Contribuições e perspectivas dos sistemas integrados de produção para a agricultura sustentável nos trópicos Por Ronaldo Trecenti* Segundo estudos da
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1 Contribuições e perspectivas dos sistemas integrados de produção para a agricultura sustentável nos trópicos Por Ronaldo Trecenti* Segundo estudos da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a população mundial deverá atingir a marca de 9,8 bilhões de pessoas em 2050, estabilizando-se apenas em 2100, quando deverá atingir 11,2 bilhões. Para alimentar todo esse contingente o volume total de alimentos a ser produzido no mundo deverá crescer em 70%. O grande desafio da agricultura mundial nos dias de hoje é conseguir atender esse crescimento na demanda por alimentos, produzindo cada vez mais (output), em quantidade e qualidade, na mesma área cultivada, reduzindo a utilização de insumos (input) e fazendo o uso racional dos recursos naturais, em especial, solo, água e biodiversidade. Outro aspecto relevante para a produção mundial de alimentos é o compromisso assumido pelos países signatários da Organização das Nações Unidas (ONU), denominados de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), também conhecidos como Objetivos Globais, os quais são um chamado universal para ação contra a pobreza, proteção do planeta e para garantir que todas as pessoas tenham paz e prosperidade. Esses 17 Objetivos foram construídos com o sucesso dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, incluindo novos temas, como a mudança global do clima, desigualdade econômica, inovação, consumo sustentável, paz e justiça, entre outras prioridades. Os ODS trabalham com o espírito de parceria e pragmatismo norteando-nos a fazermos as escolhas certas para melhorar a qualidade de vida, de forma sustentável, para a atual e futuras gerações. Eles oferecem orientações claras e metas (até 2030, por isso é chamada de Agenda 2030) para todos os países os adotarem, em acordo com suas prioridades e desafios ambientais de todo o planeta. Na 15ª Convenção da Partes (COP 15), realizada em Copenhague (Dinamarca), em 2009, pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), o Brasil assumiu o compromisso voluntário da redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE), como Ações de Mitigação Nacionalmente Apropriadas (NAMAS), entre 36,1% e 38,9%, em comparação com o cenário atual de negócios até Com a proposta voluntária de redução, o governo pretende prevenir que o País emita entre 975 milhões e 1 bilhão de toneladas de dióxido de carbono até 2020, em comparação com a previsão de emissões caso nenhuma ação fosse tomada.
2 Para dar suporte aos compromissos assumidos na COP 15 o Brasil criou o Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura - Plano ABC, que tem por finalidade a organização e o planejamento das ações a serem realizadas para a adoção das tecnologias de produção sustentáveis, selecionadas com o objetivo de responder aos compromissos de redução de emissão de GEE no setor agropecuário. O Plano ABC é composto por sete programas, seis deles referentes às tecnologias de mitigação, e ainda um último programa com ações de adaptação às mudanças climáticas: Programa 1: Recuperação de Pastagens Degradadas; Programa 2: Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e Sistemas Agroflorestais (SAFs); Programa 3: Sistema Plantio Direto (SPD); Programa 4: Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN); Programa 5: Florestas Plantadas; Programa 6: Tratamento de Dejetos Animais; Programa 7: Adaptação às Mudanças Climáticas. Visando estimular a adoção das tecnologias de produção sustentáveis selecionadas pelo Plano ABC, o Governo criou uma de linha de crédito Programa ABC que financia a implantação, com taxa de juros mais favoráveis, período de carência e prazos mais longo para pagamento. Essa linha de crédito é operada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pode ser acessada por todos os agentes financeiros públicos e privados, inclusive as cooperativas de crédito. Em 2015, na COP21, realizada em Paris (França), foi celebrado o Acordo de Paris, onde o Brasil ampliou os compromissos para reduzir a emissão de GEE para 43% até o ano de Outro compromisso assumido foi de ampliar a participação de fontes de energia renováveis (eólica e solar, por exemplo) na matriz energética. A agricultura brasileira vem cumprindo papel de destaque na contribuição para o País alcançar as metas do Acordo de Paris, fato que pode ser constatado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em junho de 2018, por meio da realização da primeira reunião do Comitê Diretor da Plataforma ABC (Plataforma
