Começo a minha intervenção por agradecer o ato de humildade e de generosidade do deputado Rui Taxa, que após ter sido convidado a discursar nesta

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Helena Balsemão
5 Há anos
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1 Começo a minha intervenção por agradecer o ato de humildade e de generosidade do deputado Rui Taxa, que após ter sido convidado a discursar nesta celebração resolveu partilhar esta experiência e permitir que outros tivessem a oportunidade de se fazerem ouvir. Destaco também o facto de termos, desde há 5 anos, pela primeira vez, a vozes femininas a prestarem o seu contributo nesta sessão. Como alguns já estão habituados, outros nem tanto, eu não sou pessoa de discursos cheios de lugares comuns, de banalidades ou trivialidades. Eu respeito-vos, respeito o vosso tempo, a vossa atenção e inteligência individual. Celebramos hoje a data 25 de abril pela liberdade democrática, social e cultural que a mesma permitiu. A minha idade não me permite dizer que sei o que foi viver antes do 25 de abril de 1974, mas sei certamente o que é viver depois e reconhecer que, em algumas situações, corremos o risco de estar perante um retrocesso civilizacional. A barreira da liberdade é ultrapassada por diversas vezes e de diferentes formas, pondo em causa os valores conquistados em 74. Com esta revolução, e entre outras questões que são sempre amplamente debatidas e motivo de reflexão, também surgiram os direitos das mulheres. O cariz conservador e tradicionalista da sociedade portuguesa, antes de 74, levava a que o papel da Mulher se resumisse ao de dona de casa, mãe e pouco mais. Havia poucas mulheres a trabalhar e as que o faziam ganhavam 40% menos que os homens. A própria lei e a constituição eram permissivas com as situações de desigualdade que caracterizavam a sociedade portuguesa. Em 1931 o direito de voto foi facultado às mulheres, desde que tivessem um curso universitário ou estudos secundários completos. A Constituição de 1933 consagrava a igualdade dos cidadãos perante a lei, exceção feita às mulheres, tendo em conta as diferenças inerentes à natureza e também aos interesses da família. E foi em 1974, como consequência da revolução, que começaram a ser abolidas todas as diferenças e restrições baseadas no sexo quanto à capacidade eleitoral dos cidadãos.

2 Foi pela constituição de 1976 que as mulheres tiveram o direito de igualdade de oportunidades consagrado. Haverá ainda muito por fazer no plano da igualdade de oportunidades e de respeito pelas pessoas, independentemente do género, mas a verdade é que muito foi conseguido e neste sentido devemos prestar a homenagem a todos os homens e mulheres que lutaram por estas conquistas. Mas chegados que estamos a 2018, 44 anos após o célebre 25 de abril, cumpre-nos o dever de nestas sessões, promovermos a reflexão sobre a liberdade que temos hoje em dia, quando comparada com os valores conquistados em 74. Falemos de liberdade de expressão que, convenhamos, confundem com libertinagem de expressão, mas já lá chegarei. muitos se Numa altura em que vemos os meios de comunicação social a denunciarem pressões para que não possam dizer ou relatar factos. Numa altura em que vemos despromoções de cargos e ou funções por defender bandeiras, cores partidárias ou ideologias. Numa altura em que as dificuldades económicas geradoras de desemprego levam a que as pessoas se subjuguem, muitas vezes, para não perderem o bem precioso que é o trabalho. Numa altura em que acumular funções como funcionário público, presidente de junta de freguesia e pensar assumidamente de forma diferente do executivo municipal pode levar à destruição social da própria vida. Nesta altura devemos ponderar seriamente sobre o que é afinal a liberdade e até que ponto a calúnia não está demasiado enraizada e se tornou permitida em determinadas situações. Não pode, alguém com poder máximo, falar publicamente sobre o que não sabe, não viu, e que não tem a certeza se os supostos factos são verdadeiros ou não. Na política como na vida, não vale tudo. Não devemos destruir a vida de ninguém por ambições políticas ou vinganças ideológicas.

