Tiradentes não morreu Daniela Barcellos

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1 JORNAL DA ALERJ ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO RIO DE JANEIRO ANO I N 3 14 a 20 DE ABRIL DE 2003 Tiradentes não morreu O patrono cívico do Brasil deixou como herança não apenas os ideais de justiça, liberdade e democracia. Mais de 200 anos após a morte de Tiradentes, seu legado histórico permanece atual num país que sofre de profundas desigualdades sociais e econômicas. Não por acaso, o mártir da Inconfidência Mineira é o Comissão de Saúde age para evitar a pneumonia asiática único brasileiro cuja data de morte é celebrada em feriado nacional, no dia 21 de abril. No Palácio Tiradentes, sede do Legislativo estadual, o herói mineiro continua mais vivo do que nunca: a exposição permanente da Alerj, peças de teatro e até um sósia resgatam a memória do homem que foi para o Telemar é campeã das queixas em número 0800 sacrifício em nome de um país mais justo. Existem até mesmo aqueles que juram ter visto o fantasma de Tiradentes rondando as dependências do Palácio. Nesta edição, o Jornal da Alerj conta um pouco da história de Joaquim José da Silva Xavier e como seus ideais continuam presentes nos dias de hoje. PÁGINA 7 PÁGINA 7 PÁGINA 8 PÁGINAS 2, 3, 4, 5 e 6 Molon diz que Alerj é devedora do inconfidente

2 2 JORNAL DA ALERJ RIO DE JANEIRO, 14 A 20 DE ABRIL DE 2003 PALAVRA DO EDITOR Se todos quisessem, poderíamos fazer do Brasil uma grande Nação. Passados 211 anos da execução de Tiradentes, essa frase do mártir da Inconfidência permanece mais atual do que nunca. Os desafios seculares do País, como a luta pela cidadania plena e o combate às desigualdades sociais e econômicas, só serão superados com o esforço conjunto de todos os brasileiros. A força de vontade dos cidadãos em busca de mudanças é o ponto de partida. Por ousar defender ideais de liberdade e democracia, considerados revolucionários em sua época, Tiradentes pagou com a própria vida. Nesta edição, o Jornal da Alerj faz uma homenagem ao alferes que sonhava com um Brasil justo e moderno. Para manter viva a memória de Tiradentes, a Assembléia Legislativa traz uma série de eventos culturais que fazem jus à importância do líder revolucionário. Além da exposição permanente, o público pode conferir a peça Tiradentes, o Zé de Vila Rica, que será exibida no sábado 26 de abril, no saguão Getúlio Vargas. Ao resgatar os ensinamentos do herói mineiro, a Alerj espera contribuir para que seus ideais não tenham sido em vão. EXPEDIENTE Gabriel Oliven Diretor de Comunicação Social Publicação semanal do Departamento de Comunicação Social da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro dcs@alerj.rj.gov.br Presidente: JORGE PICCIANI 1º Vice-presidente: Heloneida Studart 2º Vice-presidente: José Távora 3º Vice-presidente: Pedro Fernandes 4º Vice-presidente: Fábio Silva 1ª Secretária: Graça Matos 2ª Secretário: Léo Vivas 3º Secretário: Marco Figueiredo 4º Secretário: Nelson do Posto Jornalista responsável: Gabriel Oliven (Mat /88) Coordenadora: Sônia Moreira Repórteres: Erika Junger e Fernanda Galvão Estagiários: Fernanda Pizzotti, Fernanda Porto, Florence Jacq, Gabriel Mendes, Leandro Marins, Leonardo Hazan, Melissa Ornelas, Ramien Brum Fotografia: Diagramação: Talitha Magalhães Projeto gráfico: Nel Figueiredo Coordenação Gráfica: Aranha Montagem: Silvana Abreu e Carlos Renes Impressão Digital: Gráfica Alerj Tiragem: exemplares Sósia de Tiradentes é segurança no Palácio PEDRO PAULO SE RECUSA A TIRAR A BARBA PORQUE DIZ QUE ELA FAZ PARTE DA SUA PERSONALIDADE RAMIEN BRUM Duas épocas diferentes, o mesmo lugar. Foi no Palácio Tiradentes que o inconfidente Joaquim José da Silva Xavier ficou encarcerado em 1789, depois que o movimento revolucionário foi sufocado. Mais de 200 anos depois, um sósia de Tiradentes pode ser visto nos corredores do prédio. Há 11 anos trabalhando como segurança da Presidência da Alerj, Pedro Paulo Gomes e Souza poderia passar pela reencarnação do líder mineiro, mas trata-se de mera coincidência. Aos 44 anos, magro, cabelos escuros, barba longa, o segurança é figura exótica entre os companheiros de Casa, que o conhecem por vários apelidos. Bin é um deles. Bin de Bin Laden, explica. Mas Tiradentes é o mais repetido pelos funcionários e amigos que cruzam seu caminho nos corredores da Alerj Um desses amigos é Itamar de Souza, que logo ao chegar à porta