CAPÍTULO 5 VEGETAÇÃO
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- Leonardo Wagner de Sequeira
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1 CAPÍTULO 5 VEGETAÇÃO Salustiano Vilar da Costa Neto Marcio Sousa da Silva 5.1 INTRODUÇÃO O litoral estuarino do Estado do Amapá apresenta um conjunto vegetacional ímpar, moldado pela dinâmica do rio Amazonas, onde predominam os campos naturais e as florestas de várzea. Os campos naturais se caracterizam por áreas abertas com predomínio do elemento herbáceo, existindo também aqueles localizados em locais com pequenas oscilações na topografia do terreno que permitem o estabelecimento de um estrato arbóreo-arbustivo; além destes, existem ainda áreas com concentração de ilhas de mata de tamanho e formas variadas. Estas últimas estão localizadas em relevo mais alto, onde geralmente os efeitos da inundação não são observados. As florestas são predominantemente do tipo pluviais ou ombrófilas e perenifólias. Estas apresentam um padrão que varia de Florestas de Terra Firme, sem influência de inundação, passando pelas Aluviais, com pouca influência de inundação, até alcançar as áreas de igapó, que são permanentemente inundadas. As matas de várzea que se encontram sob a influência das marés semidiurnas estão associadas ao Rio Amazonas e seus tributários, como os rios Jari, Cajari, Ariramba, Maracá, Preto, Mazagão, Matapi, Vila Nova, Ipixuna, Pedreira, Macacoari, Piririm, Gurijuba, Araguari e outros. O objetivo deste trabalho é o de caracterizar e identificar os tipos de vegetação do Setor Estuarino do Estado do Amapá, servindo como instrumento de consulta ao mapa de vegetação da região e de base para elaboração do mapa de potencialidades e limitações do Setor. 71
2 5.2 METODOLOGIA O procedimento metodológico empregado baseou-se inicialmente na análise e interpretação de um mosaico de imagens de satélite LANDSAT TM-5, ano 1997, cuja elaboração foi apresentada no capítulo inicial deste volume, tendo como base principal para definição dos diferentes tipos de vegetação os padrões texturais observados nas imagens. Posteriormente, estas unidades foram digitalizadas através do programa SPRING em versão 3.4b; em seguida, foram realizadas checagens de campo para reconhecimento e identificação das diferentes fisionomias vegetais classificadas. No levantamento de campo foi utilizado um GPS (Global Position System) para registrar a localização exata dos diversos tipos fisionômicos da vegetação desse setor. O sistema utilizado para classificação das tipologias foi de Velloso et al (1991); IBGE (1997) ; IEPA (1999). Todas as espécies herbáceas, arbóreas e arbustivas férteis contidas nos pontos visitados foram coletadas, obedecendo à metodologia convencional, isto é, cada amostra composta de um ou mais ramo(s) florido(s), acompanhado(s) ou não de amostras de madeira, e herborizado(s) segundo as técnicas habituais de Fidalgo e Bononi (1984). Na fase de laboratório, as coletas botânicas provenientes do campo passaram pela rotina de herbário, consistindo de prensagem, secagem, montagem da exsicata e posterior incorporação no Herbário Amapaense (HAMAB), do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA). A identificação foi efetuada por comparação no HAMAB e bibliografia especializada. Os espécimes que não conseguiram ser identificados serão enviados a especialistas para este fim. Para a investigação etnobotânica foram empregadas técnicas de entrevistas de campo através de formulários por comunidades e com pessoas-chaves, onde se procurou abordar a utilização de plantas e outros produtos para tratamento de diversas doenças. Foram efetuadas 72
