Parâmetros Genéticos da Produção de Leite de Animais da Raça Holandesa Mantidos em Sistema Intensivo de Produção do Tipo Free Stall

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1 Rev. bras. zootec., 29(6): , 2000 (Suplemento 1) Parâmetros Genéticos da Produção de Leite de Animais da Raça Holandesa Mantidos em Sistema Intensivo de Produção do Tipo Free Stall Ary Ferreira de Freitas 1,2, Marcus Cordeiro Durães 1, Nilson Milagres Teixeira 1,2 RESUMO - Utilizaram-se os dados de 440 lactações iniciadas no período de 1989 a 1996, de 202 vacas filhas de 83 touros mantidas no sistema intensivo de produção de leite da Embrapa Gado de Leite, em Coronel Pacheco - MG. Analisou-se a produção de leite em 305 dias, adotando modelo animal que incluiu os efeitos fixos de ano, estação e idade da vaca ao parto e os efeitos aleatórios de animal e do erro. A média estimada da produção de leite na primeira lactação foi 6774 ± 927 kg e de todas lactações, 7035 ± 1370 kg. As lactações tiveram duração média de 379 ± 80 dias e a idade média ao primeiro parto foi de 27,5 ± 5 meses. Para a predição dos valores genéticos das vacas e estimação da herdabilidade da produção de leite em 305 dias, foram usados apenas os registros de primeira lactação. Tendências genéticas foram estimadas por meio de regressão ponderada das PTA (Capacidade Prevista de Transmissão) das vacas por ano de nascimento das mesmas sobre ano. A herdabilidade da produção de leite em 305 dias foi 0,27 ± 0,05 e a tendência genética entre 1987 e 1994, de 0,46 ± 11 kg por ano, representando 0,01 % da média de produção do rebanho, sendo que de 1990 a 1994 foi 32,2 ± 16 kg por ano (0,48%). Palavras-chave: herdabilidade, produção de leite, raça Holandesa, tendência genética Genetic Parameters of Milk Yield of Holstein Animals under Free Stall Intensive Production System ABSTRACT - Data from 440 lactations begining in 1989 to 1996 of 202 Holstein cows daughters of 83 sires maitained in the intensive dairy production system of Embrapa Gado de Leite, Coronel Pacheco, MG were used. The 305 days milk yield was studied using an animal model including the fixed effects of year, season and age of calving and random effects of animal and residual. The estimated mean for milk production in the first lactation was 6774 ± 927 kg and for all lactations, 7035 ± 1370 kg. The average lactation length was 379 ± 80 days and the mean age at first calving was 27.5 ± 5 months. Cows predited transmitting ability (PTA) and heritability of the 305 days milk yield were estimated using only the first lactations. Genetic trends were estimated using the weighted regression of the PTA of cows per year of birth on year. The heritability of 305 days milk yield was 0.27 ± The genetic trend from 1987 to 1994 was 0.46 ± 11 kg /year or 0.01% of the average herd production and 32.2 ± 16 kg/year in the last five years (1990 to 1994). Larger genetic gains are expected in the next future due to superiority of the bulls being used in the last years. Key Words: Introdução A produção de leite em sistema do tipo free stall tem sido utilizada por criadores de bovinos da raça Holandesa no Brasil e tem crescido o número de adeptos a esse sistema de produção. Verifica-se que somente em Minas Gerais existem em torno de 100 propriedades utilizando sistemas confinados e semi-confinados, de acordo com o Superintendente Técnico da Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais (comunicação pessoal). Esse tipo de exploração leiteira possibilita melhor aproveitamento do espaço disponível das instalações e maior facilidade de manejo dos animais, que em muitos casos são importados de países de clima temperado e necessitam de um ambiente confortável, seco e higiênico para produzirem leite eficientemente. No início da década de 80, a Embrapa instalou, em Brasília - DF, um sistema intensivo para produção de leite usando gado Holandês, adquirido principalmente no Estado do Paraná. Vários estudos foram realizados com os dados coletados naquele rebanho, como os de DURÃES et al. (1990), DURÃES et al. (1991), LOPES et al. (1996), McMANUS et al. (1996) e McMANUS e SAURESSING (1997). Estes trabalhos demonstraram que os animais de origem paranaense tiveram desempenho satisfatório no sistema confinado de Brasília, apresentando média de produção de 1 Pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Juiz de Fora, MG. E.mail: ary@cnpgl.embrapa.br 2 Bolsista do CNPq.

