A VIAGEM DE VOLTA. aumentou o tom da voz como se a ligação estivesse ruim. Ele contou a ela como havia sido o dia no parque, o que as crianças

Transcrição

1 A VIAGEM DE VOLTA ques da região norte de Israel. Ao entardecer, após já estarem exaustos, subiram no ônibus para voltarem para casa. Para surpresa dele todos os assentos do ônibus já estavam tomados e eles teriam que aguentar as duas horas de viagem em pé. As pessoas que estavam sentadas perceberam a situação desconfortável de Ricardo porém não se mexeram dos seus lugares. Ele então teve uma idéia... aumentou o tom da voz como se a ligação estivesse ruim. Ele contou a ela como havia sido o dia no parque, o que as crianças ía me esquecendo de lhe contar, o médico disse que segundo o resultado do exame de sangue eu devo estar com a gripe suína! Assim que o ônibus chegou na parada seguinte, metade dos passageiros desceram (com medo de serem contaminados), e com isso Ricardo pôde sentar confortavelmente com e na mesma hora escreveu uma carta para o Rav Zilberstein perguntando se deveria se arrepender do que fez ou não Resposta: Aprendemos na Mishná de Peá: Todo aquele que não é aleijado ou cego ou paralítico e age como se fosse, não morre antes de vir a ser como um deles.

2 RAV ITZCHAK ZILBERSTEIN No caso de Ricardo é pior ainda, já que também acarretou que desceram, fora o susto e a preocupação que causou neles. Portanto, é óbvio que o que Ricardo fez foi muito grave, respondeu o Rav Zilberstein, e apesar de que de acordo com o Beit Din (Tribunal Judaico) ele está isento de indenizar aos passageiros que desceram do ônibus (já que o dano que causou foi indireto), de todos modos, segundo o Tribunal Celestial ele tem que reembolsá-los; e uma vez que ele está impossibilitado de fazê-lo (já que não tem como encontrá-los), ele deve doar a quantia da indenização para alguma instituição de caridade. 78

3 O SOFa Alan e Rubens eram amigos e vizinhos um do outro. Alan iria viajar com a família para a Europa, e pouco antes de partir entregou as chaves do apartamento para seu amigo Rubens. Ele pediu encarecidamente a ele para que não entregasse a chave e nem abrisse a porta para ninguém, a não ser que estivesse ocorrendo um incêndio ou coisa parecida. Rubens respondeu que tudo bem e Alan viajou sossegado com sua família. No dia seguinte, Rubens estava voltando para sua casa após a reza e deparou-se com dois funcionários de uma transportadora, com um sofá, parados em frente ao apartamento de Alan. O que vocês estão fazendo aqui? Nós somos funcionários das lojas Tamacabi e viemos trazer o sofá que o sr. Alan Krustowsky encomendou há duas semanas atrás, disseram os dois homens, mostrando a nota Ah, eles viajaram para o exterior e só voltarão na semana que vem, respondeu Rubens. Ui,ui,ui, lamentaram os funcionários. Viajamos três horas para chegar até aqui e subimos oito andares de escada carregando este sofá pesado... Será que o senhor sabe se ele deixou a chave com algum vizinho? Para ser sincero, a chave foi deixada comigo, porém ele me proibiu expressamente de abrir a porta para quem quer que fosse! disse Rubens. 79

4 RAV ITZCHAK ZILBERSTEIN 80 Os funcionários não desistiram e imploraram a ele para que os deixasse entregar o sofá, dizendo que ele poderia en- prios olhos que iriam demorar apenas alguns segundos e não encostariam em nada. abrir a porta, permanecendo com eles para assegurar-se que não tocariam em nada. E realmente levou menos de um minuto para eles deixarem o sofá e saírem do apartamento. Eles agradeceram muito a Rubens pela compreensão e a bondade que realizou com eles. Ao entardecer, Rubens escutou baterem à sua porta. Eram novamente os dois funcionários. Eles desculparam-se por estarem incomodando novamente, porém disseram que havia ocorrido um terrível engano. Eles novamente mostraram a de cor marrom e eles se equivocaram e entregaram um sofá de cor preta. Eles então pediram para que Rubens abrisse novamente a porta para que eles realizassem a troca. Rubens concordou com toda boa vontade, a troca foi realizada, ele averiguou que realmente não tocaram em nada e tudo terminou bem... Quer dizer, não por muito tempo. Na semana seguinte, ao retornar de sua viagem, Alan entrou no seu apartamento e após alguns minutos desmaiou. O cofre de sua casa, onde estava depositado a quantia de $ estava completamente vazio! Após recompor-se, dirigiu-se até o seu vizinho aos berros, Eu não te avisei para não deixar ninguém entrar na minha casa!? Agora todo meu dinheiro se foi! E o que é que esse sofá horroroso está fazendo aqui? Mas eu te obedeci, respondeu Rubens, Apenas abri a porta por alguns segundos para os homens que vieram trazer

