UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE LETRAS E LISGUÍSTICA ILEEL MESTRADO EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS CAMILA FERNANDES BRAGA ZANCHINI

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE LETRAS E LISGUÍSTICA ILEEL MESTRADO EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS CAMILA FERNANDES BRAGA ZANCHINI INSTÂNCIAS MIDIÁTICAS SUJEITOS DISCURSIVOS NO DISCURSO POLÍTICO UBERLÂNDIA DEZEMBRO DE 2013

2 CAMILA FERNANDES BRAGA ZANCHINI INSTÂNCIAS MIDIÁTICAS SUJEITOS DISCURSIVOS NO DISCURSO POLÍTICO Dissertação apresentada ao Programa de Pósgraduação em Estudos Linguísticos - Curso de Mestrado em Estudos Linguísticos do Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de Uberlândia - como requisito para obtenção de título de Mestre em Linguística. Área de concentração: Estudos em Linguística e Linguística Aplicada Linha de pesquisa: Estudos de Texto de Discurso Orientador: Prof. Dr. João Bôsco Cabral dos Santos UBERLÂNDIA DEZEMBRO DE 2013

3 INSTÂNCIAS MIDIÁTICAS SUJEITOS DISCURSIVOS NO DISCURSO POLÍTICO CAMILA FERNANDES BRAGA ZANCHINI BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. João Bôsco Cabral dos Santos (UFU Orientador) Profa. Dra. Maria de Fátima Fonseca Guilherme (UFU) Profa. Dra. Grênissa Bonvino Stafuzza (UFG CAC) Uberlândia, 13 de dezembro de 2013

4 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Sistema de Bibliotecas da UFU, MG, Brasil. Z275i 2013 Zanchini, Camila Fernandes Braga Instâncias midiáticas: sujeitos discursivos no discurso político / Camila Fernandes Braga Zanchini p. : il. Orientador: João Bôsco Cabral dos Santos. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Uberlândia, Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos. Inclui bibliografia. 1. Linguística Teses. 2. Imprensa e política Teses. 3. Análise do discurso - Teses. I. Santos, João Bôsco Cabral dos. II. Universidade Federal de Uberlândia. Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos. III. Título. CDU: 801

5 O homem está condenado a significar. Com ou sem palavras, diante do mundo, há uma injunção à interpretação. (Orlandi, 2007, p. 29)

6 Agradecimentos Ao professor, orientador e amigo, João Bôsco Cabral dos santos, pela confiança que depositou em mim, pelos ensinamentos teóricos, pela compreensão, pelas palavras tranquilizadoras nos momentos de tensão e pelo exemplo de ética e humildade no universo acadêmico. Aos meus pais, pela eterna dedicação, pelo amor incondicional e pelo apoio. Exatamente porque não tiveram longa educação formal, eles sabem da relevância dela e sempre me incentivaram e tiveram orgulho de mim. Ao meu marido, amigo e companheiro, Guilherme, por ter dividido comigo os melhores e os piores momentos dessa caminhada. Sem o seu apoio, tudo isso não teria sido possível. Aos meus familiares e amigos, pela preocupação, pela força e pelos momentos de descontração quando eu precisei. Aos colegas do Laboratório de Estudos Polifônicos (LEP), pelos apontamentos e discussões teóricas. Aos professores Dndo. Gílber Martins Duarte, Dra. Cristiane Carvalho de Paula Brito e Dra. Maria de Fátima Fonseca Guilherme, pelas contribuições na minha Banca de Qualificação. Às professoras Dra. Grênissa Bonvino Stafuzza e Dra. Maria de Fátima Fonseca Guilherme, por aceitarem participar da minha Banca de Defesa. A toda a equipe do Instituto de Letras e Linguística (ILEEL) e do PPGEL que, de alguma forma, contribuiu para que esse trabalho fosse feito. À FAPEMIG, pelo fomento dessa pesquisa.

7 RESUMO Pretendemos, com este trabalho, analisar como as instituições midiáticas Veja e Época constroem sentidos para e no discurso político acerca de candidatos à presidência da República. Faremos essa análise a partir de noções teóricas subjacentes à Análise do Discurso, doravante AD, de linha francesa, tomando como base teórica os pressupostos teóricos de Michel Pêcheux, como a noção de sujeito e sentido, e como base referencial alguns conceitos de Michel Foucault, como a problematização da noção de Governamentalidade e a instauração da ordem do discurso. Temos como objetivo geral examinar a amplitude dos sentidos produzidos por uma instância enunciativa sujeitudinal midiática sobre uma instância enunciativa sentidural candidato à presidência da República e, como objetivo específico, descrever como as instituições midiáticas Veja e Época produzem sentidos ao construir discursividades sobre as candidaturas à presidência da República, tomando como referência o pleito eleitoral de Demarcando esses objetivos, pretendemos responder à seguinte questão: Considerando-se o acontecimento discursivo Campanha à Presidência da República, como ocorre a produção de sentidos acerca das candidaturas pelas instâncias enunciativas sujeitudinais Veja e Época? Partiremos da hipótese de que existe uma parcialidade explícita por parte dessas instituições midiáticas que direciona suas posições a favor dos candidatos do PSDB, por ser este o partido representante da classe dominante brasileira. Temos a expectativa de que esta pesquisa contribuirá para percebermos como instituições midiáticas podem ser capazes de constituir-se em uma determinada ideologia e, consequentemente, inscrever-se em discursos de modo a revelar suas tomadas de posição em torno dos acontecimentos políticos. Nesse sentido, sabendo-se que há deslocamentos de sentidos feitos pelas instâncias enunciativas sujeitudinais, pretendemos explicitar processos de identificação e de contraidentificação das instituições midiáticas com os candidatos à presidência. Assim, esta proposta justifica-se pelo interesse da investigação em descrever como esses sentidos são produzidos, de forma mais aprofundada, e relacioná-los, a fim de encontrar regularidades que apontem para os processos acima mencionados. Palavras-chave: Análise do Discurso; revistas Veja e Época; produção de sentidos, candidatos à Presidência da República.

8 ABSTRACT With the present research project, we intend to analyze how the midiatic institutions Veja and Época build meanings for and at the political speech concerning the presidency of the Republic candidates. We will make this analysis through theoretical notions underlying to the Discourse Analysis, hereinafter DA, of the French line, taking as theoretical basis the theoretical presuppositions of Michel Pêcheux, such as the notion of governmentality problematization and the speech order instauration. We have as general objective to examine the amplitude of the meanings built by a mediatic sujeitudinal enunciative instance about a sentidural enunciative instance presidency of the Republic candidates and, as specific objective, describe how the mediatic institutions Veja and Época build meanings when constructing a reading about the presidency of the Republic candidacy, taking as reference the electoral process of By delimiting these objectives, we intend to answer the following question: Considering the discursive event Campaign for the Presidency, how the building of meanings about the candidacies by the enunciative instances Veja and Época occurs? We will star form the hypothesis that there is an explicit partiality by these midiatic institutions that directs their position in favor of the candidates from PSDB, since this is the representative party of the Brazilian dominant class. We expect that this research will help us realize how the midiatic institutions may be able to constitute themselves in a particular ideology and, consequently, inscribe themselves in a way to reveal the positions they take regarding the political events. In this way, knowing that there is a meaning displacement made by the sujeitudinal enunciative instances, we intend to explicit identification and counter-identification process of the midiatic institutions with the presidency candidates. Thereby, this proposal justify itself by the interest for the investigation in describing how these meanings are built, in greater depth, and relate them, in order to find regularities that point towards the aforementioned process. Keywords: Discourse Analysis, Veja and Época Magazines, meaning building, presidency of the Republic candidates

9 SUMÁRIO Índice de figuras CAPITULO 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Introdução Motivação da investigação e o lugar da Análise do Discurso O discurso midiático e a formação de professores e leitores CAPÍTULO 2 O DISCURSO MIDIÁTICO E A ANÁLISE DO DISCURSO O sujeito discursivo: forma-sujeito, lugar social, lugar discursivo e posição-sujeito Sujeito discursivo: unidade e dispersão Modalidades discursivas do funcionamento subjetivo As instâncias enunciativas sujeitudinais Veja e Época As instâncias enunciativas sentidurais candidatos à presidência da República Os efeitos de sentido e o papel da memória O lugar da AD na abordagem do discurso midiático: as formações discursivas e as formações ideológicas A governamentalidade, a vontade de verdade e os rituais no discurso midiático CAPÍTULO 3 FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA CAPÍTULO 4 INSTÂNCIAS MIDIÁTICAS: SUJEITOS DISCURSIVOS NO DISCURSO POLÍTICO Considerações preliminares Análise de materialidades verbais Níveis relacionais entre o verbal e o visual CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 81

10 Figura 1 ÍNDICE DE FIGURAS Ilustração intitulada Em paz, publicada na edição de Veja de 21/04/2010 Página 35 Figura 2 José Serra no Programa Praia Acessível Página 37 Figura 3 Ilustração da capa de Veja da edição de 21/04/2010 Página 40 Figura 4 Ilustração da capa de Veja da edição de 06/10/2010 Página 43 Figura 5 Ilustração intitulada Linguagem corporal, publicada na edição de Veja de 06/10/2010 Página 45 Figura 6 Ilustração intitulada Cabo eleitoral, publicada na edição de Veja de 06/10/2010 Página 48 Figura 7 Ilustração intitulada Caraca, e a Erenice?, publicada na edição de Veja de 06/10/2010 Página 54 Figura 8 Ilustração Dilma caricaturada, publicada na edição de Veja de 06/10/2010 Página 56 Figura 9 Ilustração José Serra caricaturado, publicada na edição de Veja de 06/10/2010 Página 62 Figura 10 Ilustração da capa de Época da edição de 14/08/2010 Página 66 Figura 11 Ilustração intitulada Dilma na luta armada, publicada na edição de Época de 14/08/2010 Página 69 Figura 12 Ilustração da capa de Época da edição de 04/09/2010 Página 74

11 CAPITULO 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 1.1 Introdução Pretendemos, com este trabalho, analisar como as instituições midiáticas Veja e Época constroem sentidos acerca das candidaturas à presidência da República. Faremos essa análise a partir de noções teóricas subjacentes à Análise do Discurso, doravante AD, de linha francesa, tomando como base teórica os pressupostos teóricos de Michel Pêcheux, como as noções de sujeito e sentido, memória discursiva, formação discursiva, formação ideológica e interdiscurso, e, como base referencial, alguns conceitos de Michel Foucault, como a problematização da noção de Governamentalidade e a instauração da ordem do discurso. Temos como objetivo geral examinar a amplitude dos sentidos produzidos por uma instância enunciativa sujeitudinal (doravante IESuj) 1 midiática sobre uma instância enunciativa sentidural (doravante IESen) 2 candidato à presidência da República e, como objetivo específico, descrever, analisar e interpretar como as instituições midiáticas Veja e Época 3 produzem sentidos ao construir leituras sobre as candidaturas à presidência da República, tomando como referência reportagens publicadas no pleito eleitoral de Em decorrência desse objetivo específico, examinaremos, em reportagens publicadas nas referidas instituições, regularidades que apontem para processos de identificação entre as instâncias enunciativas sujeitudinais Veja e Época e as instâncias enunciativas sentidurais candidatos à presidência de filiação política de direita e de contra-identificação entre as IESuj e as IESen candidatos de filiação política da frente popular. Vale ressaltar que os candidatos de filiação política de direita são aqueles partidários do PSDB, enquanto os candidatos de filiação política da frente popular são os partidários do PT. 1 Essa noção será abordada na fundamentação teórica. 2 Essa noção também será abordada mais adiante. 3 Outros veículos midiáticos poderão ser trazidos, se pertinentes, a título de ilustração. 11

12 Demarcando esses objetivos, pretendemos responder à seguinte questão: considerando-se o acontecimento discursivo Campanha à Presidência da República, como ocorre a produção de sentidos acerca das candidaturas pelas instâncias enunciativas sujeitudinais Veja e Época? Partiremos da hipótese de que essas instituições midiáticas podem representar os anseios de poder político da classe dominante brasileira e são utilizadas como instrumentos de aliciamento político, principalmente nos períodos eleitorais. Dessa forma, trabalharemos com materialidades linguístico-discursivas, retiradas de reportagens dessas instituições, o que nos ajudará a entender, pelo viés da discursividade, como o objeto da linguística, a língua, funciona em determinados contextos sócio-político-históricos. A relevância desta pesquisa está no propósito de aprofundar os conhecimentos acerca de um acontecimento histórico, produzido na evanescência de suas contradições, opacidades e interpelações ideológicas. Pretendemos, portanto, construir uma reflexão teórico-metodológica que nos permita interpretar conceitos e refletir sobre as extensões epistemológicas instância enunciativa sujeitudinal e instância enunciativa sentidural. Além disso, temos a expectativa de que esta pesquisa contribuirá para percebermos como instituições midiáticas podem ser capazes de constituir-se em uma determinada ideologia e, consequentemente, inscrever-se em discursos de modo a revelar suas tomadas de posição em torno dos acontecimentos políticos. A partir dessa tomada de posição, acreditamos que há uma mobilização de saberes articulada de tal forma que os sentidos produzidos pelos enunciados sejam uma tentativa de fazer com que sujeitos-eleitores se inscrevam nas mesmas posições políticas das instâncias midiáticas e votem nos candidatos que elas apoiam. Nesse sentido, sabendo-se que há deslocamentos de sentidos feitos pelas instâncias enunciativas sujeitudinais, devido às suas tomadas de posição, em relação às candidaturas, percebemos processos de identificação e contra-identificação das instituições midiáticas com os candidatos à presidência. Assim, esta proposta justificase pelo interesse da investigação em descrever como esses sentidos são produzidos e relacioná-los, a fim de encontrar regularidades que apontem para os processos acima mencionados. 12

