Tânia Aiello-Vaisberg Fabiana Follador e Ambrosio. organizadoras. Cadernos Ser e Fazer. Reflexões Éticas na Clínica Contemporânea

Transcrição

1 Tânia Aiello-Vaisberg Fabiana Follador e Ambrosio organizadoras Cadernos Ser e Fazer Reflexões Éticas na Clínica Contemporânea Instituto de Psicologia Universidade de São Paulo 2005

2 Ficha Catalográfica preparada pelo Serviço de Biblioteca e Documentação do Instituto de Psicologia da USP Aiello-Vaisberg, T. org. Cadernos Ser e Fazer: reflexões éticas na clínica contemporânea. / Organizado por Tânia Aiello-Vaisberg e Fabiana Follador e Ambrosio. São Paulo: Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, p. ISBN: Psicanálise 2. Ética 3. Estilo clínico ser e fazer 4. Winnicott, Donald Woods, I. Aiello-Vaisberg, Tânia e Ambrosio, Fabiana Follador II. Título.

3 sumário APRESENTAÇÃO Fabiana Follador e Ambrosio 05 OS MONSTROS, O MÉTODO E O ESTABELECIMENTO DA CAPACIDADE ÉTICA 09 CONSULTAS TERAPÊUTICAS COLETIVAS E ABORDAGEM PSICANALÍTICA DO IMAGINÁRIO SOCIAL 27 CLÍNICA E RESPONSABILIDADE: REFLEXÕES ÉTICAS SOBRE UM ENQUADRE PSICOTERAPÊUTICO PARA PACIENTES COM ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA Lígia Masagão Vitali 45 ENCONTROS BRINCANTES: O USO DE PROCEDIMENTOS APRESENTATIVO-EXPRESSIVOS NA PESQUISA E NA CLÍNICA WINNICOTTIANA Yára Bastos Corrêa Fabiana Follador e Ambrosio 55 QUANDO UM CLÍNICO VAI BRINCAR EM UM ESCRITÓRIO: UM ATENDIMENTO ÉTICO EM AMBIENTE CORPORATIVO Christiane Camps Clarissa Medeiros 68 UM DEVIR INTERROMPIDO: REFLEXÃO ÉTICA SOBRE O ATENDIMENTO PSICOLÓGICO DE PACIENTES ORGÂNICOS GRAVES Lígia Masagão Vitali Vera Lúcia Mencarelli 79 FIOS DA VIDA E DA MORTE: TECENDO REFLEXÕES ENTRE O HOLDING E A ÉTICA Clarissa Medeiros 91

4 A COMPAIXÃO NA CONTRATRANSFERÊNCIA: NARRATIVA DE UM ENCONTRO CLÍNICO COM UM ADOLESCENTE SOROPOSITIVO Vera Lúcia Mencarelli 105 CONCEPÇÕES PSICANALÍTICAS SOBRE ADOÇÃO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ÉTICAS Marcela Casacio Ferreira 118 ÉTICA MATERNA Tania Mara Marques Granato 128 IRRESPONSABILIDADE OU IMATURIDADE EMOCIONAL? UM CASAL, ESTUDO DE CASO Maria Izilda Soares Martão Leila S. Cury Tardivo 137 A PSICANÁLISE: UM PROJETO DE AUTONOMIA? Thamy Ayouch 153 A ÉTICA DO ENCONTRO E A ESTÉTICA DA SINGULARIDADE NA OFICINA VIAGEM DE LETRAS Andréa de Arruda-Botelho 176 O ACONTECIMENTO CLÍNICO E A PRESENÇA REAL DA ANALISTA Vera Lúcia C. Marinho de Carvalho 194 CLÍNICA WINNICOTTIANA NO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL CAPS Luci Mara Marin Frasson 205 ÉTICA E CULTURA DO ANALISTA: RELAÇÕES COM A CLÍNICA Miriam Tawil 217 NORMATIZAÇÃO 224 Cadernos Ser e Fazer

5 apresentação É preciso resistir para não iniciar este texto com a expressão é com grande prazer.... Isto porque a organização e finalização do volume é de fato muito gratificante! Representa, como bem podem supor nossos leitores, o fechamento de um período ativo de discussões, reflexões, escrita e leitura que, por seu turno, se superpõe a toda uma atividade que os pesquisadores da Ser e Fazer: Oficinas Psicoterapêuticas de Criação vêm desenvolvendo de modo verdadeiramente entusiasmado. A idéia de organizar um Caderno sobre Ética surgiu a partir dos trabalhos que acompanharam a disciplina A Teoria do Sofrimento Humano de D. W. Winnicott e a Filosofia de E. Lévinas: Fundamentos Éticos para o Uso de Enquadres Clínicos Diferenciados, cuja proposta se inscreveu na visão de que o método psicanalítico repousa sobre fundamentos de natureza ética. Consideramos, então, que seria muito oportuno iniciar estudos sobre a obra daquele que é visto hoje o grande filósofo no campo da ética, Emmanuel Lévinas. Entretanto, como nos temos deixado guiar por uma postura intelectual que repudia adesões escolásticas, mas cobra coerência radical justamente em termos que podemos designar como éticometodológicos, percebemos que se faz fundamental um exame acurado acerca da antropologia implícita no pensamento do filósofo. Temos praticado uma articulação teórica que aproxima Bleger e Winnicott, na medida em que ambos operam a partir de uma teoria do sujeito como criador, ainda que atravessado por determinações históricas e sociais. Entretanto, não conseguimos, até o momento, livrar-nos da impressão de que Lévinas pode, em sua radical defesa da importância da alteridade como determinante do processo de subjetivação, cair numa posição que coloca o sujeito numa posição passiva, evidentemente distante do homem capaz de criar/encontrar sentido. Explica-se, deste modo, porque o importante filósofo comparece menos assiduamente nestas páginas, ainda que continuemos instigadas a prosseguir no estudo de sua obra.