do gabinete, não se furta a chamá-lo pela alcunha do inconfidente. Há quem ache que Pedro Paulo deveria fazer a barba, mas, segundo ele, isso o descaracterizaria. Além da semelhança física, Pedro Paulo traça outro paralelo com o líder da Inconfidência Mineira: Aqui na Alerj, a gente participa um pouco da História, diz ele. Simpático aos ideais de Tiradentes, que acredita não ter sido bem entendido pela sociedade da época, ele exalta o mineiro como um dos maiores vultos da História do Brasil e como um exemplo a ser seguido pelos mais jovens. Para mim, era um libertador, tinha um objetivo. A mentalidade dele era mais avançada do que as pessoas que o cercavam, opina o sósia do herói. Patriótico, devotado à família e profundamente religioso, o segurança foi buscar na Bíblia os nomes de seus dois filhos: Pedro Caleb e Clarisse Caleb. E faz questão de explicar: nos tempos de Moisés, Caleb foi um dos enviados que entraram na Terra Prometida. Reservado em sua vida particular, Pedro Paulo gosta de ficar em casa nos momentos de folga, dedicando sua vida à família. Pedro Paulo também é chamado de Bin Laden, mas prefere a alcunha de Tiradentes

3 RIO DE JANEIRO, 14 A 20 DE ABRIL DE 2003 JORNAL DA ALERJ 3 No palco, a vida do inconfidente PEÇA DE AUTORIA DA DEPUTADA HELONEIDA STUDART, ENCENADA NA ALERJ, JÁ FOI VISTA POR CINCO MIL PESSOAS FERNANDA PORTO Não é só na história do local onde funcionou a Cadeia Velha, seu último cárcere - que vive a memória de Tiradentes na Assembléia Legislativa. Em cartaz há quase três anos, a peça Tiradentes, o Zé da Vila Rica, de autoria da deputada Heloneida Studart (PT), já foi vista por cerca de cinco mil pessoas e chama a atenção para a história do mártir de uma forma bem diferente: a abordagem passa longe da didática dos bancos escolares. Nela, a vida do herói inconfidente é narrada através da visão de duas mulheres: uma cigana que prevê sua morte e atua como um superego do herói - tentando alertá-lo do perigo que corria e sua mulher, Maria Eugênia, que o viu ser morto e sustentou até a velhice o peso de ter sido mulher de um homem considerado traidor. Apostando nessa ótica feminina, a peça acaba por estabelecer uma identificação maior com o público, já que reconta um famoso episódio da História Brasileira de uma forma próxima e carinhosa. O elenco da peça é um outro diferencial; ele é Na peça, a história de Tiradentes é contada de forma não convencional composto por adolescentes que moram em comunidades carentes do Rio. Eles foram escolhidos pela diretora Vilma Dulcetti para compor um grupo que participaria do Projeto Libertas Quae Sera Tamen há quatro anos, e estão Meninos do Morro da Babilônia em cena Eu queria ser jogador de futebol, afirma Rosenberg Rodrigues, 19 anos e morador do Morro da Babilônia, no Leme. Hoje ele é ator e interpreta, no teatro, um dos mais conhecidos heróis nacionais: Tiradentes. E ensaia toda semana, tem aulas de música, história e expressão corporal. Quando cheguei, nem sabia falar direito. Essa oportunidade foi muito boa para mim, diz Rosemberg. Robson Rocha, 17 anos, que interpreta Joaquim Silvério dos Reis, demonstra um realismo que surpreende. Na mesma época em que entrou no projeto, foi chamado para fazer um teste para o filme Cidade de Deus, e passou. No filme, ele interpretou Gelson, o menino que mata o personagem Zé Pequeno, mas não se deslumbrou: Acho que já estou melhorando um pouquinho, mas nós temos que correr atrás. Nada é certo garante, sério. Ricardo Tupper / Divulgação juntos até hoje. Eu já estava pensando em trabalhar com crianças carentes quando a Heloneida me procurou dizendo que queria fazer isso. Essa foi a minha oportunidade. Hoje, sou quase uma segunda mãe, explica Vilma, que completa, emocionada: Trabalhar com eles nessa peça especificamente é muito gratificante. Eu acho muito bonito quando a história de um oprimido pode ser contada por negros. O projeto, coordenado pela deputada há quatro anos, tem como objetivo mostrar as lutas libertárias que povo brasileiro travou. Algumas, por serem quase desconhecidas, como a Confederação do Equador; outras, por terem sido distorcidas historicamente, como a Revolta de Canudos e outras, como a Revolta da Chibata, que com o passar dos anos ganharam um caráter quase folclórico. O grupo já está ensaiando sua mais nova peça, dessa sobre a vida de Frei Caneca, também de autoria da deputada, premiada escritora e teatróloga.

