Diferenças sócio-demográficas e psicológicas entre crianças oriundas de famílias monoparentais e nucleares

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1 1317 IV Mostra de Pesquisa da Pós- Graduação PUCRS Diferenças sócio-demográficas e psicológicas entre crianças oriundas de famílias monoparentais e nucleares *O título deste trabalho foi alterado após ter sido submetido à comissão avaliadora da IV Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação PUCRS. Gabriela Seben, Maria Lucia Tiellet Nunes (orientadora) Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Faculdade de Psicologia, PUCRS. Resumo O presente estudo tem por objetivo entender as diferenças sócio-demográficas e psicológicas existentes entre crianças em idade escolar inseridas em dois diferentes contextos familiares. O primeiro grupo de crianças pertence ao arranjo familiar monoparental, definido nesta pesquisa como sendo formado por apenas um dos cônjuges coabitando com seus filhos. O segundo grupo é constituído por crianças oriundas de famílias nucleares, neste caso, coabitando junto ao par conjugal. Para este trabalho será feita uma coleta de protocolos já existentes em um banco de dados maior, caracterizando a pesquisa como documental e retrospectiva. Serão colhidas informações de 100 crianças de ambos os sexos em tratamento psicoterápico na faixa dos 8 aos 12 anos. Dentre os instrumentos utilizados e que terão seus dados analisados, estão a Ficha de Informações sobre a Criança, contendo informações complementares aos dados sócio-demográficos, o CBCL (Child Behavior Checklist), que é respondido por um dos pais e visa a categorizar comportamentos nas áreas social e comportamental, o Desenho da Figura Humana e o teste projetivo das Fábulas, que permitem observar o desenvolvimento cognitivo e emocional relacionado à consolidação das fases edípica e de separação/individuação, verificando medos e ansiedades infantis. A partir daí, será feito o levantamento e a correlação dos dados, comparando as diferenças entre os grupos. Compreender o desenvolvimento psíquico da criança e suas vicissitudes frente aos dois arranjos familiares acima descritos pode ser muito útil tanto para a avaliação psicológica quanto para o atendimento em psicoterapia.

2 1318 Introdução A família tem passado, ao longo dos anos, por muitas mudanças em sua estrutura. De acordo com Ferreira (2005), houve redução no tamanho da família, passando para uma nova estrutura predominante denominada família nuclear (pai-mãe-filhos). Apesar do conceito da família nuclear intacta permanecer como a estrutura ideal na cultura ocidental, a existência de outras estruturas aumenta a cada dia (Kauffman, 2001). Desta forma, as transições familiares têm sido foco de muitos estudos nas últimas décadas, por tratar-se de um evento que se tornou cada vez mais frequente em nossa sociedade. Sabe-se, por exemplo, que hoje muitas crianças são criadas em contextos monoparentais, ou seja, sem a presença de um dos pais, seja em decorrência de divórcios, nascimentos fora do casamento, perda por morte, entre outros motivos. Torna-se, portanto, importante observar estes fenômenos, no intuito de melhor compreendê-los e avaliar os seus efeitos entre as crianças que se inserem em novos tipos de configurações familiares. Quando há uma transição familiar, as crianças e os adolescentes costumam passar por um período de crise, que pode ter muitas implicações. De acordo com Ramires (2004), ocorrem mudanças relacionadas às relações íntimas, mudanças na infra-estrutura familiar e na rede social dos envolvidos. Ainda conforme a autora, essas mudanças são acompanhadas por um conjunto de sentimentos que implicam em uma série de modificações na vida da criança, tanto psíquicas quanto em termos de reorganização espacial. A habilidade que a criança alcança para reter e restaurar sua auto-estima frente a situações de mudança, muitas vezes consideradas traumáticas, depende do modo como vivencia duas importantes fases de seu desenvolvimento que serão abordadas neste estudo: a fase de separação/individuação, onde a separação simboliza a saída da criança da relação simbiótica com o mãe e a individuação se refere às aquisições que revelam que a criança tenha assumido suas características individuais; e o complexo de Édipo, marcador psicológico organizador dos desejos amorosos e hostis que a criança sente em relação aos seus pais (Viana, 1995). Estas etapas do desenvolvimento da criança podem se manifestar como sintomas físicos e/ou psicológicos, que persistem ou não ao longo do tempo. Porém, é importante considerar que a capacidade de ajustamento infantil está intimamente relacionada à quantidade e à qualidade do vínculo que a criança estabelece com as figuras parentais. Desta forma, é importante compreender os aspectos sócio-demográficos e psicológicos de crianças

3 1319 inseridas em dois diferentes âmbitos familiares para detectar possíveis diferenças quanto aos fatores psicológicos subjacentes às novas configurações familiares, objetivando uma avaliação psicológica e/ou um tratamento psicoterápico mais conciso e focado na criança e em suas vicissitudes, a partir destes dados. Metodologia Este estudo está inserido no Grupo de Pesquisa Formação, Avaliação e Atendimento em Psicoterapia Psicanalítica, coordenado pela Professora Drª Maria Lúcia Tiellet Nunes, na linha de pesquisa Intervenções em Psicologia Clínica. Será realizado através de uma pesquisa de abordagem quantitativa, descritiva (levantamento e correlação), e se alinha ao referencial metodológico da pesquisa documental, retrospectiva. Através do estudo descritivo será realizada a análise de características sóciodemográficas e psicológicas das crianças. Os sujeitos desta pesquisa serão constituídos a partir da coleta de protocolos de 100 crianças em idade escolar (de 8 a 12 anos), de ambos os sexos, que estiveram em atendimento psicoterápico e cujas informações estão contidas em um banco de dados já existente em um projeto mais amplo do grupo de pesquisa Intervenções em Psicologia Clínica (conforme a tabela I). As informações analisadas serão obtidas através da Ficha de Informações sobre a Criança, do Desenho da Figura Humana, do Teste das Fábulas e do CBCL (Child Behavior Check List). A Ficha de Informações sobre a Criança fornecerá dados complementares aos aspectos sócio-demográficos; o Desenho da Figura Humana e o Teste projetivo das Fábulas analisarão componentes cognitivos e emocionais, tais como medos e ansiedades infantis; e o CBCL, por sua vez, será respondido por um dos pais e objetiva categorizar comportamentos nas áreas social e comportamental. Tabela I: Legenda M*=família monoparental N**=família nuclear Faixa etária Masculino Feminino TOTAL Tipo de família M* N** M N 8 anos a 8 anos e 11 meses anos a 9 anos e 11 meses anos a 10 anos e 11 meses anos a 11 anos e 11 meses anos a 12 anos e 11 meses TOTAL

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