3 excursões a quase todas as comunidades dos municípios que compõem a Zona Costeira Estuarina do Estado do Amapá, no período de 1998 a RESULTADOS Os trabalhos de campo associados com a interpretação das imagens LANDSAT permitiram identificar três tipos fisionômicos na paisagem do Setor Costeiro Estuarino: vegetação de influência flúviomarinha, campestre, florestal, além das associações e das áreas alteradas. Dentro do tipo fisionômico de influência flúvio-marinha foram caracterizadas duas unidades; na campestre, seis unidades; e para a floresta, quinze unidades. Nas associações foram definidas dez unidades e nas áreas alteradas, duas Floresta com influência flúvio-marinha São formações vegetais que ainda se encontram em fase de sucessão, com ecossistemas dependentes de fatores ecológicos instáveis. Trata-se de áreas sedimentares relativamente recentes podendo ocorrer influência marinha, apresentando uma cobertura vegetal litorânea, com predomínio de raízes escoras (Rhizophora mangle L. e R. racemosa G. F. Mayer) e pneumatóforos (Avicennia germinans (L.) Stearn e Laguncularia racemosa (L.) Gaertn.) (Tabela 5), ou, ainda, de influência fluvial, caracterizada pelos componentes denominados várzea e campos inundáveis, que ocorrem sobre solos hidromórficos. Tabela 5 - Espécies das florestas com influência fluvio-marinha do Setor Estuarino do Estado do Amapá Nome Vernacular Nome Científico Família Mangue Rhizophora mangle L. Rhizophoraceae Mangue R. racemosa G. F. Mayer Rhizophoraceae Siriúba Avicennia germinans (L.) Stearn Avicenniaceae Tinteiro Laguncularia racemosa (L.) Gaertn. Combretaceae Siriubal (Sb) Caracteriza-se pela presença de Avicennia germinans (Siriúba) em áreas de grande concentração, uma vez que esta espécie representa o 73
4 tipo dominante nos manguezais amapaenses. Estão distribuídas nas áreas de deposição mais recentes do Arquipélago do Bailique e na Foz do rio Araguari, formando bosques monoespecíficos. Essa espécie também ocorre em pequenas populações ao longo do rio Amazonas, chegando a atingir a foz do rio Ariramba (Figura 33). Associadas aos bosques de Siriúba, com porte arbóreo a herbáceo, encontram-se as espécies: mututi (Pterocarpus amazonicus Huber e P. officinalis Jacq.), verônica (Dalbergia monetaria L.f. e D. subcymosa Ducke), aturiá (Macherium lunatum L.f.), Crenea maritima L., Crinum sp., Cyperus comosus Poir., Fimbristylis sp. entre outras. A B Figura 33 - Siriubal da região do Igaçaba, b) Vista geral do ecossistema. Fonte: Acervo GERCO. Arquipélago do Bailique. a) Destaque para o bando de guarás e A espécie Rhizophora racemosa distribui-se na parte mais interna do estuário chegando a atingir a foz do rio Preto, sendo que sua maior concentração é verificada na porção norte do Arquipélago do Bailique. No igarapé Grande da Terra Grande (Bailique) foi verificada a ocorrência de Laguncularia racemosa. Estas áreas apresentam uma importância na cadeia alimentar dos oceanos, mares e estuários, servindo de local de reprodução, de berçário e de alimentação para alevinos e peixes jovens, crustáceos e moluscos, que usam esses ambientes como moradia ou em alguma fase do ciclo de vida para se desenvolverem. Dada essa importância biológica é imprescindível a conservação desses ecossistemas, uma vez que abrigam espécies de interesse econômico, 74
5 como os caranguejos, camarões, mexilhões e várias espécies de peixes e aves Restinga (R) Adotou-se a definição de restinga de Araújo e Henriques (1984), como sendo o ecossistema adjacente ao oceano, ocorrendo sobre areia marinha ou fluvio-marinha, de origem quaternária. São caracterizadas pela presença da Fabaceae Vigna luteola (Jacq.) Benth. Convolvulaceae Ipomoea asarifolia (Desr.) Roem. ; Schult., Malvaceae Hibiscus cf. bifurcatus Cav. e as Poaceae Hymenachne amplexicaule (Rudge) Nees, Digitaria horizontalis Willd. e Paspalum decubens Sw (Figura 34). Figura 34 - Vegetação de Restinga da praia do Parazinho, Arquipélago do ailique, Amapá. Fonte: Acervo GERCO Campestre Campo Herbáceo Periodicamente Inundado (Ch) Ocorre em toda a extensão do Setor Estuarino, desde o rio Jari até o rio Araguari, sobre os terraços holocênicos, ligeiramente acima do nível da água. São caracterizados pela presença de diversas espécies de macrófitas aquáticas (Figura 35), como Poaceae, Cyperaceae, 75