5 O que ocorreu de verdade? Os funcionários não eram nada mais nada menos do que eles entregaram era oco e dentro dele estava escondido um procura do cofre, e após encontrá-lo e retirar todo o dinheiro que estava lá, ligou para seus comparsas e pediu para que viessem buscá-lo, entrando novamente no seu esconderijo dentro do sofá... Agora, Alan está exigindo que Rubens lhe pague todo o dinheiro que foi roubado, alegando que ele foi o culpado de tudo isso ter acontecido, já que não agiu como ele havia lhe instruído. Rubens, por sua vez, se defende alegando que não tinha que suspeitar de um golpe tão perfeito como este, estando portanto inocente e isento de pagar qualquer coisa. Quem está com a razão? Resposta: Vemos na Guemará 17, num caso em que uma pessoa abriu o curral onde estava o animal de uma outra pessoa fazendo com que ele saísse de lá e fugisse, a pessoa que abriu o curral está isenta de pagar de acordo com o Beit Din (Tribunal judaico), porém de acordo com o Tribunal Celestial ela está obrigada a pagar (ou seja, caso não pague será cobrada por D-us), já que causou um dano indireto. Esta parece ser a lei no nosso caso. Porém, uma vez que Alan advertiu a Rubens para não entregar as chaves para ninguém, poderíamos considerá-lo culpado, de acordo como consta no livro Shevet Halevi em nome do Ramá, que diz que num caso onde houve advertência, deverá pagar mesmo quando se trata de um dano indireto. De todos modos, aparentemente, Rubens está isento de pagar, pois ele não transgrediu a advertência de Alan, uma vez 81

6 RAV ITZCHAK ZILBERSTEIN que ele não entregou as chaves para ninguém. Ele foi pessoalmente abrir a porta, acompanhou os carregadores e veri- pagar e tampouco será cobrado pelo Tribunal Celestial, pois o dano indireto causado foi sem intenção. 82

7 NINHO DE COBRAS Rafael morava num lindo apartamento em uma área nobre de Jerusalém. Sendo o síndico do prédio, ele convocou uma reunião de condomínio para serem discutidos diversos assuntos do edifício. Os condôminos chegaram e foram se acomodando, sentando em torno da mesa e no sofá. Eles estavam numa boa, tomando aperitivos e saboreando deliciosos canapés, enquanto aguardavam o início da reunião. De repente, todos os olhares dirigiram-se para a luxuosa cozinha de Rafael. Eles observaram duas cobras rastejarem e entrarem por uma pequena fresta do luxuoso armário embutido, onde parecia ser seu esconderijo. Horrorizados com a cena e temerosos que as cobras pudessem acabar chegando aos seus apartamentos, os vizinhos começaram a procurar no catálogo o número de telefone de algum caçador de cobras, para retirá-las de lá. No entanto, Rafael foi logo dizendo, Podem tirar o cavalinho da chuva! Em primeiro lugar, para que ele chegue até elas, será preciso desmontar meu lindo armário embutido e depois colocá-lo novamente no lugar, e isso custará muito caro, pois só pode do lugar, estas cobras não me incomodam nem um pouco, já que não tenho medo delas, e por mim podem continuar onde estão. No entanto, se vocês arcarem com os custos do marceneiro, eu deixo vocês seguirem em frente... Os vizinhos protestaram dizendo, Peraí Rafael, a casa é tua e você é quem tem que pagar! 83

8 RAV ITZCHAK ZILBERSTEIN Será que os condôminos realmente tem que fazer como Rafael está dizendo ou será que Rafael tem que assumir sozinho todos os gastos para retirar as cobras do seu apartamento? 84 Resposta: Está escrito na Guemará 18 com o povo judeu, se escondiam nos campos, nos grandes montes de centeio, que eram colhidos pelos agricultores judeus e empilhados no campo. A Guemará diz que se os judeus quisessem queimar esses montes (com o intuito de pegar os dos ao centeio, pois é proibido salvar-se com o dinheiro do outro. Em outras palavras, se quiserem queimar o monte para salvar o povo do inimigo, tudo bem, podem ir em frente, porém saibam que será necessário pagar ao agricultor o valor de todo centeio que foi queimado (e não estará isento de pagar por estar em uma situação de perigo de vida). No nosso caso, o inimigo é a cobra e o monte de centeio é o armário embutido. Vemos então, baseado nesta Guemará, que qualquer dano que for causado no armário para pegar a cobra deverá ser pago para Rafael, o dono do armário. Portanto, os vizinhos estão obrigados a pagar pelas despesas envolvidas na retirada das cobras, e é plausível dizer que Rafael também está obrigado a pagar junto com eles, já que ele também encontra-se em perigo, mesmo que diga o contrário. E mesmo que diga que não se incomoda e que não tem medo, não acreditamos nele; e inclusive se acreditássemos, ele tem que pagar da mesma forma pela retirada das cobras junto com os outros condôminos.