13 Com esta pesquisa, pretendemos construir uma reflexão acerca de como os discursos se manifestam na interpelação de uma ideologia, constitutiva de instâncias enunciativas sujeitudinais e sentidurais. Acreditamos, portanto, que o campo da AD pode contribuir teoricamente com este estudo, pois fornece um arcabouço teórico que nos ajudará a fazer emergir esses sentidos, que são construídos por meio de regularidades explícitas ou silenciadas. 1.2 Motivação da investigação e o lugar da Análise do Discurso Antes mesmo de começarmos a estudar a teoria da Análise do Discurso, nos incomodávamos com o fato de algumas revistas terem um lugar de verdade 4 legitimado na sociedade. Em momentos de discussão sobre assuntos gerais, ouvíamos muito a expressão: É verdade, eu li na Veja/Época. Quando começamos a nos envolver um pouco mais com o universo midiático, ainda na infância, ao descobrir coleções de revistas nas casas de familiares, acreditávamos no mito da imparcialidade jornalística. No entanto, esse mito, a nosso ver, era desconstruído na forma com que as revistas significavam os candidatos à presidência da República, o que também nos causava inquietação. Então, quando nos enveredamos pelas trilhas discursivas, percebemos que não há A verdade 5, mas verdades construídas e nos focamos em examinar os recursos de que as instituições midiáticas se valiam para construir essas verdades. À luz da AD, foi possível perceber como ocorria o processo de constituição do sujeito e compreendemos que é na singularidade desse processo que os sentidos enunciados pelas instâncias midiáticas são produzidos. Entendemos, também, que as instâncias enunciativas sujeitudinais Veja e Época produziam sentidos de acordo com as formações discursivas, que incluem as inscrições políticas, dos candidatos. E essas percepções nos levaram a outras que nos permitiram compreender que a língua é ideológica, que há sentidos silenciados e, principalmente, que se deve 4 Entendemos o lugar de verdade como aquele em que se produzem verdades que devem ser aceitas sem ser questionadas. 5 Quando dizemos A verdade estamos nos referindo a uma verdade única, universal e, consequentemente, inatingível. 13

14 questionar o silenciamento e/ou o apagamento de determinados enunciados, porque o silêncio também significa. Nessa perspectiva, encontramos na AD uma forma de pesquisa que duvida do óbvio, que questiona a transparência, que percebe o deslizamento de sentidos e que nos direciona a fazer da leitura uma prática política. 1.3 O discurso midiático e a formação de professores e leitores Mesmo não constituindo o objetivo de nosso trabalho, não podemos deixar de mencionar que acreditamos na relevância do estudo do discurso midiático na formação de professores e de leitores. Enunciando do lugar de professores de língua materna, é pertinente enfatizar que o estudo em questão é um grande aliado em exercícios de leitura e produção de textos. Afirmamos isso porque as reportagens se constituem de materialidades em que são muito observáveis as de tomadas de posição dos sujeitos enunciadores, processos esses que devem ser trabalhados com os estudantes. O material que analisamos nesta dissertação pode e deve ser utilizado de forma fazer com que os alunos percebam como uma argumentação é articulada de forma a se tornar convincente e ilusoriamente verdadeira. Além disso, temos a possibilidade de conduzir uma discussão sobre como se deve questionar as informações veiculadas e perceber que elas passam por processos de deslocamentos de sentidos. Nessa perspectiva, a nossa responsabilidade, enquanto educadores, é discutir as tomadas de posição das instituições midiáticas e ajudar o aluno para que ele também se posicione criticamente em relação ao que lê. 14

15 CAPÍTULO 2 O DISCURSO MIDIÁTICO E A ANÁLISE DO DISCURSO 2.1 O sujeito discursivo: forma-sujeito, lugar social, lugar discursivo e posiçãosujeito De acordo com os pressupostos teóricos de Michel Pêcheux (1988), o sujeito do discurso se constitui ideologicamente pelo viés da forma-sujeito. Esse processo de constituição ocorre quando o sujeito se (des) (contra) identifica com os saberes de determinada formação discursiva (doravante FD) e com a formação ideológica (doravante FI) que, por sua vez, comporta uma forma-sujeito. Assim, ao se identificar com esses saberes, o sujeito deixa de ser visto como um indivíduo empírico e passa a ocupar um lugar discursivo. Na perspectiva pecheutiana, o sujeito se constitui pela ideologia e é afetado pelo inconsciente. Isso se deve ao fato de que, para o autor, o sujeito se constitui nas contradições das lutas de classe, lugar permeado por ideologias, o que o faz, consequentemente, incorporar o discurso do outro. E o sujeito ser afetado pelo inconsciente significa que, em sua constituição, há espaço para contradições e equívocos, processos esses que o tornam disperso, heterogêneo. Essa reflexão nos leva a uma teoria não-subjetiva da subjetividade 6, segundo a qual o sujeito não se constitui por ele mesmo, mas a partir de um lugar social e do inconsciente. Além disso, é relevante explicitar que o sujeito discursivo não é algo pronto, que já está lá. Ele não é uma pessoa, um ser ou um objeto. O sujeito discursivo é, de acordo com Pêcheux, uma instância que se configura no interior da luta de classes, no próprio funcionamento discursivo. Ele é uma configuração ideológica, o que significa que ele se constitui no momento em que sua forma-sujeito é interpelada por uma ideologia. O sujeito, para Pêcheux, é, então, social, histórico, ideológico e afetado pelo inconsciente. Social, por se constituir no seio da sociedade e das relações com os demais sujeitos (o outro). Histórico, por sempre existir (sob a forma-sujeito) ao longo 6 Discutiremos mais sobre essa teoria adiante. 15

16 da história. Ideológico pelo fato de se constituir a partir do momento em que é interpelado pela ideologia à qual está exposto e afetado pelo inconsciente porque ele não tem consciência de todo esse processo, o que o torna passível de se equivocar, de se contradizer. E, por fim, é uma instância porque sua materialização ocorre apenas no plano ideológico, não no empírico. Diante dessas características, o autor afirma que o caráter comum das estruturas-funcionamentos designadas, respectivamente, como ideologia e inconsciente é o de dissimular sua própria existência no interior mesmo do seu funcionamento, produzindo um tecido de evidências subjetivas. (PÊCHEUX, 1988, p ) Isso significa que as características do sujeito dissimulam sua própria existência no interior do funcionamento discursivo, produzindo um efeito (imaginário) de evidências 7 de que o sujeito se constitui por ele mesmo. Estamos, mais uma vez, diante de uma teoria não-subjetiva da subjetividade. Isso posto, faz-se necessário discorrer sobre as manifestações do sujeito discursivo na perspectiva do autor (op. cit.): forma-sujeito, o lugar social e o lugar discursivo. A forma-sujeito é o que permite o processo de constituição do sujeito. Ela é um lugar a ser preenchido, mas não é um lugar vazio, e, quando ocorre esse preenchimento ilusório, podemos dizer que se trata do processo de constituição do sujeito. A forma-sujeito, então, é o que possibilita ao indivíduo a sua constituição em sujeito, ela é a existência histórica deste. Como veremos a seguir, ela é a responsável pela seleção dos enunciados do sujeito. Quando a forma-sujeito se interpela por determinada ideologia, ela mobiliza saberes da formação discursiva comportada por essa formação ideológica, fazendo com que o sujeito diga uma coisa e não outra. Isso ocorre porque a forma-sujeito é historicamente determinada pelo contexto econômico, pela ideologia e por outros fatores concretos, ou seja, a historicidade do sujeito determina o que ele dirá. 7 Utilizaremos, em toda a investigação, o termo evidência como sinônimo de algo que indica a existência, não no sentido de algo que não dá margem a dúvidas. 16

17 Quanto ao lugar social, podemos dizer que esta é a posição ocupada pelo sujeito na luta de classe. Esse lugar está no domínio do espaço social, empírico. É nele que o sujeito, enquanto indivíduo, encontra-se. Ao mobilizar uns e não outros saberes para enunciar, o sujeito já o faz determinado por esse lugar social, capaz de administrar as diferenças internas e, ao mesmo tempo, dar-lhes um efeito de unidade discursiva. (CAZARIN, 2007, p.109). Isso significa que o sujeito, ao enunciar, deixa marcas do lugar de onde o faz e, mais ainda, esse lugar é determinante nesses enunciados. É pertinente ressaltar que, no que tange ao corpus de nosso estudo, as instâncias enunciativas sujeitudinais Veja e Época, essas ocupam um fictício lugar social de produção de verdades, de pseudo imparcialidade e neutralidade. Esse lugar legitima os saberes que nelas circulam, produzindo um efeito de inquestionáveis. O lugar discursivo, por sua vez, é o espaço em que o sujeito se inscreve a partir do momento em que é interpelado ideologicamente, por dizeres e discursos, e toma uma posição. Esse é o processo segundo o qual o indivíduo constitui-se como sujeito do discurso, ou seja, deixa de se inscrever apenas no plano social para se inscrever, também, no plano discursivo. Essa entrada no espaço discursivo inscreve o sujeito em um lugar discursivo, lugar esse que, como já dissemos, é determinante na produção dos dizeres do sujeito. Ainda no que concerne aos lugares social e discursivo e na constituição do sujeito em um lugar e no outro, há que se considerar os saberes e as inscrições ideológicas que estão em jogo nesse processo. Ao se inscrever no plano discursivo, o sujeito leva consigo marcas que evidenciam o lugar social no qual também se inscreve. Reconhecendo-se as inscrições históricas do sujeito, encontram-se, nesse, marcas de sua historicidade, que são decorrentes de suas experiências e, principalmente, de suas relações com o outro. Como vimos, a inscrição histórica e o lugar do qual enuncia são constitutivos do sujeito. Reconhecemos, assim, que o lugar discursivo se constitui a partir do lugar social. E a recíproca, segundo Grigoletto (2007), é verdadeira. Para a autora, ambos os lugares se constituem mutuamente: O lugar social só se legitima pela prática discursiva, portanto, pela inscrição do sujeito num lugar discursivo. E o lugar discursivo, por 17

18 sua vez, só existe discursivamente porque há uma determinação do lugar social que impõe a sua inscrição em determinado discurso. (p.129) Nessa perspectiva, compreendemos que o lugar discursivo é determinado pelo lugar social devido à conjuntura histórico-ideológica que este carrega. Essa conjuntura é a responsável por inscrever cada sujeito em seu lugar, o que o torna sujeito histórico e ideológico. E o lugar social também é determinado pelo lugar discursivo porque as práticas que evidenciam sua existência se legitimam no plano discursivo: os discursos que conferem um lugar aos sujeitos circulam e são legitimados na esfera discursiva. Ainda de acordo com Grigoletto (op. cit.), é relevante esclarecer que, na passagem do plano empírico para o plano discursivo, o sujeito é afetado pelo inconsciente, o que o faz, muitas vezes, ter a ilusão de poder apagar sua constituição em seu referido lugar social. De acordo com a autora, essa ilusão é apenas um efeito, pois, como vimos, um lugar (social ou discursivo) é, necessariamente, constituído pelo outro, ou seja, as inscrições do sujeito podem até ser silenciadas, mas não podem ser apagadas. No que tange à posição-sujeito, podemos dizer que essa corresponde aos lugares que o sujeito pode ocupar no interior do discurso. Quando o indivíduo, por meio de sua forma-sujeito, interpela-se por determinada ideologia, ele se posiciona em relação a ela. Em nossas análises, tentaremos problematizar a forma com que as instâncias enunciativas sujeitudinais se posicionam em relação a determinados saberes e produzem efeitos de sentido em relação a eles. 2.2 Sujeito discursivo: unidade e dispersão Pela leitura dos pressupostos teóricos da AD, sabemos que o sujeito não é uno ou homogêneo; ele é disperso, heterogêneo. Podemos explicar essa característica do sujeito discursivo pelo viés da forma-sujeito, que é a responsável por recortar elementos do interdiscurso e incorporá-los ao intradiscurso. Por interdiscurso entendemos como a exterioridade, o lugar do discurso do outro, são todos os discursos que atravessam um discurso predominante. E por intradiscurso entendemos os discursos que atravessam a 18

19 constituição do sujeito, o fio do dizer, a materialidade linguística. Inter e intradiscurso possuem uma relação de interdependência quando nos referimos à constituição sujeitudinal: os saberes que constituem o intradiscurso de um sujeito são apreendidos no interdiscurso e os enunciados do intradiscurso constituirão outros sujeitos pelo viés do interdiscurso. Esses novos elementos, então, mesclam-se aos antigos e aparentam, ao sujeito falante, serem da ordem dos já-ditos por ele. Essa incorporação é dissimulada pela forma-sujeito e causa o efeito de unidade. Verificamos aqui um dos processos de atuação do inconsciente na constituição do sujeito. Este tem a ilusão de ser o dono de seus dizeres, mas, na verdade, esses são apenas incorporados de discursos outros. Para explicar melhor essa ilusão, é necessário retomarmos os esquecimentos pecheutianos. O que o autor denominou de esquecimento nº 2, é o esquecimento pelo qual todo sujeito-falante seleciona no interior da formação discursiva que o domina, isto é, no sistema de enunciados, formas e sequências que nela se encontram em relação de paráfrase um enunciado, forma ou sequência, e não um outro, que, no entanto, está no campo daquilo que poderia reformulá-lo na formação discursiva considerada.(pêcheux, 1988, p.173 grifos do autor) Isso significa que quando o sujeito seleciona um enunciado no interior da FD que o domina, ele tem a ilusão de que o que ele dirá terá somente um sentido e que este será apreendido prontamente pelo seu interlocutor, ou seja, o sujeito tem a ilusão de controle dos sentidos de seus dizeres. que o Quanto ao esquecimento nº 1, Pêcheux afirma que ele está relacionado ao fato de sujeito-falante não pode, por definição, se encontrar no exterior da formação discursiva que o domina. Nesse sentido, o esquecimento nº 1 remetia, por uma analogia com o recalque inconsciente, a esse exterior, na medida em que como vimos esse exterior determina a formação discursiva em questão. (PÊCHEUX, 1988, p. 173) 19

