Grupo Ágape. A poesia cria asas 1ª EDIÇÃO

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Beatriz Leal Almeida
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2 Grupo Ágape A poesia cria asas 1ª EDIÇÃO VITÓRIA DA CONQUISTA-BA GALINHA PULANDO

3 Copyright 2014, Grupo Ágape Todos os direitos reservados e protegidos por lei. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito do autor ou da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros Título Original em Português: A poesia cria asas Ilustração da capa: Zezé Olukemi Revisão: Valdeck Almeida de Jesus e autores Editoração eletrônica: Valdeck Almeida de Jesus Pedidos: Grupo Recital Ágape gruporecitalagape@gmail.com (71) / (71) Impresso no Brasil / Printed in Brazil 3

empregados: eletrônicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros Título Original em Português: A poesia cria asas Ilustração da capa: Zezé Olukemi

4 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP). P925 A poesia cria asas / Grupo Ágape. 1. ed. Vitória da Conquista: Galinha Pulando, p. ; 21 cm. ISBN ISBN: Literatura Brasileira. 2.Poesia. 3. Poesia social. Coletânea de poesias do Prêmio Literário Galinha Pulando Literatura Brasileira. 2. Poesia. I. Jesus, Valdeck Almeida de. (Org.). II. Título. CDD

Literatura Brasileira. 2.Poesia. 3. Poesia social.

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6 Grupo Ágape Resgatando pelos versos Fundado em julho de 2011, o grupo recital Ágape apresenta em sua essência a amizade nascida em um grupo de jovens da Igreja Católica, na Paróquia São Daniel Comboni, localizada no bairro de Sussuarana. O grupo surge inicialmente com o propósito de trabalhar a arte em suas diversas expressões dentro do espaço religioso, buscando a articulação dos jovens por meio de oficinas de música, dança, teatro e poesia. Com o passar do tempo as dificuldades de manutenção das quatro atividades foram surgindo e aos poucos o grupo fragmentou-se. Compreendendo o desafio que seria levar em frente essas atividades num momento em que a juventude encontrava-se dispersa, alguns jovens optaram por manter apenas a poesia, que em meio as dificuldades, ainda brilhava e encantava. Inspirados pelo slogan Resgatando pelos versos, o grupo propõe o despertar do pensamento crítico da condição sociocultural, das desigualdades existentes, do papel que assumimos enquanto atores sociais, sujeitos com direitos e deveres. Composto por 12 jovens residentes em Sussuarana periferia de Salvador, o Grupo Ágape leva suas poesias para os mais diversos bairros e até pra outras cidades, seja em apresentações nos transportes públicos ou atuando como facilitadores em oficinas realizadas em escolas públicas, privadas, universidades e demais instituições. A mensagem principal é a ressignificação do conceito de periferia que habita no imaginário das pessoas em geral. 6

O grupo surge inicialmente com o propósito de trabalhar a arte em suas diversas expressões dentro do espaço religioso, buscando a articulação dos jovens por meio de oficinas de música, dança, teatro

7 Através das poesias os jovens mostram a face cultural da periferia, que na maioria dos casos aparece na mídia em estatísticas criminais e matérias policiais. O resgate da ancestralidade e a valorização da auto estima perpassam pelas ações do grupo. A periferia é um laboratório de poetas, escritores, músicos e uma variedade de artistas. Estes jovens não se conformam em permanecer passivos, vendo as coisas acontecerem à revelia de sua vontade de viver. Seus encontros se traduzem no pensar e agir da sua própria história. Cultura, juventude, violência, periferia, educação, saúde e negritude são temas abordados em meio às rimas e versos destes jovens. "Amor incondicional" é o significado do nome do grupo que busca desenvolver na juventude o pensamento crítico, através dos versos. Elisane Alves (Grupo Ágape) 7

Estes jovens não se conformam em permanecer passivos, vendo as coisas acontecerem à revelia de sua vontade de viver. Seus encontros se traduzem no pensar e agir da sua própria história.

8 Identidade Negra Foi difícil, mas eu consegui lutei até o último momento e mostrei que resistência não é só na pele, mas em cada fio de cabelo também e percebi que as coisas são lindas, quando elas são naturais, pois é um processo de desconstruir pra construir, de autoafirmação, negritude, beleza e identidade de quem sou eu das minhas raízes vindas dos poros da liberdade. Maiara Silva 8

lindas, quando elas são naturais, pois é um processo de desconstruir pra construir, de

9 Meu black agride Chega, chega, chega. Chega de novelas americanizadas, de padrões de beleza televisivo, de negras só atuando nas favelas e na cozinha sendo escravizadas por brancos nojentos e estúpidos racistas, CHEGA! Por que eu também não posso atuar nos melhores papéis? Por quê? Negro também pensa, negro também é capaz, e negro não se cala, negro fala, na poesia, na capoeira, na música, na dança afro, no rap e em tudo que engloba a arte, porque negro é cultura! Morena? Morena? EU sou negra! NEGRA do cabelo duro, crespo, cabelo pixaim, cabelo da desgraça, ninho de rato, de passarinho e do que mais quiser chamar, vai, continua, COITADO! Tão frágil e inocente, tudo o que você fala já não vem mais para o coração e sim para a minha mente, que transforma todos esses insultos em sabedoria, sabedoria que usei para lhe fazer esta poesia, meu querido racista. Não cortei meu cabelo por moda, cortei o que não me pertencia, eu era apenas mais uma contribuinte para essa sua ideologia, e não me sentia bem com o alisante me fazendo de refém, sem perceber, estava sendo mais uma vítima desta ilusão sonhando com os cabelos lisos e sedosos da propaganda da televisão, 9

Por que eu também não posso atuar nos melhores papéis? Por quê?

