural, imagens de satélites, etc., disponibilizando também ferramentas para a recuperação, a manipulação e a visualização das informações armazenadas (SILVA, 2006). Para Lazzarotto (2008), as características de um Sistema de Informações Geográficas podem ser divididas em: 1. Software: O software é formado por um conjunto de programas, que tem por objetivo coletar, armazenar, processar e analisar dados geográficos. 16
17 2. Hardware: O hardware é o conjunto de equipamentos necessários para o desempenho das funções realizadas pelo software, em que se pode usar o computador e seus periféricos. 3. Dados: Por dados entende-se o material bruto que alimenta o sistema, permitindo a geração da informação. 4. Metodologias: Estão ligadas diretamente ao conhecimento e à experiência do profissional, que a partir de um objetivo definido submete seus dados a um tratamento específico, para a obtenção dos resultados desejados. 5. Recursos Humanos: Os recursos humanos são uma parte essencial, pois o SIG por si só não garante a eficiência de sua aplicação. Ferramentas novas só se tornam eficientes quando integradas ao processo de trabalho, sendo necessário treinamento de pessoal para a maximização de potencial de uso da nova tecnologia. Software Dados Mapas Recursos Humanos Metodologias SIG SAÍDA Gráficos Relatórios Hardware Figura 7: Sistema de Informações Geográficas 17
18 3 Declividade e Exposição Solar em Viticultura Declividade e exposição solar são dois fatores que, além de intrinsecamente relacionados, determinam e diferenciam as condições de produção agrícola em uma região. No caso da produção vitícola da Serra Gaúcha, com seu relevo movimentado e latitude em torno dos 29º S, estes dois fatores têm influência direta sobre a qualidade de produção, uma vez que influenciam nas condições de solo, microclima e manejo do vinhedo. No que tange às declividades, Kuhn et al. (1996) cita os terrenos de meia encosta como os mais adequados, pois propiciam boa drenagem e estão menos sujeitos às geadas primaveris. Também é recomendado evitar o plantio em áreas com declividades superiores a 20%, pois estão mais sujeitas à erosão do solo, impossibilitam a mecanização, e exigem práticas como terraceamento, o que encarece a implantação do vinhedo. A exposição solar é fator crítico para produção de qualidade em médias e grandes latitudes. Isto se deve ao fato de que superfícies com orientações e inclinações diferentes recebem diferentes quantidades de radiação solar global em comparação a uma superfície horizontal. No Hemisfério Sul, superfícies com orientação norte e declividade α graus, podem ser consideradas como se fossem horizontais e estivessem a α graus de latitude mais ao norte do local em que estão. Por exemplo: Em um local a 28º S de latitude no mês de março, a radiação solar diária em uma superfície horizontal é de 839 cal/cm² (TUBELIS; NASCIMENTO, 1988). Este mesmo local, na mesma época do ano, com uma declividade norte de 11º31 (20%) recebe uma radiação solar aproximada de 902 cal/cm² (28º - 11º31 = 16º29 S 16º S) (TUBELIS; NASCIMENTO, 1988, pg 37). Tem-se então: 902 / 839 = 1,08, ou seja, a superfície com declividade norte de 20% recebe 8% a mais de radiação solar diária durante o mês de março do que uma superfície horizontal. Já locais com orientação sul e declividade α graus podem ser considerados horizontais e a uma latitude de α graus mais ao sul. Por exemplo: No mesmo local do exemplo anterior, no mesmo mês, no entanto com declividade sul de 11,31º (20%), são recebidos 740 cal/cm² (28º + 11º31 = 39º31 S 40º S). 18