2 FREITAS et al. leite, em 305 dias de lactação, de 6178 kg, intervalo de partos de 430 dias e idade ao primeiro parto de 815 dias. Em 1989, a Embrapa Gado de Leite adquiriu novilhas dos Estados Unidos e também do Paraná e instalou outro sistema do tipo free stall, em Coronel Pacheco, MG. Alguns resultados de pesquisa sobre o desempenho na primeira lactação das vacas e sobre o desenvolvimento corporal das novilhas, nascidas no sistema, até a idade de cobrição, foram publicados, respectivamente, por FREITAS et al. (1992) e FREITAS et al. (1997). Com freqüência, os criadores da raça Holandesa usam sêmen de touros de outros países que executam teste de progênie, sendo que muitos continuam importando fêmeas, objetivando a melhoria genética de seus rebanhos. Poucos são os estudos sobre o desempenho de animais especializados em sistemas intensivos de produção de leite, bem como sobre os ganhos genéticos obtidos em criatórios nacionais. As avaliações das tendências genéticas e estimativas de parâmetros genéticos em rebanhos nacionais constituem importantes informações para os criadores, principalmente considerando a origem dos rebanhos e do sêmen. TEIXEIRA et al. (1994) estudaram a produção de leite e estimaram a tendência genética em 79 rebanhos da raça Holandesa do Estado do Paraná, usando 8882 primeiras lactações de vacas, filhas de 143 touros. A estimativa obtida pelo procedimento de regressão linear ponderada das constantes dos quadrados mínimos para anos, sobre anos de parto, foi 128 kg/ano. Utilizando-se o valor genético do touro no ano de parto de sua primeira filha, a tendência genética foi 139 kg/ano e, quando foi usado o valor genético do touro no ano em que teve o maior número de filhas, a estimativa foi de 94 kg/ano. Estas estimativas foram consideradas altas, levando-se em conta os resultados previamente publicados em outros países. As estimativas de herdabilidade para produção de leite, em 305 dias, encontradas na literatura, variaram de 0,19 a 0,36 (MEYER et al., 1984; MOYA et al., 1985; DONG et al. 1988; VAN VLECK et al., 1988; e ALBUQUERQUE et al., 1996). O objetivo do presente estudo foi estimar parâmetros genéticos e tendência genética para a produção de leite em um rebanho mantido sob regime de confinamento do tipo free stall nas condições edafoclimáticas da Zona da Mata de Minas Gerais. Material e Métodos 2009 Os dados usados referem-se a 440 lactações iniciadas no período de 1989 a 1996 de 202 vacas da raça Holandesa, filhas de 83 touros, nascidas entre 1987 e 1994, no sistema intensivo de produção de leite do tipo free stall, da Embrapa Gado de Leite, em Coronel Pacheco, Minas Gerais. As vacas foram manejadas em quatro grupos, segundo o estádio da lactação. O primeiro foi composto de vacas até 60 dias e de primíparas até 100 dias de lactação e o segundo grupo, vacas de 61 a 100 dias de lactação, no qual era observado o cio. Outro lote foi composto de animais com 101 a 200 dias de lactação, que recebeu exame ginecológico para confirmação de prenhês, e o quarto grupo, de animais com estádio de lactação acima de 200 dias. Este grupo de animais teve suas lactações interrompidas 60 dias antes do próximo parto previsto. Todos os grupos receberam dieta balanceada constituída de silagem de milho, minerais, feno e concentrados, formulada em função da média de produção de leite e do ganho de peso apresentado pelo grupo. O regime foi de duas ordenhas diárias, mas as vacas que apresentaram produção superior a 25 litros foram ordenhadas três vezes ao dia. As vacas secas foram mantidas em baias coletivas. Trinta dias antes do parto, estas vacas foram colocadas em baias individuais (maternidade). Os touros usados no rebanho foram escolhidos pelas suas PTAs (Capacidade Prevista de Transmissão) para produção de leite e tipo, adotando-se os critérios de acima de 500 kg para PTA leite e acima de 1,0 para PTA tipo. Foram usados, em média, 6 touros por ano. Outros detalhes sobre o manejo adotado nesse sistema, principalmente para os animais em fase de crescimento, foram descritos por FREITAS et al. (1997). Para avaliar os efeitos dos fatores ambientais sobre a produção de leite em 305 dias, usaram-se todas as 440 lactações, mas, para estimar os valores genéticos e a herdabilidade da produção, foram usados apenas os registros de produção da primeira lactação. As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se a metodologia dos modelos mistos e da máxima verossimilhança restrita, em um modelo animal, por meio do sistema MTDFREML (BOLDMAN et al., 1995). O modelo proposto foi y = H h + Z 1 u + Z 2 p +e, em que y é um vetor de observações para a característica produção de leite em 305 dias; H, a matriz de incidência dos efeitos fixos (ano e estação) e idade ao parto, como covariável (efeitos linear e quadrático);