9 O ELEVADOR Eram 8:58 da manhã. Elias precisava bater o ponto no trabalho até as 9:00 para não ter seu salário descontado. Ele com outras pessoas. Quando o elevador chegou, quatro pessoas entraram à frente dele, completando a lotação máxima permitida, e como Elias estava com muita pressa resolveu entrar também, excedendo o limite do elevador. O elevador começou a subir e... quebrou no meio do trajeto, devido ao excesso de pessoas. Quem deve pagar pelo conserto? Elias que foi o último a entrar? Todos eles, já que foram cúmplices, pois deveriam ter saído ao ver que havia ultrapassado o limite de pessoas? Quem será? 85 Resposta: Aprendemos no Shulchan Aruch 19 que num caso em que cinco pessoas sentam-se ao mesmo tempo num banco e este se quebra, estão todos obrigados a pagar. Porém, se a quinta pessoa sentou após as outras, e independente disto o banco iria quebrar da mesma forma, então ela está isenta de pagar. Contudo, se o banco quebrou somente devido à chegada do último, então ele tem que pagar sozinho. No nosso caso, se no mesmo instante que Elias entrou, uma outra pessoa chamou o elevador de um outro andar (sem saber que o elevador havia excedido sua capacidade máxima), e o elevador quebrou, Elias está obrigado a pagar, já que foi a

10 RAV ITZCHAK ZILBERSTEIN única pessoa a causar o dano, pois deveria ter levado em conta que alguém poderia chamar o elevador assim que ele entrasse, sem dar tempo para que os outros ocupantes saíssem. No entanto, se não chamaram o elevador de algum outro andar, e sim um dos ocupantes do elevador apertou o botão fazendo com que subisse nessa condição de excesso de peso, quem apertou está obrigado a pagar; e mesmo que tenha sido um dos primeiros a entrar, mesmo assim tem que pagar, pois foi ele quem causou o dano ao apertar o botão e fazer o elevador funcionar e quebrar. 86

11 O AJUDANTE Roberto era um homem idoso com problemas de saúde. Ele tinha uma mágoa muito grande em relação ao seu filho, que não se preocupava com ele e com suas necessidades. No entanto Hashem fez com que Gabriel entrasse em sua vida. Gabriel era um homem muito bondoso, com um grande cuidando dele dia e noite...até o dia em que Roberto faleceu. Quando seu testamento foi lido, todos tiveram uma grande surpresa! Roberto havia deixado toda sua fortuna, estimada Agora, o filho do Roberto vem ao Beit Din (Tribunal judaico) e revela que apesar de Gabriel ter sido um ótimo ajudante para seu pai, tratando-o com muito respeito e carinho, ele estava recebendo por isso. O filho de Roberto disse que todo mês ele pagava, em segredo, um salário de mil dólares para que Gabriel cuidasse de seu pai, sem que o mesmo soubesse. Portanto, agora ele pede ao Beit Din que revogue a herança que foi deixada para Gabriel, já que foi dada equivocadamente. Será que o Beit Din dirá para Gabriel dar todo o dinheiro soubesse que ele se preocupou em pagar pela ajuda não teria transferido a herança para ele - ou será que o dinheiro permanecerá com Gabriel, uma vez que assim consta no testamento? 87

12 RAV ITZCHAK ZILBERSTEIN 88 Resposta: lho de Roberto que contratou Gabriel, lhe pagando um salário de mil dólares por mês. Se for este o caso, é plausível dizer Aruch 20 que quem envia alguém para lhe comprar algo e este alguém acaba comprando para si mesmo com o dinheiro de quem o enviou, a compra pertence a quem enviou. E o motivo disso é que a intenção do vendedor é vender apenas para o dono do dinheiro, e aqui no nosso caso também podemos dizer que o testamento feito por Roberto foi voltado para o dono do dinheiro, pois a companhia de Gabriel foi propor- meses para ele. Está escrito também no Shulchan Aruch 21 que sempre vamos de acordo com a intenção do doador, mesmo que não uma determinada pessoa estava no exterior e disseram ao pai que ele morreu. O pai escreve um testamento deixando todas suas posses para outro. O pai falece e a herança de fato vai silva. Dizemos que a herança deixada pelo falecido pai está vivo, não teria dado todas suas posses para outra pessoa. Aparentemente, nosso caso é similar, pois Roberto ao preparar dava, pagando um salário para Gabriel. No entanto, se Gabriel ofereceu-se de livre e espontânea vontade para cuidar de Roberto, sem receber nada em troca, rica e continuaria ajudando Roberto mesmo sem a ajuda do

13 se o Beit Din concluiu que Gabriel só continuou a cuidar de - Em resumo, se Gabriel serviu ao Roberto por causa da caso ele tenha prestado serviços por livre e espontânea vonta- herança segue com Gabriel. 89