19 Tem-se então: 740 / 839 = 0,88, ou seja, a superfície com declividade sul de 20% recebe 88% da radiação solar diária que incide em uma superfície plana durante o mês de março. Superfícies expostas a leste ou oeste terão insolação diária mais curta, devido ao pôrdo-sol adiantado nos locais inclinados para leste e atraso do nascer do sol nos locais a oeste, mas a radiação solar global será a mesma para ambas as exposições na mesma declividade (TUBELIS; NASCIMENTO, 1988). É recomendado que na região da Serra Gaúcha, tendo em vista as observações acima citadas, os vinhedos sejam implantados em locais com exposição preferencialmente norte, pois assim obtém-se um melhor aproveitamento dos raios solares, e também se evita os ventos frios do sul (KUHN et al,1996). Falcade (1981) define como ideal para o cultivo de vinhedos buscando qualidade em uma localidade na Serra Gaúcha a exposição solar norte, com declividade média de 7º 30 (12,81%), pois no verão, período da maturação da uva, esta declividade permite a maior insolação possível para esta latitude. As exposições leste e oeste podem ser utilizadas ressaltando que, conforme a tabela abaixo, a exposição oeste aproveita melhor a insolação do meio da tarde e final do dia, aquecendo mais o vinhedo, tendo efeito sobre a incidência e danos provocados por geadas, por exemplo. Já a exposição leste aproveita melhor o sol da manhã, secando as folhas da planta mais rápido, auxiliando na proteção contra doenças fúngicas. Exposição Solar Parâmetro climatológico ou fenológico NORTE SUL LESTE OESTE Época de brotação Adiantada Atrasada Atrasada Adiantada Temperatura máxima na videira Maior Menor Menor Maior Rapidez em secar as folhas pela manhã Sem efeito Sem efeito Rápido Lento Aquecimento dos frutos em função da Maior Menor Menor Maior radiação solar Aquecimento da videira no inverno em função da radiação solar Maior Menor Menor Maior Tabela 1: Efeitos relativos da orientação sobre parâmetros climatológicos e/ou fenológicos da videira (WOLF apud GIOVANNINI, 2005). 19
20 4 Objetivos do Trabalho 4.1 Objetivo Geral Este trabalho tem por objetivo detalhar a metodologia para a elaboração de uma caracterização geográfica da área do município de Monte Belo do Sul, através do uso de dados obtidos em um Sistema de Informações Geográficas, visando obter dados que subsidiem a viticultura de alta qualidade no município. 4.2 Objetivos Específicos - Estudar as características geomorfológicas do município através de dados obtidos do Modelo Numérico do Terreno; - Gerar dados que permitam aos produtores um melhor aproveitamento das áreas para novos plantios ou renovação dos vinhedos; - Dar subsídios à futura Indicação de Procedência; - Fornecer informações que permitam o uso racional do solo, visando à qualidade da produção no futuro; - Contribuir para estabelecer áreas de preservação ambiental baseado nas declividades maiores do que 45 %. 20
21 5 Materiais e Métodos 5.1 Aerolevantamento Foram recobertas as áreas do Município de Monte Belo do Sul e também do Vale dos Vinhedos, pertencente à Bento Gonçalves, num total de 482,988 Km² de área mapeada. As tomadas das fotografias se deram no dia 1º de novembro de 2005, com céu claro, sem nuvens, fumaça ou bruma, totalizando 6 faixas e 70 fotos. Dados gerais do aerolevantamento: - Câmera aerofotogramétrica: Wild RC-10 - Escala média das fotos: 1: Distância focal nominal: 153,15 mm - Superposição lateral: 60% - Altitude de vôo: 3710 m - Resolução: 125 linhas/mm O processo de ortorretificação e geração do Modelo Numérico do Terreno também foram realizados pela mesma empresa que realizou o aerolevantamento, resultando num MNT com resolução de 2m. 5.2 O Software IDRISI Todo o projeto foi desenvolvido no software IDRISI, criado pela Graduate School of Geography da Clark University, nos E.U.A. O IDRISI é um SIG e um software para processamento de imagens, cobrindo todo o espectro de necessidades de SIG e de sensoriamento remoto, desde consulta a banco de dados e modelagem espacial, até realce e classificação de imagens. 21
22 Figura 8: Ambiente do software IDRISI 5.3 Pré-processamento Devido ao fato de que o MNT original abrange uma área maior do que a estudada, o primeiro passo foi reduzir seus limites aos do município de Monte Belo do Sul. Foi usado como base um arquivo vetorial georreferenciado com os limites do município, de coordenada superior esquerda -29º S; -51º W e coordenada inferior direita -29º S; -51º W. A partir do limite do município no formato vetorial, a imagem de altimetria (MNT) foi redimensionada. Para tal, é necessária uma série de operações. Primeiramente foi criada uma imagem de valor zero, com as coordenadas da área desejada, usando o comando INITIAL, no menu DATA ENTRY. Na seqüência o arquivo vetorial do limite de Monte Belo do Sul foi rasterizado sobre a imagem criada na etapa anterior (initial) por meio do comando RASTERVECTOR, no menu 22
