EFICIÊNCIA REPRODUTIVA DE VACAS COM LEPTOSPIROSE APÓS TRATAMENTO COM SULFATO DE ESTREPTOMICINA

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1 EFICIÊNCIA REPRODUTIVA DE VACAS COM LEPTOSPIROSE APÓS TRATAMENTO COM SULFATO DE ESTREPTOMICINA REPRODUCTIVE EFFECTIVENESS OF COWS BEARERS OF LEPTOSPIROSIS AFTER TREATMENT WITH STREPTOMYCIN SULFATE Neimar Cristiano Cavazini 1, Guilherme Bastos Saldanha¹, Aleksandro Schafer da Silva¹, Mariana Bertini Fernandes¹, Manoel Renato Teles Badke 2, Cristian Gilberto Piveta² RESUMO O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência reprodutiva de vacas com leptospirose após tratamento com sulfato de estreptomicina em propriedades do estado de Santa Catarina. Foram analisadas 344 amostras de soro de animais que apresentaram sintomatologia clínica de repetição de cio e histórico de aborto. Os animais reagentes para leptospirose, foram submetidos ao tratamento com sulfato de estreptomicina. Observou-se que 186 (54,07%) dos animais avaliados apresentaram-se reagentes para um ou mais sorovares de Leptospira em titulações que oscilaram entre 1/100 e 1/800. Com o tratamento das vacas 163/186 (87,6%) retornaram a vida reprodutiva normal. Conclui-se com este estudo que o tratamento com sulfato de estreptomicina aumenta a eficiência reprodutiva dos rebanhos com leptospirose e diminui consideravelmente os prejuízos econômicos causado por esta enfermidade. Palavras Chave: Leptospira, vacas, infertilidade, estreptomicina. ABSTRACT The objective of the present paper has been evaluating the reproductive effectiveness of cows bearers of leptospirosis after being treated with streptomycin sulfate in properties of the state of Santa Catarina. 344 serum samples of animals presenting clinic symptomatology of rut repetition and abortion report have been analyzed. The reagent animals to the leptospirosis have been treated with streptomycin sulfate. We have observed that Acadêmico, Medicina Veterinária, UFSM. ramienvet@yahoo.com.br. 2 Méd. Vet. Dpto Microbiologia e Parasitologia, CCS, UFSM, Santa Maria.

2 153 Eficiência reprodutiva... (54,07%) of the evaluated animals were shown to be reagent to one or more serovares of Leptospira in titulations oscillating between 1/100 and 1/800. After the cows treatment, 183/186 (87,6%) animals returned to their normal reproductive life. Through this study it has been possible to conclude that the treatment with streptomycin sulfate increases the reproductive effectiveness of the flocks with leptospirosis besides reducing in a significant way the economical damages produced by this illness. Key words: Leptospira, Cows, Infertility, Streptomycin INTRODUÇÃO A leptospirose é uma zoonose bacteriana prevalente em todo o mundo. É causada por espiroquetas da espécie Leptospira interrogans, que apresentam mais de 212 sorovares, agrupados em 23 sorogrupos (ELLIS, 1994). Este agente pode afetar animais domésticos, selvagens e humanos, representando, portanto, um importante problema de saúde pública (BARWICK et al., 1997). A eficiência reprodutiva é o principal fator limitante na produção de bovinos, sendo que as doenças reprodutivas causam baixos índices de produtividade, prejuízos e queda na qualidade de vida dos animais. A leptospirose bovina é uma das principais enfermidades responsável pelo baixo desempenho reprodutivo em rebanhos afetados. (FAINE, 1999). Em bovinos, o sorovar hardjo é o mais freqüente e o mais importante devido estar associada às falhas reprodutivas e ao aborto (ELLIS, 1994). A transmissão da leptospirose depende de condições favoráveis para a sobrevivência do organismo no meio ambiente, do número de animais portadores em uma população e do tempo de duração que os animais portadores abrigam as leptospiras (HUNTER & HERR, 1994). A umidade, temperatura e o ph são pontos críticos para a sobrevivência do agente no meio ambiente (RIET CORREA & LEMOS, 2001). O diagnóstico clínico não é conclusivo, sendo necessário considerar os achados sorológicos das aglutininas antileptospiras revelados em testes de laboratório para assim confirmar o diagnóstico (DEL FAVA, 2003; FAINE, 1999). O controle da leptospirose nos animais domésticos depende de um correto diagnóstico, tratamento apropriado e da implantação de medidas de manejo adequadas (HUHN et al., 1993), sendo que em bovinos a vacinação associada ao manejo desempenha um importante papel no controle da leptospirose na propriedade