6 Nymphaceae, Alismataceae, Araceae, Maranthaceae, sem a presença de arbustos ou árvores (Tabela 6). A pecuária bubalina é intensa nessas áreas, causando alterações na paisagem dos campos, gerando canais de drenagem que servem de escoamento da água, principalmente durante os meses de estiagem, facilitando a queimada e o desmatamento desse ecossistema (Figura 36). Figura 35 - Campo Herbáceo Periodicamente Inundado. Em primeiro plano, temos aguapé (Echornia sp.), taboa (Cyperus giganteus Vahl.), aninga (Montrichardia arborescens Schott.) e, ao fundo, o buriti (Mauritia flexuosa L.f.). Fonte: Acervo GERCO. a b Figura 36 - Campo Herbáceo Periodicamente Inundado. a) Áreas de campo no rio Gurijuba, município de Macapá. b) Área utilizada para bubalinocultura. Fonte: Acervo GERCO. 76
7 Tabela 6- Espécies dos campos naturais do Setor Estuarino do Estado do Amapá Nome Vernacular Nome Científico Família Alface d água Pistia stratioides L. Araceae Aguapé Eichhornia azurea (Sw.) Kunth Pontederiaceae Aguapé Eichhornia crassipes (Mart.) Solms. Pontederiaceae Azolla Azolla sp. Saviniaceae Buriti Mauritia flexuosa L. f. Arecaceae Cabomba Cabomba aquatica DC. Nymphaeaceae Canarana Hymenachne amplexicaule (Rudge) Nees Poaceae Caranã Mauritiella aculeata (Kunth) Burnet. Arecaceae Junco Eleocharis emarginata (Ness) Klotz. Cyperaceae Junco Eleocharis intesticta (Vahl) Roemer et Schultes Cyperaceae Junco Eleocharis mutata (L.) Roemer et Schultes Cyperaceae Junco Eleocharis sp. Cyperaceae Salvinia Salvinia articulata Aubl. Saviniaceae Samambaia Blechnum serrulatum L. C. Rich. Polypodiaceae Taboa Cyperus giganteusi Vahl. Cyperaceae Centrosema brasilianum (L.) Benth. Cuphea melvilla Lindley Cyperus luzulae (L.) Retz. Fimbristylis annua (Allioni) Roemer et Schultes Scleria microcarpa Nees Panicum laxum Sw. Paspalum repens Berg. Fabaceae Lythraceae Cyperaceae Cyperaceae Cyperaceae Poaceae Poaceae Campo Arbustivo Periodicamente Inundado (Ca) Estas áreas diferenciam-se dos campos herbáceos pela freqüência de árvores como a taxi (Triplaris surinamensis Cham.), mamorana (Pachira aquatica Aubl.), munguba (Bombax munguba Mart. et Zucc.); arbustos esparsos, como Solanum sp., Mimosa pigra L. e as palmeiras buriti (Mauriti flexuosa L. f.) e caranã (Mauritiella aculeata (Kunth) Burnet.) (Figura 37). 77
8 Figura 37 - Vista geral do campo arbustivo periodicamente inundado no rio Araguari. Destaque para o arbusto Mimosa pigra L (a). Fonte: Acervo GERCO Campo Permanentemente Inundado (I) São as áreas a mais baixas dos campos, constituídos de depressões onde se formam lagos permanentes, com acúmulo de matéria orgânica proveniente da decomposição das macrófitas aquáticas. Dentre essas podemos destacar o aguapé (Eichornia crassipes (Mart.) Solms e E. azurea (Sw.) Kunth.), mururé (Nynphaea sp.), cabomba (Cabomba aquatica DC.) e outras aquáticas (Figura 38). Figura 38 - Vista geral do Lago Ajuruxi, com domínio de macrófitas aquáticas. Fonte: Acervo GERCO. 78
9 Cerrado com Forma Arbórea/Arbustiva e de Campo Limpo Associado (C) É uma classe de formação predominante dos climas quentes e úmidos, com chuvas torrenciais bem demarcadas pelo período seco e caracterizada sobretudo por árvores tortuosas, de folhas raramente deciduais, como também por formas biológicas adaptadas aos solos deficientes, profundos e aluminizados (RADAMBRASIL, 1974) (Tabela 7). As potencialidades do cerrado estão ligadas às espécies frutíferas, como mangaba (Hancornia speciosa Gomez.), muruci (Byrsonima crassifolia (L.) Rich.), caju (Anacardium occidentale L.) e araticum (Annona paludosa Aubl.); e às medicinais, como o barbatimão (Ouratea hexasperma (St. Hill.) Benth.), sucuúba (Himathanthus articulata (Vahl.) Wood.) e lacre (Vismia guianensis (Aubl.) Choisy). Formação do grupo das savanas, com pequenas árvores esparsas entre dois e cinco metros, esgalhadas e bastante tortuosas, e outras lenhosas a sublenhosas rasteiras dispersas em um estrato herbáceo contínuo. Entre as espécies arbórea/arbustivas podemos citar: sucuúba (Himathanthus articulata (Vahl.) Wood.), caimbé (Curatella americana L.), mangaba (Hancornia speciosa Gomez.), barbatimão (Ouratea hexasperma (St. Hill.) Benth.), muruci (Byrsonima crassifolia (L.) Rich.), muruci rasteiro (Byrsonima verbascifolia (L.) Rich.) e bate-caixa (Salvertia convallariaeodora St. Hill.). No estrato herbáceo as espécies mais freqüentes são: Chamaecrista diphylla Greene, C. racemosa (Vogel) Irwin et Barn. (Leguminosae), Comolia lytrarioides (Steud.) Naud. (Melastomataceae), Paspalum carinatum Fluegge (Poaceae), Rhynchospora barbata (Vahl) Kunth, Scleria cyperiana Kunth. (Cyperaceae), entre outras (Figura 39). 79
10 b a Figura 39 - Cerrado com Forma Arbórea Arbustiva associado a Campo Limpo. a) Vista aérea do cerrado sobre relevo ondulado e a Floresta de Galeria; e b) Área de cerrado utilizada pela pecuária. Fonte: Acervo GERCO Tabela 7- Espécies arbórea/arbustivas dos cerrados do Setor Estuarino do Estado do Amapá Nome Vernacular Nome Científico Família Araticum Annona sp. Annonaceae Barbatimão Ouratea hexasperma (St. Hill.) Benth. Ochnaceae Bate-caixa Salvertia convallariaeodora Aubl. Vochysiaceae Caimbé Curatella americana L. Dilleniaceae Caju Anacardium occidentale L. Anacardiaceae Lacre Vismia guianensis (Aubl.) Choisy Clusiaceae bmangaba Hancornia speciosa Gomez. Apocynaceae Muruci Byrsonima crassifolia (L.) Kunth Malpighiaceae Muruci Rasteiro Byrsonima verbascifolia (L.) Rich. Malpighiaceae Sucuúba Himatanthus articulata (Vahl.) Wood. Apocynaceae Floresta de Várzea Floresta de Várzea de Alto Porte com Grande Freqüência de Palmeiras (Fv) As florestas de várzea ocupam 4,85% da cobertura vegetal do Estado, e aproximadamente 15,46 % do Setor Costeiro Estuarino (IEPA, 1998). São ecossistemas energeticamente abertos, associados às planícies de inundações dos rios e igarapés de água branca do estuário amazônico. Apresentam uma estrutura exuberante, rica diversidade e um grande patrimônio genético. Estão submetidas a um ciclo diário de enchentes e vazantes por água doce represada pelas marés. Devido a essa dinâmica, são carreados diariamente para essas áreas uma grande quantidade de material sedimentar. São formadas por áreas mais recentes sobre solos 80
11 hidromórficos ricos em material sedimentar do Período Quaternário, o que lhe confere um potencial econômico na exploração da madeira e essências. As florestas de várzea são relativamente baixas e abertas, comparadas com as de terra firme, com altura em torno de 20 a 25 m. No entanto, a biomassa pode ser equivalente, com área basal em torno de 25 m² e a densidade aproximada de 200 a 300 árvores por hectare, quando considerados somente os indivíduos com DAP = 10 cm (MPEG, 1998; NELSON; OLIVEIRA, 1999). As espécies características das florestas de várzea na região estuarina do Amapá são marcadas pelo domínio de palmeiras, destacando-se o açaí (Euterpe oleracea Mart.), buriti (Mauritia flexuosa L.f.), ubuçu (Manicaria saccifera Gaertn.) e urucuri (Attalea excelsa Mart) (Tabela 8 e Figura 40). a b Figura 40 - Palmeiras predominantes nas várzeas do Setor Estuarino do Estado do Amapá. a) Açaí (Euterpe oleracea Mart.). b) Buriti (Maurita flexuosa L.f.). Fonte: Acervo GERCO. Tabela 8- Palmeiras da floresta de várzea do Setor Estuarino do Estado do Amapá Nome Vernacular Nome Científico Família Açai Euterpe oleracea Mart. Arecaceae Buriti Mauritia flexuosa L. f. Arecaceae Jacitara Desmoncus sp. Arecaceae Mumbaca Astrocaryum munbaca Mart = A. gynacanthum Arecaceae Mart. Murumuru Astrocaryum murumuru Mart. Arecaceae Paxiuba Socratea exorrhiza (Mart.) H. Wendl Arecaceae Ubuçu Manicaria saccifera Gaertn. Arecaceae Urucuri Attalea excelsa Mart. Arecaceae 81