4 4 JORNAL DA ALERJ RIO DE JANEIRO, 14 A Exposição conta a VISITANTES APRENDEM QUE PRÉDIO JÁ ABRIGOU UMA CADEIA NO SÉCULO 18 E A CÂMARA FEDERAL ATÉ 1960 MELISSA ORNELAS Em 1747, a Câmara dos Deputados e a Cadeia Velha do Rio foram inauguradas debaixo do mesmo teto. Foi desse edifício, sede do antigo Parlamento e da cadeia local, que Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, saiu para ser executado, no dia 21 de abril de O mundo, porém, dá voltas. O velho prédio foi demolido, e no dia 6 de maio de 1926, o novo edifício, erguido no mesmo lugar, recebeu o nome de Palácio Tiradentes, em homenagem ao herói da Inconfidência Mineira. Essas e outras curiosidades podem ser vistas na Exposição permanente Palácio Tiradentes, Lugar de Memória do Parlamento Brasileiro. Não faltam momentos históricos a serem mostrados nos painéis, textos e fotos o r g a n i z a d o s pelo Centro de Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O Palácio, que começou a ser construído em 1922, foi palco da Assembléia Constituinte de 1934 e ficou fechado entre 1937 e 1945, por conta do Estado Novo. Em 1946, o prédio novamente abrigou o Parlamento Federal e assim permaneceu até 1960, com a mudança da capital para Brasília. Até 1974, o prédio ficou vazio, mas foi cedido pela União em 1975, após a fusão do Estado do Rio com a Guanabara para abrigar a sede da Assembléia Legislativa Mas nem só de história é formada a exposição. Quatro computadores explicam o papel da Assembléia Legislativa, de seus deputados e as leis aprovadas. As visitas são guiadas por alunos do curso de História da Uerj, sob orientação do professor Fábio Guimenes e supervisão do professor Oswaldo Munteal Filho. Freqüentemente, os corredores da Às segundas-feiras, a grande maioria das casas de cultura está fechada. Nós, não. Fábio Guimenes, coordenador das visitas guiadas exposição são tomados por grupos de escolas e instituições públicas. Os idosos também têm organizado grupos para visitar a mostra, diz a coordenadora de Agendamento e Controle da exposição, Sônia Maria Matos. Os visitantes também se deliciam com o estilo arquitetônico da Casa. Para preservar seu patrimônio histórico, a Alerj recuperou todas as fachadas do prédio, das obras de arte do seu interior e do Plenário Barbosa Lima Sobrinho. Também foram recuperadas pinturas de Timóteo da Costa, Fiúza Guimarães, Eliseu Visconti e Aurélio Figueiredo. As visitas monitoradas são atendidos quatro grupos por dia podem ser agendadas para até 44 pessoas. Só em 2002, a exposição recebeu 607 grupos de alunos de escolas públicas e 21 de projetos sociais. Mas é s i g n i f i c a t i v o também o número de visitas espontâneas, que, no ano passado, chegou a Segundo Sônia, isso mostra que a exposição já está no agenda cultural do Rio. Para o professor Fábio Guimenes, o fato de a exposição estar sempre aberta é um atrativo: Às segundas-feiras, a maioria das casas de cultura está fechada, o que não ocorre conosco. Segundo ele, não só a população ganha em conhecer a história política do Rio, mas a própria Alerj, que mostra ser também um espaço de cultura. Recebemos muitas pessoas que pensam que aqui é um museu. Não sabem que funciona a Assembléia Legislativa do estado, aponta Fábio. As visitas guiadas podem ser agendadas pelo telefone , e a exposição funciona no segundo andar do Palácio, de segunda-feira a sábado das 10 às 17 horas e aos domingos e feriados, das 12 às 17 horas. Alunos de História da Uerj são os monitores da Fantasmas ass LUZES E SONS ESTRANHOS TAMBÉM SÃO PARTE DO FOLCLORE DA ALERJ LEANDRO MARINS Tiradentes não está vivo somente na história do Palácio que leva seu nome. Há quem diga que ele ainda vaga pelos corredores da Assembléia Legislativa. Ao lado de personagens