23 REFORMAT, resultando em uma máscara, ou seja, uma imagem onde a área correspondente ao município tem valor um e as áreas adjacentes valor zero. Após foi realizada uma multiplicação entre as imagens, usando o comando OVERLAY em GIS ANALYSIS MATHEMATICAL OPERATORS, onde a imagem máscara é sobreposta ao MNT original, surgindo então um MNT somente da área do município. 5.4 Obtenção dos Mapas Através de qualquer MNT é possível extrair diversos tipos de informações, como mapas de declividade, exposição solar, relevo sombreado, etc. Estas informações foram obtidas usando os comandos existentes no menu GIS ANALYSIS SURFACE ANALYSIS. Os critérios utilizados para estabelecer limites de declividade e exposição solar foram fundamentados na Legislação Ambiental (CONAMA, 2006) e nas premissas de boas práticas de viticultura Declividade As classes de declividades adotadas foram baseadas em Falcade e Mandelli (1999), sendo em porcentagem, nas classes que seguem: 0-8 %, 8-20%, 20-45% >45%. O mapa foi gerado usando o comando SLOPE, em GIS ANALYSIS SURFACE ANALYSIS TOPOGRAPHIC VARIABLES, posteriormente segmentado usando RECLASS, no menu GIS ANALYSIS DATABASE QUERY. 23
24 5.4.2 Exposição Solar O mapa de exposição solar foi segmentado nos quatro quadrantes, por meio do azimute solar, nos seguintes intervalos: Norte: 0-45 e Leste: Sul: Oeste: O mapa foi gerado usando o comando ASPECT, em GIS ANALYSIS SURFACE ANALYSIS TOPOGRAPHIC VARIABLES, posteriormente segmentado usando RECLASS. 5.5 Cruzamento dos Dados A integração dos dados de declividades e exposição solar segmentadas foi feita por meio de operação aritmética de imagens - multiplicação, usando o comando OVERLAY. Foram assim geradas novas classes compostas integrando-se os atributos estudados. 5.6 Reclassificação As classes geradas por integração de dados de declividade e exposição solar foram agrupadas em áreas de recomendação à prática da viticultura no que diz respeito a esses atributos. Para isto, foi utilizado o comando ASSIGN DATA ENTRY. 24
25 6 Resultados 6.1 Modelo Numérico do Terreno Figura 9: Modelo de altimetria de Monte Belo do Sul 25
26 6.2 Mapa de declividade Figura 10: Mapa de declividade de Monte Belo do Sul 26
27 Categoria Hectares % 1 (0-8%) 335,8944 4,981% 2 (8-20%) 1723, ,550% 3 (20-45%) 3398,472 50,396% 4 (>45%) 1286,194 19,073% Total 6743, ,000% Tabela 2: Áreas das classes de declividades 27
28 6.3 Mapa de declividade detalhada Figura 11: Mapa de declividade detalhada de Monte Belo do Sul 28
29 Categoria Hectares % 1 (0-3%) 20,6712 0,307% 2 (3-8%) 315,2232 4,674% 3 (8-20%) 1723, ,550% 4 (20-45%) 1717, ,475% 5 (45-75%) 1680, ,921% 6 (>75%) 1286,194 19,073% Total 6743, ,000% Tabela 3: Áreas das declividades detalhadas 29
30 6.4 Mapa de exposição solar (4 quadrantes) Figura 12: Mapa de exposição solar (4 quadrantes) de Monte Belo do Sul 30
31 Categoria Hectares % 1 - N 1914, ,396% 2 - E 1567, ,237% 3 - S 1453, ,556% 4 - W 1807, ,810% Total 6743, ,000% Tabela 4: Áreas de exposição solar (4 quadrantes) 31
32 6.5 Mapa de exposição solar (8 quadrantes) Figura 13: Mapa de exposição solar (8 quadrantes) de Monte Belo do Sul 32
33 Categoria Hectares % 1 - N 966, ,330% 2 - NE 973, ,439% 3 - E 768, ,391% 4 - SE 618,9648 9,179% 5 - S 769, ,407% 6 - SW 799, ,852% 7 - W 918,546 13,621% 8 - NW 929, ,780% Total 6743, ,000% Tabela 5: Áreas de exposição solar (8 quadrantes) 33
34 6.6 Declividade X exposição solar Figura 14: Mapa de cruzamento declividade x exposição solar de Monte Belo do Sul 34