12 Foram identificadas as espécies arbóreas pau-mulato (Callycophyllum spruceanum Benth.), assacu (Hura crepitans L.), anani (Symphonia globulifera L.f.), jenipapo (Genipa americana L.), seringueira (Hevea guianensis Aubl.), taperebá (Spondias monbim Jacq.), mamorana (Pachira aquatica Aubl.), ucuúba (Virola surinamensis (Rol.) Warb.), andiroba (Carapa guianensis Aubl.), samaúma (Ceiba pentandra Gaertn.), pracuúba (Mora paraensis Ducke.), mututi (Pterocarpus amazonicus Huber.), pracaxi (Pentaclethra macroloba (Willd.) Kunt.), acapurana (Campsiandra laurifolia Benth.),b entre outras (Tabela 9). Essas florestas apresentam um grande potencial econômico, com a presença de espécies oleaginosas, frutíferas, laticíferas e várias espécies madeireiras, estoques esses que estão sendo perdidos em função da exploração e manejo inadequados destes recursos, que estão entre as principais fontes de renda para os povos ribeirinhos (Figura 41 e 42). a b c Figura 42 - Floresta de Várzea da área sul do Setor Estuarino. a) Rio Preto. b) Rio Cajari. c) Rio Maracá. Fonte: Acervo GERCO 82
13 a b c Figura 42 - Floresta de Várzea da área norte do Setor Estuarino. a) Rio Pacuí. b) Rio Curuá. c) Rio Araguari. Fonte: Acervo GERCO a Floresta de Várzea de Porte Mediano com Baixa Freqüência ou Ausência de Palmeiras (Fv1) c Esta unidade assemelha-se às outras unidades de várzea, apresentando as mesmas espécies, com um detalhe importante a ser ressaltado, que é a diminuição do número de espécies ou a total ausência das palmeiras, que são muito freqüentes no restante do estuário amazônico Floresta de Várzea de Porte Mediano com Domínio de Guadua sp. (Fv2) Na Foz do rio Araguari, as várzeas apresentam uma altura de 15 a 20 metros, com o domínio de taboca do gênero Guadua sp., formando uma franja de difícil penetração, além das outras espécies que ocorrem no estuário amazônico. 83
14 Tabela 9 - Espécie da floresta de várzea do Setor Estuarino do Estado do Amapá Nome Vernacular Nome Científico Família Abiorana Pouteria sp. Sapotaceae Acapurana Campsiandra laurifolia Benth. Caesalpiniaceae Anani Symphonia globulífera L. f. Clusiaceae Andiroba Carapa guianensis Aubl. Meliaceae Aninga Montrichardia arborescens Schott. Araceae Arumã Ischnosiphon arouma (Aubl.) Koern. Maranthaceae Assacu Hura crepitans L. Euphorbiaceae Aturiá Macherium lunatum Ducke Fabaceae Cacau Theobroma cacao L. Sterculiaceae Cedro Cedrela odorata Ruiz et Pav. Meliaceae Fava Macrolobium multijugum (DC.) Benth. Caesalpiniaceae Jenipapo Genipa americana L. Rubiaceae Jeniparana Gustavia augusta J. L. Gmel. Lecythidaceae Macucu Licania heteromorpha Benth. Chrysobalanaceae Mamorana Pachira aquatica Aubl. Bombacaceae Mata Pau Ficus sp. Moraceae Munguba Bombax munguba Mart. et Zucc. Bombacaceae Mututi Pterocarpus amazonicus Huber Fabaceae Parquia Parkia nitida Miq. Mimosaceae Pau Mulato Callycophyllum spruceanum Benth. Rubiaceae Pente de Macaco Apeiba echinata Gaertn. Tiliaceae Pracaxi Pentaclethra macroloba (Willd.) O. Kuntze Mimosaceae Pracuuba Mora paraensis Ducke Caesalpiniaceae Samauma Ceiba pentandra Gaertn. Bombacaceae Seringueira Hevea guianensis Aubl. Euphorbiaceae Sororoca Phenakospermum sp. Musaceae Taperebá Spondias monbim Jacq. Anacardiaceae Tento Ormosia sp. Fabaceae Ucuúba Virola surinamensis (Rol.) Warb. Myristicaceae Uxirana Saccoglotis guianensis Benth. Humiriaceae Floresta de Várzea de Porte Mediano com Domínio de Mauritia flexuosa Mart. (Fv3) São áreas com grande concentração de buriti (Mauritia flexuosa L.f.), localizadas na planície flúvio-estuarina do rio Jerusalém do Pau Mulato, e nas áreas de deposição das margens dos rios Gurijuba, Pedreira, Ipixuna, Matapi, Vila Nova, Mazagão e outros. 84