20 O sujeito não ser exterior às suas FDs significa que ele não pode controlar os seus dizeres, uma vez que a FD é aquilo que determina o que pode e deve ser dito (PÊCHEUX, 1988, p.160 grifos do autor) por ele. O sujeito, então, afetado pelo inconsciente, esquece-se de que elementos do interdiscurso são incorporados ao intradiscurso e tem a ilusão de ser a origem dos seus dizeres. Esses esquecimentos, na medida em que justificam os pressupostos de que o sujeito não é o lugar em que seus dizeres se originam ou se encerram e que ele não pode controlar os sentidos dos seus enunciados, corroboram com o fato de que o sujeito não é unidade. Essa é apenas um efeito que faz parte do seu processo de constituição. Ainda no que concerne aos esquecimentos, é relevante ressaltar que eles também justificam o fato de que a tomada de posição pelo sujeito não é um ato originário do sujeito-falante. De acordo com Pêcheux (1988), o sujeito-falante não tem consciência do processo pelo qual a forma-sujeito agrega elementos do interdiscurso ao intradiscurso. Isso faz com que o sujeito, interpelado ideologicamente, tome uma posição e tenha ilusão de que o faz com responsabilidade. Isso significa que a tomada de posição é um efeito de liberdade, ou seja, o sujeito pensa que se posiciona por si só, conscientemente. A tomada de posição enquanto originária do sujeito-falante é, então, apenas um efeito, porque a ideologia que o interpela são elementos recortados dos jáditos que circulam na classe em que o sujeito se inscreve ou que desejam se inscrever. Outro elemento que explica a heterogeneidade do sujeito é sua forma-sujeito. Isso ocorre porque ela mesma não é homogênea: ela é dividida, fragmentada em diferentes posições-sujeito. Essas posições podem ser definidas como as diferentes formas de identificação entre o sujeito da enunciação e o sujeito do saber. A forma-sujeito, então, nos remete a um sujeito dividido, heterogêneo, fragmentado em diferentes-posições sujeito que são permitidas pela sua interpelação ideológica. 20

21 2.3 Modalidades discursivas do funcionamento subjetivo Essa é a denominação elaborada por Pêcheux (1988) para explicar as formas pelas quais ele entende os processos de constituição do sujeito e de suas tomadas de posição. Para o autor, há três modalidades de desdobramento entre o que ele chama de sujeito da enunciação e Sujeito universal 8. O primeiro é o próprio sujeito-falante, é o sujeito do seu próprio discurso. O segundo, normalmente referido pelo S (maiúsculo), é o sujeito das ideologias, que as representa e que, por meio delas, interpela os indivíduos em sujeitos. A primeira modalidade consiste numa superposição (num recobrimento) entre o sujeito da enunciação e o sujeito universal, de modo que a tomada de posição do sujeito realiza seu assujeitamento sob a forma do livre consentido. (PÊCHEUX, 1988, p. 215 grifos do autor). Essa superposição consiste em um processo de identificação entre o sujeito do discurso e os saberes da FD que o domina. O autor pontua que essa modalidade caracteriza o discurso do bom sujeito, pois este reflete espontaneamente o Sujeito, ou seja, os dizeres do sujeito são completamente determinados pelo interdiscurso. A segunda modalidade caracteriza o discurso no qual o sujeito da enunciação se volta contra o sujeito universal por meio de uma tomada de posição que consiste, desta vez, em uma separação (distanciamento, dúvida, questionamento, contestação, revolta...) com respeito ao que o sujeito universal lhe dá a pensar (PÊCHEUX, 1988, p. 215 grifos do autor) Nesse processo de contra-identificação, o sujeito questiona os saberes de sua FD dominante. Ele contesta os saberes que lhe são colocados por essa FD e passa a se contra-identificar com eles. De acordo com o autor, esse é o discurso do mau sujeito, uma vez que ele se distancia dos saberes de sua FD. 8 Pêcheux (1988), em uma nota de rodapé, explica o Sujeito Universal comparando-o à religião: para ele, Deus não existe, mas as religiões existem, e só existem por causa da crença em um Deus. Assim também é o Sujeito Universal: ele não existe, mas as ideologias que o representam existem. 21

22 Quanto à terceira modalidade, essa é uma consequência da segunda e constitui um trabalho (transformação-deslocamento) da forma-sujeito. (PÊCHEUX, 1988, p. 217 grifo do autor). Estamos nos referindo a um processo de desidentificação, que compreende o momento em que o sujeito se desidentifica com os saberes da FD que o domina e com sua respectiva forma-sujeito e se identifica com os saberes de uma FD outra. A ideologia, nesse processo, não desaparece, mas passa a produzir outros sentidos, funcionando sobre e contra si mesma. Esse não desaparecimento da ideologia evidencia a transformação da formasujeito e não significa que este se desconstitui ou que deixa de ser afetado pelo inconsciente. O processo de desidentificação com uma FD e identificação com outra faz com que o sujeito, inconscientemente, interpele-se por uma outra ideologia e produza outros enunciados com diferentes sentidos. Não há, pois, um processo de dessubjetivação que liberta o sujeito de um domínio de saber, há uma outra constituição do sujeito e uma outra interpelação por uma ideologia outra. Assim, de acordo com Grigoletto (2005, p.66), os saberes que circulavam na antiga FD não se apagam, mas ficam recalcados e podem retornar em diferentes movimentos do sujeito, ainda que sempre produzindo novos sentidos. Então, o que rompem são os sentidos e não, necessariamente, os saberes. É necessário, aqui, enfatizar que, mesmo próximas, a segunda e a terceira modalidades não podem ser confundidas. Para que, em determinada enunciação, haja um processo de desidentificação entre o sujeito e os saberes de sua FD dominante, é preciso que se constitua um novo domínio de saber e que a interpelação ideológica do sujeito sofra um deslocamento significativo (INDURSKY, 2000, p.80). Isso significa que o sujeito se desidentifica quando ele não se interpela mais pela ideologia de determinada formação discursiva e se identifica com outra. Com base nessa discussão, podemos perceber, mais uma vez, que o sujeito enquanto unidade é apenas efeito. Na primeira modalidade, de fato, essa ilusão é perceptível, pois, identificando-se com os saberes de sua FD, o sujeito não passa por um processo de discordância. No entanto, no que tange à segunda e à terceira modalidades, verificamos que a homogeneidade do sujeito é apenas efeito, pois sua tomada de posição é discordante, contraditória à sua FD. 22

23 Em nossas análises, pretendemos verificar como acontecem esses funcionamentos subjetivos entre as instâncias enunciativas sujeitudinais e as instâncias enunciativas sentidurais, considerando as formações discursivas nas quais essas instâncias se inscrevem e as suas respectivas posições enunciativas. 2.4 As instâncias enunciativas sujeitudinais Veja e Época Após discutirmos a noção de sujeito, faz-se necessário discutir sobre a reflexão teórica realizada por Santos (2009) no que tange à noção de instância enunciativa sujeitudinal (doravante IESuj) e sobre a forma com que as instituições midiáticas Veja e Época se configuram como tal. De acordo com o autor (op. cit.), consideramos a instância enunciativa sujeitudinal como uma alteridade de instâncias-sujeito no interior de um processo enunciativo. Denomina-se instância, pela oscilação discursiva pela qual o sujeito do discurso passa entre um lugar social e um lugar discursivo. Da mesma forma, denomina-se enunciativa, pelo caráter único e singular, balizador das inscrições discursivas de uma instância-sujeito, e, por fim, denomina-se sujeitudinal pelo caráter de movência contínua em alteridade constitutiva, demarcada por funcionamentos interdiscursivos, os quais evidenciam uma diversidade de tomadas de posição da instância-sujeito. Quando, então, o sujeito ocupa uma posição de lugar discursivo, lugar social ou ambos, em alteridade, ele instaurará um processo de identificação e desidentificação desses e nesses lugares. Essa inserção posicional de natureza interpelativo-ideológico-heterotópica o transforma em instância enunciativa sujeitudinal. (grifos do autor) (SANTOS, 2009, p.85) Nessa perspectiva, as instituições midiáticas Veja e Época, tomadas como corpus neste estudo, configuram-se como Instâncias Enunciativas Sujeitudinais na medida em que, dotadas de determinadas inscrições ideológicas, são interpeladas, tomam uma 23

24 posição diante desse processo de interpelação e passam a ocupar um lugar em um processo de enunciação, ou seja, passam a ocupar um lugar discursivo. 2.5 As instâncias enunciativas sentidurais candidatos à presidência da República Quanto à instância enunciativa sentidural, a exemplo do que foi abordado ao discutirmos a noção de instância enunciativa sujeitudinal (Santos, 2009), a denominação instância enunciativa sentidural (doravante IESen) também está relacionada à configuração de um sentido que emerge no interior de um processo enunciativo. Desse modo, os candidatos à presidência da República configuram-se como instâncias enunciativas sentidurais na medida em que as instâncias enunciativas sujeitudinais significam suas candidaturas, produzindo e deslocando sentidos pela forma como são enunciadas pelas instâncias enunciativas sujeitudinais. Passíveis dessa movência dos sentidos de suas candidaturas, os candidatos tornam-se instâncias enunciativas sentidurais. No que concerne à noção de sentido, entendemos que esse é o efeito de uma conjuntura de significações, na clivagem de um sujeito, no interior de um acontecimento linguageiro em uma enunciação. Ele só é produzido pela constituição do sujeito, ou, mais especificamente, só se instaura a partir da tomada de posição do sujeito. De acordo com as reflexões de Pêcheux (1988), (o sentido) é determinado pelas posições sócio-ideológicas que estão em jogo no processo sócio-histórico no qual as palavras, expressões e proposições são produzidas (isto é, reproduzidas) [...] e mudam de sentido segundo as posições sustentadas por aqueles que as empregam [...], isto é, em referência às formações ideológicas nas quais essas posições se inscrevem. (p.160). Nessa perspectiva, podemos compreender que o sentido é decorrente das condições de produção dos discursos e, consequentemente, das formações discursivas dos sujeitos em interlocução. Assim, um enunciado pode ter diferentes efeitos enunciativos de acordo com a natureza da interpelação sofrida pelo sujeito no processo de enunciação. São esses efeitos que determinam as inscrições discursivas dessas instâncias-sujeito. 24

25 Nas análises que propomos, explicitaremos como as instâncias enunciativas sujeitudinais Veja e Época movem, deslocam e constroem sentidos acerca das candidaturas, produzindo e deslocando sentidos acerca delas. 2.6 Os efeitos de sentido e o papel da memória Os sentidos são produzidos, deslocados e re-significados no interior do funcionamento discursivo. Na verdade, eles são efeitos de sentidos, pois eles se constituem no momento da enunciação e variam de acordo com aqueles que estão envolvidos nesse processo. Compreender a produção desses efeitos de sentidos pelo viés da memória é pensar no discurso como pertencente à ordem dos já-ditos, que podem ser re-significados em determinada enunciação. Na tentativa, talvez ilusória, de explicar melhor essa questão, discutamos sobre a noção de memória. A memória é da ordem dos implícitos. Ela funciona a partir do trabalho de operadores já monumentalizados por um grupo social, operadores esses que, justamente por já estarem inseridos nesse grupo, não precisam ser explicitados para poderem produzir significações. Esses operadores funcionam de modo a relacionar a memória coletiva com a história. Entendemos que memória coletiva é um saber compartilhado por uma coletividade, saber este que pode não estar em nível do consciente, ou seja, sujeitos podem compartilhar um saber sem ter consciência disso. Os saberes compartilhados estão inscritos na história e (re)produzem significações, o que faz com que os operadores trabalhem atualizando informações. De acordo com Achard, Do ponto de vista discursivo, o implícito trabalha então sobre a base de um imaginário que o representa como memorizado, enquanto cada discurso, ao pressupô-lo, vai fazer apelo a sua (re)construção, sob a restrição no vazio de que eles respeitem as formas que permitam sua inserção por paráfrase. (2010, p.13) 25

26 Isso significa que há um vazio no discurso que será preenchido por uma paráfrase. Esta trabalhará (re)produzindo significações, as quais dependem/variam das condições em que são atualizadas, ou seja, registros podem ser recuperados pela memória, mas o sujeito responsável por essa recuperação pode promover deslocamentos nos sentidos (re)produzidos. Em nossas análises, procuraremos explicitar a função que a memória exerce no funcionamento do discurso midiático de forma a construir e/ou deslocar sentidos. Veremos que cores, palavras e fotos são utilizadas pelas IESuj Veja e Época como operadores de memória que possuem a finalidade de atualizar registros dos candidatos e ressignificá-los. Essa atualização promove novas leituras e, consequentemente, evidencia as tomadas de posição das IESuj. 2.7 O lugar da AD na abordagem do discurso midiático: as formações discursivas e as formações ideológicas Quanto às formações ideológicas, essas são os elementos que permitem a construção de uma convicção acerca de um dado acontecimento. Essas formações comportam as formações discursivas que, de acordo com Pêcheux, (1988) determinam o que pode e deve ser dito. Isso significa que os enunciados significam de acordo com a FD em que são produzidos. Aprofundando um pouco nessa questão, de acordo com Foucault (2012), as formações discursivas são grupos de enunciados e/ou saberes que têm uma temática em comum, que obedecem a certa regularidade. Elas são heterogêneas e atravessadas umas pelas outras. Cada FD comporta uma posição-sujeito. Assim, quando um sujeito é interpelado e se posiciona, ele está se inscrevendo em uma formação discursiva e se posicionando em relação aos saberes que constituem essa FD. E quando o sujeito se posiciona e enuncia é possível, por meio de seus enunciados, perceber em que FDs ele se inscreve. No encaminhamento da pesquisa, analisaremos reportagens referentes às candidaturas à presidência da República e tentaremos explicitar as evidências de significações que remetem às inscrições ideológicas e sócio-políticas que constituem os dizeres das instituições midiáticas em estudo. Além disso, buscaremos enunciados que 26

27 evidenciem o lugar discursivo no qual elas se inscrevem para, enfim, analisarmos os efeitos de sentidos produzidos devido a essa inscrição. 2.8 A governamentalidade, a vontade de verdade e os rituais no discurso midiático De acordo com as teorizações de Foucault (1979), é no contexto da governamentalidade moderna que surge, pela primeira vez, o problema da população, entendida não como o conjunto de indivíduos em uma localidade, mas como a realidade dos fenômenos próprios à população (1979, p.288). A essa concepção de população, ele relaciona o termo biopolítica, entendida como a gestão da população e de seus problemas (higiene, alimentação, saúde, etc.), na medida em que esses se tornam preocupações políticas. No cenário da política, é muito recorrente a citação de problemas referentes à população na tentativa de legitimação de verdades, o que é re-significado pelas instituições midiáticas. Nesse sentido, pretendemos discutir como as IESuj representam as formas como pensam que os candidatos tentam atingir a população por meio do discurso relativo à família, pois, segundo Foucault, Quando se quiser obter alguma coisa da população [...] é pela família que se deverá passar (2012, p.425). Considerando que esta proposta de investigação se baseia em campanhas eleitorais, explicitaremos a forma com que as instituições midiáticas significam o modo dos candidatos tentarem obter votos por meio de discursos constituídos por alusões aos problemas que as famílias enfrentam. A forma como as IESuj significam a relação entre os candidatos e a questão da governamentalidade é uma tentativa de inscrevê-los no que Foucault (2009) denomina como ordem do discurso. De acordo com o filósofo, essa ordem se constitui de grupos de procedimentos, compostos por princípios, que excluem, delimitam e controlam os discursos. Inscrever-se na ordem do discurso é, então, saber o que é interditado e o que é permitido em determinada enunciação. Dentre esses princípios, é relevante para nós ressaltar a vontade de verdade e o ritual. Segundo o princípio da vontade de verdade, que se refere à vontade de dizer o discurso verdadeiro, estão em jogo o desejo e o poder. Para Foucault (2009), essa 27