3 Os portugueses conquistaram em 1974, através dos capitães de abril, que corporizaram todos os sonhos e anseios do nosso povo, a vitória sobre um regime, que mantinha o povo português literalmente amordaçado, alimentando guerras inconsequentes, inúteis e injustas. Que esta realidade, que já foi sanada da sociedade portuguesa, não tenha ecos no nosso concelho. Saibamos honrar o legado que os Capitães de Abril nos deixaram, para nos orgulharmos do presente e projetarmos um futuro de esperança para todos. Presto aqui a minha homenagem a todas as mulheres e homens corajosos, que apesar de toda a pressão a que estão sujeitos não se deixam vergar nem subjugar ao poder ou a interesses alheios, e faço-o na pessoa de Carlos Castro, um grande homem que personifica a humildade, o trabalho, a generosidade, simplicidade, boa vontade e todos os mais altos valores cívicos. E continuando a falar do direito à liberdade de expressão conquistado em abril, permitam-me a reflexão: Liberdade de expressão não é o uso banalizado do insulto gratuito. Liberdade de expressão não dá o direito a ninguém de insultar as pessoas só porque são do partido A ou do partido B. Existem indivíduos que acham que podem insultar as pessoas, a família, os filhos, os pais de alguém, num verdadeiro ato de bullying político. Este assunto da calúnia e da libertinagem deve ser debatido com seriedade ou corremos o risco de ter na política cada vez menos pessoas de bem, porque não se querem incomodar com estas pressões insultuosas. Mas continuando com liberdade de expressão permitam-me também deixar aqui um apelo, ou mera sugestão para aquilo que considero um problema regimental que promove a falta de possibilidade de expressão e que está relacionado com o facto dos vereadores da oposição, não terem direito a usar da palavra em plena Assembleia Municipal, quando também temos um papel importante nas votações das deliberações. Sim.

4 Em pleno século XXI, nas Assembleias Municipais, que deveriam servir para esclarecer todos os munícipes e onde todos pudessem dar o seu contributo na certeza de uma maior intervenção cívica, os vereadores da oposição não podem falar. Eu própria já pedi a palavra, em alguns momentos, mas foi-me sempre negado. Não é pelo facto de ter sido sempre assim que esta situação não pode ser alterada. Se assim o fosse nunca teria havido uma revolução de abril. A própria lei permite esta alteração. Para além da liberdade de expressão existe também a liberdade de todos termos direito a um futuro e que os nossos dirigentes políticos saibam que a sua principal função é servir as pessoas e o bem público e comum. Liberdade significa lutar para que não se hipoteque o futuro de um município. Quando se iça uma bandeira, por interesses políticos, de que se vai baixar os impostos, sabendo que ao não receber o valor correspondente a essa receita, isso inviabilizará o pagamento das faturas aos fornecedores, devemos ter a capacidade para assumir a responsabilidade total dos atos. Dizer que se abdica de receita, o que leva a que dessa forma não se consiga pagar o que se deve, e depois atirar culpas ao passado não é de todo correto. A fixação de taxas num determinado valor e que mesmo assim permitia que Caminha estivesse no topo do ranking da qualidade de vida, era o suficiente para existisse dinheiro para pagar aos fornecedores e que mesmo com a entrada da troika no país, existisse investimento, obras, eventos de qualidade no nosso concelho, asseio e bons tratos nos equipamentos públicos municipais. Quando se resolve, por interesses eleitoralistas, baixar essas taxas e se fica sem dinheiro para gerir uma câmara que era considerada dinâmica e em franco crescimento, não se pode é dizer a ninguém que a culpa é das dividas do passado. Porque a liberdade de expressão conquistada em abril permitenos dizer tudo, mas não alterar a verdade e a realidade por interesses políticos. Outros dos valores conquistados em abril foi o da igualdade de oportunidades, e eu pergunto como se pretende instaurar essa igualdade

5 de crescimento, por exemplo empresarial, quando a própria câmara coloca empresas em risco de falência por não pagar as faturas que deve. E isto tem a ver com o passado? Não. Tem a ver com a descida brutal de receita, para as quais foram avisados por pessoas de todos os quadrantes políticos, inclusive do próprio, mas que a vontade de ganhar eleições não permitiu ouvir com o discernimento e sentido de responsabilidade necessário. É preciso saber gerir e acima de tudo, como pessoas de bem, não tomar decisões políticas de conveniência que ponham em causa a sustentabilidade de um município e agora, quando o caos está instalado, se venha dizer que é preciso voltar a subir os impostos para pagarem as contas e que para isso precisam dos outros partidos. Quem içou a bandeira da redução da receita, que ice a bandeira do aumento da receita por via do aumento de impostos. Liberdade também é responsabilização pelos atos cometidos. Saibamos honrar e proteger o património municipal que é de todos nós. Pertenço a uma geração que teve o privilégio de viver em liberdade sendo, pelos traços da história, fieis depositários deste grande valor. Saibamos defender a liberdade até às últimas consequências e permitir que a mesma continue a prevalecer e a crescer com o contributo imensurável de cada um de nós. Sejamos os valores conquistados em abril de 74, todos os dias das nossas vidas e sejamos um exemplo para as gerações vindouras. Saberemos que fomos eficazes na nossa missão se sentirmos que os nossos jovens se orgulham dos valores que lhes transmitimos. Sejamos todos Capitães de Abril. Sejamos todos liberdade. Viva o 25 abril, Viva o concelho de Caminha Viva Portugal

6 Liliana Silva

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