menos ilustres, o fantasma do mártir da Inconfidência teria sido visto nas dependências do prédio. Não é ficção científica nem filme de terror; são histórias contadas por funcionários que trabalham há anos na Casa. Os inquilinos inusitados, segundo estas pessoas, são vistos ao cair da noite. A presença de Tiradentes é contada pelo segurança Luiz Carlos Martins, o Carlão, 47 anos e 18 de casa. Certa vez, durante a madrugada, ele disse ter visto um homem barbudo, idêntico ao Alferes, do lado de fora do portão na Rua Dom Manuel. Ele usava bermuda, mas não estava mal vestido nem cheirava

5 20 DE ABRIL DE 2003 JORNAL DA ALERJ 5 história do Palácio visita guiada pela exposição Palácio Tiradentes: em quatro anos, público de 36 mil pessoas ombram funcionários da Alerj Leandro Marins Carlão diz que o fantasma vestia bermudas mal. Eu me aproximei dele e perguntei: Alguma coisa, patrão?. Segundo Luiz Carlos, Tiradentes queria saber dos livros escritos sobre ele e perguntou se poderia entrar no prédio. Ele também disse ser o dono do Palácio e que já havia morado no prédio, lembra o segurança, que pediu que o homem voltasse durante a semana. Virei para trás e quando olhei novamente, ele havia sumido, disse. Carlão não é o único a contar histórias de fantasmas. Fábio Guimenez, responsável pelas visitas guiadas, relata a aparição de um homem de terno branco, testemunhada por uma universitária. Uma visitante perguntou à monitora quem era o senhor que estava perto de uma das janelas do segundo andar, onde funciona a exposição. Ela achava que seria um deputado. A monitora virou-se para olhar e não havia ninguém. Depois, encontramos uma foto onde aparece um homem de terno branco em uma janela da Cadeia Velha, disse. Luzes e sons estranhos também fazem parte do folclore do Palácio Tiradentes. Uma história contada pelo segurança Carlão e confirmada por seu colega Antônio Carlos da Silva, 44 anos, ilustram o fenômeno: Certa noite, estava no plantão e meu colega pediu que eu fizesse uma ronda. No terceiro andar, olhei para o plenário e vi uma luz que acendia e apagava do nada. Desci para o plenário e comecei a ouvir barulhos de correntes e vozes de debates, como se houvesse uma movimentação de deputados, disse. Quem foi Tiradentes? Tiradentes nasceu em 1746 na Fazenda do Pombal, entre São José e São João Del Rei, Minas Gerais. Filho de um pequeno fazendeiro, ele ficou órfão de mãe aos nove anos e perdeu o pai aos 11. Embora tivesse grande interesse pela leitura, não chegou a concluir o curso primário. Após a morte dos pais, foi morar com seu padrinho, Sebastião Ferreira Dantas, um cirurgião licenciado que lhe deu ensinamentos de Medicina e Odontologia. Ainda jovem, tornou-se conhecido pela habilidade com que arrancava dentes estragados e os substituía por novos. Daí o apelido Tira-dentes. Em 1780, tornouse soldado e, um ano depois, foi promovido a Alferes, uma espécie de suboficial da cavalaria. Na mesma época, envolveu-se na Inconfidência Mineira contra a Coroa portuguesa, que explorava o ouro encontrado em Minas Gerais. Inspirados nos ideais da Revolução Francesa, os inconfidentes defendiam uma nação republicana, com leis modernas. Mas a traição não tardaria. Em 15 de março de 1789, Silvério dos Reis foi ao palácio do governador e denunciou os companheiros. Tiradentes foi preso no Rio de Janeiro, na Cadeia Velha, e seu julgamento prolongou-se por dois anos. Durante todo o processo, ele admitiu voluntariamente ser o líder do movimento. Em 21 de abril de 1792, Tiradentes foi enforcado no Largo do Lampadário. Seu corpo foi esquartejado e os pedaços espalhados pela estrada até Vila Rica (MG), cidade onde o movimento se desenvolveu. Os demais inconfidentes foram condenados ao exílio ou absolvidos.