28 vontade de verdade [...] tende a exercer sobre os outros discursos [...] uma espécie de pressão e como que um poder de coerção. (p. 18) Nesta investigação, explicitaremos como são construídas as verdades que carregam a significação de desejos. Mais especificamente, tentaremos explicitar, nos enunciados das materialidades, sentidos que denotem o desejo, por parte das instâncias midiáticas, de defender uma determinada candidatura em detrimento de outra, sentidos esses que podem ser construídos por meio da pressão e da tentativa de coerção. Tentaremos mostrar que a exposição de números estatísticos e a evocação do discurso do outro são formas de produzir um efeito de veracidade nos discursos, efeito esse que é uma tentativa de legitimação de lugar de verdade. No que concerne ao princípio do ritual, de acordo com este autor (op. cit.), tal princípio define a qualificação que devem possuir os indivíduos que falam [...]; define o conjunto de signos que devem acompanhar o discurso e fixa a eficácia das palavras, seus efeitos e seus limites de coerção. (p.39) Nessa perspectiva, sabemos que toda candidatura é dotada de uma história, que aparece juntamente com a evocação de um conjunto de signos que apresenta a qualificação desejada para o indivíduo que vai ocupar a posição de candidato. Esse conjunto de signos aponta para comportamentos que definem um candidato canônico, ou seja, que tem domínio da norma culta da língua portuguesa, que tem uma família estável, religioso, etc. Em nossas análises, explicitaremos sentidos que evidenciam a tentativa das IESuj de mostrar os candidatos cumprindo esse ritual, o que é uma tentativa de aproximá-los do que é considerado cânone. Discutindo essas noções, pretendemos, então, examinar como as instâncias enunciativas sujeitudinais Veja e Época constroem sentidos acerca das instâncias enunciativas sentidurais candidatos à presidência da República de forma a explicitar evidências que apontem para processos de identificação e contra-identificação entre elas. 28

29 CAPÍTULO 3 FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA Com o intuito de procurar por regularidades que apontem para processos de identificação e de contra-identificação entre as instâncias enunciativas sujeitudinais e as instâncias enunciativas sentidurais, comecemos por explicitar a natureza de nossos recortes. O corpus de nossa pesquisa consiste em reportagens retiradas das revistas Veja e Época, as quais fazem referência a candidatos à presidência da República. Como objetivamos examinar as regularidades que apontam para os processos de identificação entre as instâncias enunciativas sujeitudinais e os candidatos à presidência de filiação política de direita e de contra-identificação entre as IESuj e os candidatos de filiação política de frente popular, optamos por selecionar reportagens publicadas em Foi neste ano que ocorreram as últimas eleições, se considerarmos o momento em que este trabalho foi concluído, e, nesse período, encontramos a quantidade necessária de corpora para ser analisado. Ao selecionar as reportagens e fazer recortes que explicitem as regularidades supracitadas, faremos a análise de materialidades linguístico-discursivas verbo-visuais. Quanto às verbais, estamos nos referindo às materialidades linguísticas, textuais. Em relação às visuais, é pertinente explicitar que se constituem de fotos dos candidatos ou de alguma referência a eles. Acreditamos na relevância da análise dessas ilustrações porque há um mito de que elas são um retrato fiel da realidade. Pretendemos então, examinar como as IESuj significam as candidaturas por meio dessas ilustrações que também são um recorte, ou seja, também são escolhidas e produzem discursos. No senso comum, enunciados verbais até podem ser passíveis de questionamentos, mas fotos geralmente não o são e isso as torna uma ferramenta de legitimação de saberes. Em outras palavras, as fotos não costumam ser questionadas porque se foram registradas e documentadas visualmente é porque as situações expostas realmente aconteceram. Analisá-las, então, principalmente, em diálogo com as materialidades verbais é relevante na busca por regularidades de processos de (contra) identificação, pois, mesmo em uma linguagem velada, elas também significam. 29

30 Quanto às materialidades verbais, essas serão divididas em dois níveis: macro e micro. Na instância macro, selecionaremos sequências discursivas (doravante SDs) que podem ser definidas como um trecho recortado de uma enunciação em que se evidencia a ocorrência de uma dada regularidade em análise. Na instância micro, trabalharemos com enunciados-operadores de sentido, que são recortes feitos no interior de uma SD que tomaremos como unidade de ilustração. O uso dessa unidade é significativo porque, por se constituir de fragmentos pontuais, oferece maior possibilidade de enfoque nas regularidades, ou seja, os enunciados-operadores nos possibilitam uma análise mais minuciosa das sequências-discursivas. Procuraremos, então, por SDs que explicitem significações que, mesmo em uma linguagem velada, possam evidenciar o lugar discursivo em que as instâncias enunciativas sujeitudinais se colocam e como elas produzem sentidos sobre os candidatos à presidência da República, posicionando-se, assim, frente às suas candidaturas. Por fim, ao fazer os recortes das SDs, faremos uma interpretação de suas condições de produção, considerando as inscrições ideológicas subjacentes às instituições midiáticas, uma vez que os discursos enunciados por elas representam uma materialidade linguística da ideologia. 30

31 CAPÍTULO 4 INSTÂNCIAS MIDIÁTICAS: SUJEITOS DISCURSIVOS NO DISCURSO POLÍTICO 4.1. Considerações preliminares Em nossas análises, optamos por começar a trabalhar com materialidades verbais. Em seguida, passaremos às materialidades verbo-visuais Análise de materialidades verbais Começaremos nosso exercício de análise por uma sequência discursiva retirada da reportagem publicada na Veja online, da edição de 20 de outubro de 2010: SD1 Militantes do PT agridem José Serra e apedrejam van A campanha presidencial atingiu seu ponto de mais baixo nível no início da tarde desta quarta-feira no Rio de Janeiro, com militantes petistas apedrejando a comitiva do candidato José Serra e causando tumulto no Calçadão de Campo Grande, na zona oeste da cidade. O candidato tucano chegou a ser atingido na cabeça por um rolo de fita adesiva arremessado por militantes com bandeiras do PT e um pastor da Assembléia de Deus levou uma vassourada na cabeça. Parece tropa de assalto. Já houve várias vezes em São Paulo. O PT tem tropa de choque, é automático. Não sei se foi de propósito ou não. Lembra da tropa de choque nazista? Isso é típico de movimentos fascistas, disse Serra, que chegou a interromper a caminhada. (...) O candidato chegou a caminhar por cerca de cinco minutos, mas foi cercado por manifestantes com cartazes com ofensas a ele em alguns deles era chamado de assassino e bandeiras do PT. Um grupo de cerca de 30 pastores da Assembléia de Deus improvisou um cordão de isolamento para proteger o candidato, mas a confusão já tinha se espalhado. Comerciantes fecharam as portas e manifestantes atacaram a comitiva de Serra com bandeiradas e arremessando objetos. Chegaram a ser lançadas pedras contra a van em que estavam Serra e o candidato a vice, Índio da Costa. (...). 31

32 Ao tentar defender o candidato, o pastor Paulo Cesar Gomes, 59 anos, foi ferido na cabeça por um cabo de vassoura. Tentei interferir e levei a pior. Tomei uma vassourada, contou. (...) Primeiramente, chama-nos a atenção o uso de verbos que remetem à violência: agridem, apedrejam, apedrejando, atingido na cabeça, vassourada, cercado, bandeiradas, arremessando objetos, pedras lançadas, ferido na cabeça. Eles dialogam com a forma com que Veja se refere aos petistas: militantes, tropas de choque nazistas, movimentos fascistas, manifestantes. A escolha desses termos e expressões evoca o discurso da violência que produz um efeito de caracterização pejorativa dos petistas, como se eles fossem criminosos, arruaceiros. Além disso, a utilização das expressões tropas de choque nazistas e movimentos fascistas é um operador de memória que remete a Adolf Hitler, líder do partido nazista que, durante sua liderança na Alemanha, foi associado ao extermínio de grupos minoritários considerados indesejados, como os deficientes mentais, homossexuais, ciganos e, principalmente, os judeus. Associar Hitler ao extermínio de milhares de pessoas é um saber coletivo, é da ordem da memória coletiva. Assim, percebemos que Veja atualiza a imagem de violência de Hitler e a re-significa no Partido dos Trabalhadores, promovendo uma comparação entre o líder alemão e os petistas. Aprofundando, ainda, nos domínios da memória, no que diz respeito a Hitler, se este foi o responsável pela dizimação de pessoas consideradas inocentes, a imagem destes também é atualizada pela instituição midiática, que tenta inscrever José Serra e sua comitiva na mesma posição discursiva de inocência das vítimas de Hitler. O atravessamento do discurso da violência faz com que os chamados militantes do PT, aqueles que supostamente agrediram José Serra, inscrevam-se na posição discursiva da rebeldia. Isso que pode ser interpretado como uma tentativa, por parte de Veja, de construir uma imagem pejorativa acerca dos simpatizantes do PT que teriam participado da confusão, imagem essa que se estenderia a qualquer pessoa que se identificasse com o partido. Em outras palavras, podemos dizer que Veja tenta fazer com que todos os petistas se inscrevam na mesma posição discursiva daqueles que teriam participado do incidente: posição de rebeldia. 32

33 Outra consideração a ser feita sobre esse excerto é o atravessamento do discurso religioso, que é materializado na narração do que teria acontecido com o pastor evangélico e na presença da fala direta desse. O fato de Veja ter dado voz ao pastor para que ele narrasse o que teria acontecido evidencia uma tentativa de construção de verdade do acontecimento, o que provoca um efeito de veracidade da reportagem. Trazer a voz de outro que se inscreve na mesma posição discursiva de Veja, de contraidentificação com o PT, autoriza o discurso de Veja, legitimando-o. E quando o outro chamado já tem um lugar social legitimado, que é o caso de um líder religioso, o discurso da IESuj também se legitima, o que confere a esta um lugar de produção de verdade. Além disso, a menção ao grupo de pastores da Assembleia de Deus que tentou proteger o candidato aponta para a evidência de que Veja tenta promover uma identificação entre os religiosos e o candidato por meio da apelação ao discurso religioso. Ao produzir um efeito de sentido de que o líder religioso se inscreve na posição discursiva de identificação com o PSDB, Veja tenta fazer com que os seguidores da religião se inscrevam na mesma posição. É pertinente, também, observar que Veja dá voz a José Serra e ao pastor para que esses contem o que aconteceu, mas nenhum daqueles que teriam praticado a violência foi ouvido. O apagamento da voz dos arruaceiros impossibilita ao leitor conhecer a versão deles a respeito do ocorrido, o que legitima ainda mais os dizeres daqueles que foram ouvidos. Esse apagamento do discurso do outro dialoga com o posicionamento de Veja em enunciar a presença de petistas na confusão. Essas observações nos fazem questionar: Que tipo de agressão ocorreu?, José Serra e aqueles que o protegeram revidaram?, o que motivou a confusão?, havia somente petistas entre os agressores?. É perceptível que a forma como Veja constrói seus enunciados produz um efeito de veracidade tão forte que não deixa espaço para esses questionamentos, cujas respostas poderiam produzir outras verdades acerca do ocorrido. Percebemos, assim, evidências de que Veja se identifica com o candidato do PSDB, José Serra. 33

34 4.3. Níveis relacionais entre o verbal e o visual Começaremos nosso exercício de análise com uma reportagem publicada na edição de Veja, de 21 de abril de No que concerne às condições em que essa foto foi produzida, é pertinente explicitar que era o momento pré-eleições presidenciais, ou seja, os candidatos estavam na campanha política das eleições

35 Figura 1: Ilustração intitulada Em paz, publicada na edição de Veja de 21/04/

36 Na foto, o candidato foi fotografado em um ambiente parecido com um escritório ou uma biblioteca. Serra está de óculos, lendo um livro, trajado socialmente de calça de linho, camisa e sapatos sociais. Ele está sentado em uma poltrona bege e há uma estante marrom, ao fundo, repleta de livros. Percebe-se um tom bastante formal na foto, efeito que é produzido, também, pela presença de cores escuras e fechadas. Esse efeito de formalidade produz um efeito de intelectualidade, qualidade que, historicamente, é indispensável a um presidente da República. Estamos nos referindo ao estereótipo de intelectualidade eurocêntrica que foi difundida também no Brasil. Essa falsa intelectualidade estaria relacionada justamente a hábitos como estar cercado de livros, usar roupas formais de tons pastel, ser uma pessoa serena, etc. Esse estereótipo diz respeito ao discurso atravessado por saberes relativos a formalidade, conhecimentos eruditos e a locais que denotam estes saberes. Notamos, então, que Veja tenta fazer com que Serra cumpra o que Foucault (2009) define como ritual, o que faz com que o candidato se inscreva na ordem do discurso político. Estar cercado por livros em um ambiente formal, comportando-se como um intelectual, no contexto das eleições presidenciais de 2010, evidencia uma tentativa de Veja de estabelecer uma relação de poder com o público leitor/eleitor. Por meio dessa relação, a instituição midiática tenta impor aos leitores que Serra é o candidato mais indicado ao cargo de presidente da República, uma vez que ele possui os signos que acompanham o sujeito apto ao cargo. Esse efeito de formalidade e de serenidade dialoga com o enunciado Com a casa em ordem : este enunciado recupera a imagem de alguém que, conforme o título da foto, está em paz, ou seja, não deve nada. Isso significa que Veja tenta mostrar que Serra, por estar com a própria casa (seu partido) em ordem, pode governar a casa dos outros, o Brasil. Para aprofundarmos nessa discussão, podemos nos perguntar: por que José Serra não foi fotografado em um ambiente informal, em vez de tê-lo sido no escritório? Ir à praia, usar roupas de banho e ingerir bebidas alcoólicas são comportamentos comuns e habituais a grande parte da população brasileira. Por que Veja não publicou uma foto de Serra nessas circunstâncias? Aprofundando um pouco mais na ilustração 1, Courtine (2003, p.24), afirma que as boas perguntas políticas são aquelas feitas em domicílio, enquanto a câmera examina os objetos íntimos, explora os detalhes pessoais, volta incansavelmente ao 36