15 Juntamente com o açaí, o buriti é uma das palmeiras mais importantes para as populações ribeirinhas, sendo utilizada na sua alimentação como bebida natural ou fermentada, óleo e doces dos frutos, açúcar do estipe, sabão caseiro, material para casa, etc. (CAVALCANTE, 1988). Apesar disto, as populações ribeirinhas da região estuarina do Amapá utilizam muito pouco esse recurso Floresta de Galeria (Fg) A mata de galeria é uma tipologia de transição entre o cerrado e os campos inundáveis (campos herbáceo e arbustivo). Composta pelas espécies de palmeiras buriti (Mauritia flexuosa L.f.), açaí (Euterpe oleracea Mart.), caranã (Mauritiella aculeata (Kunth) Burnet.) e jacitara (Desmoncus sp.); araticum (Annona paludosa Aubl.), Coccoloba sp, Ficus sp., anani (Symphonia globulifera L.f.) e ucuúba ou virola (Virola sp.). Nas bordas, em terrenos mais elevados, encontramos espécies como a sapucaia (Lecythis sp.) e o jatobá (Hymenaea parvifolia L.) Aluvial Florestal - Terraços Fluviais (Alf) São formações aluviais sempre presentes nos terraços mais antigos nos cursos médios dos rios, encontrados na região sul e sudeste do Estado na transição entre a terra firme e as florestas inundáveis (várzea),. Ocorre sobre solos hidromórficos, onde a inundação proveniente do acúmulo de águas pluviais se dá pela drenagem deficiente desses solos aliada à presença do lençol freático superficial. As florestas aluviais são compostas por manchas de vegetação localizadas em áreas onde as enchentes podem ser causadas por águas transportadas dos sistemas fluviais durante as cheias, ou pelo acúmulo de água da chuva durante o inverno, entre os meses de janeiro a maio (Figura 43). 85
16 Floresta de Igapó (Fi) São florestas que ocorrem nas regiões sul e sudeste do Estado, sofrendo a influência das cheias dos meses de inverno. Aqui aparecem espécies comuns de igapó e várzea como o açai (Euterpe oleracea Mart.), taxi (Triplaris surinamensis Cham.), mucuna (Mucuna altissima (Jack.) DC.), faveiro (Vatairea guianensis Aubl.), pajeú (Coccoloba sp.), etc. (Tabela 10). Figura 43- Aspecto interno das florestas aluviais sobre terraços luviais. Fonte: Acervo GERCO Tabela 10- Espécies da floresta de várzea-igapó do Setor Estuarino do Estado do Amapá Nome Vernacular Nome Científico Família Açai Euterpe oleraceae Mart. Arecaceae Arapari Macrolobium acaciifolium Benth. Caesalpiniaceae Faveiro Vatairea guianensis Aubl. Fabaceae Pajeú Coccoloba sp. Polygonaceae Pitaiga Swartzia acuminata Willd. Caesalpiniaceae Taxi Triplaris surinamensis Cham. Polygonaceae Floresta de Terra Firme Apesar de ser um componente dominante na paisagem amazônica, na região costeira estuarina essas florestas apresentam-se em pequenos trechos, em contato com os campos herbáceos e arbustivos e os cerrados. 86
17 As florestas de terra firme são densas, com árvores emergentes, com dossel em torno de 30 a 35 m, a biomassa é considerada alta com área basal em torno de 30 m² e a densidade aproximada de 400 a 500 árvores por hectare, quando se consideram apenas os indivíduos com DAP = 10 cm (MPEG, 1998 ; NELSON ; OLIVEIRA, 1999). Essas florestas são caracterizadas pela presença de espécies típicas de floresta densa como a castanheira (Bertholletia excelsa Berg.), itaúba (Mezilaurus itauba (Meissn) Taub. ex Mez.), carapanaúba (Aspidosperma carapanauba Pichon), quaruba (Vochysia guianensis Aubl.), visgueira (Parkia pendula Benth. ex Walp.) e angelim (Dinizia excelsa Ducke) (Tabela 11). A espécie Bertholletia excelsa (castanheira) caracteriza grandes espaços da floresta densa, constituindo às vezes, associações homogêneas, o que facilita seu extrativismo comercial. Outro ponto a ser abordado é a potencialidade madeireira destas áreas, com uma infinidade de espécies de valor econômico, como o angelim, itaúba, quaruba, etc. Tabela 11- Espécies da floresta de terra firme do Setor Estuarino do