3 Cavazini, N.C. et al. 154 (GERRITSEN et al., 1994). No entanto, quando se tenta fazer o controle de animais positivos para leptospirose apenas com vacinação corre-se o risco de haver o aumento do número de animais atingidos, uma vez que a vacinação não elimina o estádio de portador, por isso recomenda-se o uso de antibiótico em animais positivos (GIRIO et al., 2005). Segundo GERRITSEN et al. (1994) o tratamento é importante, pois elimina o portador renal, diminuindo a fonte de infecção e conseqüentemente a exposição de animais não infectados com o agente. A estreptomicina foi um dos primeiros antibióticos a ser utilizado para a terapia da leptospirose e é considerada, até hoje, uma das melhores opções de tratamento (GIRIO et al., 2005). Vários trabalhos na literatura empregaram experimentalmente o uso de estreptomicina na terapia contra leptospirose e os resultados obtidos através destes estudos confirmaram a atuação do antibiótico no controle da leptospiremia e leptospirúria em uma única aplicação na concentração de 25 mg/kg. Entretanto, os trabalhos que utilizam a estreptomicina no controle de leptospirose, pouco relatam sobre a eficiência reprodutiva dos bovinos após o tratamento com essa droga. Diante disto, o objetivo desse trabalho foi avaliar a eficiência reprodutiva de vacas com leptospirose após tratamento com sulfato de estreptomicina em propriedades do estado de Santa Catarina. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado em 15 propriedades de bovinos leiteiros localizadas na região oeste de Santa Catarina, onde o número de vacas por propriedade oscilou entre 7 e 19. Os animais apresentaram problemas reprodutivos e não haviam sido vacinados para leptospirose. Foram analisadas 344 amostras de soro de bovinos que apresentaram sintomatologia clínica de repetição de cio e histórico de aborto. As amostras foram analisadas no Setor de Leptospirose da Universidade Federal de Santa Maria, através da técnica de soroaglutinação microscópica (SAM) descrita por GALTON et al. (1965) e COLE et al. (1973). O soro dos animais foi centrifugado e submetido posteriormente à diluição de 1/100 com Solução de Sorensen, sendo os títulos a partir de 1/100 considerados positivos para Leptospita sp.. Foram testados 11 variantes sorológicos de leptospiras (australis, bratislava, butembo, castellonis, canicola, grippotyphosa, icterohaemorrhagiae, pomona, hardjo, wolffi, tarassovi).

4 155 Eficiência reprodutiva... As fêmeas reagentes para leptospirose, foram submetidas ao tratamento com sulfato de estreptomicina em dose única de 25 mg/kg, intramuscular, como recomendado por HUHN et al. (1993). No primeiro cio após o tratamento, as vacas foram inseminadas para avaliação dos índices reprodutivos. O diagnostico de prenhes foi realizado em média 75 dias depois de inseminadas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Observou-se que 186 (54,07%) animais avaliados apresentaram-se reagentes para um ou mais sorovares de Leptospira em titulações que oscilaram entre 1/100 e 1/800. Prevalência semelhante ao deste estudo foi relatado por AGUIAR et al. (2006) em municípios de Rondônia, FUJII et al. (2001) em São Paulo e VASCONCELLOS et al. (1997) em seis estados brasileiros (MG, RJ, SP, MS, PR e RS) reportaram uma positividade dos animais avaliados de 53,9%, 50,5% e 60,4%, respectivamente. Já HOMEM et al. (2001) verificaram uma prevalência de Leptospira na Amazônia Oriental de 97% em bovinos, dado este superior ao deste trabalho, possivelmente devido às diferenças entre os estados serem explicadas pelo fato de as leptospiras poder sobreviver durante vários dias no ambiente com temperatura elevada, umidade, ph neutro o ligeiramente alcalino (TIMONEY et al., 1988; PRESCOTT, 1993), fatores estes que apresentam diferença significativa nas regiões brasileiras. Neste trabalho observou-se a presença dos seguintes sorovares, L. hardjo (68,3%), L. butembo (42,5%), L. grippotyphosa (31,1%), L. icterohaemorragiae (22,4%), L. wolffi (20,6%), L. canícola (12,4%), L. castelloni (10,2%), L. pomona (9,4%), L. bratislava (9,4%), L. australis (4,1%) e L. tarassovi (2,6%) (Figura 1). AGUIAR et al. (2006) avaliaram a prevalência de anticorpos anti- Leptospira sp. em 2109 vacas provenientes de 86 rebanhos do município de Monte Negro (RO), onde verificou-se que os sorovares mais prevalentes foram hardjo (14,5%), wolffi (12,3%), shermani (10,8%), patoc (7,9%) e hebdomadis (6.1%), além dos sorovares bratislava, pomona e grippotyphosa que foram pouco detectados. Já SALDANHA et al. (2004) observaram uma freqüência de leptospirose de 54,61% em bovinos na região sul, sendo em Santa Catarina identificado os seguintes sorovares: L. hardjo (90,65%), L. wolffi (41,59%), L. grippotyphosa (38,32%), L. Canícola (25,7%), L. pomona (25,53%), L. icterohaemorragiae (7,94%), L. Bratislava (9,35%) e L. australis (0,47%). Neste estudo, como nos trabalhos citados anteriormente, observou-se que o sorovar