6 Como já se tornou um hábito entre nós, este volume traz muitos artigos produzidos pelos pesquisadores da Ser e Fazer que institucionalmente compõem o Diretório de Pesquisa Psicopatologia, Psicanálise e Sociedade, que e Maria Christina Lousada Machado lideram no CNPq, e alguns outros trabalhos de colegas que têm desenvolvido suas pesquisas vinculados a outros projetos de investigação psicanalítica. Vale a pena lembrar que esta organização é coerente com o fato destes Cadernos Ser e Fazer serem uma coletânea primordialmente voltada à publicação ágil de trabalhos deste grupo e não uma Revista Indexada que segue exigências de qualidade que fazem sentido apenas no que tange à edição de periódicos. É por este motivo que os mesmos pesquisadores do nosso grupo, que aqui assinam trabalhos, não deixam de publicar em revistas da área, submetendo seus trabalhos aos conselhos editorias, além de seguirem publicando livros e capítulos de livros. O presente volume é aberto com um artigo assinado por Tânia Aiello-Vaisberg, que retoma a ética implícita nos fundamentos do método psicanalítico, buscando demonstrar que uma prática ética não dissociada requer o estabelecimento prévio de uma capacidade pessoal de ser ético, capacidade essa que tem caráter fundamentalmente emocional e que depende do ambiente onde está inserido o indivíduo. Seguimos com a mesma autora, agora comentando acerca das Consultas Terapêuticas que visam a intervenção psicanalítica em coletivos. Encontramos, também, neste volume, a reedição do texto apresentado no IX Encontro Latino Americano sobre o Pensamento de Winnicott, datado de 2000, onde inauguramos o uso do termo procedimentos apresentativo-expressivos fora do contexto da Universidade, apresentando as idéias da Ser e Fazer. Estes artigos são seguidos por um trabalho que foi originalmente apresentado em mesa-redonda da Université d Eté de Paris 7, realizada em setembro de Consiste numa reflexão ética elaborada a partir da clínica dramática que Lígia Masagão Vitali realiza, na Escola Paulista de Medicina, com pacientes portadores de esclerose lateral amiotrófica e seus familiares. O leitor interessado no uso de enquadres diferenciados em equipamentos de saúde gostará,

7 ainda, dos artigos assinados por Vera Mencarelli e Lígia Masagão Vitali, em co-autoria com Tânia Aiello- Vaisberg. Como doutorandos atuais comparecem, além de Vera Lúcia Mencarelli, tanto Christiane Camps como Clarissa Medeiros, apresentando trabalhos instigantes, que focalizam questões relativas ao trabalho e à importância do holding para o estilo clínico ser e fazer. Além dessas, a doutoranda do Programa de Pós Graduação da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Marcela Casacio Ferreira, que é bolsista do CNPq, apresenta um artigo sobre ética e adoção em co-autoria com sua orientadora. Duas doutoras que são, hoje, pesquisadoras associadas, trazem artigos solo: Tania Maria Marques Granato, que vem trabalhando assiduamente a clínica winnicottiana da maternidade, e Andréa de Arruda-Botelho, que escreve sobre A Ética do Encontro e a Estética da Singularidade na Oficina Viagem de Letras. O Caderno é ainda abrilhantado pela presença de colegas com os quais mantemos vínculos de troca e intercâmbio estimulantes. São eles: a Professora Livre Docente Leila Cury Tardivo, que trabalha com sua orientanda Maria Izilda Soares Martão, a psicanalista Miriam Tawil, que nos honrou com sua presença às aulas da disciplina de pós-graduação do semestre passado, Vera Marinho, que participou de uma de nossas Reuniões Teórico-Clínicas para comentar o trabalho de Clarissa Medeiros e Mara Frasson, que, desde sua inserção em equipamento de saúde da cidade de Jundiaí, tem acompanhado com interesse nossa trajetória. Finalmente, há que mencionar Thamy Ayouch que nos envia, de Paris, um artigo alentado sobre as relações entre a fenomenologia e a psicanálise, elaborado como trabalho do doutorado em filosofia que ora realiza em Paris 7. Este colega esforçou-se para escrever em português, mas seu texto, de grande qualidade em termos de conteúdo, exigirá de leitores brasileiros um certo esforço, que, entretanto, será plenamente compensado. Ainda vale a pena assinalar que, devido à atualização das normas dos Cadernos Ser e Fazer, inserimos a nova versão neste volume. Desejamos, a todos, uma boa leitura! e Fabiana Follador e Ambrosio