6 6 JORNAL DA ALERJ RIO DE JANEIRO, 14 A 20 DE ABRIL DE 2003 EM DEBATE: CAUSA DE TIRADENTES CONTINUA ATUAL? APARECIDA PANISSET DEPUTADA ESTADUAL PPB E PROFESSORA DE HISTÓRIA Heróis sob encomenda Mo s t r o u - s e dificuldade ao criar um mito de origem da República no Brasil. Os heróis são símbolos cheios de poder, ideologias e pontos de identificação coletiva. Atingem a alma dos cidadãos e estão a serviço da legitimação dos regimes políticos. Quando o povo não participa da implantação de um novo regime, há de compensar isto com a mobilização simbólica. Mas por que Tiradentes foi escolhido como herói? Tiradentes não cursou a Universidade de Coimbra, como os outros inconfidentes. Era de baixa patente militar alferes. Tinha uma filha ilegítima e almejava casar-se com a sobrinha do Padre Rolim por motivos econômicos. Dentista, substituía dentes degenerados por similares de ossos, que ele mesmo fazia. Os inconfidentes reivindicavam independência apenas de três províncias, fim do monopólio comercial, fim da derrama. Queriam a República, mas não o fim à escravidão. Um movimento elitista. De classe social inferior, foi o único inconfidente condenado à morte. Um herói a se identificar com a Nação. Com a Proclamação da República, precisava ser criada uma nova identidade nacional. Pensou-se em Tiradentes foi escolhido como herói pelo fato de Minas pertencer ao pólo comercial do Brasil Deodoro e D. Pedro I como herói, mas o povo não aceitou. Tiradentes foi escolhido herói pelo fato de Minas Gerais pertencer ao pólo comercial do Brasil e porque lá havia também o movimento republicano mais forte. Tiradentes foi comparado pelo povo a Cristo na Via Crucis. Resignado, sem praguejar e ainda assim forte. Tiradentes era visto como o Cristo Salvador, o Cristo da multidão. Transformado em herói nacional, agradou à elite e ao povo. Mas quem serão os próximos heróis? A mídia hoje elege os heróis e os monta. Haverá heróis em 2003? Quem representará a memória desses tempos? O segredo da vitalidade do herói talvez esteja, nesta ambigüidade, em sua resistência aos continuados esforços de esquartejamento de sua memória. COMTE BITTENCOURT DEPUTADO ESTADUAL PPS E DONO DA UNIVERSIDADE PLÍNIO LEITE Esperança que se renova A História está repleta de exemplos que nos fazem lembrar que a nossa existência só faz sentido quando lutamos por um ideal de fraternidade e igualdade. Tiradentes acrescenta para nós a parcela que falta nesta tríade imortalizada na Revolução Francesa: a liberdade. Os acontecimento na França de 1789, como a queda da Bastilha e a declaração dos direitos do homem e do cidadão, marcaram o início de uma nova era e estabeleceram uma nova ordem entre os povos. No Brasil, estava um pleno andamento a conspiração mineira, nascida no interior das Gerais e inspirada na vil exploração portuguesa que sugava nossas riquezas e nosso sangue. Liberdade essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!. Talvez Cecília Meireles tenha feito a melhor tradução deste movimento mineiro que transformou um alferes em herói e mártir de um povo. Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes foi uma vítima dos portugueses que tudo fizeram para sufocar o povo da colônia. Ao longo de nossa história, outros heróis e mártires lutaram por semelhantes razões, em busca da mesma Antônio Conselheiro e muitos heróis anônimos morreram nos porões das ditaduras Fotos liberdade. Antes de Tiradentes, Antônio C o n s e l h e i r o, depois, os muitos anônimos que morreram nos porões das ditaduras. O que une estes personagens nos diferentes momentos da História é a esperança de que a justiça e a igualdade podem prevalecer sobre a tirania e a opressão, materializados na pobreza, na fome e na miséria da maioria da população. E hoje, esta esperança se renova em cada cidadão que aposta num mundo mais justo e fraterno. Não este mundo de guerra e de homens que passam por cima da política como arma de negociação, para usar a força das armas de última geração para destruir e matar. Mas um mundo que podemos começar aqui mesmo com a nossa participação no combate à fome e à miséria, usando as armas da esperança e da fraternidade.