37 rosto cuja dimensão interior ela quer perscrutar ao máximo. A exposição da intimidade do candidato causa um efeito de aproximação do público, como se ele fosse uma pessoa acessível. No entanto, Courtine afirma que essa é uma proximidade longínqua, principalmente pelo fato de que a produção da foto não é disponibilizada ao público. O que está na revista é um recorte, ou seja, a foto pode ser forjada. Então, o fato de a instância enunciativa sujeitudinal Veja ter colocado essa ilustração do candidato não significa que ele possa ser apto por se inscrever na ordem do discurso político, mas evidencia que a IESuj Veja se inscreve numa formação discursiva que podemos denominar de identificação com os candidatos do PSDB. Então, voltando à pergunta sobre o motivo de Veja não ter fotografado Serra em um ambiente informal, é relevante descrever uma ilustração em que o candidato está na praia, no lançamento do Programa Praia Acessível, em 15 de fevereiro de O programa consiste em disponibilizar cadeiras de rodas anfíbias em cidades do litoral, garantindo o pleno acesso das pessoas com deficiência às praias paulistas. Publicada no Estadão online, a foto apresenta o candidato na água, com uma camisa pólo azul clara, apoiando, juntamente com outro homem, uma cadeirante. Nessa foto, percebemos que há uma tentativa de humanizar o candidato, na medida em que ele demonstra felicidade em poder ajudar uma cadeirante a entrar no mar. Figura 2: José Serra no Programa Praia Acessível 37

38 Nessa foto, Serra, mais uma vez, cumpre o ritual: o candidato, arregaçando as mangas e entrando na água para ajudar a cadeirante evoca o discurso da caridade e da humanidade, que é atravessado pelo discurso religioso do fazer o bem, de praticar boas ações, o que nos remete à questão da governamentalidade. O Estadão tenta construir a imagem de um candidato que se preocupa com as necessidades daqueles que possuem alguma deficiência. Esse efeito pode provocar uma aproximação entre Serra e os leitores, principalmente aqueles que são ou que convivem com pessoas deficientes. Essa aproximação é uma tentativa de inscrever o candidato e os eleitores no mesmo lugar. A escolha por imagens atravessadas por vozes que evocam o discurso da intelectualidade e da caridade faz com que Serra faça parte do ritual que se deve seguir para poder ser considerado apto para o cargo de presidente da República. Apresentá-lo, então, em circunstâncias informais, por mais que essas sejam habituais, produziria um efeito de irresponsabilidade, de falta de seriedade com as questões políticas. Além disso, inscrever o candidato no discurso do que é habitual para a população brasileira, o colocaria no mesmo nível, até mesmo intelectual, de todos, o que não o tornaria diferente. Ainda no que tange à ilustração 1, é relevante fazer algumas observações sobre o texto da reportagem. SD2 Com a casa em ordem, Serra vai à luta Depois de unificar o PSDB em torno da sua candidatura, José Serra começa a pavimentar o caminho rumo ao seu objetivo: liderar o Brasil na era pós-lula. Chama-nos a atenção, primeiramente, a tentativa de Veja de inscrever José Serra em um discurso de autonomia. Não há uma contextualização sobre o processo, mas a instituição midiática afirma que o candidato foi quem unificou o partido em torno da sua candidatura. Essa afirmação, no entanto, pode produzir um efeito de sentido outro: o de que o candidato teria imposto sua candidatura. Conhecendo as filiações políticas de Veja, podemos dizer que a segunda interpretação é um efeito da opacidade da linguagem, um sentido que escapou à instância enunciativa sujeitudinal. 38

39 Em seguida, Veja afirma que o objetivo do candidato é liderar o Brasil. Ela não dá voz a ele nesse enunciado, mas, como Serra foi inscrito em uma posição de autonomia, o apagamento de sua voz que pode ser interpretado como uma tentativa, pela instituição midiática, de construir uma afinidade de objetivos entre ambos, como se Veja e Serra o quisessem na presidência. No fim da SD, Veja menciona a era pós-lula. O uso do termo era marca o posicionamento de renovação, da hora da mudança : como se Lula já tivesse ficado muito tempo no poder. Nesse momento, é relevante discutirmos a capa da edição em que essa reportagem foi publicada. 39

40 Figura 3: Ilustração da capa de Veja da edição de 21/04/

41 Quanto à foto, Serra foi fotografado com uma expressão tranquila e sorridente. A epígrafe enuncia: Serra e o Brasil pós-lula Eu me preparei a vida inteira para ser presidente. Nessa materialidade, Veja dá voz a Serra, conferindo, ilusoriamente, a ele a origem desse enunciado (o que pode ser percebido pelo uso das aspas). Mais uma vez, não há uma contextualização sobre quando o candidato teria dito que se preparou a vida inteira para isso, o que, novamente, constrói um processo de afinidade entre os objetivos de Veja e de Serra quanto à ocupação da presidência por este. Em outras palavras, essa alternância de vozes, ora da instituição midiática, ora do próprio candidato, constrói uma ilusão de que os objetivos são afins. Há, também, na epígrafe, o atravessamento do discurso da aptidão. Como o candidato teria se preparado a vida inteira para ser presidente, ele ocupa a posição de mais apto. Este discurso, o da autonomia e a foto do candidato, que constrói um efeito de tranquilidade, apagam os efeitos da disputa presidencial. Da forma como a capa foi editada, não é possível saber o quão disputada a eleição estava, pois, pelo ar sereno do candidato e pela afirmação de que ele estava preparado, sua vitória já estaria certa, o que é um efeito construído pela enunciação. Voltando, mais uma vez, à ilustração 1, é relevante fazer algumas observações sobre o texto da reportagem. SD3 Ungido há menos de dez dias candidato oficial do PSDB à Presidência da República, José Serra não poderia encontrar ambiente mais propício para iniciar sua campanha. Duas novidades contribuem para isso. A primeira é que os tucanos estão animadíssimos o que havia muito tempo não ocorria. (...) Na semana passada, o PSDB parecia ter reencontrado o seu eixo. Ao barulhento lançamento da candidatura de Serra, acorreram mais de 6000 militantes do partido. Vindos de todos os estados, carregavam bandeiras, espremiam-se uns contra os outros e cantavam sem parar no amplo auditório alugado pela sigla. (...) O motivo da animação é que o PSDB, finalmente, tem um projeto definido, aprovado e defendido por todos na sigla: eleger José Serra presidente da República. E eis aí o segundo elemento a pavimentar o caminho de Serra nessa campanha. Seu partido vai unido para a briga. E isso, tratando-se do PSDB, é outra grande novidade. O próprio Serra é o maior responsável pela unificação do partido. 41

42 Comecemos nossa discussão pelo primeiro enunciado: Ungido há menos de dez dias candidato oficial do PSDB à Presidência da República. O termo ungido evoca a voz da religião, pois é muito utilizado nesse contexto. Ungir significa consagrar. Considerando o contexto do enunciado, está silenciado o sentido de que todos os copartidários de Serra o escolheram como candidato, eles o abençoaram. Esse silenciamento, no entanto, apaga possíveis conflitos que possam ter ocorrido no partido. Nos enunciados seguintes, verificamos que Veja continua produzindo um efeito de coletividade, união e concordância entre os partidários do PSDB. Esse efeito estaria em âmbito nacional, pois, no lançamento da candidatura de Serra, havia tucanos vindos de todos os estados. Em seguida, Veja continua afirmando a união do partido com o enunciado O motivo da animação é que o PSDB, finalmente, tem um projeto definido, aprovado e defendido por todos na sigla: eleger José Serra presidente da República. Nesse momento, percebemos que a instituição midiática chama mais uma voz para reiterar o que já observamos: não é só a instância midiática e o candidato Serra que o querem na presidência; todos os partidários do PSDB, em todo o Brasil, também o querem. Percebemos, então, como é construído um efeito de afinidade entre posições discursivas, pois, no que tange à Presidência da República, a mídia, o candidato José Serra e a população estariam inscritas no mesmo lugar. E esse efeito continua sendo produzido em E eis aí o segundo elemento a pavimentar o caminho de Serra nessa campanha. Seu partido vai unido para a briga. No entanto, esse sentido de afinidade que é construído pode produzir um efeito de denegação. Isso significa que é questionável quando o sujeito tenta reafirmar, reiterar um discurso. Tentar inscrever população brasileira, candidato e mídia na mesma posição discursiva pode produzir um efeito de apagamento de possíveis conflitos entre eles. Por fim, mais uma vez, Veja inscreve José Serra em uma posição discursiva de autonomia, pois afirma que O próprio Serra é o maior responsável pela unificação do partido.. Essa inscrição, juntamente ao efeito de afinidade que a instância midiática tenta construir entre, o candidato e a população, apontam para um processo de identificação entre a instância enunciativa sujeitudinal Veja e a instância enunciativa sentidural candidato José Serra. 42

43 Analisaremos, agora, uma reportagem publicada em Veja, na edição de 06 de outubro de Ela se refere ao debate presidencial transmitido pela Rede Globo, no qual estavam presentes os candidatos José Serra (PSDB), Plínio de Arruda (PSOL), Marina Silva (PV) e Dilma Rousseff (PT), candidatos esses cujos partidos têm mais representação parlamentar na câmara, ou seja, eram os principais candidatos. O debate foi ao ar no dia 30 de setembro de Começando a análise pela capa da referida edição, temos um fundo completamente branco, no formato de uma folha de papel, na qual consta um único enunciado: As grandes propostas para o Brasil feitas na campanha presidencial: Depois dos dois pontos, somente o papel em branco e não há menção a nenhum dos candidatos que estavam presentes no debate. Figura 4: Ilustração da capa de Veja da edição de 06/10/

44 O fato de a IESuj Veja não ter completado o espaço que seria destinado às propostas dos candidatos produz o efeito de inexistência ou irrelevância delas, como se os candidatos não tivessem debatido sobre nada útil ao país. Esse efeito, juntamente ao silenciamento dos nomes dos candidatos, como se não existissem plataformas políticas, evidencia uma tentativa de Veja de inscrever todos os candidatos na mesma posição discursiva de incapacidade para o debate. Como partimos da hipótese de que há uma parcialidade explícita por parte da instituição midiática que direciona sua posição política a favor dos candidatos do PSDB, acreditamos que essa tentativa de Veja de inscrever os candidatos na mesma posição, aponta para uma tentativa de se colocar numa posição discursiva de neutralidade, o que corrobora com o mito da imparcialidade jornalística. No entanto, veremos, mais à frente, como esse efeito se desloca e desliza para a tomada de posição da IESuj. Passando para a reportagem, temos o título Insosso, insípido e inodoro e a epígrafe: O último debate entre os presidenciáveis foi o retrato fiel da campanha: uma conversa municipal pautada por pesquisas que, em vez de termômetro, se tornaram bússola. 44

45 Figura 5: Ilustração intitulada Linguagem corporal, publicada na edição de Veja de 06/10/

46 O título e a epígrafe corroboram o efeito de sentido construído na capa: os candidatos estariam inscritos na mesma posição de incompetência e Veja estaria se posicionando imparcialmente em relação às candidaturas. Essa articulação discursiva é uma tentativa de atrair o leitor por um efeito de transparência que confere à revista um lugar de produção de verdades e de neutralidade. Também é relevante pontuar que Veja não evoca a voz de outros sujeitos quando compara o debate à campanha e afirma que ambos estão no mesmo nível de inutilidade. A IESuj poderia ter chamado outras vozes, como a de outros veículos midiáticos. Essa construção marca que a comparação é uma tomada de posição da instância midiática e que esta tem um lugar de autoridade entre muitos eleitores. Essa não necessidade de chamar o outro para se legitimar pode produzir e fazer circular a imagem de que a campanha presidencial estava muito aquém do que era esperado. Quando essa imagem circula, ela é discursivizada e se cristaliza, o que a torna um saber comum. Em seguida, no início da reportagem, temos a seguinte sequência discursiva: SD4 Nos últimos dois meses, só nas propagandas em rede nacional de TV, Dilma Rousseff, do PT, José Serra, do PSDB e Marina Silva, do PV, gastaram juntos doze horas e 52 minutos para tentar explicar como cada um deles, se eleito presidente da República, pretendia melhorar o país. O resultado nem de longe correspondeu ao esforço. Com base no que se viu na TV e na propaganda eleitoral dos últimos meses, demarcar as diferenças de visão de cada candidato sobre temas sensíveis tornou-se uma tarefa impossível para o eleitor. Com as discussões se dando em um patamar equivalente ao de um debate municipal e em que sobressaíram questões como a abertura de postos de saúde, a construção de casas populares e a contratação de professores -, o encontro de candidatos a presidente organizado pela Rede Globo na quinta-feira passada foi um resumo e um retrato fiel do que foi essa campanha. Apesar do alto grau de interesse do público segundo a medição do IBOPE, o programa começou com quase 30 pontos de audiência e terminou ao redor dos 20, o que se viu ali foi um indisfarçável déficit de ideias. Nota-se que, no início do excerto, a instituição midiática cita os três principais candidatos, em vez de não citar nenhum. Na sequência, ela pontua a falta de objetividade dos candidatos e a superficialidade dos debates que eles participam. Então, percebemos, mais uma vez, a tentativa de Veja de inscrever os candidatos na mesma posição. 46