5 Cavazini, N.C. et al. 156 hardjo é mais prevalente, como também o maior responsável pela infertilidade bovina conforme ELLIS (1994). L. hardjo 80 L. butembo 70 L. grippotyphosa 60 L. icterohaemorragiae 50 L. wolffi 40 L. canícola 30 L. castelloni 20 L. pomona L. bratislava 10 L. australis 0 L. tarassovi Figura 1: Porcentagem de sorovares de leptospirose identificados nos rebanhos leiteiros em Santa Catarina. Conforme ELLIS et al. (1981) nas propriedades produtoras de leite, como as deste estudo, a alta incidência de fêmeas infectadas, deve-se em parte, ao tipo de manejo que propicia a disseminação da doença pela grande proximidade dos animais, sendo que nestes rebanhos podem existir indivíduos portadores que abrigam as leptospiras nos seus túbulos renais e as eliminam na urina por longos períodos de tempo. Assim contaminando o meio ambiente e contribuindo para a manutenção da infecção nos rebanhos acometidos (GUIMARÃES et al., 1982/83). DHALIWAL et al. (1996) avaliando nove rebanhos leiteiros concluíram que L. hardjo afeta na reprodução causando abortos e baixa fertilidade, mas que os efeitos são temporários. Neste estudo observaram-se estes problemas reprodutivos nos rebanhos analisados, mas após tratamento dos animais, verificou-se 163/186 (87,6%) retornaram a vida reprodutiva normal, sendo que dos animais que apresentaram sintomatologia clínica de repetição de cio, 131/151 (86,75%) obtiveram prenhez confirmada após serem inseminadas, como também foi verificada nas vacas com histórico clínico de aborto, sendo que 32/35 (91,42%) dos animais também tiveram prenhez positiva. GERRITSEN et al. (1994) relataram que o controle da leptospirose em bovinos, por meio de um recurso terapêutico (estreptomicina) aplicado aos doentes e portadores é de grande valor no controle desta enfermidade, como foi observado neste trabalho, pois a maioria das vacas retornou à vida reprodutiva normal. O tratamento indicado por HODES & DAY (1987) e HUHN et al. (1993) revelou-se eficiente no controle da doença neste estudo, não sendo necessário a associação da penicilina G com a estreptomicina como recomendado por ALT et al. (2001). Com base nestes resultados constata-se que embora o sulfato de estreptomicina seja uma excelente opção para o tratamento da leptospirose e consequentemente aumento da eficiência reprodutiva, ainda é necessário verificar a procedência, idoneidade e pureza dos diversos produtos comerciais utilizados (GIRIO et al., 2005). Uma forma de diminuir prejuízos das propriedades