Estado do Amapá Nome Vernacular Nome Científico Família Andiroba Carapa guianensis Aubl. Meliaceae Angelim Dinizia excelsa Ducke Mimosaceae Cacaui Theobroma speciosum Willd. Sterculiaceae Carapanauba Aspidosperma carapanauba Pichon Apocynaceae Castanheira Bertholletia excelsa Berg. Lecythidaceae Coataquiçaua Peltogyne paradoxa Caesalpiniaceae Itaúba Mezilaurus itauba (Meissn) Taub. ex Mez. Lauraceae Jatobá Hymenaea courbaril L. Caesalpiniaceae Parquia Parkia pendula Benth. Ex Walp. Mimosaceae Quaruba Vochysia guianensis Aubl. Vochysiaceae As florestas de terra firme estão classificadas de acordo com a estrutura da vegetação, presença de espécies dominantes e o relevo a qual está associada. Através destes critérios foram identificadas oito unidades florestais: 87
18 Floresta de Alto Porte com Presença de Castanha do Brasil (Bertholletia excelsa H ; B) Dispersa no Estrato Emergente Associada a Relevo Forte Ondulado (F1a); Floresta de Alto Porte com Presença de Castanha do Brasil (Bertholletia excelsa H ; B) Dispersa no Estrato Emergente Associada a Relevo Ondulado (F1b); Floresta de Alto Porte com Presença de Castanha do Brasil (Bertholletia excelsa H ; B) Dispersa Estrato Emergente Associada a Relevo Plano a Suave Ondulado (F1c); Floresta de Porte Mediano (Mata Fina) com Domínio de Quaruba Cedro (Vochysia sp.) com Espécies Emergentes (F2); Floresta de Porte Mediano (Mata Fina) com Espécies Emergentes Dispersa (F3); Floresta de Alto Porte com Presença de Angelim Vermelho (Dinizia excelsa Ducke) e Coataquiçaua (Peltogyne paradoxa) com Espécies Emergentes Associadas a Relevo Forte Ondulado (F4a); Floresta de Alto Porte com Presença de Angelim Vermelho (Dinizia excelsa Ducke) e Coataquiçaua (Peltogyne paradoxa) com Espécies Emergentes Associadas a Relevo Ondulado (F4b) e Floresta de Alto Porte com Dossel Pouco Estratificado (F5) Áreas Alteradas Área Alterada (A) As florestas secundárias estão associadas às áreas de floresta de terra firme e de várzea que foram deflorestadas ou queimadas, aproveitando-se dos meses de menor intensidade pluviométrica (seca) para esta prática. A remoção da cobertura vegetal está relacionada com a prática de agricultura itinerante, como o plantio de mandioca, milho, banana, melancia, etc. As espécies freqüentes nestas capoeiras são embaúba (Cecropia palmata Willd., C. sciadophylla Mart.), lacre (Vismia guianensis (Aubl.) 88
19 Choisy), tapiririca (Tapirira guianensis Aubl.), murta (Myrcia fallax DC., Eugenia biflora DC., Myrciaria tenella Berg.), Miconia sp., Psychotria sp., dentre outras espécies (Figura 44). Na região de São Joaquim do Pacuí, as áreas de capoeira ocorrem no domínio das palmeiras tucumã (Astrocarium vulgare Mart.) e inajá (Maximiliana maripa (Aubl.) Drude) Área Reflorestada (Ar) São áreas de plantio da Amapá Agroflorestal/Champion do Brasil S.A. International Paper e Jarí Celulose JARCEL, com pinheiro (Pinus sp.) e eucalipto (Eucaliptus sp.), nas áreas de cerrado, para fabricação de celulose (Figura 45). a b c Figura 44 - Áreas alteradas: a) Região de Vitória do Jari, associada a relevo plano a suave ondulado. b) Capoeira na região de Mazagão. c) Roçado no região de Mazagão. Fonte: Acervo GERCO 89
20 Figura 45 - Vista aérea reflorestadas com pinheiro (Pinus sp.) da Amaá da International Paper Fonte: Acervo GERCO Associações! Cerrado com Forma Arbórea/Arbustiva e de Campo Limpo Associado + Área Alterada (C1 + A);! Cerrado com Forma Arbórea/Arbustiva e de Campo Limpo Associado + Floresta de Porte Mediano (Mata Fina) com Espécies Emergentes Dispersas (C1 + F3);! Campo Arbustivo Periodicamente Inundado + Campo Herbáceo Periodicamente Inundável (Ca + Ch);! Campo Herbáceo Periodicamente Inundável + Área Alterada(Ch + A);! Floresta de Porte Médiano (Mata Fina) com Espécies Emergentes Dispersas + Área Alterada (F3 + A);! Floresta de Porte Médiano (Mata Fina) com Espécies Emergentes Dispersas + Campo Herbáceo Periodicamente Inundável + Área Alterada (F3 + Ch + A);! Floresta de Alto Porte com Presença de Angelim Vermelho (Dinizia excelsa Ducke) e Coataquiçaua (Peltogyne Paradoxa) com Espécies Emergentes Associadas a Relevo Forte Ondulado + Área Alterada (F4a + A);! Floresta de Galeria + Área Alterada (Fg + A); 90