7 RIO DE JANEIRO, 14 A 20 DE ABRIL DE 2003 JORNAL DA ALERJ 7 Deputados atentos à Pneumonia Asiática PARLAMENTARES JÁ SE MOBILIZAM JUNTO AO MINISTÉRIO DA SAÚDE Cida Diogo afirma a necessidade de uma estratégia para evitar propagação da doença GABRIEL MENDES A Comissão Permanente de Saúde da Alerj vai ajudar as autoridades sanitárias a prevenir um surto de pneumonia asiática (Síndrome Respiratória Aguda Severa), que tem assustado o mundo pela velocidade com que se propaga e faz vítimas fatais. Segundo a presidente da Comissão, deputada Cida Diogo (PT), já foram encaminhados pedidos de informações ao Ministério da Saúde e à Secretaria estadual de Saúde sobre esta nova doença. Ela afirma que os dados são necessários para a definição de estratégias a serem adotadas para evitar a propagação da doença. Podemos propor projetos de lei, convocar audiências com especialistas e até mesmo fazer diligências em hospitais da rede pública, garante. A Síndrome Respiratória Aguda Severa, ou Sars, como foi batizada pelos cientistas, teve seu epicentro na província de Guangdong, na China, mas se espalhou rapidamente pela Ásia e já chegou à Europa, América do Norte e Austrália. Por se tratar de uma doença nova, como foram nas décadas passadas a Aids e o Ebola, é preciso agir rapidamente, isolando o vírus, para se chegar a possíveis vacinas e medicamentos, explica o deputado Paulo Pinheiro (PT). O parlamentar, que é médico e também integra a Comissão, dá o seu diagnóstico. Os sintomas são os mesmos de uma pneumonia convencional: tosse seca, dores musculares e febre. A grande diferença é a maneira pela qual a Sars se alastra. O contágio se dá pelo ar, sem qualquer contato próximo, alerta. Outro deputado que está preocupado com um possível surto da virose no Brasil é Glauco Lopes (PSDB), que preside a Comissão de Turismo da Casa. A guerra no Iraque, a violência no estado e a poluição do Rio Paraíba do Sul já constituem um quadro muito preocupante para as atividades turísticas. Caso esta pneumonia asiática chegue ao Brasil, os prejuízos para o estado do Rio serão incalculáveis, lamenta. Enquanto não se confirmam casos da Sars no Brasil, a Comissão de Saúde da Alerj trabalha para evitar que o vírus se espalhe no País. Algumas medidas já foram tomadas pelos órgãos competentes em aeroportos e zonas portuárias para aumentar o rigor e o controle da vigilância sanitária. A comissão está fiscalizando e vai cobrar do Poder Executivo ações efetivas no combate a esta doença, avisa Cida Diogo. PELAS COMISSÕES Prefeitos discutem acidente ecológico As Comissões de Turismo e de Meio Ambiente da Alerj receberam autoridades dos municípios do Norte e Noroeste Fluminense, representantes da Comissão de Meio Ambiente federal e da Federação de Pescadores do Estado do Rio de Janeiro para discutir o desastre ecológico causado pelo vazamento de rejeitos da indústria Cataguazes Papel, de Minas Gerais. Durante a reunião, foi lembrada, pelo presidente da Comissão de Meio Ambiente Estadual, André do PV, a importância de políticas preventivas para evitar novos acidentes. Telemar é campeã em reclamações Desde o início do seu funcionamento, a central telefônica da Comissão de Defesa do Consumidor da Alerj vem recebendo, em média, 60 ligações por dia, com pedidos de informações e ligações que se transformam em notificações para as empresas - 25 por dia. As empresas de telefonia, como a Telemar, e de energia, como a Light, lideram o ranking de queixas dos consumidores. A central atende de segunda a sexta-feira, das 9 às 18 h. Secretário explica contas em audiência A Comissão de Orçamento realizou Audiência Pública para que o secretário estadual de Controle, Fernando Lopes, pudesse esclarecer a situação financeira do estado. Servidores públicos estavam presentes e reivindicaram o 13 o salário. Lopes disse que está captando recursos para pagar o que deve, e frisou que os recursos do Projeto Nova Escola não foram liberados devido à falta de avaliação do governo anterior. A deputada Inês Pandeló (PT) disse que esta questão do 13 o de 2002 é política, mais que financeira.