6 157 Eficiência reprodutiva... endêmicas seria a vacinação após tratamento. CONCLUSÃO O uso de sulfato de estreptomicina na dosagem única de 25 mg/kg foi suficiente para controle da doença. O tratamento aumentou a eficiência reprodutiva do rebanho e diminui consideravelmente os prejuízos econômicos causado pela leptospirose. REFERÊNCIAS AGUIAR, D.M.; GENNARI, S.M.; CAVALCANTE, G.T.; LABRUNA, M.B.; VASCONSELLOS, S.A.; RODRIGUES, A.A.R.; MORAES, Z.M.; CAMARGO, L.M.A. Seroprevalence of Leptospira spp in cattle from Monte Negromunicipality, western Amazon. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.26, n.2, p , ALT, D.P.; ZUERNER, R.L.; BOLI, C.A. Evaluation of antibiotics for treatment of cattle infected with Leptospira borgpetersenii serovar hardjo. Journal of the American Veterinary Medical Association. v.219, n.5, p , BARWICK R.S.; MOHAMMED, H.O.; MCDONOUGH, P.L.; WHITE, M.E. Risk factors associated with the likelihood of leptospiral seropositivity in horses in the state of New York. American Journal of Veterinary Research, v.58, p , COLE, J.R.; SULZER, C.R., PULSSELY, P.R. Improved microtechinique for the leptospiral microscopic aglutination. Applied Microbiology, v.25, n.6, p , DHALIWAL, G.S.; MURRAY, R.D.; ELLIS, W.A. Reproductive performance of dairy herds infected with Leptospira interrogans serovar hardjo relative to the year of diagnosis. The Veterinary Record, v.138, n.12, , DEL FAVA, C. Manejo sanitário para o controle de doenças da reprodução em um sistema leiteiro de produção semi-intensivo. Arquivos do Instituto Biológico, v.70, n.1, p.25-33, ELLIS, W.A. Leptospirosis as a cause of reproductive failure. The Veterinary clinics of North America. Food animal practice v.10, p , ELLIS, W.A.; O'BRIEN, J.J.; CASSELLS, J. Role of cattle in the maintenance of Leptospira interrogans serotype hardjo infection in Northern Ireland. Veterinary Record, v.108, p , 1981.

7 Cavazini, N.C. et al. 158 FAINE, S. Leptospira and leptospirosis. Melbourne: MedSci, p. FUJIIL, T.U.; KASAI, N.; VASCONCELLOS, S.A.; RICHTZENHAIN, L.J.; CORTEZ, A.; SOUZA, S.L.P.; BARUSELLI, P.S.; NISHI, S.M.; FERREIRA, F.; GENNARI, S.M. Anticorpos anti Neospora canimum e contra outros agentes de abortamentos em búfalas da região do Vale do Ribeira, São Paulo, Brasil. Arquivos do Instituto de Biologia, v.68, n.2, p.5-9, TOMA, S.B. Uso de estreptomicina na eliminação da leptospirúria em touros (Bos Taurus Indicus) naturalmente infectados pelo sorovar hardjo. Arquivo do Instituto de Biologia, v.72, n.2, p , GUIMARÃES, M.A.; CÔRTES, J.A.; VASCONCELLOS, S.A.; ITO, F.H.. Epidemiologia e controle da leptospirose em bovinos. Papel do portador e seu controle terapêutico. Comunicação Cientifica da Faculdade Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, v.6/7, n.1/4, p.21-34, 1982/83. GALTON, M.M.; SULZER, C.R. SANTA ROSA, C.A.; FIELDS, M.J. Application of a microtechnique to the agglutination test for leptospiral antibodies. Applied Microbiology, v.13, n.1, p.81-5, GERRITSEN, M.J. KOOPMANS, M.J.; PETERSE, D.; OLYHOEK, T. Effective treatment with dihydroestreptomycin of naturally infected cows shedding Leptospira interrogans serovar hardjo subtype hardjobovis, American Journal of Veterinary Research, v.55, n.3, p , GIRIO, T.M.S.; MAGAJEVSKI, F.S.; GIRIO, R.J.S.; MIASHYRO, S.; RODRIGUES, L.H.; SCARCELLI, E.P.; HODES, R.T.; DAY, A.M. Bovine leptospirosis: the effects on vaccination serological responses as determined by complement fixation on microscopic agglutination tests. New Zealend Veterinary Journal, v.35, p.61-64, HOMEM, V.S.F.; HEINEMANN, M.B.; MORAES, Z.M.; VASCONCELLOS, S.A.; FERREIRA. F.; FERREIRA NETO, J.S. Estudo epidemiológico da leptospirose bovina e humana na Amazônia oriental brasileira. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. v.34, n.2, p , HUHN, R.G. et al. Immunity to Leptospirosis: Leptospira interrogans

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