35 O resultado obtido foi uma imagem classificada dividida em 16 classes (4 classes de exposição solar x 4 classes de declividade), mas destas resultam 9 classes com resultados válidos (positivos) sendo estas: Categoria Hectares % 1 (N 0-8%) 108,6676 1,611% 2 (N %) 568,6896 8,433% 3 (N 20-45%) 1042, ,461% 4 (N - >45%) 784, ,636% 6 (E %) 1186, ,596% 8 (E - >45%) 809, ,006% 9 (S 0-8%) 725, ,753% 12 (S - >45%) 1172,554 17,388% 16 (W - >45%) 344,9248 5,115% Total 6743, ,000% Tabela 6: Áreas do cruzamento declividade x exposição solar 35
36 6.7 Mapa de recomendação para cultivo da videira Figura 15: Mapa de recomendação para cultivo da videira em Monte Belo do Sul 36
37 Este mapa foi categorizado da seguinte forma: - Alta Recomendação: N (0 8 %), N (8 20 %); - Recomendação com restrições: Quanto à declividade acentuada: N (20 45 %); Quanto à exposição não-norte: E (8 20 %), S (0 8 %); - Não permitido: Áreas de Proteção Permanente, com declividades acima de 45% (N, S, E, W > 45%) Categoria Hectares % 1 - Alta recomendação 677, ,045% 2 - Recomendação com restrições 2954,422 43,811% 3 Não permitido 3111, ,144% Total 6743, % Tabela 7: Áreas das classes de recomendação de cultivo 37
38 Considerações finais Os dados e os resultados finais obtidos vêm agregar informações sobre o território do município de Monte Belo do Sul, e permitem também uma melhor caracterização do terroir vitícola do mesmo. A flexibilidade dos sistemas de informações geográficas permite, por exemplo, que estes dados, agregados a dados pedológicos, climáticos, de uso do solo, produtividade, entre outros, criem uma caracterização completa da região vitícola em questão. A metodologia utilizada provou-se efetiva e pode ser utilizada para a caracterização de outras regiões vitícolas, tendo em vista que recentemente o setor vitivinícola tem buscando modernizar-se, evoluindo tecnologicamente quanto à elaboração de vinhos finos em toda sua cadeia, incluindo o desenvolvimento de indicações geográficas e certificações de origem para seus produtos, e um estudo mais aprofundado e detalhado dos locais de produção de uvas. Nesse contexto, a aplicação de técnicas e desenvolvimento de estudos em sensoriamento remoto e aerofotogrametria contribuem para a melhoria dos processos produtivos do setor primário, com isto agregando valor e qualidade ao produto final. 38
39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CÂMARA, G. et al. Introdução à Ciência da Geoinformação Disponível em: < >. Acesso em 12 out CÂMARA, G. Representação computacional de dados geográficos. In: CASANOVA, M. A. et al. Banco de dados geográficos. Curitiba: Mundogeo, Disponível em : < >. Acesso em 12 out CANADA CENTRE FOR REMOTE SENSING. Fundamentals of Remote Sensing. Disponível em: < Acesso em 12 out CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resoluções do CONAMA. Brasília: CONAMA, CPRM SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL. Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo Folha SH.22. Porto Alegre: CPRM, mapa. Escala 1: FALCADE, I. Influência da insolação sobre a qualidade da uva. Porto Alegre: Boletim Gaúcho de Geografia, FALCADE, I; MANDELLI, F. Vale dos Vinhedos: Caracterização geográfica da região. Caxias do Sul: EDUCS, GIOVANNINI, E. Produção de uvas para vinho, suco e mesa. 2ª Ed. Porto Alegre: Renascença, 2005 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Mapa de Geomorfologia Folha SH.22-V-D. Porto Alegre: IBGE, mapa. Escala 1: KUHN, G. B. et al. O cultivo da videira: informações básicas. Circular Técnica 10. Bento Gonçalves: Embrapa, LAZZAROTTO, D.R. O que são geotecnologias. Disponível em: < >. Acesso em 12 out NOVO, E. M. L. de M. Sensoriamento Remoto: Princípios e Aplicações. 2ª Ed. São Paulo: Edgard Blücher, SILVA, M. S. Sistemas de Informações Geográficas: elementos para o desenvolvimento de bibliotecas digitais geográficas distribuídas. Marília: UNESP, Disponível em: < action=&co_obra=42748 >. Acesso em 12 out TONIETTO, J. et al. Monte Belo: Características da Identidade Regional para uma Indicação Geográfica de Vinhos. Circular Técnica 76. Bento Gonçalves: Embrapa,
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