21 ! Floresta de Várzea de Alto Porte com Grande Freqüência de Palmeiras + Área Alterada (Fv + A) e! Floresta de Várzea de Alto Porte com Grande Freqüência de Palmeiras + Siriubal (Fv + Sb) Espécies Medicinais No Setor Costeiro Estuarino as informações referentes a este item foram coletadas a partir de perguntas sobre tipos de plantas medicinais utilizadas. Os dados foram trabalhados por frequência de ocorrência de uso de plantas medicinais (Tabela 12). As famílias com maior número de espécie foram Labiatae com 10 espécies, seguidas da Euphorbiaceae e Rutaceae, com 6 espécies e Asteraceae, com 5 espécies (Figura 46). As doze principais espécies mais citadas pelas populações ribeirinhas são: amor crescido (Portulaca pilosa L.), anador (Plectranthus barbatus Benth.), arruda (Ruta graveolens L.), barbatimão (Ouratea hexasperma), boldo (Vernonia condensata Backer), catinga de mulata (Tanacetum vugare L.), erva-cidreira (Lippia alba Cham.), hortelã grande (Marrubium vulgare L.), hortelãzinho (Mentha piperita L.), manjericão (Ocimum minimum L.), mastruz (Chenopodium ambrosioides L.) e verônica (Dalbergia subcymosa Ducke) (Figura 47) Espécies Ameaçadas de extinção Baseando-se na portaria do IBAMA Nº 06, de 15 de janeiro de 1992, constatamos que existe apenas uma única espécie encontradas no Setor Costeiro Estuarino que se encontra ameaçada na categoria vulnerabilidade: Virola surinamensis (Rol.) Warb. (categoria: vulnerável) Recursos Genéticos Importantes Para Melhoramento Importante patrimônio genético, que podem ser utilizado para melhoramento de plantas, pois são parentais selvagens de espécies em processo de domesticação e de grande valor econômico. 91
22 o Hevea guianensis Aubl. o Theobroma mariae (Mart.) Schum o Oryza alata Sw. o Oryza perennis Moench o Oryza glumaepatula Steud. Tabela 12- Listagem das espécies medicinais utilizadas pelas populações do Setor Estuarino do Estado do Amapá Nome Popular Nome Científico Família Abacate Persea americana Mill. var. americana Lauraceae Abacaxi Ananas sp. Bromeliaceae Açai Euterpe oleracea Mart. Arecaceae Alecrim Vitex agnus-castus.l. Verbenaceae Alfavaca Ocimum sp. Labiatae Lamiaceae Alfazema Lavandula spica L. Labiatae Lamiaceae Algodão Gossypium sp. Malvaceae Alho Allium sativum L. Liliaceae Amapá Parahancornia amapa (Huber) Ducke Apocynaceae Ameixa Eugenia cumini (L.) Druce Myrtaceae Amor crescido Portulaca pilosa L. Portulacaceae Anador Plectranthus barbatus Benth. Labiatae Lamiaceae Andiroba Carapa guianensis Aubl. Meliaceae Anuerá Licania macrophylla Benth. Chrysobalanaceae Arruda Ruta graveolens L. Rutaceae Assacu Hura crepitans L. Euphorbiaceae Babosa Aloe barbabensis Mill. Liliaceae Barbatimão Ouratea hexasperma (St. Hill.) Benth. Ochnaceae Batatão Operculina alata (Harm.) Hub. Convulvulaceae Boldo Vernonia condensata Backer. Asteraceae Cajueiro Anacardium occidentale L. Anacardiaceae Camapu Physalis angulata L. Solanaceae Cana Roxa Costus spicatus Rosc. Zingiberaceae Canela Cinnamomum zeylanicum Blume Lauraceae Capim Marinho Cymbopogon citratus Stapt. Poaceae Carapanauba Aspidosperma sp. Apocynaceae Casca de Preciosa Aniba canelilla (H.B.K.) Mez. Lauraceae Castanheira Bertholletia excelsa H ; B. Lecythidaceae Catinga de Mulata Tanacetum vugare L. Asteraceae Caxinguba Ficus sp. Moraceae Cedro Cedrela odorata L. Meliaceae Chicória Eryngium foetidum L. Apiaceae Cidreira Lippia alba Cham. Verbenaceae Cipó de Alho Adenocalymna alliaceum Miers Bignoniaceae 92
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