3 2010 Rev. bras. zootec. h, um vetor de parâmetros desconhecidos representando os efeitos fixos; Z 1 e Z 2, as matrizes de incidência dos efeitos aleatórios u e p; u, o vetor de efeitos aleatórios, que incluiu os valores genéticos dos animais; p, o vetor de efeitos aleatórios permanentes de meio, inerentes à repetição de produção da vaca; e, o vetor dos erros aleatórios. Foram consideradas as pressuposições que a E(y) = Hh e a V (y) = Z 1 σ 2 u Z i + Z 2 σ2 p Z i + σ2 ε. O critério assumido para a convergência foi quando a variância do simplex era menor que Todas as análises foram reiniciadas mais de uma vez para evitar a ocorrência de pontos locais de máximo nas estimativas dos componentes de variância. Para a estimativa dos valores genéticos, em que se utilizou somente a primeira lactação, o termo Z 2 p foi suprimido do modelo. Os meses de parição foram agrupados em duas estações, sendo a estação seca de abril a setembro e a das águas de outubro a março. A tendência genética no período de 1987 a 1994 e nos últimos cinco anos ( ) foram estimadas por meio de uma regressão ponderada das médias das PTAs das vacas por ano de nascimento das mesmas sobre ano de nascimento (VAN VLECK et al., 1986). Para avaliar a escolha dos touros usados no sistema, utilizaram-se suas PTAs para produção de leite, obtidas da avaliação genética americana, publicada no sumário de touros, no segundo semestre de Para os touros que não constavam da lista de 1996, foi usada a PTA do ano em que ele foi avaliado pela última vez, atualizado para a mudança da base genética de Dois touros não possuíam avaliações e suas PTAs foram consideradas zero. Estimaram-se médias das PTAs dos touros por ano de nascimento de suas filhas. Resultados e Discussão As médias da produção de leite em 305 dias na primeira lactação foi 6774±927 kg e, para todas lactações em conjunto, 7035±1370 kg. As lactações no sistema duraram, em média, 379±80 dias e a idade média ao primeiro parto foi 27,5±5 meses. A regressão da produção de leite sobre ano de parto teve efeito linear significativo (P<0,01) e apresentou coeficiente de 93,87±29,33 kg. O efeito quadrático (P<0.5) da idade da vaca ao parto sobre a produção de leite está representado na Figura 1. Houve aumento da produção com o incremento da idade das vacas ao parto atingindo máximo aos 78 Produção de leite (kg) Milk yield (kg) Idade ao parto (meses) Age of calving (months) Figura 1 - Efeito da idade ao parto sobre a produção de leite em 305 dias. Figure 1 - Effect of age of calving on 305 days milk production. meses. Alguns autores também verificaram efeitos de ano e idade da vaca ao parto, excluindo essas fontes de variação da variância total, ao estimarem herdabilidades e tendências genéticas para produção de leite nas raças Holandesa e Jersey (VERDE et al.,1973; MEYER, 1984; MOYA et al., 1985) e na raça Pitangueiras (LOBO et al.,1982). As variâncias genética aditiva, de ambiente e fenotípica estimadas foram, respectivamente, σ 2 a = , σ2 e = e σ2 P = e o valor estimado da herdabilidade da produção de leite em 305 dias, 0,27±0,05. MOYA et al. (1985) estimaram herdabilidades próximas a 0,30 para dados de vacas das raças Holandesa e Jersey, na Flórida. Em outros estados americanos, DONG et al. (1988), VAN VLECK et al. (1988) e ALBUQUERQUE et al. (1996) observaram valores maiores que 0,27 para herdabilidade da produção de leite na primeira lactação. Os valores estimados por DONG e VAN VLECK (1989) foram 0,27 e 0,25, respectivamente, para a produção na primeira e segunda lactações. MEYER et al. (1984) encontraram valores 0,28, 0,19 e 0,24 para primeira, segunda e terceira lactações, respectivamente. As herdabilidades da produção de leite para a raça Holandesa no Brasil foram estimadas entre 0,22 e 0,35, como foi observado nos trabalhos de MACHADO et al. (1999), RORATO et al. (1999) e TORRES et al. (1999). Investigando sobre a heterogeneidade de variâncias para produção de leite e gordura entre rebanhos da raça Holandesa, COSTA et al. (1999) observaram herdabilidade para produção de leite e gordura de 0,23 e 0,20, respectivamente, em um conjunto de dados com alto desvio-padrão de rebanho-ano-estação. Contudo, para o conjunto de baixo