47 Um ponto relevante dessa reportagem, que começa a ser percebido nesse excerto e fica mais explícito adiante, é o apagamento do candidato do PSOL, Plínio de Arruda, que também estava no debate. Na capa, a IESuj Veja não menciona nenhum candidato. Neste excerto, ela menciona Dilma Roussef, Marina Silva e José Serra. Nas duas primeiras páginas da reportagem, cuja diagramação foi feita para que elas ficassem no mesmo plano quando abertas, na parte superior das páginas, há a foto dos três candidatos em suas devidas posições, no debate: Serra à esquerda, Marina no meio e Dilma à direita; o candidato Plínio de Arruda também foi apagado da foto. Esse apagamento pode indicar uma tentativa de inferiorizá-lo em relação aos demais candidatos. Isso também é percebido nos destaques que Veja conferiu ao candidato: uma foto, cuja análise será feita adiante, e a seguinte sequência discursiva: SD5 Estavam no palco os três principais candidatos mais o aspirante a humorista Plínio de Arruda Sampaio do PSOL, que não desperdiçou uma chance de prestar sua contribuição ao empobrecimento do debate, como quando confundiu metrô com hidrovia e PIB com orçamentos. O que dissemos sobre a tentativa de Veja de inferiorizar Plínio pode ser corroborada por esses dizeres, pois aos três candidatos, Serra, Marina e Dilma, ela se refere como candidatos e, a ele, ela se refere como aspirante a humorista (ou seja, nem humorista ele é). Compreendemos, assim, que mesmo o partido de Plínio tendo representatividade suficiente para que o candidato fosse convidado para o debate, a IESuj não reconhece a sua candidatura. Também é perceptível que Veja recorta somente aqueles momentos que, ao que parece, foram os piores do candidato, assim como não há uma contextualização acerca das supostas confusões dele. Esses recortes, que podem ter passado por um processo de deslocamento de sentidos, pois a IESuj não transcreve os dizeres de Plínio, constroem uma imagem pejorativa inquestionável dele. Quanto à ilustração anteriormente mencionada, a única em que Plínio aparece, este foi fotografado de forma que pudesse ser ridicularizado devido à sua expressão facial. Essa foto corrobora com a inferiorização que Veja confere a ele. Adiciona-se, ainda, à foto a epígrafe: Plínio, bem, uma imagem vale por mil palavras... que pode 47

48 ser entendida como uma tentativa de resumir toda a ridicularidade do candidato e de seu partido construída por Veja. Figura 6: Ilustração intitulada Cabo eleitoral, publicada na edição de Veja de 06/10/

49 Toda esse articulação entre enunciados e imagens pode ser interpretada como a construção de um processo de desidentificação entre a IESuj Veja e a IESentidural candidato Plínio de Arruda. É relevante pontuar que acreditamos em um processo de desidentificação (e não de contra-identificação) entre as referidas instâncias porque percebemos que a IESuj Veja não se inscreve nas mesmas formações discursivas em que a IESen Plínio de Arruda se inscreve. Isso significa que aquela não reconhece a candidatura de Plínio. Não podemos, também, deixar de discutir sobre a diagramação da ilustração que fez com que a foto do presidente Lula 9 fosse colocada acima da de Plínio. A primeira observação a ser feita é que, como pode ser visto na ilustração, somente os dois estão na página, junto ao texto. Entre as fotos deles, há o seguinte enunciado: CABO ELEITORAL Lula trocou a liturgia do cargo pelo discurso destemperado de palanque; Plínio, bem, uma imagem vale por mil palavras.... Como já discutimos o enunciado relativo a Plínio, observemos os dizeres em relação a Lula. Veja afirma que este trocou a liturgia do cargo pelo discurso destemperado de palanque. Liturgia do cargo é uma expressão usada no cenário político que se refere às exigências do cargo, ou seja, às responsabilidades de quem ocupa determinado lugar. A utilização dessa expressão denota, então, o deslocamento da Instância Enunciativa Sentidural Lula do lugar de presidente para o lugar de falastrão. Essa nova inscrição é corroborada pela foto de Lula, na qual ele está em frente a um microfone, com os braços erguidos e uma expressão facial de quem está falando alto ou gritando. Essa imagem dialoga com a epígrafe e produz o efeito de que Lula já abdicou do cargo da presidência para se preocupar apenas em apoiar a candidatura de Dilma. Considerando, assim, as materialidades verbo-visuais da IESuj Veja acerca de Lula e de Plínio, podemos afirmar que aquela não se identifica com nenhum deles. Além disso, a forma como a diagramação foi feita, somente os dois homens em uma página com a referida epígrafe, atesta uma tentativa da instituição midiática de inscrevêlos nas mesmas posições discursivas de incompetência e de não intelectualidade. Passemos, agora, para a continuação da reportagem. Analisaremos a seguinte sequência discursiva: 9 Luís Inácio Lula da Silva, o então presidente da República, filiado ao Partido dos Trabalhadores. 49

50 SD6 De Dilma Rousseff, pode-se dizer que o único momento memorável foi quando ela, num retumbante ato falho, declarou a respeito do financiamento de sua campanha: Nós registramos todas as doações que são oficiais. A frase provocou gargalhadas na plateia por embutir a noção de que há um conjunto de doações que não é oficial. Em política profissional, o nome disso é caixa dois. Percebemos, em SD1, que a instituição midiática recorta um trecho polêmico da fala da candidata. O enunciado Nós registramos todas as doações que são oficiais, ao ser analisado semanticamente, pode produzir uma ambiguidade: o complemento que são oficiais pode produzir o sentido de que todas as doações são oficiais ou de que são registradas somente as doações que são oficiais, ou seja, algumas doações não o são. Na continuação da SD, percebemos que Veja direciona seus dizeres para a segunda interpretação e, ao afirmar que a frase provocou gargalhadas na plateia ela tenta inscrever o público do debate em uma posição discursiva de desconfiança em relação à candidata. Essa inscrição legitima a segunda interpretação, o que é uma tentativa de apagar a ambiguidade da fala de Dilma e tornar a segunda interpretação óbvia, inquestionável. Quanto ao último enunciado da SD, em política profissional, o nome disso é caixa dois, a expressão em itálico funciona como um operador de memória. Ela recupera um escândalo político que ocorreu durante o mandato do presidente Luís Inácio Lula da Silva, o escândalo do mensalão, que consistia em um esquema de compra de votos de parlamentares. Estes recebiam uma mesada para votar em projetos do Poder Executivo, por isso o neologismo mensalão. Na época do acontecimento, as mídias impressa, televisiva e online publicaram muitas reportagens sobre o assunto e foi muito recorrente o uso da expressão caixa dois, para se referir às sonegações de impostos que foram descobertas. Nesse sentido, com a utilização da expressão, Veja recupera o acontecimento discursivo Escândalo do mensalão para significar a candidatura de Dilma Rousseff. Como foi de domínio público que o presidente Lula apoiava abertamente a candidata, a recuperação desse enunciado configura-se como uma tentativa da instituição midiática de inscrever Dilma e Lula na mesma posição de corruptos. Analisaremos, agora, na continuação da reportagem, uma sequência discursiva relativa aos dizeres de Veja sobre o candidato José Serra: 50

51 SD7 Quem esperava um confronto entre Dilma e Serra, os dois candidatos mais bem posicionados nas pesquisas, terminou frustrado. Imaginavase que os oponentes tivessem muitas perguntas a fazer um ao outro, mas o que ocorreu foi o oposto: ambos evitaram elevar a temperatura política na véspera da eleição. Não se ouviu do tucano uma palavra sobre a quebra do sigilo fiscal de sua filha, Verônica Serra, ou sobre os escândalos da Casa Civil que culminaram com a queda de Erenice Guerra, ex-braço direito de Dilma. Serra evitou o assunto por cálculo eleitoral. De acordo com a avaliação de sua equipe de comunicação, se o candidato tocasse em temas sensíveis para a adversária, sairia desgastado junto ao grupo de eleitores menos informados, que entenderiam que ele estaria apelando. Compreende-se que o tucano queira jogar para ganhar e por isso siga as recomendações de sua equipe mas também é inegável que, com essa atitude, ele livrou Dilma de ter de se explicar publicamente, sem a ajuda de assessores ou a proteção de Lula o que seria muito bom para o Brasil. O excerto é iniciado com o enunciado quem esperava um confronto entre Dilma e Serra (...). Se nos atentarmos para a significação do termo confronto, podemos dizer que este recupera uma formação discursiva que remete a discordâncias de argumentos, ideias ou posicionamentos entre lados e/ou entre pessoas. Esse sentido é corroborado pelo próximo enunciado: Imaginava-se que os oponentes tivessem muitas perguntas a fazer um ao outro, mas o que ocorreu foi o oposto: ambos evitaram elevar a temperatura política na véspera da eleição. Esses dois enunciados apontam para um efeito de sentido de que seria possível antecipar que os dois candidatos teriam questões polêmicas para serem perguntadas um ao outro. No entanto, como pode ser percebido na continuação da leitura, Veja não aponta nenhuma questão polêmica que Dilma poderia ter para problematizar com Serra. Acontece somente o contrário: a instituição midiática só enumera assuntos relativos ao suposto envolvimento da candidata em alguns escândalos. Acreditamos, então, que o apagamento de polêmicas em que Serra poderia estar envolvido é uma tentativa de Veja de inscrever o candidato em um lugar de inocência, de não-corrupto. É preciso, entretanto, questionar se o apagamento dessas questões por parte de Veja sugere apenas a imagem de um candidato honesto, não-corrupto, ou se aponta para uma tentativa de não tornar pública alguma informação que desconstruiria essa imagem. Fazendo uma análise das posições enunciativas do candidato José Serra, que é filiado à política de direita, e da instância enunciativa sujeitudinal, que é uma revista voltada para 51

52 as elites econômicas brasileiras, acreditamos que eles se inscrevem nas mesmas posições, o que indica um processo de identificação entre ambos. Isso aponta, então, para a hipótese de que o apagamento dessas questões é uma tentativa de Veja de construir uma boa imagem do candidato e de não explicitar possíveis polêmicas em que este poderia estar envolvido. Outro ponto a ser analisado nesse excerto é a utilização dos seguintes enunciados: Não se ouviu do tucano uma palavra, Serra evitou o assunto por cálculo eleitoral e ele livrou Dilma. Esses enunciados apontam para uma tentativa de Veja de inscrever o candidato em uma posição enunciativa de comando, de liderança, como se ele fosse o responsável pelo direcionamento do debate. E, considerando o que discutimos no parágrafo anterior, o apagamento da posição de Dilma no que se refere ao encaminhamento do debate, também aponta para um processo de identificação entre IESuj Veja e o candidato José Serra. No que tange ao enunciado Compreende-se que o tucano queira jogar para ganhar e por isso siga as recomendações de sua equipe, é possível observar que Veja tenta inscrever o candidato em uma posição de cautela ao mesmo tempo em que o inscreve em uma posição de autonomia. Esses lugares apontam para a construção de um discurso da inteligência, da perspicácia que estariam atravessados na constituição da Instância Enunciativa Sentidural José Serra. Outra observação acerca desse enunciado e que está silenciada uma comparação entre a posição enunciativa de autonomia de Serra e uma de dependência de Dilma. Essa comparação é corroborada pelo enunciado ele livrou Dilma de ter de se explicar publicamente, sem a ajuda de assessores ou a proteção de Lula. Há, nessa comparação, um deslocamento dos sentidos produzidos na relação dos candidatos com suas equipes. Pode ser entendido que Serra é autônomo o suficiente para seguir as recomendações de sua equipe quando ele julga que são necessárias. Dilma, por outro lado, é dependente de sua equipe e, de acordo com a própria Veja, seria muito bom para o Brasil se ela fosse mais autônoma em relação a seus assessores e ao seu cabo eleitoral Lula. Em outras palavras, o sentido de posição de autonomia que Veja confere a Serra é uma tentativa de legitimar sua candidatura e o sentido da posição de dependência que Veja confere a Dilma é uma tentativa de legitimar a incapacidade da candidata. Para finalizar a análise desse excerto, tomemos a seguinte sequência discursiva: 52

53 SD8 De acordo com a avaliação de sua equipe de comunicação, se o candidato tocasse em temas sensíveis para a adversária, sairia desgastado junto ao grupo de eleitores menos informados, que entenderiam que ele estaria apelando. Em relação a SD2, devemos questionar: quem é o grupo de eleitores menos informados a quem Veja se refere? Considerando que a instituição midiática afirma que Serra não tocou em temas que seriam sensíveis à oponente para não desgastar sua imagem perante esse grupo, podemos dizer que este é constituído por aqueles que têm alguma identificação com o partido de Dilma, ou seja, que se inscrevem nas mesmas posições políticas da candidata. Afirmamos isso porque acreditamos que somente os simpatizantes do PT se sentiriam incomodados se Serra pressionasse ou questionasse Dilma em relação aos tais assuntos. Nesse sentido, os eleitores menos informados seriam aqueles que não acreditam na relação de Dilma com os temas citados por Veja. Essa imagem que a instituição constrói sobre esse grupo de menos informados produz diferentes efeitos de sentido. Uma interpretação possível é que a IESuj tenta inscrever esse público em uma posição de não-intelectualidade, o que, pelo viés do interdiscurso, aponta para uma tentativa de construir a identidade do leitor que possui as mesmas filiações políticas de Veja: um sujeito atravessado pelo discurso da informação, da intelectualidade. Além disso, a instituição midiática produz o efeito de que o envolvimento de Dilma nesses assuntos é verídico e inquestionável, pois, se fossem bem informados, os leitores saberiam desses supostos envolvimentos da candidata. Se não sabem ou não acreditam nessa verdade óbvia é porque são desinformados. Isso aponta para uma tentativa de Veja de legitimar sua posição de imparcialidade, de objetividade e de produção de verdades. Vejamos agora a ilustração 7, que está na sequência da reportagem em análise. 53

54 Figura 7: Ilustração intitulada Caraca, e a Erenice?, publicada na edição de Veja de 06/10/

55 A mulher da foto é Erenice Guerra, ministra-chefe da Casa Civil do Brasil em meados de 2010, período pré-eleitoral. Explicitando as condições de produção dessa ilustração, é pertinente pontuar que, considerada pela IESuj Veja como o braço direito de Dilma, Erenice foi acusada de estar envolvida em uma polêmica relativa a tráfico de influência. De acordo com as acusações, a ex-ministra teria favorecido sua empresa de aviação em uma negociação com os correios. Esse assunto, que, de acordo com a IESuj, não foi explorado no debate, é significado por ela. Como vimos na SD5, Veja menciona esse assunto como um daqueles que a IESen José Serra poderia ter mencionado. No que tange à ilustração, primeiramente, é relevante observar a epígrafe ao lado da foto: Caraca, e a Erenice? Protagonista do escândalo da Casa Civil, ela nem foi citada no debate. Chama-nos a atenção o uso da gíria caraca, que evoca a voz da adolescência. O atravessamento dessa voz pode produzir, a nosso ver, um efeito de ironia, como se até os jovens estivessem espantados com o fato de o assunto não ter sido abordado. O uso dessa gíria também pode ser interpretado como uma tentativa de Veja de se aproximar do leitor, que pode se sentir interpelado pela interjeição. Outra observação pertinente em relação à ilustração com a foto de Erenice é que somente ela e Lula, ambos ligados à candidata Dilma Roussef, foram chamados na reportagem. Não há, nessa parte da edição, fotos de outras pessoas que não estavam presentes no debate, o que pode significar uma tentativa de apagamento daqueles com quem José Serra ou Marina Silva poderiam estar ligados. Isso pode ser interpretado como uma tentativa, pela instituição midiática, de deslocar os sentidos da ligação de Dilma com Erenice e Lula. Estes são significados por Veja de forma pejorativa, ou seja, a instituição midiática os inscreve em uma posição de corruptos, falastrões e incapacitados. Relacionar Dilma a eles é, assim, uma forma de inscrevê-la nas mesmas posições em que eles são inscritos. Na sequência da reportagem, Veja propõe uma discussão acerca das propostas, debatidas no debate, de cada candidato. É válido ressaltar que, novamente, a instância midiática apaga o candidato Plínio de Arruda, que não é mencionado nessa sessão. Começaremos com uma foto caricatural da candidata Dilma Rousseff, na qual ela aparece vestida com um uniforme laranja que contém o símbolo da Petrobrás, um capacete com o mesmo símbolo e com as mãos sujas de uma substância que lembra o petróleo. 55