8 8 JORNAL DA ALERJ RIO DE JANEIRO, 14 A 20 DE ABRIL DE 2003 ENTREVISTA / ALESSANDRO MOLON DEPUTADO ESTADUAL PELO PT Temos que honrá-lo DEPUTADO, QUE É PROFESSOR DE HISTÓRIA, DIZ QUE ALERJ DEVE SEGUIR IDEAIS DE TIRADENTES FERNANDA GALVÃO Ele descobriu a política no curso de História e usa a História para atuar na política. O deputado Alessandro Molon (PT), em seu primeiro mandato, trocou o giz pelo paletó depois de oito anos de magistério, dando aulas de História na rede municipal do Rio e no colégio São Bento. Hoje no Parlamento, ele defende que é obrigação dos deputados honrar o passado da Casa e fazer perdurar os ideais do mártir da Inconfidência. Como professor de História e deputado, o senhor acha que os ideais de Tiradentes ainda estão vivos? Não só estão, como é nossa obrigação, como deputados estaduais, seguir estes ideais. Tiradentes sonhou com uma pátria livre, lutou por um país soberano, independente, e para que o Brasil tivesse um governo representativo e que defendesse os interesses do povo. Este é o nosso maior desafio: fazer jus ao sonho do mártir, que foi o maior sonhador da liberdade da nossa História. Mesmo o fato de ele ter sido preso neste local, na antiga cadeia, nos torna devedores de seu legado. Ainda mais porque ele era o mais pobre dentre os inconfidentes, e foi o único condenado à morte. Devemos, como parlamentares, nos engajar na luta pelos mais pobres, para que esta história não se repita. Por que migrar do magistério para a política? Na verdade, descobri a política através da História. Durante o curso, os professores, especialmente os de História Política, me ajudaram a entender por que um país tão rico, com tantos recursos, vive hoje e sempre viveu de joelhos perante o resto do mundo. Continuei me interessando pelo assunto e, em 1997, entrei para o PT. Nessa época, eu já era professor da rede municipal do Rio de Janeiro. Também dei aulas durante quatro anos no Colégio São Bento. Em 2000, vim candidato a vereador pela capital e tive aproximadamente 10 mil votos, ficando como suplente. Desta vez, tive 52 mil votos, e fui o segundo mais votado do PT nesta legislatura. E seu conhecimento acadêmico o ajuda nesta empreitada? Muito. Do ponto de vista histórico, consigo entender as razões que influenciam na formação social, econômica e cultural do País. Isto é necessário para pensar caminhos a fim de transformar nossa situação. Também me ajuda a ter uma visão crítica sobre o papel do parlamento na construção do País, que tantas vezes agiu de forma a defender interesses corporativos, e não as necessidades do povo. Acho que conhecer a História - não só do estado mas também do País como um todo - me faz acreditar que é possível mudar. Há outro aspecto, que é a minha segunda formação. Hoje estou no 9 período de Direito na PUC, e esta bagagem acadêmica também me ajuda no Parlamento. Conhecer a fundo o Direito é necessário para lutar por um país e um estado mais justos. E também é importante para que eu tenha conhecimento do que se pode ou não fazer, em termos de projetos de lei, o que é ou não constitucional. O senhor também é muito ligado à Igreja Católica. De que forma as convicções religiosas norteiam seu trabalho na Alerj? Pode-se dizer que o senhor faz parte de uma bancada católica? Sou católico praticante, fundador da associação Deus é Dez. Também apresento um programa todas as manhãs na Rádio Catedral FM, ao lado dos padres Zeca e Jorjão, e dou aula no curso preparatório de noivos da Paróquia da Ressurreição, em Copacabana. Minha fé me ajuda muito, o Cristianismo é uma maneira de ver a vida. Meu compromisso na Assembléia, de certa forma, também passa por isto, porque pretendo me dedicar aos mais sofridos, e este foi um compromisso que Cristo assumiu. A fé verdadeira informa a ação do indivíduo como um todo, e me fortalece no objetivo de ajudar o próximo.