4 desvio-padrão, as herdabilidades foram maiores, ou seja, 0,30 para leite e 0,22 para gordura. Na Figura 2 encontram-se as médias das PTAs das vacas para produção de leite em 305 dias por ano de nascimento. Observa-se declínio das médias, no período de 1989 a 1990, coincidindo com a produção das vacas-filhas das novilhas de fundação, compradas gestantes. Observa-se também que, após 1990, a média de PTA anual das vacas aumentou, provavelmente, devido a uma escolha criteriosa do sêmen dos touros (PTA > 500 kg) utilizados no sistema. O valor da tendência genética durante todo o período foi de 0,46±11 kg por ano, ou seja, 0,01% da média de produção no rebanho e, nos últimos cinco anos (1990 a 1994), de 32,2 ± 16 kg por ano (0,48%); valores inferiores aos obtidos por TEIXEIRA et al. (1994), em rebanhos do Estado do Paraná. Entretanto, as estimativas obtidas neste trabalho foram semelhantes àquelas relatadas por VERDE et al.(1973), KENNEDY e MOXLEY (1975), SCHAEFFER et al.(1975), OLSON e JENSEN (1976) e MOYA et al.(1985), no Canadá e nos Estados Unidos, nas décadas de 70 e 80. Todavia, nos estudos mais recentes nos Estados Unidos, os ganhos genéticos estimados foram superiores a 100 kg por ano (MEINERT et al., 1992; BURNSIDE et al.,1992; e NIZAMANI e BERGER, 1996). As tendências genéticas para a produção de leite foram diferentes em diferentes regiões ou épocas, devido aos critérios de seleção adotados em cada PTA dos touros e vacas (kg) PTA of sires and dams (kg) Touros vacas Ano de nascimento Year of birth Figura 2 - Médias das PTA das vacas primíparas e touros para produção de leite em 305 dias de lactação por ano de nascimento. Figure 2 - Means of PTA for 305 days in milk yield for heifers and sires by birth year. FREITAS et al local e rebanho. Outros interesses podem determinar a escolha do reprodutor a ser utilizado no rebanho, às vezes em detrimento da produção de leite, como características de conformação, visando um animal para exposições, ou para produzir animais com melhor conformação de úbere para suportar alta produção de leite. O ganho genético também pode variar dependendo da variação genética existente na população. Conclusões A estimativa de herdabilidade para a produção de leite obtida para o rebanho estudado foi alta, entretanto, a tendência genética para a produção de leite durante todo o período do estudo foi baixa, indicando lento progresso no melhoramento genético dos animais do sistema. Contudo, nos últimos anos, essa tendência aumentou. Referências Bibliográficas ALBUQUERQUE, L.G., KEOWN, J.F., VAN VLECK, L.D Genetic parameters of milk, fat, and protein yields in the first three lactations, using an animal model and restricted maximum likelihood. Braz. J. Genetic, 19(1): BATRA, T.R Genetic trends for milk and fat production in dairy cattle. Can. J. Anim. Sci., 59(3): BOLDMAN, K.G., KRIESE, L.A., VAN VLECK, L.D., KACHMAN, S.D A manual for use of MTDFREML: A set of programs to obtain estimates of variances and covariances. Lincoln: Department of Agriculture/ Agricultural Research Service. 120p. BURNSIDE, E.B., JANSEN, G.B., CIVATI, G. et al Observed aud theorical genetic trends in a large dairy population under intensive selection. J. Dairy Sci., 75(8): COSTA,C.N An investigation into heterogeneity of variance for milk and fat yields of Holstein cows in Brasilian herd environments. Genetic and Molecular Biology, 22(3): DONG, M.C., VAN VLECK, L.D., WIGGANS, G.R Effect of relationships on estimation of variance components with an animal model and restricted maximum likelihood. J. Dairy Sci., 71(11): DONG, M.C., VAN VLECK, L.D Correlation among first and second lactation milk yield and calving interval. J. Dairy Sci., 72(7): DURÃES, M.C., FREITAS, A.F., VALENTE, J. et al. Produção de leite e duração da lactação de vacas da raça Holandesa em sistema de confinamento tipo "free stall". In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 27, 1990, Campinas. Anais...Campinas: SBZ, p.403. DURÃES, M.C., TEIXEIRA, N.M., FREITAS, A.F Curvas de lactação de vacas da raça Holandesa mantidas em confinamento total. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., 43(5): FREEMAN, A.E., LINDBERG, G.L Challenges to dairy cattle management: Genetic considerations. J. Dairy Sci., 76(10): FREITAS, A.F., TEIXEIRA, N.M., VALENTE, J. et al. Idade

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