56 Figura 8: Ilustração Dilma caricaturada, publicada na edição de Veja de 06/10/

57 O efeito dessa caricatura é produzido quando nos remetemos à memória discursiva da candidata. Referimo-nos à sua participação no desenvolvimento de pesquisas da Petrobrás, relacionadas ao pré-sal, o que foi muito divulgado na campanha da candidata. Chama-nos atenção, também, a expressão facial que foi construída para ela: rosto desfocado, boca aberta e olhos irregulares produzem um efeito de debilidade. Em seguida, temos a seguinte sequência discursiva: SD9 Apadrinhada, favorita e cheia de mistérios. A poucas horas do primeiro turno das eleições, os planos de governo da petista Dilma Roussef, ungida candidata por um homem só, permanecem uma incógnita para o eleitor. Ao analisarmos o enunciado Apadrinhada, favorita e cheia de mistérios., verificamos, primeiramente, que o uso do item lexical apadrinhada produz o efeito de que a candidata é politicamente dependente de outros. Sabendo que ela é apoiada pelo até então presidente Lula, percebemos o silenciamento do sentido de que ela só é candidata por causa do apoio de seu co-partidário, sentido esse que também é evidenciado pelo uso do termo favorita. É pertinente lembrar que a tentativa da IESuj Veja de inscrever a candidata em uma posição de dependência política já foi observada na análise anterior. Essa repetição aponta para uma regularidade que corrobora o processo de contra-identificação entre a instituição midiática e candidatura de Dilma. Ainda em relação ao item lexical favorita, cabe observar que este termo é um operador de memória que marca a representatividade da candidata nas pesquisas de intenções de voto: primeiro lugar. Esse efeito de sentido dialoga com aquele produzido pelo adjetivo apadrinhada. Este recupera a participação de Lula na candidatura de Dilma, ou seja, Veja tenta construir um imaginário de que a petista só é candidata por causa do então presidente e que este também é o responsável pela colocação dela nas pesquisas. O restante do enunciado, a expressão cheia de mistérios, constrói uma imagem pejorativa da candidata. Esse sentido é produzido porque evoca o discurso da 57

58 transparência, que é atravessado pelo discurso da honestidade. Assim, caracterizando a candidata da forma referida, a instituição midiática evoca esses discursos para dizer que Dilma não se inscreve nesse lugar. Em outras palavras, pelo viés do interdiscurso, podemos interpretar que cheia de mistérios significa corrupta, desonesta. Em seguida, no enunciado ungida candidata por homem só, verificamos o atravessamento do discurso religioso, uma vez que o verbo ungir, recorrente no catolicismo, tem o sentido de consagrar. Por um homem só, como já discutimos, recupera a figura do presidente Lula. Assim, com a utilização do termo ungida, Veja tenta marcar que o presidente Lula considera Dilma um ser sagrado. No entanto, ao enunciar que Dilma foi ungida candidata por um homem só, a instituição midiática constrói um sentido de ironia, uma vez que, para se consagrar, é necessário que um determinado grupo esteja de acordo, não uma pessoa só. Nessa perspectiva, como Dilma é apoiada por Lula, Veja constrói o imaginário de que ele é o único no partido a apoiar a candidatura dela. Essa imagem produz o sentido de que a candidata não é considerada a melhor, nem mesmo pelos seus co-partidários. Nesse momento é relevante recuperar a discussão que fizemos em SD3. Nesta SD, Veja afirma que José Serra foi ungido a candidato oficial do PSDB, o que produz o sentido de que Serra teria sido abençoado pelo partido. Na SD9, no entanto, Veja desloca o sentido do verbo ungir de forma que Dilma seja vista como dependente de Lula, não como próxima ao partido. Posteriormente, temos o enunciado os planos de governo da petista permanecem uma incógnita para o eleitor, no qual percebemos evidências de que Veja tenta, mais uma vez, construir uma imagem pejorativa da candidata. Isso é notável quando a instituição midiática menciona o eleitor/leitor e afirma que ele não conhece as propostas da candidata. A evocação do sujeito (e) leitor é uma forma de tentar incluir os leitores no processo de interlocução para que eles se inscrevam na mesma posição da IESuj Veja. Ainda nessa análise, verificamos que, ao lado da foto, há a inscrição Ela falou em... PAC, PAC, PAC, PAC. Podemos depreender desse enunciado que a instância enunciativa sujeitudinal Veja, por meio da repetição, produz o sentido de que os trabalhos realizados por Dilma, assim como as suas propostas, estão unicamente voltados para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Esse programa, que foi criado no governo Lula, constitui-se de obras em infraestrutura realizadas em todo o 58

59 país. Pelo fato de Dilma ter participado efetivamente no programa, este é um de seus trabalhos mais reconhecidos. Quanto à inscrição mencionada, verificamos que há um processo de ressonância discursiva. De acordo com Serrani-Infanti (1999, p ) há ressonâncias discursivas de significação quando duas ou mais unidades linguísticas específicas (itens lexicais, frases nominais) ou dois ou mais modos de dizer (construções indeterminadoras, de tom causal, causativas, e assim por diante) encontram-se ligados, produzindo o efeito de vibração semântica mútua, tendendo a construir a realidade (imaginária) de um mesmo sentido. Ao repetir o termo PAC, Veja instaura esse processo de ressonância que produz em efeito negativo desse programa, banalizando-o. Em outras palavras, a repetição do referido item lexical produz um efeito de apagamento de outros projetos e constroi o sentido de que esse foi o único trabalho de Dilma, sentido esse que inscreveria a candidata em uma posição de inexperiência e de incompetência. Na continuação da reportagem, atentemo-nos a uma sequência discursiva recortada do início do texto. SD10 Nada deveria ser mais previsível do que os planos de uma candidata que foi escolhida pelo presidente para dar seguimento à sua obra (...). No caso da petista Dilma Rousseff, porém, essa lógica não se aplica. Sobre ela e sobre como conduzirá a administração caso vença nas urnas neste domingo políticos e empresários colecionam mais dúvidas do que certezas. Tanto é assim que o coordenador da sua campanha, o deputado Antonio Palocci (PT-SP), e o vice de Dilma, o deputado Michel Temer (PMDB-SP), se desdobram para convencer esses segmentos de que não há motivos para sobressaltos. Dilma, a poucas horas do primeiro turno, continua envolta em névoa. Como já discutimos acerca dessa reportagem, a IESuj Veja tenta construir uma imagem opaca da candidatura de Dilma Rousseff, o que é corroborado por elementos encontrados em SD8: o início da SD Nada deveria ser mais previsível do que os planos (de Dilma) e o fim Dilma (...) continua envolta em névoa. Explicitado isso, é pertinente fazer duas observações acerca dos seguintes enunciados: Sobre ela (Dilma) (...) políticos e empresários colecionam mais dúvidas do 59

60 que certezas. e o coordenador de sua campanha e o vice de Dilma se desdobram para convencer esses segmentos de que não há motivos para sobressaltos. A primeira diz respeito à menção às classes dominantes brasileiras e ao apagamento das classes baixas. Ao afirmar que os co-partidários de Dilma estão se desdobrando para conseguir convencer as classes dominantes, podemos dizer que a IESuj Veja reconhece o lugar discursivo do qual a IESen candidata Dilma Rousseff enuncia e, ao mesmo tempo, explicita o seu lugar discursivo. Se as classes dominantes, de acordo com Veja, precisam ser convencidas acerca da candidatura da petista, significa que não a apoiam, o que aponta para o reconhecimento de que a candidata está inscrita no lugar discursivo da frente popular. E, como já explicitamos que a IESuj se contra-identifica com a IESen Dilma, podemos afirmar que a IESuj se inscreve no lugar discursivo das classes dominantes, o que confirma nossa hipótese de trabalho. A segunda observação se refere ao uso dos termos dúvidas e sobressaltos. No contexto em que são utilizados, eles se referem às propostas de governo da candidatura de Dilma. Percebemos que a IESuj tenta construir uma imaginário de que as propostas da candidata não são transparentes e certas, mas não há um exemplo concreto ou uma explicação sobre o motivo de a instituição midiática acreditar nisso. Relacionando as duas observações, podemos dizer que a menção às desconfianças das classes dominantes silencia o saber de que as classes baixas não precisam ser convencidas acerca da candidatura da petista, pois elas a apoiam. Percebemos, então, o sentido velado de que a maior parte da população brasileira, a frente popular, está inscrita no mesmo lugar discursivo da IESen candidata Dilma Rousseff. Passemos, agora, à próxima sequência discursiva. SD11 O marqueteiro João Santana convenceu Lula em 2007 de que sua ministra poderia se beneficiar da onda que havia resultado na ascensão de três mulheres ao puder: Michelle Bachelet no Chile, Cristina Kirchner na Argentina e Angela Merkel na Alemanha. Lula percebeu outra vantagem na escolha. Como Dilma era estreante em eleições, sua eventual vitória seria creditada a ele. Já uma derrota seria debitada na conta da candidata. Lula resumiu o quadro magnificamente: A Dilma é boa para ganhar e boa para perder. Primeiramente, chama-nos a atenção a presença do discurso feminista, que é atravessado pela voz da modernidade. Veja afirma que uma das razões pelas quais 60

61 Dilma foi escolhida candidata do PT se relaciona ao fato de ser mulher. A IESuj menciona uma onda que estaria resultando na elevação de mulheres ao poder. Como há um apagamento das qualidades da candidata, está silenciado o sentido de que sua candidatura só foi aceita porque está inscrita em um discurso moderno que dita o valor da mulher na sociedade. É relevante ressaltar que Veja não se coloca como sujeito desse discurso; ela o confere a João Santana e a Lula. Em seguida, a instituição midiática faz uma análise da escolha de Lula por Dilma, mais uma vez atribuindo a ele o que enuncia: Lula percebeu outra vantagem na escolha. Por fim, Veja faz uso de um enunciado entre aspas na tentativa de chamar a voz de Lula para corroborar sua linha de raciocínio. Como não há menção às condições de produção dessa suposta fala do presidente, é possível que a IESuj tenha recortado essa fala de outro contexto enunciativo para ressignificá-la de forma a ter seu discurso legitimado pelo de Lula. Na sequência da reportagem, a IESuj Veja tece algumas considerações acerca da IESen José Serra: 61

62 Figura 9: Ilustração José Serra caricaturado, publicada na edição de Veja de 06/10/

63 Começando a discussão pelo título e subtítulo da reportagem, temos: Para ele, é agora ou nunca mais O tucano José Serra chega à reta final com alguma chance de emplacar o segundo turno e realizar o projeto a que se dedica desde que era estudante: ser presidente do Brasil Quanto ao título, Para ele, é agora ou nunca mais, podemos observar que a IESuj Veja tenta tornar José Serra o sujeito desse enunciado. Esse processo aponta para a tomada de posição da própria instância midiática, ou seja, a eleição do candidato ser naquele momento ou nunca mais é um posicionamento de Veja. Essa tomada de posição velada também pode ser percebida no subtítulo: O tucano José Serra chega à reta final com alguma chance de emplacar o segundo turno e realizar o projeto a que se dedica desde que era estudante: ser presidente do Brasil. Ao afirmar que ser presidente do Brasil é um projeto do candidato, a IESuj recupera o sentido do termo projeto, que alude a um objetivo que precisa de um planejamento, em determinado tempo, para ser alcançado. Esse item lexical, nesse sentido, é atravessado pelo discurso da preparação, da intelectualidade e da competência, qualidades que são indispensáveis a um presidente da República e que, de acordo com Veja, constituem a IESen José Serra. Em seguida, temos a foto do candidato, caricaturada com tesouras no lugar das mãos. Quanto ao rosto de Serra, ele está focado, com olhos atentos e boca fechada, o que produz um efeito de atenção, de seriedade; muito diferente da caricatura de Dilma. Essa caricatura recupera a memória do personagem Edward, do filme Edward Mão de Tesoura (1990). Como o próprio nome de diz, o personagem tem tesouras no lugar das mãos, com as quais faz verdadeiras obras de arte como jardineiro e como cabeleireiro. Essa caricatura dialoga, metaforicamente, com a epígrafe Ele falou em... cortar para crescer. No filme, tudo que Edward cortava, ficava belo e, consequentemente, era e admirado. Essa metáfora pode ser ressignificada na candidatura de Serra se pensarmos nos cortes de gastos com o dinheiro público. Assim, de acordo com a IESuj Veja, o candidato faria cortes para promover um crescimento na economia. 63