10 que destrói a nossa resistência e nossa autoafirmação, não cortei só por cortar, cortei do mesmo jeito que estou cortando o seu preconceito com o meu turbante que lhe dá agonia, desfazendo essa sua ideia vazia de que o Black foi a maneira mais fácil de pentear e de cuidar, engano seu, meu black é lindo e agride, eu sei que agride, mas é melhor você aceitar, porque as negras estão chegando pra incomodar... Carol Xavier 10

vazia de que o Black foi a maneira mais fácil de pentear e de cuidar, engano seu, meu black é lindo e

11 Flor do meu dia Se durmo, sonho contigo, se acordo, quero te ver escrevo e me perco nos versos tentando entender você, vejo seus olhos que brilham e me encantam a cada segundo. Nas madrugadas que não te tenho, o silêncio é meu companheiro, você nasceu na estação das flores, mas faz chover no coração desse guerreiro. Mateus Silva 11

12 Ruim é o seu preconceito Primeiro, por que meu cabelo é ruim? Só porque não tá oprimido igual a esse alisado e sem frizz? Segundo, meu cabelo não está estressado, Portanto nada de relaxamento Ser humano sem conhecimento. Meu manifesto é diário, só de me ver já se sente incomodado, Por isso todos os dias acordo em ritmo de protesto, É muito machista me querendo nos padrões, Mas para cada um deles nasce em mim uma feminista, Cheia de argumentos antirracistas, Seus insultos jamais me calarão, pois cada fio alisado que cortei, Foi reflexo da transição de ideais que passei, Se a minha cor já me entristeceu, já me ofendeu, Hoje, grito aos quatro cantos: SOU NEGRA. E diariamente dou um golpe no sistema E mostro que sou eu a resistência E meu cabelo crespo, enrolado, pixaim, tá liberto, Fiz ressurgir um Zumbi dentro de mim, Muito se engana quem pensa que é por estética, Fiz pra agregar valor à minha descendência, Por às "escuras" minha essência, E cada palavra dura e mal dita por você, fez aumentar o meu volume, Minha busca por justiça e o meu "cala essa boca imunda, racista" É tanta liberdade nessa autoafirmação; é tão bom deixar nascer essa raiz. 12

Meu manifesto é diário, só de me ver já se sente incomodado, Por isso todos os dias acordo em ritmo de protesto, É muito machista me querendo nos padrões, Mas para cada um deles nasce em mim uma

13 E pra você que não permite que te neguem o direito de ser quem é, Que juntou toda a força e coragem pra cortar todo o preconceito, Aí vai o meu muito obrigado, Essa luta é nossa e nessa guerra estamos de conhecimento e black armado. Joyce Melo 13

preconceito, Aí vai o meu muito obrigado, Essa luta é nossa e

14 Zé Ninguém Um disparo e dois corpos ao chão, corre-corre, e muita gritaria fazem parte de toda esta confusão, crianças chorando, e todo mundo sem entender o que se passava e nem quem era aquela pessoa, que tanto gritava e chorava: - Meu filho, Não!!! Ali, estirado ao chão, Um cravado pela bala E o outro acolhido pelo desespero, de quem acabou de ver indo embora o seu bem mais precioso. Lá se vai José Ninguém, que morava na esquina do esquecimento, será esquecido... Mas será lembrado nos noticiários: - Morre, na Mata Escura, José Francisco, Apontado como mandante do tráfico na região Ele, que, verdadeiramente era Pedreiro, será enterrado na Quinta dos Lázaros com Sua nova profissão: Bandido! Antes José era pedreiro e de mão cheia, Nunca foi de levar desaforo para casa, apenas trabalho, pai solteiro e sofrido, nunca pôde ser amante, Sequer conseguiu ser marido. Suava para poder comprar e não ter que pedir o pão. Então vieram os defensores da lei, para por em prática seu firmamento um finado como recompensa, Sem abordagem nem questionamento Sem conhecidos, sem documentos, 14

Lá se vai José Ninguém, que morava na esquina do esquecimento, será esquecido.

15 confundido com um traficante José foi baleado à queima roupa, quando voltava para casa Na entrada da rua, próximo à esquina em que ele morava. Contudo, José tinha um sonho, que não pôde ver se realizar Como outros, interrompido pela lei do atira, depois aborda Pois no meu país, quem mata tem porte legal de Arma. Sandro Sussuarana 15

Contudo, José tinha um sonho, que não pôde ver se realizar Como outros,

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