3 Multi-institucional de Monitoramento das Reduções de Emissões de Gases de Efeito Estufa na Agropecuária), para mostrar os resultados dos programas voltados à Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC). Segundo o Comitê e a Coordenação do Programa ABC no Mapa, os recursos oficiais repassados pela linha de crédito já modificaram 10 milhões de hectares mil hectares com a utilização dos Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). A Plataforma ABC conta com um Comitê Diretor, composto por membros do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Ministério do Meio Ambiente (MMA), Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Embrapa, Rede Clima, sistema bancário, sociedade civil, setor agropecuário privado e responsável técnico da Plataforma, e com a equipe técnica, formada por pesquisadores e analistas da Embrapa e colaboradores especialistas de outras instituições. Segundo dados recentes da ONU o Brasil é o país que mais reduziu a emissão de gases que provocam o efeito estufa no planeta. Desde 2010, com o lançamento do Plano ABC, aumentou o número de propriedades rurais que adotaram soluções tecnológicas como a recuperação de pastagens degradadas, Integração Lavoura- Pecuária-Floresta (ILPF), Sistema Plantio Direto, Fixação Biológica de Nitrogênio, plantio de florestas, tratamento de dejetos animais e adaptação da produção agrícola às mudanças do clima. No início de junho desse ano foi realizado o II Congresso Brasileiro de Sistemas Integrados de Produção Agropecuária (II CB SIPA), que teve como foco a discussão dos resultados alcançados com os Sistemas de ILPF, que contempla as quarto modalidades de integração: Integração Lavoura-Pecuária (ILP); Integração Lavoura- Floresta (ILF); Integração Pecuária-Floresta (IPF); e Integração Lavoura-Pecuária- Floresta (ILPF), nas diversas regiões do Brasil: Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste, bem como os desafios para a ampla adoção dos Sistemas Integrados, pelos pequenos, médios e grandes produtores rurais. O evento apresentou os resultados de longo prazo alcançados com a adoção dos SIPAs, aliados ao Sistema Plantio Direto (SPD), em especial as propriedades emergentes do solo, como a melhoria da fertilidade química, física e biológica, com a inserção do componente animal e/ou florestal nas atividades agrícolas. Destaque foi dado à necessidade de assistência técnica e gerencial das propriedades rurais para a adoçao e manejo dos SIPAs ser bem sucedida. Foi criada a Sociedade Brasileira de Sistemas Integrados de Produção Agropecuária - SBSIPA e no final do evento foi realizado um Dia de Campo com o lançamento do Sistema Gravataí, que consiste no consórcio do feijão-caupi (Vigna unguiculata) com gramíneas do gênero Brachiaria, como B. ruziziensis e B. brizantha cvs. BRS
4 Paiaguás e BRS Piatã para a alimentação de bovinos na entressafra e para a formação de palhada para o SPD. Os benefícios econômicos, ambientais e sociais decorrentes da adoção dos Sistemas Integrados de Produção Agropecuária (SIPA), aliados ao Sistema Plantio Direto (SPD) ainda são pouco conhecidos e difundidos. O II CB SIPA proporcionou um nivelamento dos conhecimentos sobre os temas abordados, bem como esclareceu os desafios a serem enfrentados para que a sua adoção seja viabilizada nas diversas regiões do nosso País. O II CB SIPA também evidenciou a contribuição da diversificação de atividades para a melhoria de renda e redução de riscos climáticos e de Mercado; a construção da fertilidade dos solos, por meio da viabilização da produção de forragem para pastejo na entressafra e para a formação de palhada para o SPD. A adoção dos SIPAs tem possibilitado a produção de quarto safras no mesmo ano agrícola: safra de soja; safrinha de milho (consorciado com forragens), safrinha de boi (engorda de animais na entressafra) e produção de palhada para o SPD. Destaque deve ser dado à alta qualidade dos palestrantes vindos das diversas regiões produtoras do Brasil. Pode-se concluir que os índices socioeconômicos, agronômicos, zootécnicos, silviculturais e ambientais obtidos pela adoção dos SIPAs necessitam ser apresentados/divulgados regional e nacionalmente em eventos técnicos-científicos, acadêmicos e para consultores e produtores rurais, com maior frequência e intensidade, fato que levou a Assembléia Geral da SBSIPA a avaliar a possibilidade da sua edição anual, elegendo o Estado de São Paulo (Botucatu ou Presidente Prudente) para a realização do III CB SIPA, provavelmente em junho de Espera-se que os sistemas integrados de produção agropecuária, também conhecidos por sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta possam cada vez mais contribuir para a redução da emissão dos GEE, para o sequestro de carbono, para a mitigação do desmatamento e para atenuação das mudanças climáticas e do aquecimento global, possibilitando a diversificação de atividades nas propriedades rurais, a recuperação de áreas degradadas, a melhoria de renda e de qualidade de vida no campo, possibilitando a produção de alimentos, fibras, madeira e agroenergia, de forma competitiva e sustentável nos agroecossistemas tropicais. *Ronaldo Trecenti Engenheiro Agrônomo M.Sc Especialista de Agricultura ABC Vetor Agroambiental /
5 Skype: ronaldo.trecenti
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