64 Depois dessa epígrafe, Veja explana, brevemente, a que o candidato estaria se referindo ao falar sobre cortes. SD 12 (...) Para Serra, o governo gasta em excesso com contracheques e pagamento de fornecedores e economiza em demasia nos investimentos em infraestrutura, por exemplo. Para mudar esse quadro, ele defende o corte de desperdícios, a começar pelo manancial de cargos de confiança criados pelo governo Lula desde 2003, bem como a revisão de contratos em que há flagrante esbanjamento de dinheiro público. A seu favor, conta a bem-sucedida experiência na prefeitura de São Paulo, em 2005, quando o pente-fino do tucano garantiu aos cofres municipais uma economia de 17% no valor dos contratos que haviam sido assinados na gestão da petista Marta Suplicy. No início dessa SD, com a expressão Para Serra, Veja novamente, torna o candidato o sujeito de seus enunciados, o que deixa implícito o seu posicionamento e aponta para uma afinidade posições discursivas entre o a instância midiática e o candidato. No decorrer da SD, o que nos chama a atenção é a tentativa de Veja de enfatizar supostos gastos excessivos do dinheiro público nos governos dos petistas Lula, então presidente da República, e Marta Suplicy, prefeita de São Paulo entre 2001 e 2005, período anterior ao de José Serra. Há um apagamento de qualquer polêmica em que Serra poderia estar envolvido, não há a menção a nenhuma benfeitoria dos governantes petistas e também não se menciona outros partidos. Esses apagamentos apontam para um processo de identificação entre a IESuj Veja e a IESen José Serra e de contraidentificação entre a referida IESuj com as instâncias enunciativas sujeitudinais governantes petistas. Veja também menciona uma experiência bem-sucedida de corte de gastos pela qual o candidato do PSDB teria passado na prefeitura de São Paulo. A instância midiática apaga qualquer contexto dessa experiência e cita a suposta economia de 17% aos cofres de São Paulo. Essa afirmação breve, devido à utilização de percentuais, além de produzir um efeito de verdade, não permite questionamentos ou dúvidas, pois não há informações suficientes para serem questionadas. Assim, Veja, mais uma vez, evoca o discurso da aptidão para constituir a IESen José Serra. 64

65 Nessa perspectiva, podemos afirmar que há um processo de identificação entre a Instância Enunciativa Sujeitudinal Veja e a Instância Enunciativa Sentidural José Serra e de contra-identificação entre a referida IESuj e a IESen Dilma Rousseff. Analisaremos, agora, duas reportagens publicadas em Época, a primeira sobre a candidata Dilma Rousseff e a segunda sobre o candidato José Serra. Começaremos pela capa da edição publicada em 14 de agosto de Nesta, verificamos a foto da candidata do Partido dos Trabalhadores Dilma Roussef, e a inscrição Dilma Roussef: aos 22 anos, fichada pelo Dops em São Paulo e a epígrafe O passado de Dilma: Documentos inéditos revelam uma história que ela não gosta de lembrar seu papel na luta armada contra o regime militar. 65

66 Figura 10: Ilustração da capa de Época da edição de 14/08/

67 À primeira vista, chama-nos a atenção a foto da candidata aos 22 anos. A foto, assim como o fundo da capa, está nos tons preto e branco e, do lado direito da foto, notamos a presença de uma figura que lembra uma parte de um carimbo. É relevante explicitar que essa figura é o único detalhe colorido da foto: o carimbo é vermelho. As cores utilizadas, o carimbo e a centralização do rosto da candidata são operadores de memória que nos remetem a fichas, ou seja, a foto ilustra a informação contida na epígrafe, a de que a candidata foi fichada no DOPS Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo. Este órgão, criado em uma época em que o regime político brasileiro era centralizado e autoritário, tinha a função de controlar e reprimir movimentos políticos e sociais contrários ao regime no poder. A escolha da ilustração da ficha da candidata evoca o passado de Dilma, o que pode ser interpretado como uma tentativa, por parte da instituição midiática, de chamar a atenção do leitor para algo comprometedor que a candidata teria feito em sua juventude. Há, assim, a construção de uma imagem pejorativa de Dilma, pelo fato de já ter sido fichada. Em seguida, temos a epígrafe da foto. O título O passado de Dilma, escrito de forma bem destacada, produz, assim como a ilustração, a evidência de que há um desejo da instituição midiática de tornar público o passado da candidata. Há, nesse enunciado, o atravessamento de um discurso que circula no senso comum segundo o qual o passado de uma pessoa a condena. Esse discurso produz um efeito de algo depreciativo que será anunciado sobre a vida de Dilma e constrói uma expectativa acerca de uma informação. O próximo enunciado, Documentos inéditos revelam, é atravessado pelo discurso da autoridade, uma vez que há provas que legitimam o que será publicado por Época. Há, também, o atravessamento do discurso da polêmica, evocado pelo uso do verbo revelam. Essa voz pode ser interpretada como uma tentativa de polemizar algum acontecimento relevante que teria sido acobertado no passado de Dilma. Percebemos que Época cria a expectativa de que algo ilícito teria sido feito pela candidata e o partido dela não divulgou. Em seguida, ao afirmar que os documentos se referem a uma história que ela não gosta de lembrar, a instância midiática instaura uma tensão por meio da alusão à intimidade de Dilma. Nesse enunciado, verificamos o atravessamento do discurso do escândalo, da polêmica. 67

68 É relevante explicitar que há um diálogo entre o termo revelam, que significa fazer conhecer algo que estava encoberto, e o próximo enunciado, uma história que ela não gosta de lembrar. A construção desse diálogo aponta para uma tentativa de Época de reiterar a relevância do que será lido na edição sobre a candidata, por se tratar de algum escândalo, além de intensificar um efeito de curiosidade. Percebemos, aqui, uma regularidade que aponta para um processo de contra-identificação entre Época e Dilma. Para finalizar, temos o enunciado seu papel na luta armada contra o regime militar, cuja construção intensifica ainda mais a expectativa do leitor, uma vez que relaciona a candidata Dilma Roussef a um dos períodos mais críticos e polêmicos pelo qual o Brasil passou: a ditadura. É relevante pontuar que esse enunciado pode ter passado por um processo de deslocamento. Dizemos isso porque, considerando o que circula no discurso do senso comum, qualquer sujeito que tenha se posicionado contrariamente ao regime militar é visto como um herói, como alguém que lutou pela democracia no país. Nesse caso, no entanto, o papel de Dilma na luta contra a ditadura foi ressignificado de forma a produzir um efeito negativo. Nesse sentido, ao afirmar que fará uma revelação sobre algo obscuro do passado da candidata, colocando uma foto em que ela aparece como uma pessoa fixada, enunciando que se trata da representação de Dilma na época da ditadura, a instituição midiática Época constrói uma imagem negativa da candidata. Podemos afirmar que há, então, um posicionamento de contra-identificação da instituição com a candidata do Partido dos Trabalhadores Dilma Roussef, uma vez que são evidentes as tentativas de se construir uma imagem negativa da candidata. Ainda nesta edição 10 de Época, é relevante discutirmos a reportagem referente à capa. 10 Essa ilustração corresponde ao início da reportagem. É relevante explicitar que a edição em análise foi publicada online, no site da revista. As versões online e impressa, geralmente, são diagramadas de forma diferente, mas o texto é o mesmo. 68

69 Figura 11: Ilustração intitulada Dilma na luta armada, publicada na edição de Época de 14/08/

70 Ao observarmos a imagem, três aspectos nos chamam mais a atenção: a foto de Dilma, o título e o formato do texto. Quanto à foto, verificamos que a cor vermelha ao fundo e o contorno negro da fisionomia da candidata, funcionam como um operador de memória para recuperar e ressignificar a seguinte imagem: O homem acima é Ernesto Guevara de la Serna, mais conhecido como Che Guevara. Resumidamente, ele foi um dos comandantes que lideraram a Revolução Cubana, na década de 50, que mudou o regime político de Cuba. Ele foi um dos responsáveis pela instalação de grupos guerrilheiros em vários países da América Latina, pois sentia a necessidade de mudanças políticas no terceiro mundo. Na década de 70, ele lutou na Bolívia, onde foi capturado e assassinado pelo exército boliviano. Essa imagem de Che Guevara foi bastante difundida no mundo todo. Voltando à foto editada de Dilma, verificamos que Época, por meio dos efeitos de cores aplicados, tenta inscrevê-la na mesma posição discursiva de Che Guevara. Há uma recuperação da imagem do guerrilheiro, como se a candidata, durante o regime militar brasileiro, tivesse ocupado a mesma posição que Che ocupou na Revolução Cubana. O título da reportagem, Dilma na luta armada, dialoga com a imagem e pode ativar o domínio da antecipação. De acordo com Orlandi (2001, p.39), 70

71 Todo sujeito tem a capacidade de experimentar, ou melhor, de colocar-se no lugar em que seu interlocutor ouve suas palavras. Ele antecipa-se assim a seu interlocutor quanto ao sentido que suas palavras produzem. Esse mecanismo regula a argumentação, de tal forma que o sujeito dirá de um modo, ou de outro, segundo o efeito que pensa produzir em seu ouvinte. Isso significa que podemos antecipar as possíveis interpretações do interlocutor, desde que consideremos fatores como inscrições e memória discursivas. Na materialidade em questão, o domínio de antecipação do leitor pode ser ativado desde que ele conheça o contexto da ditadura militar e a figura de Che Guevara. Época, então, anuncia uma reportagem sobre o papel de Dilma na luta armada e a retrata de forma que a memória recupere a imagem de Che Guevara para antecipar, de forma breve e significativa o conteúdo do texto. Passando, agora, ao texto da reportagem, começaremos a discussão pelo subtítulo: SD13 Entre 1967 e 1970, a estudante Dilma Rousseff combateu a ditadura militar. O que os processos da ditadura militar revelam sobre a jovem que se tornou líder de uma das organizações que pegaram em armas contra o governo. O enunciado que inicia a SD, Dilma Rousseff combateu a ditadura militar, está inscrito em uma formação discursiva de resistência em relação ao período da ditadura. Essa inscrição mostra que Época significa o papel de Dilma, naquele período, de forma positiva. No entanto, percebemos que, em seguida, há uma desconstrução dessa imagem. Ao afirmar que a candidata foi líder de uma das organizações que pegaram em armas contra o governo, a instituição midiática evoca o discurso da criminalidade. Atualmente, o termo organização, quando usado no contexto de discussões políticas ou sociais, geralmente, refere-se ao crime, a organizações criminosas. Assim, afirmar que a candidata foi líder de uma organização é uma tentativa, por parte da IES Época, de inscrevê-la em uma posição de criminosa. Em seguida, temos o enunciado pegaram em armas contra o governo, ao qual cabem duas interpretações. A primeira corrobora o que foi dito no parágrafo anterior: se Dilma pegou em armas contra o governo, novamente, ela se inscreve em uma posição 71

72 de criminosa. No entanto, há um sentido que escapa à tessitura discursiva da instância enunciativa sujeitudinal Época. Como já discutimos em relação à capa da revista, o enunciado em questão também pode ter passado por um processo de deslocamento de sentidos, pois a luta contra o governo militar, geralmente, recupera a memória da luta pela democracia, pela liberdade de expressão, entre outros. Nesse caso, a luta da candidata foi ressignificada, de forma a produzir, mais uma vez, o sentido de que Dilma seria uma criminosa. A próxima SD se refere a um recorte que fizemos do texto da reportagem: SD14 Em outubro de 1968, o Serviço Nacional de Informações (SNI) produziu um documento de 140 páginas sobre o estado da guerra revolucionária no país. (...) Em Minas Gerais, o SNI se preocupava com um grupo dissidente da organização chamada Polop (Política Operária). (...) Entre os militantes aparece Dilma Vana Rousseff Linhares. (...) Dilma e a máquina repressiva da ditadura começavam a se conhecer. Primeiramente, chama-nos a atenção a forma como a instituição midiática articula o início de seu discurso de forma a legitimá-lo: mencionando um documento oficial produzido pelo Serviço Nacional de Informações. A menção a esse órgão produz um efeito de verdade nos enunciados pelo fato de ser um serviço nacional. Mesmo que não se conheça nada sobre ele, um órgão que presta serviços ao país tem seu lugar legitimado. As informações relatadas na sequência, que estariam contidas nesse documento, também produzem um efeito de verdade, devido à sua fonte. No fim da SD, Dilma e a máquina repressiva da ditadura começavam a se conhecer, percebemos que há uma alternância na significação do papel da candidata na luta contra o regime militar. Nesse enunciado, a petista é deslocada da posição de criminosa para a posição de inocência, como se ela tivesse sido reprimida pela ditadura. 72

73 Em seguida, temos: SD15 Durante os cinco anos em que essa máquina funcionou com maior intensidade, de 1967 a 1972, a militante Dilma Vana Rousseff (ou Estela, ou Wanda, ou Luiza, ou Marina, ou Maria Lúcia) viveu mais experiências do que a maioria das pessoas terá em toda a vida. Ela se casou duas vezes, militou em duas organizações clandestinas que defendiam e praticavam a luta armada, mudou de casa frequentemente para fugir da perseguição da polícia e do Exército, esteve em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, adotou cinco nomes falsos, usou documentos falsos, manteve encontros secretos dignos de filmes de espionagem, transportou armas e dinheiro obtido em assaltos, aprendeu a atirar, deu aulas de marxismo, participou de discussões ideológicas, trancada por dias a fio em aparelhos, foi presa, torturada, processada e encarou 28 meses de cadeia. Nesta SD, são descritas algumas das experiências pelas quais Dilma teria passado durante o regime militar. Façamos algumas observações a respeito do que foi descrito. Alguns enunciados, como militou em duas organizações clandestinas, mudou de casa frequentemente para fugir da perseguição da polícia e do Exército, usou documentos falsos, manteve encontros secretos dignos de filmes de espionagem, transportou armas e dinheiro obtido em assaltos, aprendeu a atirar e a citação dos nomes que Dilma teria adotado, produzem efeito de sentidos semelhantes: todos a inscrevem na posição de criminosa, pois alguns termos utilizados nos remetem à formação discursiva da criminalidade. Verificamos, também, que Época apela à ressignificação pejorativa pela qual o sentido dos termos ideologia e marxismo passou 11. Ao afirmar que a petista deu aulas de marxismo e participou de discussões ideológicas, a instituição midiática desinscreve Dilma de uma posição de intelectualidade para inscrever em uma de subversão, de rebeldia. Nessa perspectiva, podemos afirmar que há processos de contra-identificação entre a instância enunciativa sujeitudinal Época e a instância enunciativa sentidural candidata à Presidência da República Dilma Rousseff. 11 Como estamos fazendo nosso estudo pelo viés da Análise do Discurso pechêutiana, acreditamos ser dispensável explicar esse processo de deslocamento. 73

74 Sequenciando nossas análises, passaremos a uma reportagem publicada também em Época online, em 04/09/2010, sobre o candidato do PSDB José Serra. Comecemos pela capa: Figura 12: Ilustração da capa de Época da edição de 04/09/

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